E se o mundo que conhecemos entrasse em colapso? Quais seriam as primeiras coisas afetadas? Nossa alimentação, provavelmente, não seria a mesma coisa.
Em Saboroso Cadáver, livro da argentina Agustina Bazterrica, somos confrontados com um dilema. Um vírus atingiu a maioria dos animais do planeta e causou um colapso mundial, obrigando aqueles que se alimentavam da carne desses seres (ou mesmo que os utilizasse para outros propósitos), aprendessem a lidar de outra forma com a alimentação. Em um mundo que não conseguia se ver em uma dieta livre do consumo de carnes, a única saída foi encontrar um substituto. O substituto, entretanto, foram seres humanos.
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Marcos Tejo é um funcionário de um dos frigoríficos de humanos, e suas atividades e seus dias se desenrolam em meio a seus próprios dramas pessoais, sem muito tempo para desenvolver seus pensamentos incômodos sobre seu trabalho. Não que Tejo tenha se tornado insensível ao que acontece à sua volta. Mas sua busca é diferente.
Com uma crítica profunda ao consumo, à ética a à moral dos seres humanos — com falhas, com caráter duvidoso e seus sentimentos conflitantes e corrosivos —, Bazterrica tece uma fábula assustadora, que causa arrepios e enjoos, mas que dialoga diretamente conosco.
O livro se tornou um sucesso de crítica e de público — para aqueles com estômago para enxergarem além do próprio canibalismo. A Macabra, como fã de tudo que é transgressor, também foi arrebatada por essa narrativa. Selecionamos seis obras, entre filmes e séries, que nos apresentam questões e elementos que conversam de pertinho com Saboroso Cadáver.
No Mundo de 2020
Soylent Green, 1973 // Em 2022, com o planeta devastado pela superpopulação, poluição e pelo efeito estufa, a comida se tornou um item raro, e a população, em sua maioria, começou a se alimentar com tabletes produzidos pela multinacional Soylent Corporation; enquanto a elite, com dinheiro o suficiente, continuou a se alimentar com comida natural e água limpa. Após a morte de um dos grandes membros da Soylent, William R. Simonson (Joseph Cotten), o detetive Robert Thorn (Charlton Heston) e seu parceiro Sol Roth (Edward G. Robinson) são chamados para investigar o que houve. Thorn logo descobrirá que existe muito mais nos tabletes de comida do que a Soylent estava contando ao público. Dirigido por Richard Fleischer e adaptado do livro Make Room! Make Room!, de Harry Harrison, o filme é um clássico das distopias e dialoga diretamente com a crise alimentícia (e outros detalhezinhos a mais) de Saboroso Cadáver.
O Clube dos Canibais
O Clube dos Canibais, 2018 // Gilda (Ana Luiza Rios) e Otávio (Tavinho Teixeira) estão no topo da pirâmide da elite brasileira — e eles têm o hábito macabro de comer os seus empregados (literalmente). Otávio faz parte de um seleto grupo denominado “clube dos canibais”, chefiado por Borges (Pedro Domingues). Entretanto, quando Gilda descobre um segredo do homem poderoso, ela acaba pondo a si mesma e a seu marido em risco. Uma mistura de sátira macabra com horror, utilizando o canibalismo como metáfora certeira ao sistema de classes, esse filme se aproxima bastante de algumas das críticas tecidas por Agustina Bazterrica em Saboroso Cadáver.
Delicatessen
Delicatessen, 1991 // Em um futuro pós-apocalíptico, após um desastre global cataclísmico abalar as estruturas mundiais, transformarem a comida em algo raro e os grãos servirem como moeda de troca, as pessoas se uniram em pequenas comunidades, tentando sobreviver como podem. Louison (Dominique Pinon) é um palhaço desempregado que encontra moradia em troca de trabalho no prédio do estranho sr. Clapet (Jean-Claude Dreyfus), como zelador. Sr. Clapet, um antigo açougueiro, mantém também uma delicatessen. Mas em um mundo com tão pouca comida, onde o homem tem conseguido carne? Louison logo será obrigado a confrontar esse segredo. Dirigido e escrito por Marc Caro e Jean-Pierre Jeunet, com auxílio no roteiro por Gilles Adrien.
Estômago
Estômago, 2007 // Dirigido por Marcos Jorge e protagonizado por João Miguel, se você nunca assistiu Estômago e só leu as sinopses por aí, talvez não entenda muito bem porquê ele está nessa lista — mas talvez faça uma ideia. No filme, acompanhamos a trajetória de Nonato (Miguel), que parte para a cidade grande em busca de melhores condições de vida. Lá, descobre-se que o homem tem uma aptidão acima do comum para a culinária, atraindo a atenção de diversas pessoas. Dentre elas, Íria (Fabiula Nascimento), uma prostituta, e Giovanni (Carlo Briani), dono de um restaurante italiano. A narrativa acompanha os dias atuais, quando Nonato está preso, e seu passado, até descobrirmos o que o levou ali. Um filme que mistura comédia, crime e um final surpreendente.
Raw
Raw, 2016 // Justine (Garance Marillier) é uma jovem vegetariana que começou seus estudos na faculdade de veterinária. Durante o trote com os calouros, ela é forçada a comer um pedaço de carne. A iniciação desperta algo profundo em Justine, que passa a desenvolver um apetite macabro por um tipo bastante específico de carne. O filme de Julia Ducournau é um dos grandes filmes de terror dos últimos tempos e é uma ótima pedida para acompanhar Saboroso Cadáver.
Hannibal
Hannibal, 2013-2015 // Qualquer um dos filmes sobre a vida de dr. Hannibal Lecter poderia entrar nesta lista por motivos óbvios, mas escolhemos usar a série como representante. Na série, Lecter (Mads Mikkelsen), que se passa antes de sua prisão pelo FBI, atende como psiquiatra de Will Graham (Hugh Dancy), agente federal. Ali, eles desenvolvem um vínculo, que levará, posteriormente, à prisão do infame assassino. A série foi composta por 39 episódios, e ainda hoje os fãs clamam pelo seu retorno. As questões levantadas em Hannibal são diferentes das de Bazterrica, mas ainda sim serve como um bom acompanhamento.
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Saboroso Cadáver, de Agustina Bazterrica, está disponível para compra no Site Oficial da DarkSide Books. Já leu o livro? Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.