Entre na mente de um assassino: A Cela

Visualmente impactante e repleto de referências artísticas, A Cela é um filme de 2000 que merece ser redescoberto pelo público. Saiba mais sobre a produção.

Se você já se perguntou como é ficar preso na mente de um assassino, o filme A Cela responde a essa pergunta — mas de uma forma bastante artística e transformada em uma história de terror. Deane, uma psicóloga infantil, acaba recrutada pelo FBI para ajudá-los a encontrar a última vítima de um serial killer perigoso, que esteve se escondendo até agora. O grande perigo é que, através de um experimento científico que ainda não teve muitos avanços, Deane terá que entrar na mente do psicopata.

Lançado em agosto de 2000, o filme vem sendo redescoberto e cada vez mais novos fãs se mostram interessados na obra. A Macabra relembra o filme de Tarsem Singh e aponta alguns bons motivos para que ele seja visto.

A mente dele é sua prisão

A psicóloga infantil Catherine Deane (Lopez) é contratada para conduzir um projeto experimental de realidade virtual com pacientes em coma. Dirigido pelos médicos Henry West e Miriam Kent, o equipamento é descrito como um tipo de “Cartografia Neurológica e Sistema de Transferência Sináptica”, permitindo que Deane entre em contato com a mente adormecida e a traga até a consciência. Este projeto é financiado pelos pais de um paciente de Deane, Edward Baines, que, após se tornar doente com um estranho tipo de esquizofrenia, entrou em coma.

Quando o serial killer Carl Rudolph Stargher padece do mesmo mal e deixa o FBI sem saber o paradeiro de sua última vítima, a dra. Deane é chamada para fazer o mesmo processo com ele, e tentar descobrir, entrando em sua mente, onde está essa última mulher desaparecida. 

A mente de Stargher, entretanto, é um lugar sombrio e assustador, infestado de perigos e armadilhas. Deane, mesmo em sua pouca experiência adentrando mentes adormecidas, sabe que há algo de terrível no lugar onde se encontra agora. A maior dúvida entre os agentes do FBI, os médicos e Deane é: será que ela conseguirá encontrar a parte humana dessa mente doentia e acessá-la?

As mentes por trás do filme

A Cela foi escrito por Mark Protosevich e dirigido por Tarsem Singh, dois nomes que não têm um longo currículo no terror, mas que estão em Hollywood há algum tempo, participando de grandes produções. Protosevich foi roteirista de filmes como Eu Sou a Lenda (2007) e do remake norte-americano de Oldboy (2013), e foi um dos responsáveis pela história de Thor (2011). Mas seu primeiro roteiro, realmente, foi em A Cela.

Cena do videoclipe de “Losing My Religion”, da banda REM

Já Tarsem Singh era um nome mais conhecido entre os fãs de música, tendo sido diretor do videoclipe de “Losing my Religion”, da banda REM. Com esse videoclipe, podemos ter uma noção do potencial de trabalho de Singh. Enquanto Michael Stipe pensava em um vídeo mais ao estilo de “Nothing Compares 2 U”, de Sinéad O’Connor, Singh pensava em um conceito mais fantástico, melodramático e parecido com um sonho. Suas inspirações para “Losing My Religion” foram da tradição do cinema indiano ao conto de Gabriel García Márquez, “Um Senhor Muito Velho com Umas Asas Enormes”. Ao final, ambas as visões se completaram para criar o videoclipe hoje icônico da banda REM, de uma de suas músicas mais conhecidas.

O horror e a arte

Assistir A Cela é entrar em contato com um visual arrebatador, facilmente uma das coisas mais impressionantes que o cinema dos anos 2000 produziu. Isso se dá principalmente ao longo das cenas em que Deane entra na mente de Stargher. Ali, a maioria dos cenários e situações vividas por Deane foram inspiradas por obras de arte.

Acima, Dawn, de Odd Nerdrum; abaixo, cena de A Cela

LEIA+: 10 QUADROS QUE INSPIRARAM CENAS ICÔNICAS DO TERROR

O trabalho de Damien Hirst pode ser visto quando Deane se encontra com o cavalo partido, preso entre os vidros; mas também pode se notar a influência de outros artistas, como  Odd Nerdrum, H. R. Giger e dos irmãos Quay, Stephen e Timothy. E, vindo do universo da música, é possível acreditar que Tarsem Singh também tenha encontrado inspirações de videoclipes para complementar o trabalho artístico em A Cela, como os vídeos dirigidos por Mark Romanek para o Nine Inch Nails, ou os trabalhos de Floria Sigismondi para Marilyn Manson. 

Cena de A Cela
Schacht VI, de H.R. Giger

Figurinos de tirar o fôlego

Você já viu esse design antes…

Se mantendo dentro da intenção de utilizar a arte para construir a estética de seu filme, Tarsem Singh convidou Eiko Ishioka para trabalhar nos figurinos da produção. Talvez você não esteja ligando o nome a pessoa, mas Ishioka é uma das grandes personalidades no mundo dos figurinos e ficou conhecida, principalmente, por um de seus trabalhos mais impactantes.

Design de Eiko Ishioka para a armadura de Drácula, em Drácula de Bram Stoker (1992)

Depois de conquistar o Oscar na categoria de Melhor Figurino por Drácula de Bram Stoker (1992), Ishioka se tornou um nome facilmente reconhecível no Ocidente, mas já era um ícone do design no Japão, tendo começado a trabalhar com marcas como a Shiseido ainda nos anos 1960. Seu primeiro trabalho no cinema foi com o diretor Paul Schrader, em Mishima: Uma Vida em Quatro Tempos (1985). Quando viu o trabalho de Ishioka em Drácula, Singh teve certeza que precisava dela em seu projeto.

Uma atuação arrebatadora

A Cela tem nomes muito conhecidos no elenco, como Jennifer Lopez, que, dentro do horror e do thriller fez filmes como Anaconda (1997) e Nunca Mais (2002); e Vince Vaughn, que esteve em O Mundo Perdido: Jurassic Park (1997), na segunda temporada de True Detective e em Freaky: No Corpo de um Assassino (2020). 

Mas há um nome que se destaca na produção, não por ser o mais conhecido, mas por seu papel e por sua atuação brilhante. Vincent D’Onofrio, que interpreta o serial killer Carl Stargher, é a grande estrela da produção. D’Onofrio esteve em filmes como Nascido para Matar (1987), MIB: Homens de Preto (1997) e interpretou Orson Welles no clássico cult Ed Wood (1994), de Tim Burton. Ficou mais reconhecido, nas últimas décadas, como o detetive Bobby Goren, em Law & Order: Crimes Premeditados (2001–2011) e como Wilson Fisk na série Demolidor (2015–2018). Mas seu papel em A Cela deu a ele espaço para uma atuação aterrorizante, onde demonstrou todo seu potencial como ator dentro de um filme de terror.

Recepção e legado

O filme não foi exatamente bem recebido em seu lançamento, com críticas divididas entre público e crítica especializada. Muitos afirmaram que, apesar de ser um filme bonito, faltava conteúdo, e que Singh havia prezado somente o aspecto estético da obra, e não sua história. Seu orçamento foi de cerca de 33 milhões de dólares, com cerca de 104 milhões de bilheteria. Foi indicado ao Oscar de Melhor Maquiagem e Penteados, mas perdeu o prêmio para O Grinch.

O filme ganhou uma sequência produzida e lançada direto para mídia física, em 2009, intitulada A Cela 2, dirigida por Tim Iacofano e estrelada por Tessie Santiago, mas não tem o apelo visual ou o charme que seu filme original tem.

LEIA+: HORROR NO OSCAR: 13 FILMES DO GÊNERO QUE ESTIVERAM NA PREMIAÇÃO

Apesar de ter feito pouco barulho em seu lançamento, cada vez mais A Cela vem sendo redescoberto pelo público, tanto mais novo quanto mais antigo, que ou não o conhecia ou já o havia visto, mas se esqueceu. A Cela guarda algumas das melhores características dos filmes lançados nesse período, com seu apelo visual, cenas extravagantes e uma colcha de retalho de influências ainda muito vivas de décadas anteriores. 

*

O filme A Cela está disponível hoje para locação no Prime Video e na Apple+. E você, já assistiu? Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.

Compartilhe:
pin it
Publicado por

Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.