Não há descanso para os ímpios: 6 Curiosidades de Penny Dreadful

Com uma história arrasadora e cenas icônicas, Penny Dreadful deixou muitos fãs de corações despedaçados em seu término. Confira 6 curiosidades macabras sobre a série.

Um universo macabro compartilhado entre grandes nomes e criaturas da literatura de terror do século XIX, com personagens novos e cativantes e cenas de tirar o fôlego — Penny Dreadful era o sonho que os fãs do gênero não sabia que tinham. A série reuniu fãs apaixonados ao longo de suas três temporadas repletas de tramas intrincadas e ambientação sombria.

Em Penny Dreadful, série criada por John Logan, Vanessa Ives (Eva Green) passa a explorar os mistérios ocultos do submundo londrino em busca de pistas sobre o paradeiro de sua melhor amiga, Mina (Olivia Llewellyn). Junto de Sir Malcolm Murray (Timothy Dalton), pai de Mina, e Ethan Chandler (Josh Hartnett), Vanessa se encontra com personagens inusitados, feras sedentas por sangue, bruxas capazes de grandes males, entre outras figuras complexas e cheias de belezas bizarras.

Penny Dreaful deixou saudades desde que terminou em 2016. Ainda que o final tenha deixado muitos fãs bem nervosos, a condução poética e melancólica dos personagens marcou história. Para relembrar a série com o carinho que merece, reunimos seis curiosidades sobre Vanessa Ives e o grupo mais misterioso da sombria Inglaterra do século XIX.

Romances baratos

A intenção da série já é exposta logo em seu título: penny dreadfuls eram livrinhos e revistas de baixo custo (que custavam 1 penny, ou 1 centavo), geralmente sensacionalistas, de terror e crime, vendidas de forma serial durante a primeira metade do século XIX. Durante o final do século XVIII e início do século XIX, esse tipo de história passou a chamar a atenção da população, que ficou cada vez mais ávida por histórias de criminosos, detetives, violência e situações sobrenaturais. Os penny dreadfuls, ou penny horrible, penny awful e penny blood, passaram a fazer sucesso: era um entretenimento barato e rápido, que causava grandes comoções em seu público. Grandes representantes dessa tendência foram Sweeney Todd e Varney, the Vampire. Apesar do termo se referir especificamente a esse material, ele também passou a se referir a qualquer literatura de baixo custo do período.

Na série, que reúne variados elementos do século XIX, tanto seus personagens, os temas recorrentes — o sobrenatural, as lutas constantes contra o mal —, as criaturas utilizadas, tudo poderia ter saído de um penny dreadful

Muitas referências

Dorian Gray (Reeve Carney)

Inegavelmente os  autores da série conheciam muito bem o terreno em que estavam pisando. Além do nome da série ser uma referência direta aos folhetins baratos e sangrentos, outras várias referências à literatura do período são utilizadas. Personagens como Victor Frankenstein, a Criatura de Frankenstein, Dorian Gray, e, mais adiante, vários personagens de Drácula — e o próprio Conde —, aparecem no seriado.

Criatura de Frankenstein, John Clare (Rory Kinnear) e Victor Frankenstein (Harry Treadaway)

Além dessa participação pra lá de especial, esses personagens recebem contextos e outras referências de suas próprias histórias. Victor Frankenstein, por exemplo, cita Percy Bysshe Shelley algumas vezes. Percy, por sua vez, era marido de Mary Shelley, autora de Frankenstein, e um grande poeta do século XIX. A Criatura de Frankenstein também é chamada por outros dois nomes: John Clare e Caliban. Caliban é o nome de um personagem de Shakespeare, em A Tempestade; e John Clare foi um poeta da virada do século XVIII para o XIX. Todos esses contextos e referências dialogam diretamente com a personalidade de seus personagens, e essas pistas vão montando um quebra-cabeças que podem dizer muito sobre suas ações e suas histórias. 

Mr. Talbot

Sir Malcolm Murray (Timothy Dalton) e Vanessa Ives (Eva Green)

Apesar da maioria dos personagens regulares serem inspirados em figuras já existentes da literatura do século XIX, os três protagonistas principais, Vanessa Ives, Malcolm Murray e Ethan Chandler, não surgiram de livros. Ao contrário, são personagens criados para a própria série. Murray tem uma leve inspiração em Allan Quatermain, personagem de H. Rider Haggard, explorador de lugares “longínquos”. Alguns acreditam que Vanessa Ives pode ter sido inspirada por Lucy Westenra, personagem de Drácula que também é a melhor amiga de Mina Murray, mas é mais provável que a personagem seja um reflexo da ascensão da fé espírita e das médiuns que surgiram no período.

Ethan Chandler, ou Ethan Lawrence Talbot (Josh Hartnett)

Mas Ethan Chandler tem uma inspiração melhor delineada, que chega a ser mencionada durante o seriado. Seu nome real, Ethan Lawrence Talbot, é uma referência direta ao personagem do filme O Lobisomem, clássico dos monstros da Universal, de 1941. No filme, Lon Chaney Jr. interpreta Larry Talbot, um jovem amaldiçoado com a licantropia. Na série, Ethan também é um lobisomem, que sai dos Estados Unidos para fugir de seu passado sangrento.

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Religiões e espíritos

Penny Dreadful não fica somente no campo do terror físico e visual, mas também aborda dois temas muito caros ao século XIX e são mais psicológicos: a fé espírita (e o espiritualismo e espiritismo) e a bruxaria. O espiritismo recebeu muitas atenções na segunda metade do século XIX, após a publicação de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, em que a doutrina e seus princípios são explorados. Mesas e sessões eram frequentes e consideradas atrações interessantes, e nomes famosos se converteram à religião, como Arthur Conan Doyle e Harry Houdini. Na primeira temporada, com frequência vemos Vanessa com um tarot em mãos, e logo nos primeiros episódios ela frequenta mesas e sessões espíritas.

Por sua vez, a bruxaria havia sofrido uma baixa em suas práticas, mas os estudos sobre o tema se tornavam cada vez mais frequentes. Após pergaminhos descobertos em escavações egípcias, e depois de anos tumultuados em que a razão fora deixada de lado e a histeria tomou conta de boa parte do mundo cristão nos séculos XVI e XVII, um gosto amargo ficou na boca da sociedade que buscava compreender os fenômenos sobrenaturais, como as histórias de bruxas e seus terrores. Na segunda temporada da série, descobrimos mais sobre o passado de Vanessa Ives e sobre sua ligação com a bruxaria.

Apesar de feita no século XXI, Penny Dreadful trabalha com cuidado esses temas e subjetividades que atuaram na sociedade londrina do século XIX — mesmo questões que, no período, ficavam por trás das cortinas e encerradas na vida privada.

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Verbis Diabolo

Não é incomum que autores queiram criar detalhes únicos para suas histórias. A linguagem é um dos meios de se alcançar essa novidade. Tolkien fez isso para o universo de O Senhor dos Anéis, e As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin, também teve sua dose de novidade com algumas línguas criadas para os livros e a série de TV. Mas Penny Dreadful não fica atrás quando neste assunto.

O Verbis Diabolo é uma mistura entre aramaico, Grego Antigo, Latim, e um dialeto arábico obscuro chamado Kan Allah Musali-Algins. A língua foi criada por David J. Peterson, co-fundador da Language Creation Society, um grupo que se especializou na criação de línguas fictícias (e também foi responsável pela língua Dothraki, de Game of Thrones).

Cidade dos Anjos

Penny Dreadful fez um sucesso considerável desde seu lançamento e conseguiu reunir muitos fãs. O sucesso foi tão grande e os pedidos de que a série continuasse — mesmo que muitos espectadores acreditem que o final não fez justiça ao resto do seriado. Como forma de prosseguir com a intenção de Penny Dreadful, um spin-off foi lançado, intitulado City of Angels.

City of Angels se passa em Los Angeles, em 1930, décadas depois da série original e sem uma ligação direta com ela. Muitos especularam, inclusive, que não havia motivos para manter o título Penny Dreadful, já que nenhuma trama ou personagem foi utilizado. A série não fez muito sucesso entre os fãs ou com o público novo e foi cancelada após a primeira temporada.

Onde assistir

As três temporadas de Penny Dreadful estão no canal da Starzplay, através do Prime Video, ou no próprio serviço de streaming da Starzplay. A única temporada de City of Angels está disponível no serviço de streaming Prime Video.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.