Retrospectiva O Corvo: 30 anos de produções

Prestes a completar 30 anos, O Corvo ganha um novo remake. Relembre todas as produções inspiradas na obra de James O'Barr, com seus altos e baixos em filmes e uma série de TV.

Eric Draven e sua noiva estavam felizes como somente um casal de jovens apaixonados pode ser quando, na Noite do Demônio, a noite anterior ao Halloween, os dois são brutalmente assassinados por uma gangue de criminosos. Um ano depois, Eric retorna do mundo dos mortos com poderes especiais, pronto para se vingar daqueles que acabaram com sua vida.

O Corvo, de James O’Barr, se tornou um clássico entre os quadrinhos. O’Barr escreveu a história para lidar com a morte de sua própria noiva, que teve sua vida encerrada por causa de um motorista bêbado. Logo as páginas ganharam o mundo, e a adaptação cinematográfica, de 1994, fez com que essa popularidade se estendesse ainda mais.

 

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Mas O Corvo não é somente o filme de 1994. Nestes 30 anos, várias outras encarnações de Corvo passaram pelas telas — tanto do cinema quanto da TV. Prestes a ganhar uma nova adaptação, a Macabra traz uma retrospectiva de todos que já usaram o manto do Corvo. 

O Corvo

The Crow, 1994 // A primeira encarnação do Corvo nos cinemas foi O Corvo de 1994. Dirigido por Alex Proyas, o roteiro foi adaptado por David J. Schow e John Shirley. Shirley havia apresentado a ideia de um quadrinho para a equipe da editora Caliber Press, intitulado Angry Angel, mas foi rejeitado pelas semelhanças com O Corvo de O’Barr. Então, Shirley pensou em adaptar a história como um roteiro para o cinema. O’Barr foi receptivo à ideia e trabalhou junto a Shirley na época, nos primeiros esboços. Devido a conflitos internos, posteriormente, Shirley foi demitido, e David J. Schow, escritor reconhecido por suas histórias de splattergore, foi trazido para os últimos ajustes. 

A produção tinha expectativas de encontrar um diretor ligado ao meio musical. Alex Proyas, que já havia trabalhado com Fleetwood Mac e Bruce Springsteen, foi chamado. O Corvo foi seu segundo longa-metragem — o primeiro foi um filme de 1987 intitulado Spirits of the Air: Gremlins of the Clouds.

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O filme acabou sendo o que, na indústria midiática, é conhecido como “sleeper hit” — uma produção que recebeu muito mais atenção e foi muito mais bem-sucedida do que se esperava. Mas, infelizmente, o longa foi marcado pela tragédia de Brandon Lee, morto durante as filmagens em um acidente com uma das armas usadas em cena. A morte de Lee aconteceu em um momento em que faltavam somente três dias de filmagens para o ator, com a maioria de suas cenas já filmadas. A equipe decidiu seguir com a produção, mas a Paramount, que tinha comprado os direitos de distribuição, saiu do projeto. Quem assumiu os encargos foi a Miramax, que ainda adicionou 8 milhões de dólares para que o filme fosse finalizado.

Com uma trilha sonora que chama a atenção por sua maioria de músicas alternativas, o visual de Eric Draven e o apelo a uma cultura que estava a plenos pulmões naquele momento, O Corvo se tornou um dos mais queridos filmes da subcultura alternativa dos anos 1990 e seguiu conquistando fãs nas gerações que vieram depois. 

O Corvo: A Cidade dos Anjos

The Crow: City of Angels, 1996 // Nós, fãs de filmes dos anos 1980 e 1990, sabemos melhor que ninguém que quando um filme era um sucesso estrondoso, ele logo chamava a atenção e uma sequência era planejada. É uma prática que permeia o cinema há anos, mas que encontrou público cativo principalmente entre essas décadas. Os fãs não se cansavam, eles queriam mais; e os estúdios estavam dispostos a dar a eles (até mesmo quando ninguém pedia por isso).

Apesar da tragédia que acometeu a produção de O Corvo de 1994, encontrou-se espaço para pensar em uma sequência. Dessa vez, dirigida por Tim Pope, com roteiro de David S. Goyer. Pope trabalhou em diversos videoclipes musicais, com bandas como The Cure e Soft Cell, mas Goyer é um nome mais reconhecível aos fãs de cinema, tendo trabalhado nos roteiros da trilogia Blade, na trilogia do Batman de Christopher Nolan, e em muitas outras adaptações de quadrinhos — incluindo a série de Sandman, na qual esteve envolvido na maioria de seu desenvolvimento.

A dinâmica de A Cidade dos Anjos é um pouco diferente da versão original do Corvo. A ideia era utilizar o ressuscitamento através da figura do Corvo em diversas relações diferentes. O segundo filme utilizou a relação pai e filho para trazer seu novo Corvo de volta à vida. Na história, Ashe Corven e seu filho Danny são mortos por um chefão das drogas. Quem retorna é Sarah, que ajudou Eric no primeiro filme, agora adulta e trabalhando em um estúdio de tatuagem. É ela quem encontra Ashe quando ele retorna dos mortos para vingar a morte de seu filho.

Quem assume o manto de Corvo dessa vez é Vincent Perez. Perez era um ator relativamente desconhecido, tendo interpretado o antagonista de Gérard Depardieu no filme Cyrano (1990). Outro filme onde Perez pode ser visto pelos fãs de terror depois de O Corvo: A Cidade dos Anjos é A Rainha dos Condenados (2002), onde interpreta Marius. Sarah é interpretada por Mia Kirshner, e Iggy Pop ganhou uma ponta como o braço direito do vilão, Judah, interpretado por Richard Brooks.

O filme abriu como a primeira bilheteria na semana de seu lançamento, um recorde até aquele momento para o final de semana do dia do trabalhador — nos Estados Unidos, comemorado na primeira segunda-feira de setembro. Mas, apesar disso, as críticas detonaram o filme. Ainda hoje ele é pouco lembrado quando falamos de O Corvo. E, para falar a verdade, os que vieram depois dele são ainda menos lembrados ou menos queridos.

The Crow: Stairway to Heaven

The Crow: Stairway to Heaven, 1998–1999 // Em 1998, uma série de TV foi criada por  Bryce Zabel, adaptando a história original de O Corvo — podemos pensar em Stairway to Heaven como um remake do filme de 1994 e uma nova adaptação do quadrinho de O’Barr. 

Filmada e exibida originalmente no Canadá, quem vestiu o manto de Corvo e Eric Draven foi Mark Dacascos, conhecido principalmente por seu trabalho em O Pacto dos Lobos (2001) e John Wick 3: Parabellum (2019). Assim como na adaptação de 1994, a trilha sonora se destaca por suas bandas alternativas, com músicas de Rob Zombie e Bif Naked. E, tragicamente, assim como no filme original, um acidente no set causado por erro nos efeitos de gravação levou à morte um dos membros da equipe. Marc Akerstream, conhecido por Arrebentando em Nova York, filme protagonizado por Jackie Chan, faleceu após uma cena com explosão.

Entretanto, a série, diferente dos outros filmes da franquia, recebeu críticas positivas e uma boa audiência. Ainda assim, foi cancelada após apenas 22 episódios, quando a produtora foi vendida à Universal, e eles não demonstraram interesse em continuar com a produção. 

O Corvo III: A Salvação

The Crow: Salvation, 2000 // Na virada do milênio, houve uma nova tentativa de dar sequência às histórias sobre o vingativo espírito do Corvo que auxiliava almas com assuntos inacabados a resolverem seus problemas na terra dando a elas alguns poderes especiais. O Corvo III: A Salvação já começou com problemas quando a distribuidora, graças ao fracasso de O Corvo: A Cidade dos Anjos, cancelou seu lançamento nos cinemas, deixando que A Salvação fosse direto para vídeo, um mercado fadado a alcançar menos espectadores do que um lançamento mundial em cinemas.

Na história, é a vez de Alex Corvis (Eric Mabius) se vingar. Acusado e sentenciado à morte injustamente pela morte de sua namorada, Lauren Randall (Jodi Lyn O’Keefe), o Corvo decide dar seus poderes ao jovem, para que ele limpe seu nome e faça justiça por Lauren. Alex descobre que cinco policiais corruptos foram responsáveis pela morte de Lauren, e parte atrás de cada um. Ele também se encontra com Erin (Kirsten Dunst), irmã de Lauren, e promete que provará que é inocente.

Antes de O Corvo III: A Salvação, Mabius esteve em Segundas Intenções. Mas, inegavelmente, entre os atores do filme, Kirsten Dunst é a presença mais conhecida. O filme recebeu, em sua maioria, críticas negativas, mas conseguiu chamar mais atenção dos críticos do que A Cidade dos Anjos.

O Corvo: Vingança Maldita

The Crow: Wicked Prayer, 2005 // Uma das encarnações mais conhecidas do Corvo, depois da encarnação original de Lee, claro, é a de O Corvo: Vingança Maldita. Seja por seu elenco mais conhecido, seja pelas loucuras escritas naquele roteiro ou por seu visual um tanto inesquecível, Vingança Maldita acabou se destacando entre as sequências de O Corvo — positivamente ou não, aí é com o espectador.

O filme teve direção de Lance Mungia, e é adaptado do livro de mesmo nome de Norman Partridge, que, por sua vez, foi inspirado pelo quadrinho de James O’Barr. Na história, Jimmy Cuervo é um jovem que vive isolado em seu trailer, afastado da cidade. Libertado depois de cumprir pena por ter assassinado um estuprador, sua única vontade é ir embora com sua namorada, Lily. Seus planos são interrompidos quando ele e Lily são mortos por uma gangue satânica. Cada membro da gangue se denomina como um dos cavaleiros do apocalipse, que tem certeza que vão conseguir ressuscitar o anticristo, contando com os poderes de premonição de Lola, namorada do chefe. Cuervo retorna sob o manto de Corvo para se vingar da trupe.

Se parece bagunçado é porque é mesmo. Mas o elenco reuniu alguns nomes interessantes. Cuervo foi interpretado por Edward Furlong, que ficou conhecido por seu papel em O Exterminador do Futuro 2, como o jovem John Connor. Luc, o “Morte”, foi interpretado por David Boreanaz, que naquele momento era um sucesso graças às séries Buffy e Angel. E Lola, namorada de Luc, foi interpretada por Tara Reid, conhecida por Lenda Urbana e que, mais tarde, faria parte da franquia Sharknado.

Apesar do elenco e do visual chamativo, o filme não conquistou a audiência e muito menos a crítica. No Rotten Tomatoes, o famoso site sobre resenhas e aprovação do público, o filme ficou com a marca inacreditável de 0% de aprovação da crítica. Foi muito mais que um balde de água fria para qualquer plano de trazer O Corvo de volta — até 2024.

Os dois filmes nunca feitos

Antes de chegarmos à parte mais complexa da história dessa franquia, que é a dança das cadeiras conhecida como “o remake de O Corvo”, temos que comentar sobre dois dos filmes da franquia que nunca foram feitos: The Crow: 2037 e The Crow: Lazarus.

Rob Zombie

Depois de Rob Zombie ter estado na trilha sonora de A Cidade dos Anjos, a oportunidade de dirigir o terceiro filme da franquia foi oferecida a ele. Seria o primeiro longa dirigido por Zombie, e o projeto estava intitulado como The Crow: 2037. O filme iria se passar em 2010, com um garoto e sua mãe mortos na noite de Halloween. Ele seria revivido um ano depois, e somente muitos anos mais tarde é que ele tomaria consciência de seu passado, se transformando em um caçador de recompensas.

DMX

The Crow: Lazarus foi a oferta de direção para o rapper DMX para criar sua própria história de O Corvo. A história seria sobre um rapper que está desistindo da carreira musical para se casar com a mulher que ama, até que ambos são mortos e ele retorna para se vingar. Este filme era para ter sido feito no lugar de Vingança Maldita, mas também não foi adiante. 

Agora, sim, estamos prontos para seguir com O Corvo de 2024.

O passa ou repassa do remake

Na verdade, a história do novo remake de O Corvo começa em meados de 2008, apenas quatro anos depois do fracasso colossal de Vingança Maldita. Em dezembro daquele ano, o roteirista Stephen Norrington deu entrevistas sobre sua vontade de adaptar a história de O’Barr novamente, fazendo algo mais misterioso e realista, quase em um “estilo documentário”. Se você é da turma que curte os quadrinhos alternativos e suas adaptações, se lembrará de Norrington como o cara que dirigiu a adaptação de A Liga Extraordinária e Blade: O Caçador de Vampiros

No ano seguinte, em novembro de 2009, Ryan Kavanaugh, da produtora Relativity Media, disse estar interessado em financiar o filme de Norrington. Na mesma época, o projeto parecia estar caminhando. Nic Cave foi chamado para revisar o roteiro feito até então, e o papel foi oferecido a Mark Wahlberg. 

Mark Wahlberg

As notícias de 2011 chegaram e Norrington tinha sido afastado do projeto. Juan Carlos Fresnadillo, diretor de Extermínio 2, foi escolhido para assumir a direção, enquanto o papel principal de Eric Draven foi oferecido a Bradley Cooper. Neste momento, o filme já estava programado para ser, sim, um remake da história original. Ainda em 2011, a confusão ficou pior: a companhia de Weinstein, até então, era detentora dos direitos da série, com a Miramax tendo lançado o filme de 2005, então, a Relativity entrou em disputa com a companhia. Nesse período, Cooper saiu do “projeto”, com o papel principal sendo oferecido novamente a Wahlberg, mas também com boatos de que Channing Tatum, Ryan Gosling e James McAvoy poderiam ser escolhidos.

Em 2012, a história era outra. Aparentemente, a companhia de Weinstein e a Relativity fizeram um acordo, ambos se tornando produtores, e F. Javier Gutiérrez, diretor de O Chamado 3, assinou para levar a produção adiante. Os novos boatos eram que Tom Hiddleston assumiria o papel principal, mas logo foram desmentidos. Depois, Alexander Skarsgård seria Eric Draven, mas também foi desmentido.

Alexander Skarsgård

Nos anos seguintes, uma sucessão vertiginosa de atores foram confirmados e desinformados na produção. Luke Evans, Norman Reedus, Sam Witwer, Jack Huston, Nicholas Hoult e Jack O’Connell já foram Eric Draven em algum momento entre 2012 e 2016. Até que 2016 chegou, e com ele a história de que Jason Momoa seria o ator protagonista do novo O Corvo. Até então, Corin Hardy, diretor de A Freira, era o diretor responsável pelo filme. Há relatos de que a produção realmente começou e há imagens (ruins, e ninguém sabe se verdadeiras) com Momoa vestido de Eric Draven, mas o projeto nunca viu a luz do dia.

Foto compartilhada por Corin Hardy em seu instagram e Twitter em 2018, com Jason Momoa caracterizado de Eric Draven

Foi só em 2020 que as coisas pareceram andar, e tivemos recentemente a confirmação que este remake está acontecendo. O projeto agora é dirigido por Rupert Sanders, com roteiro de Zach Baylin e William Josef Schneider. O filme será protagonizado por FKA Twigs como Shelley e Bill Skarsgård como Eric Draven. A estreia está prevista para 7 de junho nos cinemas norte-americanos, e as últimas imagens divulgadas deixaram os fãs em polvorosa.

*

O Corvo foi uma franquia cheia de altos e baixos — mais baixos do que altos, precisamos ser sinceros. Mas estamos curiosos para conferir o novo filme, talvez pelo tempo que estamos acompanhando o desenrolar deste remake.

Você assistirá o filme no cinema? Conhecia os outros filmes de O Corvo? Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.