Guillermo del Toro é um sonhador. De todas as formas possíveis, é o ato de sonhar que mais se aproxima do ofício de Del Toro enquanto cineasta. E, desde criança, Del Toro sempre sonhou com monstros.
Em seu discurso no Golden Globes, quando ganhou como melhor diretor por seu filme A Forma da Água, Del Toro agradeceu aos monstros: “Desde a infância, sou fiel aos monstros. Fui salvo e absolvido por eles, porque os monstros, acredito, são santos padroeiros de nossa bem-aventurada imperfeição, e eles permitem e incorporam a possibilidade de falhar”. Em outro momento, disse também que “em algum lugar, Lon Chaney está sorrindo para todos nós”.
Um de seus maiores sonhos, entretanto, é adaptar um dos livros de terror mais importantes da história. Frankenstein, de Mary Shelley, foi um divisor de águas entre a ficção gótica e os primeiros passos para a literatura de horror como conhecemos hoje. Além disso, nos presenteou com uma das melhores criaturas já escritas no gênero. A disputa da Criatura com seu Criador é tema de debate ao longo de seus 200 anos de vida.
Del Toro ainda está convencido de que conseguirá adaptar a história. Em entrevista, ele afirmou que daria tudo para fazer o filme: “Se eu fizer Frankenstein, eu literalmente vou parar tudo, e eu vou tirar três anos sabáticos só para escrevê-lo. Não é algo que vai fluir, como uma segunda natureza. É meu livro favorito da história. Eu adoraria fazer [Frankenstein e A Noiva de Frankenstein]. Espero que um dia coincida para que Donna [Langley] queira fazer isso e eu não vou amarelar”.
E pode ser que o sonho de Del Toro ainda possa ser realizado. Sendo um nome tão respeitado pela indústria do terror, alguns produtores já demonstraram que ficariam felizes de tê-lo a bordo. Alex Kurtzman, antigo responsável pela reformulação dos Monstros Clássicos, antes da parceria da Universal com a Blumhouse, já afirmou em entrevista para o site Collider que adoraria que o cineasta estivesse no projeto. Kurtzman afirmou, em 2014, que nada os faria mais felizes e honrados que o envolvimento de Del Toro no antigo projeto.
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Criaturas do Mar
Mas há outra criatura que Del Toro é fascinado. A Forma da Água, de certa forma, como o próprio diretor já afirmou, é uma forma de corrigir a história de O Monstro da Lagoa Negra. No filme, uma expedição parte para a floresta Amazônica para encontrar um tipo de criatura antiga que ainda vive sob aquelas águas. Del Toro ficou fascinado pela desenvoltura do traje da Criatura e das cenas embaixo d’água. Para ele, os dois personagens, Criatura e mocinha indefesa, deveriam terminar juntos.
Para os novos filmes da Universal, entretanto, Del Toro gostaria de uma outra abordagem: “Eu acho que é um ótimo universo para desenvolver. Eu pessoalmente acho que eles deveriam ser todos filmes de época. Eu adoraria ver O Monstro da Lagoa Negra na Inglaterra Vitoriana com a exploração vitoriana, com balões e barcos a vapor”.
Ambas as obras que Del Toro tanto é apaixonado têm como elo duas figuras que foram, por um tempo, ocultadas da história do terror. Mary Shelley, criadora de Frankenstein, e Milicent Patrick, criadora do traje da Criatura em O Monstro da Lagoa Negra, são dois importantes nomes para o terror, dos quais não podemos nos esquecer.
A Criatura de Del Toro em A Forma da Água, altamente elogiada e premiada na imprensa especializada, na crítica e pela audiência, traz traços semelhantes à Criatura do filme de 1954. Inspiração para o artista, Del Toro certa vez comentou sobre Milicent Patrick: “Uma artista de imenso talento atacada por egos e inveja que a cercavam. A Criatura é o traje nº 1 na história do cinema”.
Esperamos que Del Toro possa ainda por muitos anos continuar realizando seus sonhos e os nossos, nos presenteando com suas visões sobre os monstros dos quais sente tanto orgulho.
* Os trechos da entrevista foram retirados da matéria original do site Geek Tyrant.
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