Contorcionista, maquiador, ator, capaz de dirigir suas próprias cenas e dar palpites coerentes para que tudo saísse da melhor forma possível diante das telas. O Homem das Mil Faces, como ficou conhecido, trabalhou incansavelmente para fazer de sua arte algo a ser lembrado pelas décadas seguintes.
Lon Chaney, filho de pais com deficiência auditiva, cresceu utilizando principalmente a linguagem de sinais e suas expressões para se comunicar. Através de sua arte, ele empregou tudo que sabia até então para tornar convincente sua atuação, e se transformou em um dos maiores atores de todos os tempos.
Chaney foi um dos primeiros astros do cinema de terror — em todos os sentidos da palavra astro. Mas ele não queria ser visto, ou mesmo entrevistado, como pessoa; ele queria ser enxergado como o grande artista que era, com suas maquiagens e seus membros contorcidos em próteses e amarras. Chaney não queria o estrelato, ele queria fazer história de outra forma.
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Apesar das escassas documentações deixadas pelo ator, Pat Dorian recriou de forma carinhosa e sensível o que sabemos das raízes e da vida de Lon Chaney — suas aspirações, ambições, suas vontades e a formação de sua família. Em Fala Comigo, Lon Chaney, podemos ter um vislumbre do homem, pai e ator que ele foi.
E para celebrar o trabalho dessa personalidade imponente do terror, listamos sete de seus filmes mais icônicos para os leitores macabros se emocionarem.
O Fantasma da Ópera
The Phantom of the Opera, 1925 // Adaptado do clássico livro de Gaston Leroux e dirigido por Rupert Julian (com Ernst Laemmle e o próprio Chaney não creditados), este talvez seja o filme mais lembrado do Homem das Mil Faces, sendo provavelmente a primeira imagem que vem à mente quando mencionamos seu nome. Com uma maquiagem brilhante, Chaney encarna a figura do Fantasma, apaixonado pela cantora da Ópera onde mora (e assombra), e disposto às maiores loucuras para mantê-la sob sua proteção. Apesar das várias vezes em que o livro de Leroux foi adaptado, a interpretação de Chaney ainda é uma das mais vivas do personagem.
O Corcunda de Notre Dame
The Hunchback of Notre Dame, 1923 // Dirigido por Wallace Worsley e adaptado do romance de Victor Hugo, geralmente nos lembramos de O Corcunda de Notre Dame com a animação da Disney. Mas muitos anos antes, Lon Chaney interpretou Quasimodo com maestria, em uma versão muito mais sombria e fazendo malabarismos assustadores para se encaixar em suas próprias próteses. Um de seus trabalhos mais doloridos, mas também um dos mais icônicos.
O Monstro do Circo
The Unknown, 1927 // Dirigido por Tod Browning, a história acompanha um fugitivo da polícia, Alonzo, que se esconde em um circo. Ao prender seus braços e aparentar não tê-los, o homem também esconde uma deformidade que tem na mão e poderia entregá-lo. No circo, ele põe seu alvo na jovem Nanon (Joan Crawford), filha do dono do circo, que tem uma fobia estranha da qual não consegue ser tocada. Em uma trama com reviravoltas sombrias, Lon Chaney interpreta Alonzo, fazendo uma das coisas que mais sabia fazer: contorcer seus próprios membros para mantê-los escondidos. O final do filme, claro, é bastante trágico, assim como os melhores de Chaney. Assim como muitos dos filmes do período, O Monstro do Circo foi considerado perdido por muitos anos, até ter uma de suas cópias encontradas em 1968 — um dos motivos de não saberem que havia uma cópia desse filme Cinemateca Francesa, onde foi encontrada, é que várias das latas de filmes continham os dizeres “l’inconnu”, ou unknown, como o filme originalmente se chama. Algumas cenas iniciais permanecem perdidas, mas não afetam o desenvolvimento da história.
Trindade Maldita
The Unholy Three, 1930 // Remake falado do filme de 1925 de Tod Browning, dessa vez dirigido por Jack Conway. Houveram muitos remakes de filmes de sucesso da era muda, agora com falas, e este foi o último do qual Chaney fez parte. Ele repete seu papel como Echo, um ventriloquista mau caráter que, com a ajuda do anão e do homem forte do circo do qual faziam parte, buscam chances de cometerem roubos em pessoas mais abastadas. A atenção do filme está no disfarce de Chaney, que adota as vestimentas de uma mulher e se transforma na Sra. O’Grady, dona de um pet shop. Chaney contracena com Henry Earles, estrela do filme Freaks, de 1932.
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Ironia da Sorte
He Who Gets Slapped, 1924 // Um inventor é traído por um macabro Conde, e se torna um palhaço amargo. Seu número como palhaço consiste em apanhar de todos os outros palhaços do circo. Certo dia, entretanto, o homem se apaixona por uma colega circense, e acaba percebendo que ela está próxima de ser destruída pelo Conde que o traiu anteriormente. O palhaço parte então para salvar a jovem moça. Chaney interpreta o palhaço amargo, em uma de suas grandes maquiagens para o cinema, com expressões extremamente vívidas. O filme foi dirigido por Victor Sjöström, adaptado a partir da peça de Leonid Andreyev.
The Penalty
The Penalty, 1920 // Quando criança, Blizzard se meteu em um terrível acidente. Os médicos, entretanto, amputaram suas duas pernas sem necessidade — e Blizzard ouviu a conversa. Ao tentar contar a seus pais, os médicos afirmaram que eram os remédios agindo em seu corpo e sua mente. Anos mais tarde, Blizzard se torna um macabro e perigoso criminoso, que planeja roubar a cidade de São Francisco e se vingar daqueles que o deixaram sem pernas. Dirigido por Wallace Worsley, novamente com Chaney fazendo um papel dificílimo, tendo que esconder seus membros inferiores.
Vampiros da Meia Noite
London After Midnight, 1927 // A casa abandonada de um homem rico, que cometeu suicídio cinco anos antes, é tomada por figuras assustadoras, que todos acreditam ser vampiros. Poderiam ser, ou há alguma outra explicação? Dirigido por Tod Browning, o filme é considerado perdido até hoje — e todos os fãs de terror sonham em uma cópia recuperada de algum lugar. A última cópia conhecida do filme foi perdida no incêndio da MGM de 1965. Em 2002 a TCM encomendou uma restauração do que se tinha até então, e esse trabalho rendeu um filme de 45 minutos. Em 2016, Thomas Mann publicou o livro London After Midnight: A New Reconstruction Based on Contemporary Sources, baseado em um artigo encontrado na Boy’s Cinema, publicado em 1928. Em 1935, Tod Browning fez um remake falado do filme, intitulado A Marca do Vampiro, que contou com Lionel Barrymore e Bela Lugosi nos papéis que pertenceram unicamente a Chaney. Aguardamos ansiosamente que uma cópia completa possa ser encontrada para conferirmos um dos filmes mais raros da história do horror.
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Fala Comigo, Lon Chaney, já está disponível na Loja Oficial da DarkSide Books. O quadrinho, escrito e desenhado por Pat Dorian, é uma biografia do grande Homem de Mil Faces. Já assistiu algum dos filmes do ator? Comente este post com a Macabra no Twitter e Instagram.