Vômito verde, uma cabeça girando em 360º e um demônio aterrorizante no corpo de uma garotinha de 12 anos resultou em muitos pesadelos. Um dos filmes mais assustadores de todos os tempos, O Exorcista é uma adaptação do romance de mesmo nome de William Peter Blatty.
O livro, escrito em 1971, teve seus direitos vendidos menos de dois anos após sua publicação e se tornou um sucesso imediato, mas cheio de controvérsias. De membros da equipe achando que o local das gravações era assombrado, até espectadores passando mal em cinemas, todos já ouvimos algumas histórias sobre o filme.
Confira abaixo algumas curiosidades deste grande clássico do terror.
Baseado em uma história real
O livro que deu origem ao filme foi escrito com base em uma história real. Em 1949, no Missouri, houve um suposto caso de possessão de um garoto, que recebeu os pseudônimos de Roland Doe e Robbie Mannheim para manter sua identidade segura. Uma tia de Roland o apresentou a tábua Ouija, e seus parentes começaram a perceber comportamentos estranhos no garoto e na casa, mais ou menos como os descritos por Blatty no livro: cama se mexendo, barulhos nas paredes, móveis se movendo pelos cômodos. Após a morte da tia, e ao ser levado ao hospital, nada foi descoberto. Quem fez o pedido para o exorcismo foi o Padre Albert Hughes, e ao longo de várias semanas cerca de nove padres tentaram ajudar o garoto. Um desses padres, chamado Raymond Bishop, mantinha um diário sobre os procedimentos do exorcismo. Thomas B. Allen, autor do livro Exorcismo, utilizou os diários de Bishop em sua obra, e seu livro hoje é considerado o mais completo relato de um exorcismo pela Igreja Católica desde a Idade Média, chamado por Ed e Lorraine Warren como “um documento fascinante e imparcial sobre a luta diária entre o bem e o mal”. No livro, publicado pela DarkSide Books, o nome utilizado para se referir ao garoto é Robbie Mannheim.
O exorcismo chegou ao fim quando, na última sessão e de acordo com os presentes, o garoto disse: “Satã, eu sou São Miguel, Te obrigo a deixar este corpo agora!”.
Foi quando viu a notícia na primeira página do Washington Post que Blatty teve inspiração para escrever seu livro. De acordo com as notícias, o garoto cresceu, se casou, teve filhos, uma longa carreira profissional e nunca falou publicamente sobre o caso. Hoje os analistas que tentam compreender o que houve, afirmam que Roland poderia ter algum caso de esquizofrenia ou Síndrome de Tourette.
A sra. Blair amou o roteiro
O Exorcista é um filme bastante controverso. O roteiro se concentra em uma garotinha de 12 anos possuída por um demônio, e parte da culpa acaba caindo sobre os ombros de sua mãe, uma atriz que passa muito tempo ocupada, uma mulher divorciada, que não tem uma relação muito boa com seu ex-marido. O tom é mesmo um tanto moralista. Durante o filme, inclusive, Regan passa por muitas cenas complicadas e é apenas uma criança. Tanto que, uma das atrizes cotadas para o papel era Denise Nickerson, a Violet de A Fantástica Fábrica de Chocolates de 1971. Entretanto, quando seus pais viram o roteiro, resolveram que a filha não faria parte daquela produção. Quem amou o roteiro, na verdade, foi a mãe de Linda Blair, a atriz que acabou ficando com o papel de Regan.
Mas nem tudo foram flores. Linda Blair se machucou durante as filmagens, nas cenas em que era jogada violentamente na cama. A jovem também recebeu uma série de ameaças de morte, principalmente de grupos religiosos, o que fez com que a Warner Bros contratasse seguranças para acompanhá-la.
Mercedes McCambridge: a voz de Pazuzu
Apesar de não ser dito no filme, o demônio que aterroriza a vida da família MacNeil é o demônio Pazuzu, uma entidade ligada ao vento, com amuletos que eram usados como proteção. Mas mais aterrorizante do que imaginar a figura de Pazuzu, é ouvir sua voz em alguns momentos do filme. Quem foi responsável por causar tantos horrores através de algumas falas foi a atriz Mercedes McCambridge. Orson Welles certa vez disse que McCrambridge era a maior atriz do rádio ainda viva, e podemos bem ver o poder de sua voz no filme. Entretanto, McCambridge não foi creditada por seu trabalho, e processou Friedkin e a Warner Bros. Com uma ajudinha da Screen Actors Guild, o processo se encerrou com os devidos créditos.
Para esse trabalho, McCambridge ingeriu ovos crus, fumou um bocado e tomou bastante Whisky. Em suas gravações, ainda se mantinha presa a uma cadeira, para parecer que o demônio realmente estava lutando para se soltar.
O rosto de Pazuzu, entretanto, é de Eileen Dietz.
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A escolha de Friedkin como diretor
A lista que o estúdio tinha para a escolha do diretor era recheada. Dentro os nomes cotados estavam Arthur Penn, Peter Bogdanovich, Mike Nichols e até Stanley Kubrick. Entretanto, quando vendeu os direitos de seu livro para que um filme fosse feito, Blatty se manteve como um dos produtores e fez questão de dar sua opinião sobre quem deveria dirigir, e sua escolha era William Friedkin. Blatty acreditava que Friedkin seria mais corajoso na adaptação, principalmente depois de assistir seu filme Operação França, de 1971. A produtora até tinha contratado outro diretor, Mark Rydell, para O Exorcista, mas Blatty foi firme em sua decisão.
Friedkin é reconhecido por ser um diretor complicado de se trabalhar, e no set de O Exorcista ele bateu em um padre para que causasse o choque que gostaria de demonstrar em cena. O Padre William O’Malley era realmente um padre, não era um ator. Friedkin afirma que O’Malley não guardou rancor e até o abençoou depois da cena.
Jovem demais
Max Von Sydow, ator que interpretou o Padre Merrin, tinha 44 anos quando fez O Exorcista e precisou ficar muitas horas na cadeira de maquiagem de Dick Smith para envelhecer os 30 anos que ele precisava para interpretar seu papel. No total, eram cerca de três horas por dia de maquiagens para envelhecer Sydow. Inicialmente, o papel era de Marlon Brando, mas Friedkin vetou a decisão por achar que todos os filmes com Marlon Brando seguiam um certo estigma, se transformando imediatamente em uma atração do próprio Brando, e essa não era a intenção do diretor.
Sydow também é reconhecido por seu papel em O Sétimo Selo, Antonius Block.
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Responsável pelos efeitos sonoros
Uma das coisas mais assustadoras de O Exorcista é o seu som. Ouvir, muitas vezes, causa mais arrepios do que ver, e por mais que as cenas de Regan sejam nojentas, muitas vezes é do som que os pesadelos gostam de se lembrar. O responsável pelos efeitos sonoros de O Exorcista foi Gonzalo Gavira, técnico de som mexicano que trabalhou em filmes de muito sucesso, como O Bom, O Mal e O Feio, de 1966, e El Topo, de 1970. Uma das demonstrações mais precisas de seu talento está na cena em que a cabeça de Regan vira em 360º: os efeitos sonoros foram feitos com uma carteira de couro de um membro da equipe em frente a um microfone.
A pintura que inspirou o pôster de O Exorcista
A imagem mais famosa de O Exorcista, a que está no pôster oficial do filme, é, na verdade, baseada em uma pintura de René Magritte, feita entre os anos de 1939 – 1967. A pintura se chama O Império das Luzes (L’Empire des lumières).
O Exorcista no Oscar
A gente sabe que os filmes de terror não são lá muito apreciados pelos senhores da Academia, não é? Dificilmente um filme do gênero consegue ser nomeado, quem dirá ganhar uma estatueta. E mesmo os filmes de terror estarem presentes desde o nascimento do cinema, é somente em 1974 que um filme foi nomeado para Melhor Filme. Na verdade, O Exorcista recebeu 10 nomeações entre as categorias do Oscar. Uma dessas nomeações foi para Linda Blair, como Melhor Atriz Coadjuvante. Infelizmente, na época, as controvérsias sobre a mãozinha que Mercedes McCambridge deu à Linda para seu papel não ajudou muito para que Blair ganhasse o prêmio.
Mesmo assim o filme ainda ganhou como Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Mixagem de Som.
Sequências
Além das várias paródias feitas com cenas de O Exorcista, o filme em si teve algumas sequências. Em 1977 foi lançado O Exorcista II: O Herege, com roteiro de William Goodhart e direção de John Boorman e Rospo Pallenberg. Linda Blair retornou para o papel de Regan, mas muitos membros da equipe do filme original se negaram a participar da continuação, Blatty disse que teve que conter o riso quando foi apresentado ao filme. O Exorcista III foi lançado em 1990, dirigido pelo próprio William Peter Blatty, que também escreveu o roteiro. O filme foi baseado no livro de Blatty, Legião, e se concentra em um policial investigando uma série de assassinatos do serial killer Gemini. Quem interpreta o serial killer é Brad Dourif, que dá voz ao Chuck na série de filmes Brinquedo Assassino.
O Exorcista: O Início, lançado em 2004, é dirigido por Renny Harlin, com roteiro de Alexi Hawley, e mostra o primeiro confronto de Merrin e Pazuzu, dessa vez interpretado por Stellan Skarsgård. Domínio: Prequela do Exorcista, de 2005, é sequência direta do filme anterior.
Em 2016 também é lançada a série de TV O Exorcista, criada por Jeremy Slater. A série funciona como uma sequência do livro e do primeiro filme, mas ignora todas as outras produções que vieram depois. Conta com duas temporadas, e foi cancelada em 2018.
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