O veneno vitoriano de cada dia

Venenos eram utilizados de forma rotineira no século XIX. Selecionamos cinco substâncias perigosas que eram facilmente encontradas nos lares vitorianos.

Ah, o fabuloso século XIX. A Era Vitoriana, as grandes histórias detetivescas, os mistérios, os assassinatos, a rotina macabra da sociedade. A Era Vitoriana ficou marcada por essa aura de estranheza que tanto atrai nossos olhares para o período. Mas, além de estranho, o século XIX foi um período bastante perigoso de se viver.

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Todos os dias, a sociedade do século XIX se envenenava de alguma forma. E não estamos falando de drogas de uso recreativo, vício em álcool ou algo do tipo. Estamos falando de componentes perigosos que eram utilizados de diversas formas por aí, em atividades cotidianas — na comida, na estética, ou em uma simples ida ao dentista.

Substâncias tóxicas estavam presentes por toda a parte. Selecionamos algumas das mais famosas hoje em dia, e onde elas poderiam ser encontradas.

Arsênico

Desde a antiguidade reconhecido como um veneno poderoso e letal, o arsênico continuou fazendo parte dos lares ocidentais até, pelo menos, o século XX, presente em diversos lugares dentro e fora dessas casas. O arsênico poderia ser encontrado em roupas, através da coloração verde, o chamado “Verde de Scheele” ou “Verde Parisiense”, e também em papéis de parede e pinturas. Além disso, a sociedade vitoriana considerava a pele pálida como um dos grandes atrativos das donzelas. Para a pele pálida, entretanto, só a falta de sol não bastava, e passaram a utilizar um composto para que as damas sofressem de anemia e, em consequência disso, ficassem brancas como a neve. O arsênico também estava em tônicos para a saúde e era facilmente comprado em vendas.

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Mercúrio

Ilustração do Chapeleiro Louco, de Alice no País das Maravilhas

Assim como o arsênico, o mercúrio teve um lugar central nos venenos vitorianos. Além de também ter sido utilizado na medicina, o mercúrio era utilizado para fazer chapéus, e isso graças ao feltro. Antes de se transformar em chapéu, o feltro era feito a partir de camadas de pelos de pequenos animais, como o coelho, unidos por uma cola feita de mercúrio. A inalação ou, por algum motivo, a ingestão dessa cola era extremamente prejudicial aos fazedores de chapéu, e logo os sintomas de envenenamento começavam a aparecer. Um desses sintomas era a paranoia, que logo se transformava em raiva, e essa é uma das explicações para a famosa frase “mad as hatter”, ou “louco como um chapeleiro”, e uma das possíveis inspirações para o personagem Chapeleiro Louco, de Alice no País das Maravilhas

Beladona

Ilustração da planta beladona, a Atropa belladonna

Se você não achou ruim o suficiente beber um composto de arsênico para ficar se ficar mais pálida, se prepare para o que vem aí. Durante alguns momentos do século XIX, mulheres passaram a usar uma gotinha de beladona, um veneno altamente letal que pode levar à taquicardia e alucinações, para que as pupilas ficassem mais dilatadas e os olhos mais brilhantes. Digamos que o preço a se pagar pela beleza vitoriana era alto demais. Hoje em dia, a beladona ainda é usada para fins medicinais através de prescrição médica, e seu cultivo é permitido em alguns lugares no centro e no leste da Europa, norte da África e até no Brasil. 

Cianeto

Tonéis de cianeto em Lake View, datados aproximadamente de 1896

O cianeto (ou cianureto) ficou muito conhecido como um excelente auxiliador do suicídio. Mascar pastilhas de cianeto, em romances e filmes de espionagem, se tornou uma maneira de fazer com que esses personagens não fossem interrogados, por exemplo. Além disso, também era uma ótima forma de cometer homicídios — ao todo, 18 personagens de Agatha Christie foram mortos com o veneno. Mas, assim como o arsênico, o cianeto era encontrado em diversos locais no período vitoriano: de tintas, a papéis de parede, até utilizados em daguerreótipos e produtos de beleza. Ingerir cianeto poderia causar falta de consciência, convulsões, náusea, entre outros. Hoje, a substância é mais difícil de ser comprada, mas já foi muito eficaz em um passado não tão distante. 

Estricnina

Assim como os outros venenos da lista, principalmente o arsênico e o cianeto, a estricnina também era utilizada para fins cosméticos e medicinais. Como a beladona, dizia-se que a estricnina dilatava as pupilas. Também era utilizado para fins terapêuticos. Apesar de ainda ser utilizada em alguns lugares de forma medicinal, a estricnina caiu em desuso graças a seu grande potencial para assassinar pessoas. Muito menos um veneno que cometia assassinatos por azar, a estricnina era utilizada intencionalmente para dar um fim aos desafetos. Uma das mais notórias assassinas dos Estados Unidos, Belle Gunness utilizou algumas vezes a estricnina para seus planos macabros. Sua história pode ser lida no livro Lady Killers Profile: Belle Gunness, de Harold Schechter, lançamento da DarkSide Books. 

Se você se interessa por esse universo de venenos e da bizarra e criminosa vida na Era Vitoriana, a DarkSide Books, em sua parceria com a Macabra Filmes, está com dois lançamentos incríveis, já disponíveis em pré-venda na loja oficial da editora.

Crimes Vitorianos Macabros, de Kate Clarke, M.W. Oldridge, Neil R.A. Bell e Trevor Bond, uma reunião dos maiores e mais aterrorizantes crimes que aconteceram no período.

Medicina Macabra 2, Lydia Kang e Nate Pedersen, conhecemos algumas das curas e das charlatanices mais inacreditáveis da medicina. Para aqueles que são fãs do macabro e do bizarro, mas que também curtem a veia cômica e irônica da história da humanidade.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.