Uma das vozes mais importantes do Brasil no cinema de horror atualmente, a diretora e roteirista Gabriela Amaral Almeida é, sem dúvida, uma figura protagonista quando se trata de produção de filmes de gênero.
Gabriela se formou em Comunicação, na UFBA e logo em seguida entrou para a pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporânea, estudando e pesquisando a literatura e o cinema de horror com a dissertação intitulada “As Duas Faces do Medo: um estudo dos mecanismos de produção de medo nos livros de Stephen King e nos filmes adaptados destes”. Em 2005, entrou para o curso de Roteiro Cinematográfico da Escuela Internacional de Cine y TV, em San Antonio de los Baños, Cuba.
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Gabriela iniciou sua produção com curtas. Seu primeiro trabalho, Náufragos, foi realizado em parceria com Matheus Rocha em 2010, e fala sobre uma esposa que tenta encontrar seu marido que está escondido. Em 2011, Gabriela lançou os curtas Uma Primavera e A Sutil Circunstância — o último também com a direção conjunta com Matheus Rocha.
A Mão que Afaga é seu terceiro trabalho, lançado em 2012, e o primeiro a ser compartilhado com uma atriz que seria figurinha carimbada e parceira de longa data de Gabriela, Luciana Paes (que, aqui, interpreta uma mulher que contrata um homem para animar o aniversário de seu filho). Em 2013, Gabriela dirige Terno junto de Luana Demange, um curta sobre o dia de casamento de um rapaz e as diversas relações que ele tem com seus familiares.
Em 2014, Gabriela Amaral lança o que viria a ser um de seus trabalhos mais conhecidos. Estátua! conta a história de Isabel, uma babá grávida de seis meses que aguarda ansiosa para ser mãe, até o momento em que ela conhece Joana, uma moça possessiva e apegada que torna a relação das duas bastante difícil.
Em entrevista para a Macabra, Gabriela Amaral conta que o primeiro longa que veio a público foi, na verdade, seu segundo filme. O Animal Cordial chegou aos cinemas em 2018 e arrebatou elogios em várias esferas. Novamente com Luciana Paes em um dos papéis principais, o filme traz também Murilo Benício, Camila Morgado e Irandhir Santos, nomes já consagrados do público. O plot se desenrola no restaurante de Inácio (Benício), que tem uma desagradável surpresa quando seu estabelecimento acaba passando por uma tentativa de assalto. É nesse momento que o proprietário do local deixa seu pior lado aflorar, tentando descobrir quem em sua equipe estava ajudando os assaltantes e levando todos a enfrentar uma noite de horror. Paes interpreta Sara, a ajudante no restaurante que tem um tipo de afeição pelo patrão rico e eleva a tensão entre todos os presentes.
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Murilo Benício recebeu o prêmio de Melhor Ator pelo Festival do Rio em 2017, e Luciana Paes e Gabriela Amaral Almeida de Melhor Atriz e Melhor Diretora, respectivamente, pelo Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre (FANTASPOA), de 2018. Entre as indicações, o filme participou nas categorias de Melhor Ator, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2019.
Seu último longa lançado, A Sombra do Pai, é protagonizado por Julio Machado e Nina Medeiros, e traz Luciana Paes como coadjuvante. O filme conta a história de Jorge (Julio) e Dalva (Nina), pai e filha que compartilham a vida e a dor da perda enquanto vê desenvolver um dom poderoso na criança. Dalva precisa crescer fazendo os trabalhos domésticos e se virando como pode com a ajuda de sua tia Cristina (Paes). Entretanto, com o casamento da tia, Dalva se encontra cada vez mais sozinha e sobrecarregada, com o pai estressado e cansado do trabalho, pressionado a não cometer nenhum erro pois precisa manter sua casa. Toda essa tensão faz com que Dalva tome decisões que afetam a vida de todos.
“Minha relação com o horror, minha relação com o cinema de gênero, surge muito cedo”, diz Gabriela para a Macabra. “Eu acredito que as pessoas que busquem esses filmes de terror nacionais contemporâneos sejam pessoas que estão ligadas à esse movimento, de alguma forma, de ressignificação do gênero que vem acontecendo”, complementa.
Como roteirista, Gabriela Amaral também trabalhou no filme Quando Eu Era Vivo, dirigido por Marco Dutra, que mostra a espiral de horror que um homem entra ao lidar com macabros pertences de sua mãe falecida. Baseado na obra de Lourenço Mutarelli, o filme é protagonizado por Antônio Fagundes, Marat Descartes e Sandy. Ela também escreveu o roteiro de três episódios da série Me Chama de Bruna.
Gabriela Amaral Almeida apresenta desde cedo um trabalho muito consistente dentro e fora do público do cinema de gênero e apresenta questões importantes sobre família, medo, sentimentos conflituosos, solidão e classes sociais em seus elogiados filmes. Sua arte é recheada de críticas e situações fáceis de serem reconhecidas pelo público, pois tratam principalmente de um tipo de horror cotidiano, facilmente presentes em diversas casas brasileiras.
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Mas Gabriela compreende que o terreno para diretoras mulheres ainda precisa de muito espaço para atuação. Em texto publicado na Folha, a diretora mostra como o meio cinematográfico é complicado e que a falta de investimento é um problema, com mulheres ocupando um local pouco privilegiado quando se trata de procura por diretoras. Gabriela diz que as diretoras “ainda ocupam uma fenda” e não são parte igual da parcela masculina no mercado. Existem sim, muitas sementes, “mas falta o solo para florescer”.
A diretora também mergulhou recentemente no projeto Vitorianas Macabras, livro publicado pela Macabra em parceria com a DarkSide Books que resgata 13 escritoras de terror largadas no tempo, e diz que os contos reunidos “oferecem uma oportunidade única de descobrir que as histórias de medo sempre foram coisa de mulher”. É preciso de solo para florescer.
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