Debbie Harry: o ícone punk nos filmes de terror

Com uma longa carreira na música, Debbie Harry também se interessou pelo cinema. Confira algumas presenças da artista em filmes de terror.

Você já deve ter ouvido a voz dela por aí, muito provavelmente no clássico “Heart of Glass”. Vocalista da banda Blondie, Debbie Harry se tornou um ícone punk e fashion entre as décadas de 1970 e 1980, onde esteve em maior ascensão. E, com o passar dos anos, a admiração de seus fãs não diminuiu.

Mas Debbie não é somente uma grande cantora. Sua ligação com o cinema — especialmente com os filmes de terror e suspense — é um ponto de destaque em sua carreira. Suas escolhas cinematográficas, assim como sua voz marcante, tornam Debbie uma pessoa bastante singular. 

O início da carreira

Antes de ser cantora, Debbie assumiu diversas funções, inclusive secretária da Rádio BBC, dançarina e coelhinha da Playboy. Ainda antes da formação do grupo Blondie, Harry se tornou backing vocal da banda The Wind in the Willows, que lançou apenas um álbum nos anos 1960, que leva o mesmo nome do grupo.

Blondie

O primeiro álbum de Blondie foi lançado em 1976 e não demorou muito para que Harry se tornasse um ícone punk — suas escolhas visuais, seu cabelo, e principalmente sua atitude chamavam a atenção.

O primeiro álbum do Blondie, intitulado com o mesmo nome da banda, fez um sucesso considerável, assim como o segundo, chamado Plastic Letters. Mas o terceiro foi um arraso. Parallel Lines trazia como um de seus singles a música mais famosa da banda, “Heart of Glass”, que logo atingiu os primeiros lugares nas paradas de sucesso tanto dos Estados Unidos quanto do Reino Unido — chegando a vender dois milhões de cópias nos EUA.

Debbie Harry e Everett McGill em Union City, de 1980.

O álbum Eat to the Beat, lançado em 1979, também fez sucesso, e em seguida, em 1980, o álbum Autoamerican trouxe outro grande sucesso: “Call Me”. A essa altura, Debbie já tinha começado a trilhar seu caminho até o cinema. Em 1978 participou do filme The Foreign, de Amos Poe, e em 1980 esteve em Union City, filme de Marcus Reichert.

Mas foi durante os anos 1980 que Debbie teve algumas das maiores contribuições para o cinema — e para o terror.

Os anos 1980 de Debbie Harry

Harry começou sua carreira solo em 1981. De início, foi bastante difícil se separar do Blondie, pois muitos chegavam a acreditar que Blondie era o apelido da cantora, e que a banda levava seu nome. Mas Debbie fez questão de deixar claro que seu nome era Debbie Harry, não Blondie ou Debbie Blondie.

Capa do álbum KooKoo, lançado em 1981

Seu primeiro álbum foi intitulado KooKoo e contou com a participação do grande artista H.R. Giger, conhecido pelos fãs de terror principalmente por seu trabalho em Alien, O Oitavo Passageiro. Para além disso, a arte de Giger é facilmente reconhecida, com obras que mesclam o corpo humano com diferentes tipos de maquinários e peças.

Devido ao trabalho de Giger na arte do álbum, algumas lojas no Reino Unido se negaram a vender o primeiro trabalho solo de Harry. Mas isso não impediu o álbum de atingir as paradas de sucesso e conquistou posições dignas de nota nas rádios inglesas e norte-americanas. 

Giger também dirigiu o videoclipe do primeiro single do álbum, “Backfired”.

O Blondie se reuniu de novo em 1982 para o álbum The Hunter, que não foi um sucesso de vendas. Os shows da turnê também não venderam como se esperava, e Stein, guitarrista e membro fundador do grupo, além de namorado de Debbie na época, acabou ficando terrivelmente doente no período. Isso acabou fazendo com que a banda se separasse e só voltasse a se reunir vários anos mais tarde, na década de 1990. 

Mas Harry continuou trabalhando, e em 1983 ganhou destaque no filme Videodrome: A Síndrome do Vídeo, de David Cronenberg. Este marca sua primeira participação no gênero do terror propriamente dito. No filme, Harry interpreta Nicki, a namorada de Max (James Woods), um produtor de televisão que tem um gosto curioso pelos seus programas de violência extrema e conteúdo sexual e que, procurando por sua nova atração, acaba descobrindo um canal pirata de filmes snuff.

Videodrome: A Síndrome do Vídeo, de David Cronenberg, de 1983

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Marco do body horror e um dos primeiros filmes de Cronenberg a trabalhar alguns dos temas que seriam mais caros ao cineasta com o passar dos anos — a tecnologia, o extremo do body horror —, Videodrome fez com que Harry ficasse em evidência também no meio cinematográfico.

Ainda em 1983, Debbie fez parte da dublagem da animação musical A Viagem Musical, de Clive Smith. Em seguida, esteve nos filmes Para Sempre Lulu (1986), ao lado de Alec Baldwin; e Satisfaction: No Amor e no Rock (1988). 

Nas séries, em 1987, Debbie marcou presença em um episódio de Crime Story, ainda na primeira temporada, no episódio 20, intitulado “Top of the World”; e do episódio quatro da quarta temporada da série Galeria do Terror, “The Moth”. Em seguida, em 1988, trabalhou com o cineasta John Waters em Hairspray: E Éramos Todos Jovens, como a vilã Velma Von Tussle. 

“The Moth”, episódio quatro da quarta temporada de Galeria do Terror, 1987

E enquanto atuava, Harry continuou trabalhando em sua carreira solo, lançado os álbuns Rockbird (1986) e Def, Dumb & Blonde (1989).

Para encerrar 1980, Debbie esteve também no clipe da música “Pet Sematary”, dos Ramones, trilha do filme de Mary Lambert, adaptação da obra de Stephen King. 

Os anos 1990 e o distanciamento do cinema

Os anos 1990 começaram com Debbie Harry trabalhando novamente em um filme de terror. Em 1990 era lançado o filme Contos da Escuridão, um spin off da série Galeria do Terror (em inglês, a série e o filme compartilham o título de Tales From the DarkSide), da qual Harry havia participado anteriormente.

Contos da Escuridão, de John Harrison, 1990

Em Contos da Escuridão, Harry interpreta Betty, uma mulher que vive em um subúrbio tranquilo, e é, na realidade, uma bruxa. Programando um jantar para suas amigas feiticeiras, ela sequestra o jovem entregador de jornais Timmy (Matthew Lawrence), que será o prato principal da noite. Tentando ganhar tempo, Timmy começa a contar histórias arrepiantes para entreter a mulher. 

O filme foi dirigido por John Harrison, e conta com histórias de Michael McDowell, que escreveu o segmento “Lover’s Vow”, e adaptou para o roteiro o conto de Arthur Conan Doyle “Lot 249”; e George Romero, que adaptou o conto “Cat From Hell”, de Stephen King, para o roteiro. O filme também contou com Christian Slater, Steve Buscemi e Julianne Moore. 

Três anos depois, em 1993, Harry marcaria presença novamente no terror ao lado de gigantes da indústria, na antologia Trilogia do Terror, filme em três segmentos com direção de John Carpenter e Tobe Hooper. A artista atuou no segmento “Hair”, dirigido por Carpenter. No filme, além dos dois cineastas que também trabalharam como atores, estão nomes como Mark Hamill, Wes Craven, Sam Raimi, Roger Corman, e o especialista em efeitos especiais Greg Nicotero.

Trilogia do Terror, de John Carpenter e Tobe Hooper, 1993

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Na música, Harry continuou trabalhando com afinco. Em 1991 foi lançado o álbum The Complete Picture: The Very Best of Deborah Harry and Blondie, compilação que incluía as melhores músicas de Debbie e da banda Blondie, além de um dueto com Iggy Pop. Também participou de uma música da banda Die Haut, além de lançar músicas temas de filmes, como “Prelude to a Kiss”, para o filme Por Trás Daquele Beijo. Em 1993, lançou seu penúltimo álbum solo, Debravation.

Em 1994, a artista gravou a música “Der Einziger Weg (The Only Way)”, ao lado do ator Robert Jacks, tema para o filme O Massacre da Serra Elétrica – O Retorno. Nos anos seguintes, se reuniu com a banda Blondie, com uma nova formação, e seguiu fazendo parcerias, lançando seu último álbum solo em 2007, Necessary Evil.

Em 1996, Harry esteve no piloto da série Sabrina, a Aprendiz de Feiticeira, como a bruxa Cassandra. 

Após a aparição no seriado teen, a presença de Harry nos filmes de terror e de gêneros afins diminuiu, mas não completamente. A atriz continua mostrando constantemente que se interessa pelo cinema. Em 2021, no festival Tribeca, Harry apareceu usando um vestido com a estampa do filme Psicose, de Alfred Hitchcock.

Ao longo desses anos, Debbie Harry também continuou em contato constante com a música. Seus trabalhos, tanto no Blondie quanto em carreira solo, seguem sendo inspiração para muitos artistas.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.