George A. Romero será para sempre lembrado como “o pai dos zumbis”, por ter feito história com filmes sobre essas criaturas. Gênio criativo, um mestre do terror, Romero foi diretor, editor e roteirista.
Nascido em fevereiro de 1940, começou sua carreira nos anos 1960, logo após se formar no Carnegie Institute of Technology (agora chamado de Carnegie Mellon University), dirigindo curtas e comerciais de TV. Um de seus primeiros trabalhos foi na série infantil Mr. Rogers’ Neighborhood. No final da década, montou com John A. Russo a produtora Image Ten Productions, responsável pela produção de A Noite dos Mortos-Vivos.
Uma das maiores inspirações para que Romero viesse a criar obras cinematográficas foi o filme The Tales of Hoffmann, de 1951, produzido e dirigido por Michael Powell e Emeric Pressburger. Em entrevista para Robert K. Elder, para a coleção The Film That Changed My Life, Romero afirmou que a obra de Powell e Pressburger deram a ele um vislumbre do quão poderosa era a narrativa cinematográfica: “Foi a filmagem, a fantasia, o fato de que [o filme] era uma fantasia e tinha algumas coisas assustadoras, meio bizarras”.
Romero foi criado como católico, mas começou a ter uma opinião contrária à religião quando começou a se questionar suas doutrinas. No evento do Festival de Filmes de Karlovy Vary, Romero contou que, quando criança e sua avó morreu, todos disseram que ela foi para o céu. Ele, entretanto, opinou dizendo que “talvez não”, coisa que não foi bem recebida pela família. “Meus tios e meu pai chutaram meu traseiro pela rua, eu tinha sete ano. Isso faz você repensar as coisas.”
Sempre com uma visão crítica sobre a Guerra Fria, os estragos da Guerra do Vietnã, os problemas causados por uma sociedade consumista e que não compreende as questões de classe, Romero deixou suas opiniões sobre os temas em todos os seus filmes, seja com uma crítica mais dura ou uma crítica mais ácida.
A “Dead series” de Romero
Há um motivo para George Romero ser conhecido como “pai dos zumbis”. Diferente de muitas das obras que, até então, trabalharam com a criatura do morto-vivo, Romero não fez seus zumbis ligados ao vodu haitiano. Romero surgiu como um mito único, de mortos que saem de suas covas para atacar os humanos, com resquícios de consciência e uma vontade absoluta pela matança. Uma das inspirações para trabalhar com os mortos-vivos surgiu principalmente com o livro de Richard Matheson, Eu Sou a Lenda.
O primeiro filme da “série dos Mortos” de Romero, A Noite dos Mortos-Vivos, atingiu status de obra-prima do cinema, sendo considerado um dos melhores filmes de terror já feitos. A ideia inicial para o filme, entretanto, era bem diferente do que vemos na tela. Quando Russo e Romero pensaram em fazer um longa-metragem, a intenção era criar uma comédia de terror, com adolescentes alienígenas na Terra. Mas, em determinado momento, o roteiro acabou escapulindo para a história que conhecemos hoje, com Ben e um grupo de sobreviventes tentando se livrar de zumbis aterrorizantes.
De acordo com entrevistas concedidas pelos cineastas, a questão de que Ben fosse interpretado por um ator negro não havia passado pela cabeça de Romero e Russo. Mas Duane Jones fez o teste de forma tão competente, tão magistral, que Romero percebeu que ninguém, além dele, poderia pegar o papel.
A “série dos Mortos”, como é chamada, conta com os filmes A Noite dos Mortos-Vivos (1968), Despertar dos Mortos (1978), Dia dos Mortos (1985), Terra dos Mortos (2005), Diário dos Mortos (2007) e A Ilha dos Mortos (2009), todos eles dirigidos por Romero.
Contribuições com Stephen King
Nos anos 1980, Romero iniciou uma parceria profissional que rendeu ótimos frutos com Stephen King. Em 1981, King fez uma curta aparição no filme de Romero Cavaleiros de Aço. No ano seguinte, em 1982, os dois trabalharam juntos em Creepshow: Arrepio do Medo, uma obra muito querida pelos fãs de terror, que homenageia os quadrinhos antigos da EC Comics. O filme rendeu uma sequência, Creepshow 2: Show de Horrores, de 1987, que foi dirigido por Michael Gornick mas contou com roteiro e histórias da dupla original; e também uma história em quadrinhos, adaptada do primeiro filme.
Em 1990 foi lançado o filme Contos da Escuridão, dirigido por John Harrison, que conta com histórias de Romero e King. Romero foi o produtor executivo da série Tales from the Darkside, exibida entre os anos de 1984 a 1988.
A última colaboração profissional de ambos aconteceu em 1993, quando Romero dirigiu A Metade Negra, filme que adapta o livro de mesmo nome de Stephen King.
LEIA+: GUIA DEFINITIVO DE ADAPTAÇÕES MACABRAS DE STEPHEN KING
Outros filmes e remakes
Mas não é somente com os filmes de zumbi que Romero trabalhou ao longo dos anos. Ainda na década de 1970, Romero fez quatro longas-metragens fora da temática: There’s Always Vanilla, de 1971, A Época das Bruxas, de 1972, O Exército do Extermínio, de 1973 e Martin, de 1977. Apesar de não terem feito muito sucesso quando foram lançados, hoje alguns dos filmes se encontram como clássicos do gênero, como é o caso de O Exército de Extermínio, que recebeu um remake em 2010, dirigido por Breck Eisner, lançado em português como A Epidemia. Romero foi produtor executivo do filme.
Eu tenho medo das pessoas e do que elas podem fazer umas com as outras. — Romero no Festival de Cinema de Karlovy Vary
Romero também foi produtor executivo de outro remake de um filme seu. Lançado em 1990, com Tony Todd no papel de Ben e direção de Tom Savini, o remake de A Noite dos Mortos-Vivos agradou aos fãs de Romero e fez uma bela homenagem ao filme original.
LEIA+: TOM SAVINI: O MESTRE DAS MAQUIAGENS DOS FILMES DE TERROR
Nos anos 1980 e 1990, Romero também trabalhou nos filmes Instinto Fatal, de 1988, no segmento “The Facts in the Case of Mr. Valdemar”, do filme Dois Olhos Satânicos, e nos anos 2000 o filme A Máscara do Terror.
Romero faleceu em 2017, e nos deixou um legado poderoso, inigualável e repleto de obras inesquecíveis. Sua influência para escritores, cineastas e fãs de filmes de terror, será para sempre lembrada.
*
Gostou de conhecer mais sobre a carreira de George Romero? Entre na mente de mais diretores visitando a categoria Macabramente no blog da Macabra. Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.