5 trechos da biografia de Clive Barker

Mundos Sombrios de Clive Barker é um mergulho na mente deste artista multitalentoso e visceral. A Macabra reuniu cinco trechos da biografia para atiçar a sua curiosidade.

Mundos Sombrios de Clive Barker é o mergulho perfeito na vida e obra desse artista tão peculiar e excêntrico. Phil e Sarah Stokes, casal de amigos de Clive que o auxiliam na manutenção de sua obra há anos, escreveram essa biografia de fã pra fã. E é de fã pra fã que a Macabra TV, em parceria com a DarkSide Books, presenteia os leitores brasileiros com uma obra incrível em formato especial, gigante como o próprio Barker.

Segredos de produção e livros e filmes, detalhes da vida íntima de Clive, além de um panorama geral sobre tudo que o artista produziu até hoje preenchem as páginas deste livro singular.

Um dos maiores nomes do terror, Barker construiu uma carreira bastante firme e ousada em diversas áreas. Com Livros de Sangue, foi considerado por King um dos nomes do futuro do terror. Com a chegada de suas obras seguintes, principalmente Hellraiser, Barker se estabeleceu como um dos maiores nomes do período. Com suas pinturas, expôs sua alma e se conectou com os espectadores em sensações e terrores únicos.

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É hora de celebrar sua vida e obra. Reunimos alguns trechos da obra, onde Barker comenta um pouco sobre sua visão de mundo e seu trabalho, para atiçar a curiosidade daqueles que já estão ansiosos aguardando seus exemplares.

1. Carne e sangue como ferramentas

Assim que os primeiros volumes de Livros de Sangue saíram, Clive deixou bem claro em suas entrevistas o que chamava sua atenção nas histórias de terror — e afirmava, também, que não queria que suas histórias fossem sem sentido.

“Acho que é porque eu adoro tudo o que é tabu. Tenho a ousadia de falar sobre coisas que as outras pessoas empurram para as profundezas da mente.

Essas coisas continuam rugindo nas trevas, mas precisam ser colocadas em um novo contexto, em ambientes que as pessoas conheçam. É aí que os monstros estão, e não em uma catacumba empoeirada. Em 1984, as pessoas têm muito mais informações do que cem anos antes — e, quanto mais você sabe, mais há motivos para ter medo.

Eu nunca parei de ler histórias de terror ou de ver os filmes, só parei de falar sobre isso em público. Existe uma postura horrorosa de condescendência — mesmo hoje, a maioria das pessoas que fica sabendo do meu trabalho me pergunta o que mais eu faço, o que eu faço ‘a sério’ […] Não tem nada nesses livros que eu consideraria gratuito. Para mim, um livro ou um filme — uma coisa como O Assassino da Furadeira ou A Vingança de Jennifer, digamos — só é gratuito se tiver violência e mais nada.

Precisa ter alguma coisa a mais. Mas, por outro lado, é preciso lembrar que, se você escolheu um livro de terror, para começo de conversa, está pedindo para sentir medo, para levar sustos. E é isso que eu preciso fazer; eu me proponho a assustar as pessoas. E algumas das ferramentas para isso são a carne e o sangue.”

2. Um garotão muito estranho

Nem sempre nossos pais entendem nossas aspirações — artísticas, escolhas de carreira, entre outras séries de decisões que tomamos a partir dos nossos gostos. Para Clive que, como sabemos bem, trabalha com alguns temas bastante delicados e tem obras polêmicas, não foi diferente. E isso, claro, não surgiu do nada: desde muito cedo Barker era um garotinho um tanto estranho, como ele revela em uma de suas conversas com sua mãe.

“Minha mãe disse: ‘Nós não sabíamos o que fazer, você era um garotinho muito estranho’. E eu respondi: ‘Bom, agora sou um garotão muito estranho, e tenho muito orgulho disso’. Então ela falou: ‘O que mais nos deixava desconcertados era que você parecia felicíssimo mergulhando na sua própria imaginação, ficava todo feliz com aqueles diabinhos e as outras coisas que desenhava’. Acho que, quando colocavam uma caixa de giz de cera nas mãos das outras crianças, elas desenhavam casinhas com cercas e flores no jardim e um sol brilhando e tudo o mais — e eu desenhava umas criaturas furiosas que mastigavam a cabeça de pessoas inocentes com seus dentes afiados. Minha mãe achava que isso era um sinal de psicose. […]”

3. A Vingança do Artista

Quem nunca teve aquele professor que pegava no pé e duvidava um pouco de suas capacidades? Isso pode ser um impulso necessário para que o estudante se rebele e leve adiante aquele assunto que o professor despreza, ou pode ser um belo banho de água fria. No caso de Barker, não sabemos exatamente se o desdém do professor foi um motivo de rebelião para Clive, um impulso, ou se o deixou amuado. Mas anos depois ele se encontrou novamente com a figura que o desdenhar quando mais novo, e pode se vingar por todos os artistas que já estiveram na mesma situação.

“Voltei à minha escola em Liverpool para participar de um programa de tv sobre mim — eles estavam fazendo uma reconstituição da minha infância e adolescência, dá para acreditar? Eu entrei lá, e houve um momento sublime logo na porta da frente, porque um dos membros do corpo docente — ele nunca me meteu medo, mas tinha sido bastante desdenhoso comigo uns vinte e quatro anos antes —, ele estava na porta impedindo a entrada de uma garotada que tentava ver a filmagem. Eu passei pelo meio dos alunos, e ele pôs a mão bem no meio do meu peito — sem saber quem eu era. Acho que eu aparentava menos do que os 40 anos que tinha. Ele falou: ‘Pode parar. Estamos fazendo um filme sobre um dos nossos ex-alunos’. E eu respondi: ‘O ex-aluno sou eu’. E valeu muito a pena esperar vinte anos para ver aquele olhar na cara dele. Foi a vingança do artista.”

4. Um filme de terror meia-boca e capenga

Assim como Stephen King, Barker sofre de uma maldição onde suas adaptações dificilmente vão para os caminhos que as histórias originais são elogiadas. Mas uma das maiores tristezas enquanto autor, para Barker, foi com Monster – A Ressurreição Do Mal. Posteriormente o posto entraria em disputa com Raça das Trevas, mas a situação é um pouco diferente: em Raça das Trevas, Barker foi podado enquanto diretor, além de autor. Em Monster, não quiseram nem ao menos ouvir suas opiniões. Ele comentou o que sentiu a respeito da situação em entrevistas:

“Era para ser um equivalente inglês de Tubarão, com sol, alegria e as pessoas de férias, e então aparece um bicho devorando todo mundo. Eu queria esse mesmo tipo de coisa, só que de uma maneira quintessencialmente inglesa. Tinha escrito ‘Rawhead’ em um dos raros verões de tempo quente por aqui — o tipo de clima em que as moscas tomam conta das carcaças das criaturas mortas em duas horas. A Inglaterra, no auge do verão, com céu azul, muito sol, pássaros por toda parte — e atrás do celeiro a criatura que devorava criancinhas.

Por isso eu sabia que seria um problema quando resolveram filmar na Irlanda no inverno […] Todos os contrastes que eu tinha inserido no roteiro se perderam. Imediatamente, o contraponto entre um verão inglês ensolarado e um monstro faminto foi pelo ralo. Eu queria o cheiro de tempestade no ar e acabei com um filme de horror meia-boca e capenga em um ambiente celta e gélido.”

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5. Os limites da carne

Hellraiser, filme de terror de Clive Barker

Uma das coisas que mais chama a atenção na obra de Barker é que ele não é um cara careta. Ao longo desses quase quarenta anos de carreira, Barker gostou de trabalhar com os limites, seja do corpo humano, da carne ou dos desejos. Hellraiser talvez seja o maior exemplo disso, mas é uma questão que permeia diversas outras obras de Clive. Vários contos de Livros de Sangue abordam limites sensoriais e até onde os seres humanos são capazes de ir buscando sua satisfação — e seus prazeres.

“A busca por extremos sensoriais é parte de The Hellbound Heart e de várias outras das minhas histórias. Sempre me interessei pela forma como buscamos prazer — e pela facilidade com que o caminho do prazer se torna um beco sem saída. Nesse momento precisamos dar meia-volta, olhar ao redor e procurar em outro lugar. É como a lei dos ganhos decrescentes. É tipo: ‘Bom, eu já fiz isso. O que posso fazer a seguir? Já tomei essa droga, o que mais temos disponível agora…?’. Se o hedonismo não nos satisfaz — e é claro que isso segue a lógica da lei dos ganhos decrescentes —, o que vem a seguir…? A carne tem seus limites…”

*

Barker é um dos grandes mestres do horror e encontrou uma casa especial nesta parceria entre a Macabra TV e a DarkSide Books. Com Livros de Sangue, Hellraiser, Evangelho de Sangue, Candyman e agora sua biografia Mundos Sombrios de Clive Barker, são várias as opções para conhecer um pouco mais dessa mente assombrosa e inacreditável. Quem sabe o que mais nos aguarda?

Qual sua obra favorita de Clive Barker? Qual o seu favorito? Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.