No fim do século XIX e início do século XX, a Ku Klux Klan fazia dos Estados Unidos um verdadeiro inferno na Terra. Apesar de serem mais conhecidos pelas perseguições aos negros, seus membros também tinham como alvo latinos, judeus, asiáticos, católicos, nativos americanos e imigrantes de qualquer natureza, além de homossexuais. Ou seja, qualquer pessoa que não fosse exatamente como eles.
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Foi nessa atmosfera infernal que P. Djèlí Clark se inspirou para escrever Ring Shout: Grito de Liberdade, uma ficção histórica em que os membros da KKK são capazes de invocar verdadeiros demônios, chamados de Ku Kluxes. Nesse contexto, três garotas unem forças para destruir essas criaturas xenofóbicas.
Embora as atividades da Klan fossem mais intensas antes dos Movimentos dos Direitos Civis nos Estados Unidos, nem todo mundo sabe que ela ainda existe e opera em sua terceira onda, iniciada em 1950. Mais de um século de racismo, violência e terrorismo continuam a se perpetuar a olhos vistos.
O problema sempre existiu, mas as polarizações e o uso de redes sociais parece dar cada vez mais corpo para organizações criminosas como a KKK. Passeatas realizadas nos últimos anos com membros e simpatizantes servem de alerta para que a sociedade não volte aos tempos tenebrosos em que as atividades da Klan eram mais frequentes e até mesmo toleradas pelas autoridades.
Em sintonia com o movimento Black Lives Matter, a ficção voltou a chamar a atenção para um problema que nunca deixou de existir, mas que se torna cada vez mais ameaçador. Produções recentes de filmes e séries relembram às pessoas e apresentam aos mais jovens o que realmente é a Ku Klux Klan e os perigos que ela representa. Veja algumas dessas obras a seguir:
1. Infiltrado na Klan
BlacKkKlansman, 2018 // Adaptado do livro de memórias de Ron Stallworth, o filme contou com a direção de ninguém menos do que Spike Lee. A história é ambientada em 1972, quando Ron (John David Washington) se torna o primeiro policial negro no departamento de polícia de Colorado Springs. Inicialmente ele é designado para se infiltrar no Movimento dos Direitos Civis local.
Ao fazer parte do departamento de inteligência, ele descobre que há uma ramificação local da Ku Klux Klan, e se passa por um simpatizante branco da “causa” através de ligações telefônicas. Para manter o disfarce, Stallworth conta com a ajuda do colega Flip Zimmermann (Adam Driver), que é judeu — outro grupo perseguido pela Klan. O filme ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.
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2. Watchmen
Watchmen, 2019 // Inspirado na graphic novel de Alan Moore, a minissérie da HBO se passa 34 anos após os eventos da HQ em uma livre especulação das consequências após o ataque de Adrian Veidt com o monstro cósmico em formato de lula.
Na série, a história se passa na cidade de Tulsa, em 2019, quando um grupo de supremacistas brancos conhecidos como “Sétima Cavalaria” se inspirou nos diários de Rorschach para causar atos violentos contra minorias. O grupo possui diversas referências à Ku Klux Klan, que também tem seu papel na série, com um dos personagens sendo membro do grupo, além de planos antigos da KKK de hipnotizar pessoas negras.
3. Raça e Redenção
The Best of Enemies, 2019 // Assim como Infiltrado na Klan, esse filme é ambientado na década de 1970. Na trama, Ann Atwater (Taraji P. Henson) é uma ativista negra que tenta conseguir melhores condições de moradia para sua comunidade, mas é ignorada pelos seus representantes, que são todos brancos.
Quando a escola da filha dela pega fogo, C. P. Ellis (Sam Rockwell), líder da KKK local, teme que isso faça com que as crianças negras frequentem as escolas das brancas. Os dois são obrigados a conviver até que o impasse de uma possível dessegregação seja resolvido, em uma jornada de ódio e compreensão.
4. Burden
Burden, 2018 // Quando um museu homenageando a Ku Klux Klan é inaugurado em uma pequena cidade da Carolina do Sul, o reverendo Kennedy (Forest Whitaker) faz tudo o que pode para evitar que aumentem as tensões raciais locais. Porém, a situação se agrava quando ele e sua paróquia se propõem a proteger Mike Burden (Garrett Hedlund), um órfão que havia sido criado dentro da Ku Klux Klan, mas que a mulher por quem ele se apaixona implora que ele deixe seu passado violento para trás. A Klan, nada satisfeita com a situação, busca o ex-membro para se vingar.
5. Mudbound: Lágrimas sobre o Mississippi
Mudbound, 2017 // Ambientado no contexto da Segunda Guerra Mundial no interior do Mississippi, Mudbound conta a história de duas famílias, os McAllan (brancos) e os Jackson (negros), que habitam o mesmo latifúndio. Ao mesmo tempo, dois soldados destas famílias retornam da Guerra, Ronsel (Jason Mitchell) e Jamie (Garrett Hedlund) e precisam lidar com os próprios traumas e com o fato de que, embora eles tenham mudado, o Mississippi não mudou: continua racista, diferentemente da Europa.
Os dois constroem uma amizade, apesar do julgamento e do preconceito dos outros, inclusive de suas próprias famílias. Quando o patriarca dos McAllan descobre que Ronsel teve um filho com uma alemã branca, entrega o amigo do filho à violência da Ku Klux Klan.
Combater o racismo na ficção é um lembrete de que é preciso fazer isso no mundo real também. Embora muitos filmes que retratem a Klan sejam ambientados em outras épocas, combater o ódio e a desinformação é uma tarefa que nunca pode ser deixada de lado. Quem sabe no futuro este tipo de filme não se limite realmente apenas ao passado, não é mesmo?
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Ring Shout: Grito de Liberdade já está disponível na Loja Oficial da DarkSide Books. Comente este post com a Macabra no Twitter e Instagram.