Recompose: o projeto de Katrina Spade de compostagem humana

Norte-americana consegue aprovar lei que autoriza a recompostagem humana no estado de Washington — e conta sobre a ideia para o restante do mundo.

Katrina Spade tem um dos projetos funerais mais interessantes da atualidade. Sua ideia, que ainda causa um certo tipo de choque, pode ser uma saída interessante para aqueles que querem mesmo retornar de onde vieram: a natureza.

O projeto Recompose consiste em transformar o corpo humano morto em compostagem, ou seja, solo fértil. A compostagem é um processo normal e natural para corpos de animais. No livro Para Toda a Eternidade, de Caitlin Doughty, temos um vislumbre melhor do trabalho de Katrina Spade no capítulo sobre a Carolina do Norte. O texto começa falando sobre a situação das baleias-cinzentas que, ao morrerem, acabam servindo de alimento para um incontável número de animais no fundo do mar.

“Nós acreditamos que o cuidado com a morte é uma importante parte da vida”, como diz Katrina no site do projeto, e é um dos pontos mais elaborados durante o XIV Fórum de Gestão e Administração de Cemitérios e Crematórios, que aconteceu de 12 a 14 de junho de 2019 em São Paulo. Katrina Spade, que foi uma das palestrantes, utilizou seu espaço para falar do Recompose.

A compostagem ocorre por meio de madeira e alfafa que, ao serem colocados sobre o corpo falecido, ajudam bactérias, fungos e outros elementos para que o corpo se decomponha naturalmente. Na época em que Caitlin Doughty escreveu o livro, o projeto era menor e contava com o apoio da “fazenda de ossos” da Estação de Pesquisa de Osteologia Forense, na Western Carolina University, e com o apoio da dra. Cheryl Johnston, que auxiliou no início da pesquisa de Katrina.

Atualmente, Katrina fez com que o projeto fosse aprovado, e Washington se tornou o primeiro estado norte-americano a aprovar e legalizar a compostagem humana. Uma enorme vitória para que a morte passe a ser tratada de formas diferentes das convencionais ao redor do mundo. A lei passa a ser válida no estado de Washington a partir do dia 01 de maio de 2020.

Na fase atual, a ideia é que existam urnas construídas em metal para os corpos em locais determinados, e depois eles possam ser passados para o solo, fazendo com que o processo da compostagem aconteça dali em diante. Um dos principais benefícios do Recompose, além de ser uma forma natural de se enterrar alguém, é diminuir o gasto de carbono que é soltado por uma cremação, e reduzir espaços para os enterros.

Katrina Spade é empreendedora e designer desde 2002. Ela tem mais de 15 anos de experiência em gerenciamento de projetos, finanças e arquitetura, com foco em soluções ecológicas centradas no ser humano. Ao conquistar seu Mestrado em Arquitetura pela Universidade de Massachusetts Amherst, Katrina inventou um sistema para transformar os mortos em solo. Em 2014, ela fundou o 501c3 Urban Death Project para chamar a atenção para o problema de uma indústria funerária tóxica e desmotivadora. Em 2017, ela fundou a Recompose. Katrina tem bacharelado em antropologia pela Haverford College. Ela foi destaque no Guardian, NPR, Wired, Fast Company e no NYTimes.

Suas ideias de transformar a morte em algo mais natural possível estão encontrando eco ao redor do mundo. Ainda bem.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.