Quem diria que aquela máscara deformada do William Shatner renderia uma franquia de sucesso por mais de 40 anos? Nem o próprio John Carpenter imaginava que seu silencioso assassino e sua babá sobrevivente fariam um sucesso tão estrondoso. Para um filme despretensioso e de baixo orçamento, até que Halloween rendeu muito mais gostosuras do que travessuras.
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Os fãs mais vidrados e amantes de cinema em geral têm um prato cheio sobre a franquia com Halloween: O Legado de Michael Myers, mais uma colheita Macabra com a DarkSide® Books. A publicação de Dustin McNeill e Travis Mullins disseca bastidores deste clássico do terror em um guia definitivo do universo macabro criado por John Carpenter.
Hoje é muito fácil enumerar todos os motivos que tornam de Halloween um filme obrigatório em todas as listas de Dia das Bruxas. Mas naquela estreia discreta em Kansas City em outubro de 1978 ninguém imaginaria que ainda estaríamos falando — e bem — do filme por mais de quatro décadas.
O sonho com o assassino de babás
Um filme de baixo orçamento destinado a mercados secundários e drive-ins, esse era o máximo de expectativa que o estúdio e os produtores tinham com Halloween. Como o próprio John Carpenter disse ao crítico Todd McCarthy, é um filme programado, daqueles em que você diz à audiência que ela irá se assustar e é isso o que acontece.
Ainda assim, Carpenter e a sua equipe conseguiram produzir um longa que foi além de sua fórmula enlatada e suas modestas ambições de público. Aliás, ele se tornou um filme que passou a ditar regras que são aproveitadas no cinema de terror até hoje. Nada mau para um grupo de hippies fazendo um filme sangrento sobre um assassino de babás.
Aliás, esta foi a ideia original de Halloween: um assassino de babás. Ela pipocou na mente do cineasta Irwin Yablans durante uma viagem de avião durante um sonho. “Eu estava retornando de um festival de cinema em Milão e estava procurando por uma ideia que não custasse muito dinheiro, até porque eu não tinha dinheiro”, disse ao New York Times em 1981. Quando o voo pousou, ele correu para um telefone e falou de sua ideia para John Carpenter.
Uma ideia simples, um orçamento modesto e um ritmo alucinado
A combinação foi perfeita: Carpenter estava procurando um sucesso comercial e Yablans estava procurando um diretor para o seu primeiro filme comercial. Eles fizeram um acordo: Irwin Yablans seria o produtor executivo, financiando-o através de sua empresa, a Compass International Pictures, dividindo o baixo orçamento de 300 mil dólares com o investidor Moustapha Akkad.
Em contrapartida, John Carpenter se dedicaria a escrever o roteiro e a dirigir o longa. Ele teria total controle criativo, um pagamento de 10 mil dólares e uma margem dos possíveis lucros. O diretor chamou para o time a roteirista Debra Hill e foi assim que nasceu a história de Michael Myers, um menino perturbado que matou a própria irmã na noite de Halloween e que retornaria após quinze anos, no mesmo feriado, para matar novamente.
O plano só tinha um porém: o modesto orçamento não permitiria que a produção contasse com atores famosos. O máximo que eles conseguiriam pagar a um ator razoavelmente conhecido seria a Donald Pleasence: 20 mil dólares por cinco dias de trabalho no papel do Dr. Sam Loomis.
O resto do elenco foi formado por atores praticamente desconhecidos na época. Um trunfo do filme foi a contratação de Jamie Lee Curtis, que, apesar de não ser conhecida como atriz, carregava o nome de pais famosos: Tony Curtis (Quanto Mais Quente Melhor e Spartacus) e Janet Leigh (Psicose e Sob o Domínio do Mal).
A partir daí tudo aconteceu muito rapidamente, afinal, Yablans queria que o filme estivesse pronto em tempo para as celebrações de Halloween (dã?). John Carpenter e Debra Hill escreveram o roteiro em duas semanas, o filme foi filmado em 22 dias no mês de maio, os editores montaram o filme logo em seguida e o próprio Carpenter compôs a trilha (sim, aquela!) em apenas três dias. Ufa!
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O filme que quase não foi distribuído virou um sucesso
O plano de Yablans era vender o filme a um estúdio ou distribuidora maior, recuperando automaticamente o investimento dos produtores. Não parecia uma venda muito complicada: ele confiava no potencial comercial da história, no timing com o feriado e, além disso, era uma época em que filmes de terror com protagonistas femininas estavam muito em alta. Não tem como errar, não é mesmo?
Mesmo assim, todos os grandes estúdios rejeitaram a produção, deixando à Compass a missão de distribuir o próprio filme – uma aposta bem arriscada para uma época em que os grandes players mandavam no mercado. Após sua estreia em cima do laço em Kansas City, Halloween foi exibido em Chicago, Nova York, Los Angeles, Filadélfia e depois migrou para mercados menores.
Mesmo com o feriado de Halloween no passado, o filme continuou a vender ingressos. A fórmula do sucesso foi uma combinação de marketing inteligente com o pôster da abóbora com uma faca, propaganda boca a boca e críticas surpreendentemente positivas – ok, nem todas elas. Teve muita gente que não gostou.
Mas logo Halloween começou a ser comparado com clássicos do terror, como Psicose e Noite dos Mortos-Vivos. Sim, John Carpenter estava na mesma caixa que Alfred Hitchcock e George A. Romero. Cinco meses após sua estreia – e o próprio Halloween – Yablans previa uma arrecadação de 20 milhões de dólares e planos para exibição em drive-ins nos meses de julho e agosto, nas férias de verão. Numa provável reconsideração, a Warner Bros. acabou distribuindo o filme no mercado europeu.
Halloween não se tornou apenas um clássico do cinema que ganha continuações até hoje, o filme é o exemplo vivo de que filmes de baixo orçamento e um elenco repleto de caras novas e talentosas podem fazer a diferença no cinema. Tudo o que se precisa é de uma equipe talentosa e habilidosa, sem medo de arriscar o próprio pescoço. Até hoje, é bem provável que as pessoas mais assustadas com Halloween ainda sejam John Carpenter e Irwin Yablans – no bom e no mau sentido.
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