Agora aguenta porque é Stranger Things pra todo lado. E dá para entender, pois a série da Netflix é um fenômeno que vem crescendo e ganhando mais fãs a cada ano que passa. Crianças, adolescentes e adultos se divertem com o inseparável grupo de crianças que precisa (1) encontrar o amigo desaparecido, (2) deter uma ameaça e (3) ajudar uma nova amiga que está se adaptando ao mundo “normal”.
Os carismáticos protagonistas da série vivem nos anos 1980 e a série sempre invocou, desde os primeiros pôsteres até o último segundo do último episódio da terceira temporada, o clima de uma das décadas mais queridas e saudosas. Um sorriso sempre surge quando a gente reconhece elementos, filmes, roupas de uma época que não volta mais (ou volta? pegue sua máquina do tempo para descobrir).
Apesar disso, em entrevista para o site Den of Geek, o produtor e diretor Shawn Levy disse que, enquanto muitos pensam que esse sentimento de nostalgia é pela década e o que acontecia ali, eles queriam passar o sentimento de nostalgia pelos filmes do período.
Aaah, os filmes…
Vamos começar por ET, o Extraterrestre (1982), porque sim. O filme de Steven Spielberg fez a infância de muita gente, então quando a gente bate o olho na peruca e na roupa da Eleven nos primeiros episódios da série, e vê os malabarismos para fugir do governo, a paixão é certa. ET, o Extraterrestre conta a história de um alienígena encontrado e escondido por um garotinho. Mesmo com a estranheza da coisa toda, eles acabam virando grandes amigos, mas o governo americano é implacável e um grande inimigo dessa relação. Semelhante ao que vemos na série dos Irmãos Duffer, temos uma experiência científica estranha e um vínculo de amizade forte nascendo das adversidades. ET, o Extraterrestre gerou uma série de imagens canônicas para o cinema e para a cultura pop, com o pequeno e amigável alienígena enrugado na cesta da bicicleta, e com a ponta do dedo aceso pedindo para ligar para casa. Clássico.
Aliás, sabe quem estava nesse filme? Drew Barrymore. Ela interpretou Gertie, irmãzinha do protagonista. Mas uns dois anos depois, era ela quem estava estampando os cartazes dos cinemas com Chamas da Vingança (1984), filme que adapta o livro de Stephen King. Na obra, uma garotinha apresenta poderes especiais por conta da exposição de seus pais à experiências do governo americano. Lembra algo? Pois é. Alguns fãs e críticos afirmam que é inegável a influência de Chamas da Vingança e sua protagonista, Charlie McGee, na criação da personagem Eleven. Assim como Charlie, Eleven também nasceu de experiências do governo americano durante os anos 1960, mas Charlie tem o poder de pirocinese (a capacidade de colocar fogo nas coisas com a força do pensamento), enquanto Eleven demonstra domínio da telecinese (a capacidade de atirar coisas com a mente). Os anos 1980 ajudaram a criar o título de Stephen King de Rei do Terror, pela quantidade de obras lançadas e adaptadas nessa época. E, na boa, se formos contar o quanto a estética dessas adaptações serviu de base para que Stranger Things fosse criada e recebesse esse tom nostálgico, ficaríamos aqui por muito tempo.
Em 1982, Poltergeist: O Fenômeno deixou a galera com medo de ligar a televisão na sala, e o filme lembra muito algumas cenas de Eleven e Will. Durante a primeira temporada de Stranger Things lidamos com o desaparecimento de Will para uma dimensão desconhecida, e ele encontra na eletricidade uma das formas de contatar a sua família. Poltergeist não é muito diferente: após o desaparecimento da pequena e doce Carol, a família fica desesperada tentando recuperar sua filha. Em ambas as obras temos mães determinadas a fazer de tudo, mesmo que sejam consideradas loucas, para recuperarem seus filhos. Podemos ver em Joyce Byers (Winona Ryder), muito de Diane Freeling (JoBeth Williams).
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Falando ainda em poltergeists (mais ou menos), em 1984 foi lançado um filme divertidíssimo em que quatro caras saem com uns aparelhos engraçados para para caçar fantasmas, e a brincadeira se tornaria uma das comédias sobrenaturais mais bem sucedidas da história. A segunda temporada de Stranger Things se passa durante outubro de 1984, ano de lançamento de Caça-Fantasmas. Se você cresceu assistindo esses filmes, provavelmente já quis se vestir como a equipe dos Ghostbusters. Assim como ET, o Extraterrestre, Caça-Fantasmas foi uma das maiores bilheterias de comédia, perdendo o posto apenas em 1990 (com o lançamento de Esqueceram de Mim).
E não apenas as fantasias da equipe caçadora de fantasmas mostram que Will, Mike, Lucas e Dustin estão sempre atentos aos lançamentos de filmes e jogos que estão acontecendo, como também os pôsteres na parede, de filmes como Evil Dead (1981) e Tubarão (1975). A ambientação e o clima também são importantes, além de todas as influências e referências citadas. Durante as cenas na casa de Steven, na primeira temporada, podemos notar algo semelhante com A Hora do Pesadelo (1984), não somente pelo episódio se chamar “The Weirdo on Maple Street”, mas pelas luzes, pela forma como as coisas se desenrolam, e toda a atmosfera.
E, se você chegou até a terceira temporada, deve ter percebido como os monstros se movimentam, lembrando um pouco a forma como os Xenomorfos, em Alien (1979) — algo que já era perceptível nos primeiros episódios, mas que agora é ainda mais forte. Algumas das criaturas mais assustadoras de todos os tempos vieram do filme de Ridley Scott.
Para fechar a questão “cinema de horror”, dois astros de Stranger Things também são bastante conhecidos para nós, agora adultos, que crescemos vendo a produção desse período: Winona Ryder, uma das grandes queridinhas dos anos 1990, no papel da incrível e incansável Joyce Byers; e Sean Astin, uma das crianças principais de Os Goonies (1985). Ah, é, ele também esteve em O Senhor dos Anéis depois, outro destaque de sua carreira.
Nem só de terror vive Stranger Things
Os anos 1980 foram anos de muita produção cinematográfica que acabou se firmando no imaginário do público. Boa parte das produções das décadas seguintes utilizou os conceitos dessa década para se fortalecerem. Isso se mostra muito presente no terror, mas não somente nesse gênero.
Um dos maiores sucessos dessa década, que na verdade começou na década anterior, foi Star Wars. Criado em 1977 por George Lucas, pode-se dizer que a franquia alterou os rumos da cultura pop, sendo ainda hoje lembrado e comemorado por seus fãs. O filme é mencionado constantemente em Stranger Things, mas um dos momentos mais icônicos — que mostra que o grupo dos meninos estava imensamente inserido na cultura pop do período — é durante uma das discussões dos garotos durante a primeira temporada. Eles fazem menção à emboscada armada por Lando Calrissian no filme, como se também estivessem prestes a serem pegos por Hopper e Joyce Byers agindo pelo governo, o que não era o caso.
Mad Max (1979) é outra franquia homenageada. Quando os meninos descobrem que perderam seus recordes em uma máquina de fliperama, o nome escolhido para marcar a derrota foi MadMax. Algum tempo depois descobrimos que Mad Max é uma garotinha nova nas redondezas, a Maxine. Ela não só é uma grande jogadora de fliperama como também manda super no skate. Para ficar ainda melhor, ela é fã de histórias em quadrinhos, e apresenta a Mulher-Maravilha para Eleven.
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Sem dúvida os Irmãos Duffer sabiam muito bem o que queriam e o que estavam fazendo para criar o clima perfeito de nostalgia para Stranger Things. Com domínio estético e narrativo, eles conquistaram uma horda de fãs ao longo dos anos, e essa paixão só cresce a cada momento. É como ver um seriado que se passa inteiro na Sessão da Tarde, mas diferente daquilo que já vimos antes.
Um mergulho na década de 1980
Enquanto a gente estava preparando esse post aqui, a DarkSide® Books anunciou um negócio que fez o nosso coração peludo parar: Stranger Fans — A década de 80 no universo da série Stranger Things. O autor do livro, Joseph Vogel, é fã de carteirinha da série e criou um documento completo que é uma verdadeira homenagem ao universo dos Irmãos Duffer. Falando de fã para fã, Vogel mergulha nos detalhes que tornaram essa década um terreno tão fértil para as ideias dos criadores de Stranger Things. Ele apresenta ainda informações preciosas e ilustrações de artistas que se inspiraram na sinergia sinistra que une a história, seus personagens e, é claro, os fãs. Um livro que evoca leitores e espectadores a compartilhar teorias e lembranças de uma série que veio para fincar raízes no imaginário pop mundial.
O livro é traduzido pela Flávia Gasi, que também tem uma série de vídeos incríveis no youtube de análise do imaginário de Stranger Things. Outra fã de carteirinha.
A terceira temporada de Stranger Things já está disponível na Netflix desde o dia 04 de julho de 2019, e podemos adiantar uma coisa: está incrível.