Os terrores de Coppola

Diretor de filmes clássicos consagrados, Francis Ford Coppola também já deixou a sua marca no cinema de horror. Conheça mais sobre o premiado cineasta.

Produtor, roteirista e diretor, Francis Ford Coppola conquistou seu lugar no panteão de grandes cineastas após diversos filmes que hoje são considerados clássicos — e já nasceram aclamados pela crítica. Com uma família talentosa, sendo pai de Sofia Coppola e tio de Nicolas Cage, e um círculo de amigos de dar inveja, que inclui Steven Spielberg e George Lucas, Coppola é um nome facilmente lembrado quando pensamos em cinema. E, assim como muitos diretores, ao longo de sua extensa e prolífica carreira, Coppola flertou também com o cinema de horror.

Coppola nasceu em Detroit, filho de um compositor e de uma atriz. Estudou cinema na UCLA, onde já fazia uma série de filmes curtos. Foi no final dos anos 1960 que Coppola iniciou sua carreira profissional, escrevendo roteiros e trabalhando nos filmes de baixo orçamento com Roger Corman, uma das grandes lendas dos filmes de terror daquela década.

Coppola e Roger Corman

Já em 1971, Coppola ganhou um Oscar pelo roteiro do filme Patton, Rebelde ou Herói? (1970, dir. Franklin J. Schaffner), sobre a carreira controversa do general norte-americano George S. Patton durante a Segunda Guerra Mundial. Apesar da grande conquista, a carreira de Coppola decolou realmente no ano seguinte, quando dirigiu e escreveu a primeira parte da trilogia O Poderoso Chefão, adaptação do livro de Mario Puzo.

Coppola e Al Panico em O Poderoso Chefão II

O Poderoso Chefão foi um divisor de águas na carreira de Coppola. Seus méritos já eram reconhecidos de seus trabalhos anteriores, mas o longa foi um sucesso instantâneo. Com O Poderoso Chefão, Coppola ganhou o Oscar na categoria de Melhor Roteiro Adaptado e concorreu na categoria de Melhor Diretor. O longa venceu na categoria de Melhor Filme.

E o filme continuou a render bons frutos. Em 1974, a sequência O Poderoso Chefão II foi lançada, e foi a primeira sequência a ganhar um Oscar na categoria de Melhor Filme. Além disso, venceu outras cinco categorias: Melhor Ator Coadjuvante (para Robert De Niro), Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Direção de Arte, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Diretor.

Coppola e Robert De Niro em O Poderoso Chefão II

A terceira parte da trilogia, O Poderoso Chefão III, foi lançado em 1990. Não foi tão aclamado pela crítica quanto seus anteriores, mas foi um sucesso de bilheteria e ainda assim indicado a sete categorias do Oscar, incluindo Melhor Diretor e Melhor Filme.

Nesse meio tempo, entre a segunda e terceira parte de O Poderoso Chefão, Coppola seguiu com outros projetos. Escreveu o roteiro da adaptação cinematográfica do livro de Scott Fitzgerald, O Grande Gatsby (1974, dir. Jack Clayton), protagonizado por Robert Redford e Mia Farrow; dirigiu e escreveu Apocalipse Now (1979), levemente baseado no livro Coração das Trevas, de Joseph Conrad; dirigiu a adaptação do clássico norte-americano de S.E. Hinton, Outsiders: Vidas sem Rumo (1983); em seguida, dirigiu e escreveu o roteiro de outro livro da S.E. Hinton, O Selvagem da Motocicleta (1983); e dirigiu o filme Cotton Club (1984).

Francis Ford Coppola e Sofia Coppola

Como produtor, a carreira de Coppola também foi movimentada. Foi produtor de As Virgens Suicidas (1999), dirigido por sua filha, Sofia Coppola, e adaptado do livro de mesmo nome de Jeffrey Eugenides; também foi produtor executivo de A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça (1999, dir. Tim Burton) e O Bom Pastor (2006, dir. Robert De Niro), entre outros.

Coppola, George Lucas, Martin Scorsese e Steven Spielberg na cerimônia do Oscar de 2007

Mas é no seu flerte com o terror e no seu trabalho ao lado de grandes astros e histórias do gênero que vamos nos concentrar hoje. Separamos três filmes que têm as mãos de Coppola para falar um pouco mais sobre sua trajetória como cineasta.

Sombras do Terror

Sombras do Terror

The Terror, 1963 // A produção de Sombras do Terror não foi das mais comuns. O longa foi produzido e lançado durante as produções de Roger Corman que ficaram conhecidas como Ciclo do Poe. Nos anos 1960, a intenção de Corman era utilizar filmes feitos a partir de histórias de Edgar Allan Poe que estivessem em domínio público, adaptando-as e, muitas vezes, alterando detalhes e rumos de histórias. 

Oito filmes foram lançados, dos quais sete eram realmente baseados em histórias de Edgar Allan Poe, e uma deles baseada em uma história de Lovecraft: O Solar Maldito (1960), baseado em “A Queda da Casa de Usher”; O Poço e o Pêndulo (1961), baseado no conto de mesmo nome; Obsessão Macabra (1962), baseado no conto “O Enterro Prematuro”; Muralhas do Pavor (1962), baseado nos contos “Morella”, “O Gato Preto”, “O Barril de Amontillado” e “O Estranho Caso do Senhor Valdemar”; O Corvo (1963), baseado no poema de mesmo nome; O Castelo Assombrado (1963), baseado no conto “O Caso de Charles Dexter Ward”, de Lovecraft, mas com o título de um poema de Poe; A Orgia da Morte (1964), baseado no conto “A Máscara da Morte Rubra”, utilizando o conto “Hop-Frog”, também de Poe, como uma subtrama; e Túmulo Sinistro (1964), baseado em “Ligeia”. Vincent Price atuou em todos os filmes, e os roteiros foram escritos por Richard Matheson, Charles Beaumont, Ray Russell, R. Wright Campbell e Robert Towne.

Boris Karloff em Sombras do Terror

Foi entre O Corvo e O Castelo Assombrado que Sombras do Terror foi gravado. Corman acreditava que já havia trabalhado com tantos elementos de histórias do Poe até então, que ele próprio queria fazer algo seu, com fortes inspirações em Poe, e criar um conto gótico semelhante aos dele. Ao final das gravações de O Corvo, Corman teve a ideia de filmar algumas cenas com alguma das estrelas do filme para que pudessem ser utilizadas mais tarde. Corman tentou contato com Vincent Price, que já estava indisponível, então fez um acordo com Boris Karloff. O roteiro, feito meio às pressas por Leo Gordon, tinha também outros três atores, dois homens e uma mulher, então Corman contratou Jack Nicholson e Dick Miller para os papéis masculinos e Sandra Knight para o papel feminino.

No filme, que muitos conectam ao próprio Ciclo de Poe, um jovem oficial do exército de Napoleão persegue uma jovem até um castelo muito, muito antigo, de um velho Barão.

Sandra Knight e Jack Nicholson em Sombras do Terror

Você pode estar se questionando onde Coppola entra nessa história, e é exatamente aqui. As primeiras filmagens de Corman para Sombras do Terror foram com Boris Karloff, mas depois Corman ficou incapacitado de dirigir as outras cenas. Corman estava utilizando recursos físicos da American International Pictures para as primeiras gravações do longa. A AIP financiava O Corvo, mas Sombras do Terror era um projeto independente de Corman. 

Enfim, depois de três meses, os atores foram contatados e avisados de que retornariam às gravações, agora sob o comando de Coppola, que tinha sido contratado como assistente de Corman em Battle Beyond the Sun (1959) e O Castelo Assombrado (1963). Mas, as coisas não iam muito bem. Coppola alterou diversas coisas do roteiro, e Corman não estava muito contente. No geral, as gravações com Coppola devem ter durado menos que 15 dias.

Jack Nicholson em Sombras do Terror

Outros cinco diretores fizeram parte das gravações de Sombras do Terror: Jack Hale, que dirigiu por um dia; Monte Hellman, que dirigiu por poucos dias; Jack Hill, que não foi creditado como diretor, somente como roteirista; Dennis Jakob, que não foi creditado mas dirigiu por um dia; e até Jack Nicholson, que também não foi creditado, mas dirigiu o último dia de gravações oficiais. 

Ufa, esse é um filme de história.

Demência 13

Demência 13

Dementia 13, 1963 //  Produzido por Roger Corman, Demência 13 foi dirigido por Coppola como sugestão do próprio Corman. O cineasta queria ele mesmo dirigir o filme, mas isso se tornou impraticável graças a conflitos de agenda, então recomendou que Coppola ficasse na Irlanda, com uma equipe reduzida, e dirigisse o projeto. Coppola relembra que Corman gostaria que Demência 13 fosse uma cópia barata, que lembrasse Psicose

No filme, uma mulher, chocada com a morte de seu marido, traça um plano audacioso para colocar as mãos em sua herança, sem saber que é alvo de um macabro assassino.

Luana Anders em Demência 13

Mas 1963 não foi um ano fácil para o relacionamento entre Coppola e Corman. Coppola foi deixado livre para trabalhar da forma que quisesse em Demência 13, dentro dos orçamentos planejados. Ele mantinha Corman em contato, contando os detalhes da produção, afirmando que seria o filme mais violento possível e deixaria a audiência enojada.

William Campbell em Demência 13

Ao final das gravações, entretanto, quando foi apresentar o projeto a Corman, suas intenções não foram bem recebidas. Corman queria mais violência, mais mortes, queria alterar uma série de detalhes que Coppola não aceitou, e considerava que o filme era muito curto. Então, Corman contratou Jack Hill para gravar mais algumas sequências. 

No final, Demência 13 acabou sendo lançado em uma sessão dupla com Sombras do Terror, e recebeu críticas mistas.

Drácula de Bram Stoker

Bram Stoker’s Dracula, 1992 //  Outro marco na carreira do diretor é também um dos filmes mais importantes para o terror: Drácula de Bram Stoker. Considerado uma das melhores adaptações da história do Conde mais aterrorizante da literatura de terror, o trabalho de Coppola, seu cuidado, seu elenco, a atmosfera e os figurinos, se tornaram uma marca entre os filmes de terror — e ajudou no renascimento dessa criatura que havia ficado um pouco esquecida durante a década de 1980. 

Winona Ryder e Gary Oldman em Drácula de Bram Stoker

Conhecemos a história de Drácula: um jovem advogado parte para Transilvânia para fechar negócio com um Conde, que quer comprar uma casa na Inglaterra. Mas, chegando lá, o advogado descobre que nem tudo é o que parece, e seu contratante é um vampiro antigo e muito perigoso. Enquanto o jovem é mantido em cativeiro no castelo de seu cliente, Drácula prepara sua grande cartada — uma viagem para a Inglaterra, onde poderá realizar seus planos e criar novos vampiros. 

Quem chamou a atenção de Coppola para o roteiro de Drácula, escrito por James V. Hart, foi Winona Ryder, que achava que Coppola não gostava dela por sua saída tardia de O Poderoso Chefão 3, que gerou atrasos nas filmagens. Mas Coppola gostou muito do roteiro, e acabou investindo em sua realização. De seu orçamento, grande parte foi investida nos figurinos, pois acreditava que os atores eram as grandes pérolas da produção.

Coppola e Gary Oldman em Drácula de Bram Stoker

LEIA+: THREAD DE CURIOSIDADES MACABRAS SOBRE DRÁCULA, DE COPPOLA

O elenco de Drácula de Bram Stoker, como mencionado, é um dos grandes atrativos do filme. Gary Oldman, no papel de Drácula, nos entrega um Conde fascinante e encantador, disposto a conquistar o coração de Winona Ryder, que interpreta Mina Harker. Keanu Reeves faz o papel de Jonathan Harker, o jovem advogado, e Anthony Hopkins interpreta Van Helsing. Richard E. Grant, Cary Elwes e Billy Campbell fazem os papéis de pretendentes de Lucy Westenra, Dr. Jack Seward, Lord Arthur Holmwood e Quincey P. Morris, respectivamente. Sadie Frost interpreta Lucy, e Tom Waits interpreta R.M. Renfield. Monica Bellucci, Michaela Bercu e Florina Kendrick fazem os papéis das noivas de Drácula.

Coppola e Winona Ryder em Drácula de Bram Stoker

O figurino ficou por conta da figurinista, diretora de arte e designer Eiko Ishioka, que recebeu o Oscar na categoria de Melhor Figurino por seu trabalho no longa.

O filme também concorreu em outras três categorias: de Melhor Edição de Som, Melhor Maquiagem e Melhor Direção de Arte, perdendo somente em Direção de Arte.

Filme bônus: Virgínia

Twixt, 2011 // A incursão mais recente de Coppola no cinema de terror foi Virgínia, uma história sobre um escritor de livros de terror que, visitando uma cidadezinha no meio de uma tour de seus livros, acabou se envolvendo em um estranho mistério do assassinato de uma jovem garota.

Val Kilmer e Ben Chaplin em Virgínia

O filme é estrelado por Val Kilmer e Elle Fanning e foi inspirado por um sonho que Coppola teve. Sua intenção era fazer uma gravação experimental, desenvolvendo uma edição simultânea a gravação, algo que se mostrou impraticável e atrasou a produção por dias.

Coppola e Elle Fanning em Virgínia

Apesar de seus efeitos criativos, o filme não está entre os mais conhecidos do diretor e recebeu críticas mistas em seu lançamento.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.