Por Cesar Bravo
Vamos começar dizendo que Stephen King é uma máquina com coração de gente.
O homem já produziu livros, novelas, contos, artigos, livros técnicos, roteiros de cinema, fez parcerias incomparáveis com outros gênios da criatividade (citaremos apenas Peter Straub, George Romero e dois herdeiros do clã real, Joe Hill e Owen King) e ainda foi pessoalmente responsável por jogar os holofotes do horror sobre mentes brilhantes como Clive Barker e Andrew Pyper. Além disso, King foi operador de lavandeira, motorista de caminhão, professor universitário, diretor e produtor de cinema, músico, filho, pai, marido, irmão, membro associado da A.A.A. americana e ainda mantém e administra uma rádio especializada em rock and roll, no Maine, onde mora até hoje com sua esposa, nossa igualmente amada Tabitha King. Oh, e King adora Ramones, Bruce Springsteen e AC/DC — o que faz dele um cara muito legal.
O que é mais importante que prestar uma homenagem a um mestre dessa qualidade? O que pode ser mais gratificante que empreender e conseguir realizar um livro que manterá os leitores de olhos bem abertos, suando entre os cobertores, por muitas e muitas noites? O que é mais empolgante que causar pesadelos e paralisia do sono!?
Realizar essa tarefa entre amigos, é claro!
Foi assim que a Antologia Dark (DarkSide, 2020) começou a nascer, entre amigos, há alguns anos, em um dos tantos bares que refrescam o calor infernal do Rio de Janeiro. Na ocasião éramos somente dois. Que depois se tornaram três. E depois quatro amigos.
LEIA+: 22 RECOMENDAÇÕES MACABRAS DE STEPHEN KING
Em um salto no tempo, os quatro se tornaram sete, doze, quatorze! (Sim, tinha que ser quatorze…, afinal, King tem um probleminha de longa data com o número que antecede este.)
A busca pelos Iluminados — com a intenção de homenagear os mestres do terror, a começar por Stephen King — iniciou ali mesmo. Para começar com o pé direito, precisávamos de um nome poderoso para nossa nova antologia. Quem melhor do que Ilana Casoy para emprestar seu talento para a edição? Ilana, aliás, também assina um texto com um grande amigo e parceiro, um enorme talento que a impulsiona pela ficção afora, o grande Raphael Montes.
Mas estávamos apenas começando. Queríamos mais dessas vozes, dessas novas vozes que nos fazem tremer com a sua verdade. Logo trouxemos para o time Ferrez e Marco de Castro, dois verdadeiros gênios quando o assunto é o horror real da periferia. E os gênios das outras áreas? Do cinema, por exemplo? Dos roteiros? Do jornalismo? Encontramos o perfeccionismo de André Pereira, a voz consistente do grande Fernando Toste, o intrincado texto de Tibau (e sua criatividade monstruosa), e o incansável Vitor Abdala, que traçou um dos paralelos mais improváveis e surpreendentes dessa coletânea.
E então, para colocar a voz que faltava, o grito inicial que faria arder as chamas abissais do reinado do horror, Claudia Lemes, que entregou um texto brutal e apaixonante, com uma assinatura que deixaria o próprio King de boca aberta. Nesse mesmo mérito, Everaldo Rodrigues balançou o eixo do mundo com sua própria Torre Negra, e Carol Chiovatto brincou com vampiros, bruxas e surpresas macabras que vocês precisarão ler para acreditar. E chega ao time Soraya Abuchaim, que simplesmente nos levou para seu próprio saco de ossos (e nós adoramos o resultado). Por fim, tivemos uma aula sobre cinema, diálogos e… lobisomens! Alexandre Callari, que está nessa batalha pelo horror desde meus primeiros passos na DarkSide®. Para completar, eu também deixei meu rastro de sangue no livro, afinal, eu não ficaria de fora dessa de jeito nenhum.
LEIA+: FILMES BASEADOS NA OBRA DE STEPHEN KING
Os textos homenageados ficaram a critério dos Iluminados convidados para essa parceria. E aqui abro um parêntese novamente, pois imagino que vocês ficarão tão felizes e surpresos quanto eu com o resultado. Para começo de conversa, dos quatorze contos, treze (foi mal, Steve) já foram adaptados para o audiovisual. Começando com Carrie, passando por O Corpo e terminando (por enquanto) com o remake de Cemitério Maldito — mas é possível que alguém esteja refilmando Carrie nesse exato momento. Outra grata surpresa foi o reencontro com obras e personagens não tão badalados de King, e nessa lista incluo A Incendiária, A Hora do Lobisomem, A Metade Negra e Blockade Billy.
Mas é uma coletânea, então?
Sim. E não.
Digo com segurança que esse projeto é um primeiro mapeamento das mãos e mentes mais envolvidas com o horror no Brasil nos dias de hoje, e digo com a mesma tranquilidade que muitos desses nomes estarão presentes na nova primavera do horror nacional que desejamos ver florescer em bem pouco tempo.
Com esse livro em mãos, o leitor fiel de horror encontrará o que existe de mais poderoso na narrativa nacional, vozes ficcionais que trazem realidade a cada linha escrita, produtores e diretores de cinema que materializam nossos mais potentes devaneios na tela, profissionais de diferentes áreas que dividem uma mesma paixão pela arte, pelo horror, e por Stephen King — este grande imã que nos ensinou a ser generosos, coesos e produtivos.
Contos sombrios inspirados em clássicos de Stephen King escritos por grandes autores do horror nacional? Suspire longamente e prepare-se porque o sangue vai escorrer. A Antologia Dark vai provocar danos irreversíveis em sua alma. — GETRO.COM.BR
Uma antologia composta por mentes tão distintas também transita por diferentes formas de horror. Nas páginas de Antologia Dark encontraremos o horror corporal, o introspectivo, o horror com um tempero policial, o horror real das nossas periferias, teremos telecinesia, monstros e faremos um passeio assustador pelo sobrenatural e pelo próprio tempo! A diversidade e a qualidade dos textos não me surpreenderam, afinal, desde o começo contamos com grandes talentos. O que me impressionou foi a dedicação, o carinho com que todos esses autores incríveis abraçaram esse projeto, o que faz do livro uma espécie carta de reconhecimento ao que Stephen King vem nos proporcionando com sua carreira pra lá de prolífica.
Antes de encerrar, também preciso dizer que esse não é um livro para iniciantes. Antologia Dark traz pesadelos, mortos-vivos, angústias, ansiedades, demônios, licantropos, vampiros e seres abissais que se alimentam com a luz pura e imagética das crianças.
Em outras palavras: quando se está muito perto da mente de Stephen King, é melhor tomar cuidado…