Você sabe alguma coisa sobre bruxas? Curiosidades do filme Suspiria

Com cores deslumbrantes e uma trilha sonora impossível de esquecer, Suspiria é lembrado pelos fãs como um dos maiores filmes de horror. Confira algumas curiosidades sobre a produção.

Suzy Banion (Jessica Harper), uma estudante norte-americana de balé, chega à Alemanha para estudar em uma famosa escola. Lá chegando, porém, situações macabras começam a acontecer, até que Suzy descobre que está em um local perigoso, repleto de feitiçaria e bruxas poderosas. Há um culto de magia obscura se movendo pelas sombras, e Suzy pode ser a próxima vítima.

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Colorido, extremamente fascinante e uma das obras mais aclamadas do horror italiano, Suspiria foi dirigido por Dario Argento, com roteiro coescrito por ele e Daria Nicolodi, utilizando alguns elementos da obra Suspiria de Profundis, de Thomas De Quincey. Protagonizado por Jessica Harper, o filme mantém seu status cult com um séquito de fãs que só aumenta ao passar dos anos.

A Macabra selecionou algumas curiosidades deste clássico.

As raízes de Suspiria

Daria Nicolodi é uma das grandes responsáveis por Suspiria. Além de ter coescrito o roteiro, Nicolodi também deu a ideia original para a obra. De acordo com as histórias, Nicolodi ouviu uma história muito parecida de sua avó, Yvonne Müller Loeb, que, quando muito jovem, foi enviada para um internato. Chegando lá, ela acabou descobrindo que magia das trevas era praticada no lugar. Daria guardou a informação consigo e, durante uma viagem com Argento, enquanto visitavam várias cidades europeias com histórias e tradições enraizadas na bruxaria, contou ao cineasta o que ouviu de sua avó.

Mas, para além disso, toda a mitologia que envolve o filme também teve outras fontes, a começar pela obra de Thomas De Quincey, Suspiria de Profundis. Na história de Suspiria, conhecemos Helena Markos, a chefe da escola em que Suzy está indo estudar. Conhecida por Mater Suspiriorum — a mãe dos suspiros, em tradução livre —, ela faz parte de um grupo mais complexo e antigo de três bruxas que dominam o mundo. Esse conceito surgiu na obra de De Quincey. Seu livro, composto de ensaios e publicado em 1845, trabalha o processo de memória, através do consumo de drogas alucinógenas. No ensaio em que surge a ideia das Três Mães, intitulado “Levana and Our Ladies of Sorrow”, De Quincey explora as mães/irmãs como as três dores que afligem a humanidade. Anos depois de Suspiria, Argento traria de volta a ideia das três mães em outros dois filmes.

Suspiria e a Branca de Neve

Uma inspiração um pouco menos óbvia e mais visual é o famoso desenho da Disney, Branca de Neve e os Sete Anões

A dupla se inspirou em diversos contos de fadas enquanto escreviam a história de Suspiria — o filme, em si, se parecendo muito com uma história desse tipo, com a mocinha indefesa e inocente e a vilã sendo uma bruxa cruel. Daria utilizou Pinóquio, Alice no País das Maravilhas e a história do Barba Azul para sua escrita, mas Argento já afirmou algumas vezes que sua base visual principal foi Branca de Neve.

Essa inspiração fica bastante clara quando ambas as obras são colocadas lado a lado, como mostram essas imagens:

No livro Broken Mirrors, Broken Minds: The Dark Dreams of Dario Argento, de Maitland McDonagh, que analisa a obra de Argento, o cineasta conta que eles estavam tentando reproduzir as cores de Branca de Neve. Um dos últimos filmes gravados em Technicolor, foi totalmente proposital que sua inspiração fosse o filme da Disney: “Foi dito desde o início que o Technicolor carecia de tons suaves, não tinha nuances — como desenhos animados recortados”.

O primeiro de uma trilogia

A Mansão do Inferno (1980)

Argento não parou no conceito de Mater Suspiriorum quando fez Suspiria, ele também elaborou filmes para as outras duas mães que são pensadas no livro de De Quincey: Mater Tenebrarum, a mãe das trevas, e Mater Lacrymarum, a mãe das lágrimas. 

Na mitologia de Argento, cada uma das mães estava localizada em uma cidade diferente, onde se passavam seus filmes. Mater Tenebrarum é retratada no filme A Mansão do Inferno, que veio logo em seguida Suspiria, em 1980, e se passa em Nova York. Já Mater Lacrymarum demoraria ainda algumas décadas para conseguir seu filme. Intitulado O Retorno da Maldição: A Mãe das Lágrimas, o filme se passa em Roma e foi lançado somente em 2007.

O Retorno da Maldição: A Mãe das Lágrimas (2007)

Daria queria ter estrelado Suspiria, já tendo estado em outros filmes de Argento antes, mas um machucado fez com que ela ficasse fora das gravações. No segundo filme, entretanto, ela interpreta Elise. Já em A Mãe das Lágrimas, é a filha de Nicolodi e Argento, Asia Argento, quem protagoniza o filme.

Uma trilha sonora inesquecível

Sabemos como uma trilha sonora pode alterar significativamente a percepção de um filme de terror, e com Suspiria isso não é diferente. Se aliando à banda Goblin, Argento conseguiu dar uma atmosfera ainda mais peculiar à sua produção. Além de vários instrumentos trazidos de outras localidades, como uma bateria africana e um instrumento de cordas grego, a banda ainda utilizou alguns outros objetos para fazer música, como copos de plástico passados bem rentes ao microfone para produzirem efeito de eco. Muitos críticos acreditam que o tema de Suspiria, assim como seu uso ao longo do filme, foi uma das músicas mais inovadoras do cinema de horror.

Mas não é só isso que torna a trilha sonora de Suspiria inesquecível. Histórias dos bastidores do filme contam que Argento colocava a trilha composta pela Goblin durante as filmagens para ajudar os atores a entrarem no clima, ficando cada vez mais tensos com os crescentes da música tema.

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O remake

Desde que foi anunciado, o remake dirigido por Luca Guadagnino não foi muito bem recebido por Dario Argento. Na época, o cineasta disse ao IndieWire: “Ou você o faz do mesmo jeito — que, nesse caso, não é um remake, e sim uma cópia, e não faz sentido —, ou você muda algumas coisas e faz um outro filme. Nesse caso, por que chamá-lo de remake?”.

Dividindo opiniões ainda hoje, mesmo depois de cinco anos de seu lançamento, Suspíria: a Dança do Medo, como foi intitulado no Brasil, é um filme com seus pontos positivos. Na trama, acompanhamos Susie (Dakota Johnson) que vai a Berlim estudar em uma escola de dança. Seguindo mais ou menos a mesma ideia do filme original, Susie descobre que há algo perturbador na nova escola. 

Ao contrário de Argento, entretanto, Guadagnino resolveu manter a mitologia das três mães somente em um filme, condensando alguns elementos desse conceito explorado na trilogia original nessa única produção.

Ao ser questionado sobre o que achou do novo filme, Argentino disse que não ficou muito satisfeito: “não me animou, ele traiu o espírito do filme original: não tem medo, não tem música”.

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E você, qual sua opinião sobre Suspiria? Qual das duas versões é sua favorita? Comente com a Macabra no Twitter Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.