Um cientista que almeja alcançar o inalcançável e antinatural trazendo matéria morta de volta à vida; uma Criatura que foi posta no mundo sem a chance de descobri-lo com a ajuda de quem a criou. Frankenstein é um clássico atemporal que já teve milhares de adaptações — na TV, nos cinemas, com outros livros, utilizando todos os elementos ou apenas uma parte da história original.

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O que torna Frankenstein tão fascinante? Uma história escrita por uma jovem, há mais de duzentos anos, e que ecoa ainda hoje. É justamente a juventude de sua autora, ou os temas profundos tratados de forma tão clara e assustadora que Shelley se debruçou? A discussão entre os limites da ciência, da ética desse conhecimento, e das possibilidades que algumas experiências têm de alterar para sempre a humanidade — para o bem e para o mal — continuam atuais (talvez mais hoje do que quando foram escritas).

Servindo de conto preventivo, Frankenstein reúne questões que seguem fazendo parte da sociedade. Algumas histórias — dos Irmãos Grimm, de oralidades ancestrais, ou mesmo da Bíblia — tem esse poder de permanecerem presentes mesmo após tantos anos. Mas há alguns anos não víamos a obra-prima de Shelley tomar conta das histórias como estamos vendo em 2024.

Ao todo, temos pelo menos quatro projetos que lidam com as características de Frankenstein. Dois deles já foram lançados nos cinemas internacionais, e dois estão em etapas diversas de produção. 

Lisa Frankenstein

Lançado em 8 de fevereiro nos cinemas norte-americanos e ainda sem previsão para a estreia brasileira, Lisa Frankenstein conta com roteiro de Diablo Cody e direção de Zelda Williams. O filme, como vem sendo chamado por suas criadoras, pode ser considerado um “coming of rage — uma brincadeira com o subgênero “coming of age”, que conta histórias de jovens e suas descobertas do crescimento, com a troca pela palavra rage, que significa “raiva”. 

No filme, acompanhamos Lisa (Kathryn Newton), uma garota pouco popular no colégio, que acaba acidentalmente revivendo um cadáver vitoriano. Tentando encontrar uma forma para torná-lo mais “apresentável”, Lisa utiliza uma máquina de bronzear esquecida em sua garagem e alguns outros pedaços de cadáveres aqui e ali.

Com uma abordagem diferente da que costumamos ver — com Frankenstein sendo o monstro, ou a criatura filosófica, ou mesmo caindo de vez na comédia —, Lisa Frankenstein coloca os holofotes sobre uma garota adolescente que está lutando para se encontrar na vida, tudo isso com bastante cor, néon, músicas e o charme dos anos 1980 que inegavelmente nós adoramos. 

Pobres Criaturas

Dirigido por Yorgos Lanthimos e adaptado do romance de mesmo nome de Alasdair Gray por Tony McNamara, Pobres Criaturas atraiu facilmente a atenção dos fãs de cinema de forma geral — e ainda mais dos fãs de horror. Seja por seu elenco estelar, que conta com Emma Stone, Mark Ruffalo e Willem Dafoe, ou mesmo pelo visual fascinante que o trailer repassou aos espectadores, ou ainda pelo fato de que a personagem de Emma Stone foi criada como uma criatura saída das páginas de Mary Shelley, o ponto é que o filme viu uma curiosidade generalizada.

E, levando em consideração as críticas que saíram até o momento, o filme vale todos os comentários mesmo. Na história, acompanhamos Bella Baxter (Stone), que retorna à vida graças aos trabalhos do cientista Godwin Baxter (Dafoe). Bella tem sede de conhecimento, e ao se unir ao advogado Duncan Wedderburn (Ruffalo) ela entrará em um universo de descobertas e crescimento.

Com onze indicações ao Oscar, ainda que não seja diretamente um filme adaptado do próprio Frankenstein, é inegável que o trabalho de Gray e Lanthimos evocam esse livro seminal. Os temas da descoberta do mundo e da sede de aprender estão lá, assim como o instinto e as frustrações que esse conhecimento pode acabar trazendo. Bella Baxter tem muito de Frankenstein. 

Frankenstein de Del Toro

Não temos muitas informações sobre o novo projeto de Del Toro, mas sabemos que será sobre Frankenstein de Mary Shelley, e temos também alguns nomes confirmados: Oscar Isaac viverá Victor Frankenstein, Jacob Elordi será a Criatura, e temos ainda Mia Goth e Christoph Waltz. 

Os planos para esse projeto são antigos. Frankenstein é um dos livros favoritos de Del Toro e, junto a Criatura da Lagoa Negra — que meio que se transformou em A Forma da Água —, era um projeto de sonho do cineasta. Em entrevistas antigas, Del Toro afirmou que adoraria combinar elementos de Frankenstein e A Noiva de Frankenstein. O curioso é que, de acordo com a sinopse que consta no IMDb, há um personagem que não aparece no livro de Mary Shelley, mas é um dos personagens-chave para o desenvolvimento do filme de James Whale de 1935: dr. Pretorius, quem parte em busca de Victor para que ele retome seus projetos. 

Não sabemos até onde a sinopse que consta na página do IMDb é confiável, mas talvez não demore muito até descobrirmos. O Frankenstein de Del Toro é parte do acordo que envolve vários projetos do cineasta com a Netflix. Com as filmagens iniciadas em fevereiro, é provável que até o final deste ano e início do próximos tenhamos novidades oficiais e uma data de estreia.

A Noiva de Frankenstein de Maggie Gyllenhaal

Uma das notícias mais curiosas sobre o interesse na Criatura mais amada da cultura pop surgiu no começo desse ano, com Maggie Gyllenhaal na direção de um novo filme sobre a Noiva de Frankenstein. O projeto foi confirmado pela Warner Bros, e temos algumas informações sobre ele.

Até o momento, o elenco inclui Annette Bening, Jessie Buckley, Penelope Cruz como a Noiva, Christian Bale como Frankenstein (Victor ou a Criatura? não sabemos) e Peter Sarsgaard como um detetive. A sinopse divulgada pelo site Bloody Disgusting é a seguinte: “Um solitário Frankenstein viaja para a Chicago dos anos 1930 para encontrar o ajudante de um dr. Euphonius para criar uma companhia para ele. Os dois revivem uma jovem assassinada e a Noiva nasce. Ela está além do que qualquer um deles pretendia, iniciando um romance explosivo e chamando a atenção da polícia e de movimentos sociais radicais”.

Outros experimentos frankenstenianos

Dois outros filmes que trabalham com a temática da criação da vida bem no estilo Mary Shelley foram lançados no ano passado, e ainda não foram lançados oficialmente pelo Brasil. 

The Angry Black Girl and Her Monster, dirigido por Bomani J. Story, acompanha a história de Vicaria (Laya DeLeon Hayes) que, após a terrível morte de seu irmão, passa a realizar experimentos para erradicar a morte, a qual acredita ser uma doença que pode ser curada. Tentando trazê-lo de volta, Vicaria mergulha profundamente na ciência.

Já em Birth/Rebirth, dirigido por Laura Moss, coescrito por Moss e Brendan J. O’Brien, nossa protagonista é Rose (Marin Ireland), uma técnica de necrotério que reanima o cadáver de uma garotinha. Para mantê-la viva, porém, ela vai precisar de material biológico de mulheres grávidas. As coisas se tornam ainda mais complicadas para Rose quando a mãe da garotinha descobre que sua filha está viva.

Assim como Lisa Frankenstein e Pobres Criaturas, The Angry Black Girl and Her Monster e Birth/Rebirth trazem mulheres como protagonistas de suas tramas. É interessante observar o movimento de fazer a criatura criada, o cientista ou mesmo os dois personagens como mulheres em busca de alguma revelação, conhecimento ou até mesmo vingança, lidando com maternidade, família e formas de se encontrar diante do mundo — temas que estão presentes na obra original de Shelley, mas que acabam sendo deixados um pouco de lado em suas adaptações, que prezam pela disputa ciência x natureza.

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