Lenda ou figura histórica? Quem foi Merlin

Merlin deu origem ao arquétipo do mago na ficção. Conheça mais sobre o personagem e as possíveis raízes de sua história.

De Gandalf a Dumbledore, você provavelmente já está acostumado àquela figura do mago sábio de longas barbas brancas. Figura clássica da ficção de fantasia, este arquétipo surgiu a partir de uma figura da mitologia britânica: Merlin.

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O livro Grimório Oculto, publicado pela DarkSide® Books em parceria com a Macabra, traz passagens históricas associadas às práticas ocultas, e dedica um capítulo à figura de Merlin. A lenda que você conhece envolve um mago que dava conselhos ao rei Arthur e ajudou a formar a irmandade dos cavaleiros da Távola Redonda. Mas afinal, o druida realmente existiu ou é só uma figura mitológica?

O homem por trás da lenda

O nome verdadeiro de Merlin provavelmente era uma modificação de Ambrósio e ele nunca conheceu o tal rei Arthur, mas o personagem foi inspirado em uma figura real (ou mais de uma). Ele viveu nas Terras Baixas da Escócia durante o século VI, um período em que a Bretanha inteira estava devastada pela guerra.

O conflito ocorreu em resistência aos guerreiros saxônicos, vindos da atual costa noroeste da Alemanha, que acabaram se tornando mercenários em busca de terras. Não havia unidade entre os britânicos, principalmente por causa de conflitos religiosos entre cristãos e pagãos. 

No ano 573, o último soberano pagão britânico ao sul das Terras Altas da Escócia foi derrotado e morto por um exército cristão na batalha de Ardeydd. Seu nome era Gewnddolau e Merlin era o poeta de sua corte – muito provavelmente também era seu sacerdote druida. 

O personagem lendário de Merlin provavelmente foi criado a partir de duas figuras históricas: Myrddin, o Selvagem e Ambrósio Aureliano, criando o personagem conhecido como Merlinus Ambrosius. Esta fusão surgiu apenas no século XII graças ao autor Geoffrey Monmouth.

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As inspirações de Geoffrey Monmouth

Myrddin, o Selvagem (também conhecido como Merlin Caledonense) divide lendas escocesas e galesas que andam em paralelo à história do profeta louco Lailoken e com uma passagem irlandesa sobre um rei louco chamado Sweeney. Na poesia galesa, ele era um bardo que enlouqueceu após testemunhar os horrores da guerra e fugiu para a floresta para viver longe da civilização. O personagem vagueava pela floresta Caledônia até ser curado de sua loucura por São Mungo

Geoffrey Monmouth tinha Myrddin em mente quando escreveu um de seus trabalhos mais antigos, Profecias de Merlin. Na história, ele alega que aquelas eram as verdadeiras palavras do lendário poeta, mas não falava muito sobre sua trajetória.

Outra inspiração de Geoffrey foi Emrys, um personagem parcialmente inspirado na figura de Ambrósio Aureliano, um líder de guerra romano-britânico. No seu trabalho seguinte, A História dos Reis da Bretanha, o autor complementou a caracterização de Merlin com atributos de Ambrósio. 

Baseado em registros de um monge chamado Nênio, Ambrósio teria sido descoberto quando o rei britânico Vortigern tentou erguer uma torre, mas falhou diversas vezes. Seus conselheiros teriam lhe dito para borrifar nos alicerces sangue de uma criança concebida sem pai – esta criança seria Ambrósio. A partir dali, Geoffrey acrescentou detalhes que já incluíam a figura do rei Arthur.

A lenda cresce e ganha novos detalhes

Boa parte da trama criada por Geoffrey Monmouth foi inspirada pelos registros históricos de Nênio – aos quais ele deu seus próprios contornos de ficção. Por exemplo, enquanto o Ambrósio “sem pai” do monge teria sido filho de um cônsul romano, o autor atribuiu sua paternidade a um demônio que teria fecundado sua mãe, que era filha do rei de Dyfed, uma região no sudoeste do País de Gales.

Geoffrey ainda contou mais duas histórias sobre o personagem. Em uma delas, Merlin cria Stonehenge como um cemitério para Ambrósio, com pedras trazidas da Irlanda. Em outra delas, a magia de Merlin permite que o rei britânico Uther Pendragon entre disfarçado no castelo de Tintagel para conceber seu filho com a esposa de seu inimigo, Igraine – o fruto disso seria o próprio rei Arthur. Em suas histórias, Merlin não seria conselheiro de Arthur, isso foi acrescentado posteriormente por outros autores.

Mas Geoffrey voltou a escrever sobre o druida em seu conto A Vida de Merlin, baseado nas histórias originais do século VI de Myrddin, o Selvagem. Nesta trama, o mago sobrevive ao reino de Arthur e passa parte de sua vida como um louco vagueando pela floresta. Ele acaba se casando e se recolhe para passar o resto de seus dias observando as estrelas. 

As histórias de Geoffrey Monmouth atravessaram o mar e se tornaram realmente lendárias, ganhando novos detalhes por autores franceses e muitos outros até os dias de hoje. Não apenas Merlin, mas todo o imaginário em torno do rei Arthur ganhou novos personagens – Lancelot, Guinevere, Viviane e Morgana são apenas alguns mais conhecidos – e diferentes versões em filmes, séries e livros, como As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley, e As Crônicas de Artur, de Bernard Cornwell.

O Merlin que você conheceu nesta e em tantas outras histórias nunca existiu exatamente desta forma. Porém, ao se inspirar em figuras históricas, manteve viva em pleno século XXI toda uma classe de poetas, druidas e sacerdotes que existiram antes do domínio cristão. 

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Grimório Oculto está disponível em pré-venda na Loja Oficial da DarkSide Books. Comente este post com a Macabra no Twitter e Instagram.

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Renunciei à vida mundana para me dedicar às artes da trevas. No meu cálice nunca falta vinho ungido e protejo minha casa com gatos que afastam os espíritos traiçoeiros. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.