Há crises de meia idade que são um verdadeiro terror. Já a de Donald Ray Pollock rendeu ótimas obras literárias de terror. O autor de O Mal nosso de cada Dia possui uma trajetória um tanto incomum e provou que nunca é tarde demais para desenvolver novas habilidades.
Nascido e criado no interior do estado de Ohio, Donald Ray Pollock trabalhou a maior parte de sua vida adulta na indústria de papel, como motorista de caminhão. Ele seguiu esta rotina até os 50 anos de idade, quando se matriculou nas aulas de Inglês da Universidade Estadual de Ohio para se dedicar à escrita.
Em uma entrevista à Fiction Writers Review, ele explicou esta mudança brusca de carreira depois de 27 anos trabalhando com papel: “Eu tinha completado 45 anos e entrei numa crise de meia idade. Daí decidi que queria tentar algo diferente”. Naquela fase, Pollock também estava esgotado de seu trabalho na fábrica.
Como ele não sabia muito bem o que seria este “algo diferente”, até porque desconhecia qualquer habilidade além do seu trabalho, decidiu aprender a escrever ficção. A escolha desta área se deu pelo fato de que Pollock adora ler.
O plano dele era trabalhar com bastante afinco nesta área por cinco anos e ver o que aconteceria. Naquela época ele não tinha ambições de publicar livros, apenas queria morrer sabendo que tentou fazer algo diferente da sua vida.
As obras e o processo criativo de Donald Ray Pollock
Para alguém com poucas ambições, Donald Ray Pollock já mostrou em seu primeiro trabalho que ele pertencia ao mundo da literatura de ficção. Seu primeiro livro, Knockemstiff, foi publicado em 2008 e é uma coleção de 20 contos do escritor. Além de receber o prêmio PEN/Robert W. Bingham Prize, a publicação fez sucesso na Europa.
Knockemstiff é o nome da sua cidade natal em Ohio e palco de suas histórias. O estilo de Pollock chama a atenção pelo seu humor perverso e a forma crua como elabora a humanidade de seus personagens, criando uma forte identificação com os leitores.
Depois deste, Donald Ray Pollock ainda publicou outros dois livros, investindo de vez nos romances de suspense e terror: O Mal nosso de cada Dia e Banquete no Paraíso. As duas obras são ambientadas em tempos passados, uma característica que o escritor pretende manter por não considerar o mundo atual interessante o suficiente.
Apesar de acumular mais de 10 anos de carreira no ramo, Pollock ainda considera escrever a atividade mais difícil que ele já desempenhou. Uma das características que ele considera vantajosas no seu processo criativo é a disciplina, herdada das quase três décadas batendo cartão todos os dias na fábrica de papel.
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Perder o ritmo da rotina disciplinada é um dos maiores arrependimentos dele. Depois do lançamento de O Mal nosso de cada Dia ele ficou um ano e meio sem escrever, apenas se dedicando à nova casa. Isso tornou particularmente mais difícil começar tudo de novo para a criação de Banquete no Paraíso.
Para Donald Ray Pollock, o ato de escrever não é exatamente uma catarse. A única terapia que ele sente por passar seus dias escrevendo é poder se desligar do que acontece no mundo. Terminar um livro é motivo de alívio para o escritor.
Adaptações para o cinema e a inspiração que vem das telas
Os dois romances de Donald Ray Pollock tiveram seus direitos vendidos para a indústria cinematográfica de Hollywood. O Mal nosso de cada Dia está sendo produzido pela Netflix e já está na fase de pós-produção. A data de estreia está confirmada para 16 de setembro.
Com uma trama hiperviolenta, repleta de personagens detestáveis, Donald Ray Pollock explora o que há de mais nefasto na natureza humana e nas atrocidades que ela é capaz de cometer. O filme conta com um elenco cheio de rostos conhecidos: Sebastian Stan (Capitão América), Tom Holland (Homem-Aranha), Robert Pattinson (O Farol), Bill Skarsgard (It: A Coisa), Mia Wasikowska (Alice no País das Maravilhas) e Eliza Scanlen (Objetos Cortantes).
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Apesar de suas obras estarem encaminhadas para as telas, Donald Ray Pollock afirma que não escreve seus livros pensando em possíveis adaptações. No entanto, ele não nega que se inspira bastante em filmes em séries. Entre suas séries preferidas destacam-se Breaking Bad, Boardwalk Empire e Mad Men.
Atualmente, o autor trabalha em seu próximo livro, mas ainda não há previsão de lançamento.
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