Desde que o mundo é mundo e cinema é cinema, o horror tem mostrado seus fantasmas, suas garras e seus gritos.
O Gabinete do Dr. Caligari é um dos grandes clássicos do cinema de horror, e influenciou um sem número de cineastas que vieram depois dele. Lançado em 1920, dirigido por Robert Wiene, o filme é um marco do expressionismo alemão, e conta a história de um sonâmbulo, Cesare, manipulado por Dr. Caligari para cometer assassinatos.
Em preto e branco, no auge do cinema mudo o filme se mostra tão influente por seus cenários contrastantes e geometricamente desajustados, seja por sua história e o ritmo como ela é contada.
Antes de Caligari, entretanto, tivemos outros filmes de horror. O Solar do Diabo, de George Méliès, apontado por muitos como o primeiro filme de terror do mundo, foi produzido em 1896. Um antes antes até da publicação de Drácula, de Bram Stoker.
O livro de Stoker, por sua vez, também marcaria presença no horror mudo 26 anos depois, mas não sob o nome de Drácula, e sim como Nosferatu. Dirigido por F.W. Murnau e lançado em 1922, a história que conhecemos em Nosferatu é a mesma do Conde da Transilvânia, com nomes diferentes por causa dos direitos, mas sob as presas de Orlok reconhecemos os caninos afiados de Drácula.
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Selecionamos dez grandes filmes de horror da era do cinema mudo para você fazer aquela maratona e conhecer mais das origens de nosso gênero tão querido.
A Carruagem Fantasma
Körkarlen, 1921 // Dirigido por Victor Sjöström e baseado em um livro de Selma Lagerlöf, A Carruagem Fantasma conta a história de um homem bêbado que, em uma véspera de ano novo, é obrigado a rever toda a sua vida desperdiçada e egoísta por um cocheiro fantasma. De acordo com o IMDb, a pós-produção desse filme levou cinco meses, um período bastante comprido para a época, e várias camadas e revelações fotográficas foram utilizadas para construir os efeitos do sobrenatural. O filme foi uma grande inspiração na carreira de Ingmar Bergman, que nos anos 2000 lançou o filme The Image Makers, uma obra que apresenta o making of de A Carruagem Fantasma.
Häxan – A Feitiçaria Através dos Tempos
Häxan, 1922 // Escrito e dirigido por Benjamin Christensen, Häxan é um documentário ficcionalizado sobre a história e as mudanças da feitiçaria com o passar dos anos, desde suas origens pagãs até o período de histeria na Europa. Ainda hoje é um documentário importante e um dos filmes mais queridos sobre o assunto, a intenção original de Christensen era construir a história do filme com um conselho de historiadores, mas seu plano falhou quando ele descobriu que todos os especialistas que ele tinha em mente eram contra a ideia de que ele fizesse o filme. No período em que foi feito, foi considerado o filme mais caro de todos os países da Escandinávia.
O Fantasma da Ópera
The Phantom of the Opera, 1925 // Baseado no romance de Gaston Leroux, dirigido por Rupert Julian e Lon Chaney (Chaney não foi creditado), conhecemos a história de um compositor desfigurado que busca o amor de uma jovem cantora de ópera. O homem, escondido entre as paredes da Ópera de Paris, fará de tudo para que sua protegida ganhe o papel de destaque — até mesmo ameaçar a vida da cantora principal. A história se tornou clássica e muitos outros filmes foram feitos após a produção de 1925, mas essa continua sendo uma das preferidas entre os fãs. O filme conta com Lon Chaney no papel de Fantasma, um dos grandes atores de horror do começo do século XX, conhecido como “O homem das mil faces”.
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O Homem que Ri
The Man Who Laughs, 1928 // Adaptação de um livro de Victor Hugo e dirigido por Paul Leni, o filme acompanha a história de um homem muito orgulhoso que, ao se recusar beijar a mão do Rei James, no século XVII, é tragicamente executado e seu filho tem o rosto desfigurado. O jovem, chamado Gwynplaine, passa a esconder seu rosto com um manto preto. A figura de Gwynplaine foi uma inspiração para Bill Finger e para os artistas Bob Kane e Jerry Robinson para criar a figura do Coringa, inimigo de Batman. O papel principal de Gwynplaine foi oferecido a Lon Chaney, mas, enquanto seu contrato com a Universal estava ativo, a empresa não havia conseguido adquirir os direitos do livro. Então, liberaram Chaney, que escolheu fazer O Fantasma da Ópera. No lugar, Conrad Veidt interpretou Gwynplaine.
Fausto
Faust: Eine deutsche Volkssage, 1926 // Baseado na peça de Goethe, Deus e Satã estão com uma guerra travada para ver quem dominaria a Terra. Satã então envia Mephisto para corromper a alma de Fausto, um poderoso alquimista. O filme é dirigido por F.W. Murnau, diretor de Nosferatu, de 1922. Murnau era um diretor muito talentoso e seus filmes faziam um sucesso estrondoso. Após seu filme A Última Gargalhada, de 1924, conta-se que Murnau recebeu permissão e orçamento para realizar esse filme. Até o lançamento de Metrópolis, no ano seguinte, Fausto era o filme alemão mais caro.
O Golem
Der Golem, wie er in die Welt kam, 1920 // No século XVI, em Praga, um rabino cria um golem — uma criatura feita de barro. Se utilizando de feitiçaria, o homem dá vida à criatura e utiliza sua criação para proteger os judeus do local contra a perseguição. O filme foi escrito e dirigido por Henrik Galeen e Paul Wegener. Wegener também faz o papel de Golem. O Golem também está na lista de clássicos do expressionismo alemão. Hoje, entretanto, existem críticas sobre o filme e suas representações errôneas da religião judaica.
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O Gato e o Canário
The Cat and the Canary, 1927 // Os parentes de um excêntrico milionário se reúnem no aniversário de 20 anos de sua morte para a leitura de seu testamento. Dirigido por Paul Leni, adaptado por Robert F. Hill e Alfred A. Cohn a partir da peça teatral de John Willard, o filme une humor e comédia ao contar a história de Annabelle West, a jovem que precisa se manter sã caso queira receber toda a herança do velho milionário. Entretanto, uma série de acontecimentos acabam se revelando difíceis para a jovem e sua sanidade. O conceito de “milionário reúne herdeiros para a leitura de testamento com condições estranhas e muitas coisas terríveis acontecem” acabou sendo utilizado muitas vezes depois disso em diversos filmes de horror ou não.
O Morcego
The Bat, 1926 // Baseado na peça de Avery Hopwood e Mary Roberts Rinehart, dirigido por Roland West, a história acompanha os crimes cometidos por um misterioso homem mascarado que, vestido como um morcego gigante, aterroriza os convidados de uma casa alugada por um escritor de histórias de mistério. No documentário The Comic Book Greats, Bob Kane afirmou que este filme foi uma de suas inspirações para a criação do personagem Batman.
Uma Página de Loucura
Kurutta ippêji, 1926 // Dirigido por Teinosuke Kinugasa e baseado em um conto de Yasunari Kawabata, que também trabalhou na adaptação para o cinema, o filme acompanha um homem que aceita o trabalho de zelador em uma instituição para doentes mentais a fim de salvar sua esposa que está internada. O filme foi considerado perdido por quase de 50 anos, quando finalmente foi recuperado em 1971, pelo próprio diretor, em um galpão.
Vampiros da Meia-Noite
London After Midnight, 1927 // Outro sucesso de Lon Chaney, dirigido por Tod Browning, a história apresenta a casa abandonada de um homem que, cinco anos antes, cometeu suicídio. Agora, a casa é assombrada por figuras macabras, que muitos suspeitam serem vampiros. Mas, se você ficou interessado na história do filme, infelizmente não poderá assisti-lo. O filme é dado como perdido, visto que a cópia armazenada no armazém da MGM foi perdida durante um incêndio que aconteceu no local, em 1965.
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