Tubarões, moscas e criaturas macabras: 57 cineastas de terror comentam as cenas mais inspiradoras do cinema

“Qual cena de filme de terror te assustou para a vida inteira?” 57 cineastas renomados respondem esta pergunta com as cenas que inspiraram suas carreiras.

De onde surge o medo, o horror, a ansiedade, o nojo? Quais os gatilhos que precisam ser ativados? O que mais mexe com a gente? O terror é um gênero muito amplo, que abriga diversos subgêneros e tem fãs de todos os tipos Subjetivo, cada um sabe em que lugar procurar seus sustos. Cineastas, produtores, atores e escritores do gênero também procuram e encontram suas motivações em diversos lugares. Alguns muito óbvios, outros nem tanto.

O site Vulture, em 2018, conseguiu reunir 57 diretores de terror para contarem quais foram suas experiências mais aterrorizantes em filmes e séries de TV. As respostas são bastante curiosas. Algumas escolhas refletem diretamente no trabalho desses diretores, outras são mais subjetivas.

Trouxemos as falas dos diretores traduzidas para o público brasileiro, e destacamos os trabalhos mais importantes dos diretores mencionados. É uma grande oportunidade para conhecer um pouco mais sobre pessoas que admiramos os trabalhos e que têm algo a nos contar sobre suas influências.

John Krasinski — Tubarão

Diretor de Um Lugar Silencioso e Um Lugar Silencioso 2, Krasinski começou sua carreira como ator. Mas, com o excelente trabalho que fez com Um Lugar Silencioso, pudemos perceber que o cineasta está mais que apto a aterrorizar nossas mentes. Assim como alguns outros diretores da lista, Krasinski teve sua primeira influência no terror ainda muito jovem, com Tubarão (1975), de Spielberg.

Tubarão foi o primeiro filme de terror que vi quando era muito novo e, como a maioria das pessoas, ele me mudou. Dos grandes sustos, o que mais estranhamente me lembro é o do primeiro close nos tubarões — não só o momento em que ele coloca a cabeça para fora, mas a sequência inteira.”

LEIA+: VAMOS PRECISAR DE UM BARCO MAIOR: CURIOSIDADES SOBRE O CLÁSSICO TUBARÃO

Luca Guadagnino — A Mosca

Guadagnino foi o responsável pela revitalização da lenda das três Mães, de Dario Argento, em Suspiria: A Dança do Medo, de 2018. Seu filme gerou críticas e opiniões mistas, mas Guadagnino também tem sua história de como o medo influenciou sua carreira, com A Mosca (1986), de David Cronenberg, um daqueles filmes difíceis de esquecer.

A Mosca, de Cronenberg, é uma das maiores obras de arte de todos os tempos, um dos grandes feitos do Sr. Cronenberg, e é bastante horrível. Mas o horror para mim é no final, quando você percebe que o personagem de Jeff Goldblum e a personagem de Geena Davis se amam desesperadamente e não ficarão juntos. O horror definitivo neste filme é a impossibilidade do amor entre os dois (…). Quando a mosca pede que atire com o rifle em sua cabeça, é um momento incrivelmente poderoso, aterrorizante e bonito de horror que explica em uma sequência a importante deste gênero e sua capacidade total de transcender.”

Karyn Kusama — Buster e Billie

Karyn Kusama é uma das grandes cineastas do século XXI e tem mostrado enorme competência em seus trabalhos. De Garota Infernal a O Convite, Kusama subverte expectativas em suas histórias. Seu primeiro grande momento aterrorizante foi no filme Buster e Billie (1974), dirigido por Daniel Petrie e Sidney Sheldon.

“A cena de estupro, que parecia muito como se você estivesse com ela e com aquela experiência, foi incrivelmente transformadora para mim, e não é estritamente de um horror. Mas eu a experienciei como minha primeira memória de horror.”

LEIA+: DIRETORAS MACABRAS: AS SUBVERSÕES DE KARYN KUSAMA

Panos Cosmatos — Mil Séculos Antes de Cristo

Mandy, filme de 2018, foi um sucesso aterrador. Em partes pela atuação forte e impecável de Nicolas Cage, mas muito graças a direção firme de Panos Cosmatos. Antes de Mandy, Cosmatos dirigiu Além do Arco-Íris Negro. Sua grande experiência com cenas perturbadoras foi com Mil Séculos Antes de Cristo, dirigido por Don Chaffey, de 1966. 

“A ansiedade pode diminuir um quarto. O medo pode fazer um quarteirão parecer uma milha. Barulhos normais são, de repente, arautos da desgraça. Talvez o primeiro filme que vi foi uma versão condensada de Mil Séculos Antes de Cristo, em uma Super 8, em nossa pequena casa rural na Suécia. Tem uma cena em que uma tartaruga gigante emerge, guinchando, de trás de uma rocha. Aquela foi a primeira vez que eu me lembro de sentir medo de uma imagem em movimento. Eu fechei meus olhos mas continuava vendo a imagem em minha mente. Me perturbou profundamente.”

Panos Cosmatos também relembra uma cena em As Grandes Aventuras de Pee-wee (1985. dir. Tim Burton), quando o rosto de uma das personagens, Marge (Alice Nunn), se metamorfoseia em uma carranca de argila. “Não somente foi um dos momentos mais inesperados da história do cinema, como me mostrou que qualquer coisa pode acontecer em um filme. Que as possibilidades são realmente inesgotáveis.”

Jen McGowan — O Exorcista

Jen McGowan é diretora desde o início da década de 2000. Iniciou sua carreira dirigindo curtas, e lançou seu primeiro longa em 2014, Kelly & Cal: Uma Amizade Inesperada. No terror e suspense, suas contribuições foram Rust Creek, em 2018, e os episódios “Happy Holidays”, da série The Purge, e “Try, Try”, de Além da Imaginação. Assim como muitos, O Exorcista, de William Friedkin, marcou profundamente a vida de Jen.

“Eu tinha aproximadamente 11 anos e fui dormir na casa de uma amiga após o treino de nado. (…) Não me lembro do que fizemos ou que assistimos antes que ela dormisse, mas eu sei que eu não conseguia dormir e quando, no meio da noite, eu estava sentada, sozinha, cercada por janelas e árvores, O Exorcista começou. Fiquei paralisada, completamente traumatizada. Desde aquele dia eu consigo recitar todas as falas, simular todos os sons, descrever todas as imagens.”

André Øvredal — A Profecia

Dirigido por Richard Donner, A Profecia (1976) causou muitos arrepios por aí. Uma das pessoas impactadas pela história do jovem Damien, filho do Diabo, foi André Øvredal, diretor dos filmes O Caçador de Troll (2010), A Autópsia (2016) e Histórias Assustadoras para Contar no Escuro (2019) 

“O filme que mais me formou foi A Profecia. Foi o primeiro filme que vi que não ficou somente dando voltas. Ele era realmente sério e profundo. Foi um sentimento tão consistente de descobertas horríveis que me assustou enquanto assistia aquele filme, como você se aprofunda cada vez mais para descobrir como tudo é horrível, basicamente construindo um caso contra essa criança que é o Diabo. (…) Algumas coisas envelheceram nele, mas A Profecia ainda é um conceito que me aterrorizou com sua inteligência e seu tom de vida real.”

Bernard Rose — Penda’s Fen

Rose não é um diretor exclusivamente de terror, mas foi responsável por um dos grandes clássicos do gênero: O Mistério de Candyman (1992), adaptação do conto de Clive Barker, protagonizado pelo grande Tony Todd. Sua influência com o terror é, no mínimo, curiosa. Nos anos 1970, a BBC tinha um programa chamado Play For TV, uma antologia de filmes de drama que foi ao ar entre 1970 e 1984, com 306 episódios, com 1h30 cada. Geralmente eram histórias dramáticas, que pouco se aventuravam para ir a qualquer gênero especulativo.

“Era março de 1974. Eu estava assistindo TV em casa. Eu tinha 13 anos. O Play For Today começou. (…) O filme era Penda’s Fen, dirigido por Alan Clarke e escrito por David Rudkin. O que me aterrorizou foi uma cena em particular: um jovem garoto tinha caído de sua bicicleta à vista de um demônio (meio ruim). Inconsciente, sua mente vaga para um jardim. Ouvimos um som repetitivo de ‘corte’ enquanto ele caminha entre a topiaria. Ele chega a um gramado bem cuidado com um relógio de sol no centro. Jovens garotas passeiam em lindos vestidos amarelos. Todo mundo sorri. Uma garota sorridente coloca as mãos no relógio de sol. Um homem com um cutelo amputa suas mãos com um golpe. As mãos decepadas são afastadas do relógio de sol pela lâmina. A garota sorri. Todos parecem satisfeitos com o ritual. Posso dizer que não dormi naquela noite.”

Ari Aster — Carrie

Diretor de dois dos grandes sucessos do terror dos últimos anos, Hereditário e Midsommar, Ari Aster se iniciou no gênero logo cedo com o clássico Carrie (1976), de Brian de Palma, adaptação do livro — também clássico — de Stephen King.

“Eu era muito novo quando assisti a Carrie. Eu acho que estava com 11 anos, e demorou 20 anos para que eu assistisse de novo porque eu tinha muito medo. (…) O filme tem esse senso de humor profundamente maligno, que serve para torná-lo tão perturbador quanto ele é. Fiquei extremamente atraído por esta história profundamente triste sobre uma jovem que não tem lugar no mundo, e fui deixado com imagens que realmente me incomodaram. Percebi que muito disso tinha a ver com o que De Palma estava fazendo com a simpatia do público. Temos total simpatia por Carrie White, que é uma personagem meio irritante. Ela é uma vítima, e durante todo o filme nós apenas queremos que ela faça algo, que se autodefenda. Então você finalmente recebe o que estava desesperado para ver, que é algum tipo de ação, mas é o tipo errado de catarse. Então, quando Sissy Spacek finalmente se transforma e não a reconhecemos mais, isso serve como uma verdadeira traição.”

LEIA+: AS BASES RITUALÍSTICAS DE MIDSOMMAR, O NOVO PESADELO DE ARI ASTER

Issa López — Demônio Com Cara de Anjo

Issa López é uma diretora e roteirista mexicana. Apesar de uma série de trabalhos, foi com o longa Os Tigres Não Têm Medo (2017) que López ganhou destaque no cenário de terror. Seu próximo filme será um western de lobisomens. Mas, até lá, que tal conhecer uma das grandes influências da cineasta? Demônio Com Cara de Anjo (1977), dirigido por Richard Loncraine, foi uma das cenas aterrorizantes da vida de López.

“Antes da Blockbuster, a beleza das primeiras e selvagens locadoras era entrar em alguma delas depois da aula, encontrar um filme que você nunca ouviu falar, e alugar ele porque você simplesmente assistiu todos os outros filmes de terror. Demônio Com Cara de Anjo foi assim, e a primeira cena ficou comigo para sempre, moldando a forma como escrevo uma primeira cena e como eu a filmo.”

Nicolas Pesce — A Fantástica Fábrica de Chocolate

Às vezes, algumas coisas que assistimos na infância têm um efeito potente em nossas mentes, como podemos notar com grande parte dos diretores dessa lista. Mas nem sempre precisamos de um filme de terror para nos deixar aterrorizados. Nicolas Pesce é diretor de Os Olhos de Minha Mãe (2016), Piercing (2018) e do remake de O Grito (2020). Não foi nada mais nada menos que A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971), dirigido por Mel Stuart, que o deixou morrendo de medo.

“Eu sou uma criança. Estou assistindo A Fantástica Fábrica de Chocolate — a versão do Gene Wilder, não a do Tim Burton. Apesar de ser um diretor de horror agora, quando criança eu realmente não conseguia lidar com filmes assustadores. Mas me disseram que era um filme para crianças, e por um breve período eu acreditei nisso. Ele começa todo brilhante e resplandecente. Mas eu acho que deveria ter entendido melhor. Mr. Slugworth era assustador pra diabo. E tem aquele cara com as facas que fica do lado de fora da fábrica e basicamente diz que ninguém sai vivo de lá. Mas eu era inocente e confiante e ah, como eu estava errado.”

Aaron Moorhead — O Enigma de Outro Mundo

Moorhead começou sua carreira fazendo curtas e dirigindo alguns episódios de séries, mas foi quando se uniu com Justin Benson, em Resolution (2012), que seus nomes alcançaram lugares mais distantes. Juntos, Moorhead e Benson também dirigiram os filmes Primavera (2014), O Culto (2017), Synchronic (2019) e um segmento do filme antológico V/H/S Viral. Foi com o clássico de John Carpenter, O Enigma de Outro Mundo (1981), que Moorhead compreendeu o que o atraía no horror.

“Fora todos os tentáculos viscosos nas partes seguintes do filme, a cena de abertura foi a mais Lovecraftiana, especialmente para mim, apaixonado por cachorros. Me apresentou um mistério impossível: como um cachorro pode ser tão horrível que esses homens adultos passaram todo seu tempo tentando assassiná-lo? O que está havendo? O terror que essa questão implica foi algo que eu, de forma desajeitada, tentei capturar em alguns dos meus primeiros filmes. Isso se cristalizou quando conheci Justin Benson e começamos a fazer o que podemos descrever como “dark mysteries”. Não é o gore. Não são os (excelentes) efeitos especiais da criatura. Não são os lança-chamas ou explosões. É a profunda questão imencionável que vai da sua mente, ao seu coração, até o fundo do seu estômago quando as coisas não estão exatamente corretas, e você percebe que você está entrando em um universo que foge da sua compreensão. É quando o terror lança seu feitiço mais forte.”

Corin Hardy — Fúria de Titãs

Corin Hardy está no grupo de cineastas que tiveram sua grande revelação com filmes que não são exatamente de terror, mas conseguiram impactar seus espectadores como se fossem. Diretor de A Maldição da Floresta (2015) e A Freira (2018), Hardy ficou impactado quando assistiu Fúria de Titãs (1981), de Desmond Davis. 

Fúria de Titãs não é um filme de terror, mas foi uma das minhas primeiras experiências de terror absoluto destruidor de nervos e abasteceu uma obsessão com outros filmes de aventuras repletos de monstros ‘DynaMation’ de Ray Harryhausen pelo resto de minha vida. Conforme Fúria começou a passar, a épica aventura e efeitos maravilhosos em stop motion das criações de Harryhausen assumiram vida mágica própria, nada poderia me preparar para… ela… aquela com as cobras nos cabelos e um olhar fulminante de morte. Realmente, Perseu e nós fomos avisados mais cedo no filme, ‘um olhar para a cabeça da Medusa pode transformar todas as criaturas em pedras’. Foi a antecipação que quase nos matou de medo, com Harryhausen incorporando toda a cena para a chegada da Medusa, com um grande senso cinematográfico de terror: os movimentos das cobras tremeluzentes, os vislumbres fugazes nas catacumbas iluminadas por chamas, e o chocalho de cauda de gelar a espinha me agarrou com um medo crescente e incandescente enquanto Medusa espreita Perseu, sua presa, com uma intenção predatória diabólica.”

Christopher Landon — Poltergeist

Christopher Landon é diretor de Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal (2014), Como Sobreviver a Um Ataque Zumbi (2015), A Morte Te Dá Parabéns (2017) e sua sequência, A Morte Te Dá Parabéns 2 (2019), e o recente filmes de comédia de horror que conquistou a crítica e os fãs, Freaky: No Corpo de um Assassino (2020). Landon teve sua primeira grande experiência com um dos grandes clássicos de horror, Poltergeist (1982), de Tobe Hooper.

“Tem uma cena mais ao final do filme, em que os Freelings tentam resgatar sua filha da dimensão fantasma. As apostas são incrivelmente altas. A vida de uma criança está em uma balança. O que se segue é nada menos que a pura magia do cinema, uma montanha-russa emocional. (…) A sequência acerta todos os níveis — como um filme de terror, como um drama, e encontra os momentos apropriados para te fazer rir. O impacto dessa cena (e do filme inteiro) em mim não é exagerado. Eu retorno a ela de novo e novo porque tem sucesso em um lugar em que a maioria dos filmes de terror falham: faz você se importar. Nós amamos os Freelings, e eles precisam ter sua filha de volta. Eu não acho que ninguém foi capaz de tocar neste filme em um nível puro, visceral e emocional desde então.

Sophia Takal — A Morte lhe Cai Bem

Atriz e diretora, Sophia Takal acabou se deparando com uma cena de comédia que a impactou com força quando estava saindo da adolescência. De certa forma, podemos observar que a cena mencionada pela diretora, do filme A Morte lhe Cai Bem (1991), de Robert Zemeckis, nos remete a alguns de seus próprios trabalhos, como Always Shine (2016), Natal Sangrento (2019) e o episódio de Ano Novo da série antológica Into the Dark, New Year, New You.

“Eu assisti A Morte lhe Cai Bem quando estava no final da adolescência, ou no começo dos meus 20 anos, e peguei aquela cena em que as duas mulheres estão tentando se matar (quando a Goldie Hawn fica com aquele buraco na barriga). Eu comecei a chorar histericamente e tive que desligar o filme. Foi uma das reações mais viscerais que tive em um filme. Estranho, eu sei, supostamente era para ser engraçado? De toda a forma, naquele momento, as obsessões das personagens com a juventude e sua disposição em fazer qualquer coisa para ficar jovem e desejada era tão horrível e perturbador para mim que aquilo não saiu da minha mente por semanas, meses.”

Stephen Susco — O Enigma de Outro Mundo

Diretor de Amizade Desfeita 2: Dark Web, Stephen Susco também é roteirista e esteve por trás dos roteiros de O Grito (2004), O Grito 2 (2006), O Massacre da Serra Elétrica 3D: A Lenda Continua (2013), Parque do Inferno (2018), entre outros. Para ele, O Enigma de Outro Mundo, de John Carpenter, foi o filme que mais o chocou quando era mais novo. 

“Uma noite eu trouxe um filme chamado O Enigma de Outro Mundo, e acabou sendo a primeira vez que eu parei uma fita de VHS. Parei, saí da sala, e esperei meia hora para encontrar a coragem de voltar e tirar a fita do aparelho. Eu levei a fita de volta na mesma noite. Meu amigo na locadora abriu a caixa da fita, percebeu até onde cheguei no filme (o bastante para o “seja gentil, rebobine”). Ele sorriu ironicamente. ‘Foi a cena do cachorro, né?’ Eu concordei. ‘É, muita gente não consegue passar dessa cena.’ Suas palavras se tornaram um desafio. Depois de seis meses eu consegui chegar até os créditos.”

Colin Minihan — Fogo no Céu

Minihan é um dos responsáveis pela criação da franquia Fenômenos Paranormais, junto com Stuart Ortiz, e também é diretor de Extraterrestrial (2014) e O Que Nos Mantêm Vivos (2018). O diretor teve seu primeiro grande susto com o clássico filme de alienígenas Fogo no Céu (1993), dirigido por  Robert Lieberman e baseado em um livro de Travis Walton.

“Me lembro de ser uma criança e me deparar com Fogo no Céu na TV. A sequência de abdução dentro da embarcação estava passando, e foi a coisa mais aterrorizante que eu já tinha visto. Ficou comigo durante anos até eu finalmente conseguir reunir coragem para assistir o filme inteiro. Tem algo profundamente inquietante naquela sequência, e olhando para ela agora, talvez seja porque ela é tanto abstrata quanto visceral, ao mesmo tempo. Ela é tudo que eu amo em uma sequência de terror. É focada em um único personagem experienciando algo além das palavras, tem uma ótima cinematografia, uma produção de design assustadora (a nave espacial), um som abstrato, e chega em seu auge com a revelação das próprias criaturas: neste caso, os alienígenas.”

Anna Biller — A Tortura do Medo

Muitos consideram A Tortura do Medo como um dos grandes primeiros slashers. Lançado em 1960, dirigido por Michael Powell, o filme alterou para sempre a percepção de cinema da cineasta Anna Biller, diretora do curta A Visit from the Incubus (2001) e dos longas Viva (2007) e The Love Witch (2016).

A Tortura do Medo foi um filme formativo para mim como cineasta. Eu o assisti quando estava com 20 e poucos anos, em um festival de filmes do Michael Powell em Nova York. (…) Nós vemos o terror através da mira da câmera conforme ela [a personagem] morre, assim, nos colocando no ponto de vista do assassino. Powell nos lembra, deste modo, que todos nós somos voyeurs e isso faz de nós cúmplices dos assassinatos cometidos.”

LEIA+: THE LOVE WITCH: A ESTÉTICA DOS ANOS 1970 COM MUITA BRUXARIA

Coralie Fargeat — O Enigma de Outro Mundo

Coralie Fargeat é diretora de Vingança, filme do subgênero de rape-revenge que fez muito sucesso desde seu lançamento em 2017. Para ela, o grande filme que a fez pensar mais sobre o terror também foi O Enigma de Outro Mundo, de Carpenter.

“Na cena do ataque do coração de O Enigma de Outro Mundo, do John Carpenter, o Dr. Blair tenta revivê-lo com os choques do desfibrilador. De repente, quando ele abaixa as pás [do desfibrilador], o peito de seu amigo se abre e ‘come’ suas mãos e seus braços! E Norris se transforma em coisas horríveis, que retorce sua cabeça e seu corpo. (…) Ainda mais assustador, nós não podemos confiar em ninguém mais, paranóicos por trás de pessoas normais que achamos que conhecemos, que podem ser um monstro escondidos esperando para nos comer. O que mais me aterrorizou sobre o design das criaturas é a forma que elas são baseadas em coisas que mexem com nossos medos primários: insetos, apêndices, filamentos, fluidos, fusões de elementos estranhos que se misturam em combinações horríveis, como uma cabeça humana em um corpo de inseto, com múltiplas pernas e braços se contorcendo.”

Andy Mitton — Gremlins

Não os exponha à luz, não os coloque em contato com a água e, mais importante, nunca os alimente depois da meia-noite. Gremlins (1984), de Joe Dante, é um dos grandes clássicos dos anos 1980 e marcou gerações de espectadores. Mas, para Andy Mitton, diretor de The Witch in the Window (2018), o impacto com o filme se deu por outros motivos.

“No terceiro ato de Gremlins, do Joe Dante, Phoebe Cates aparece pelo canto esquerdo com um monólogo que atingiu minha inocência com uma marreta, e de muitas outras crianças dos anos 1980. Eu tinha 6 anos, e aquilo me fodeu bonito. Nós estamos no meio de um filme que, apesar de seus auges (os gremlins foram misturados e postos no microondas, Sra. Deagle foi jogada por uma janela), foi principalmente uma brincadeira aconchegante de criaturas spielbergiana. Então a personagem de Cates revela porque ela não é muito uma pessoa do Natal: quando ela era pequena, seu pai quebrou o pescoço e morreu enquanto tentava subir até a chaminé vestido de Papai Noel, e seu corpo só foi descoberto quando ela sentiu o cheiro de cadáver apodrecido vindo da lareira, e daí veio o coice: ‘… e foi assim que eu descobri que não existe Papai Noel’.  O monólogo arrebentou, e como uma criança que já sabia que queria trazer coisas assustadoras ao mundo, eu descobri que outro tipo de terror poderia aparecer nesses filmes, e tudo poderia ser uma mistura bagunçada entre o engraçado, o assustador e o errado. Isso me intrigou, e mais tarde me inspirou em tentar misturar essas coisas. 

Chelsea Stardust — A Noite dos Mortos Vivos

Clássico dos filmes de terror, dirigido por George Romero, A Noite dos Mortos Vivos pode ser compreendido como a fonte para os zumbis modernos. Para Chelsea Stardust, diretora de Delivery Macabro (2019) e do episódio All That We Destroy (2019), da série antológica Into the Dark — além de vários curtas, como Marco Polo, 2016, e Seeing Green, de 2018 —, o filme teve um sério impacto em sua vida e em se descobrir como diretora de filmes de terror.

“Eu tive muita sorte de ser criada por pais que amam filmes. Meu pai era um verdadeiro cinéfilo, e me apresentou aos filmes de monstros da Universal, quando eu estava no primário. Eu amei eles de imediato, e meu amor pelo terror começou a crescer. Como lidei bem com esses filmes, quando eu tinha 10 anos ele decidiu me mostrar um de seus filmes preferidos, A Noite dos Mortos Vivos. (…) Honestamente, do minuto que a cena inicial começou e a música apareceu, eu estava completamente alucinada. Mas não foi antes do Johnny começar a provocar Barbara com ‘eles estão vindo pegar você, Barbara!’, e a revelação do zumbi do cemitério (interpretado pelo maravilhoso Bill Hinzman, o primeiro zumbi que vi na tela grande), que eu fiquei realmente assustada. (…) Eu estava paralisada de medo, mas não poderia tirar meus olhos da tela pelo resto do filme. Eu acho que foi então, naqueles momentos iniciais aterrorizantes, que eu soube que queria dirigir filmes de terror.”

Daniel Goldhaber — A Invasão

Diretor de Cam (2018) e dos episódios correspondentes ao estado do Colorado, “Red Rum”, da série antológica 50 Stages of Fright (2020), Daniel Goldhaber ficou muito impressionado com A Invasão (1996), de David Twohy.

“Tem uma cena de um filme que eu, honestamente, mal me lembro, mas que me assustou pra caramba quando eu era pequeno. É uma cena de um filme de 1996, A Invasão, em que uma mulher é assassinada em seu quarto com centenas de escorpiões. Depois de assistir esse filme, fiquei com medo de colocar meus pés até a ponta da minha cama por anos. O melhor filme de terror não precisa te mostrar algo assustador. Ele simplesmente planta a semente do terror no cérebro da audiência, permitindo que seus próprios medos deixem essa semente florescer.”

John McPhail — O Homem de Palha

John McPhail é diretor de Anna e o Apocalipse (2017), filme natalino musical de terror e zumbis que estourou nos últimos anos e conquistou os corações dos fãs do gênero. McPhail se iniciou bem cedo nos filmes de terror, e foi com o clássico folk horror O Homem de Palha (1973), de Robin Hardy.

“Eu me lembro muito, muito claramente, eu tinha 9 anos e estava em casa, doente. Minha mãe tinha gravado alguns deles na noite anterior. (…) Tinha ‘um ótimo ator escocês nele’ e era O Homem de Palha. Ela chegou do trabalho e perguntou ‘Você assistiu o filme?’ Minha resposta foi: ‘Eles o queimaram. Os malvados venceram’. Aquele foi meu primeiro gosto de um final em que os caras maus vencem no final, e eu estava aterrorizado com essa perspectiva.”

LEIA+: 7 CURIOSIDADES SOBRE O HOMEM DE PALHA, GRANDE CLÁSSICO DO FOLK HORROR

Leo Scherman — O Silêncio do Lago

Além de dirigir episódios de séries, Leo Scherman é diretor do filme de terror e guerra Trench 11. Sua grande experiência com o terror que mais o impactou foi assistindo a versão holandesa da adaptação do livro de Tim Krabbé, O Silêncio do Lago (1988), dirigido por George Sluizer.

“É um terror psicológico profundamente perturbador sobre o lado obscuro de uma obsessão, contada tanto do ponto de vista do herói quanto do vilão. A lentidão magistralmente trabalhada coloca você cada vez mais fundo até que você está tão envolvido quanto o protagonista — a obsessão dele é sua agora. (…) A claustrofobia é incrivelmente efetiva. O pânico é real. Você não pode terminar assim — filmes, supostamente, não deveriam fazer isso conosco. É claro que ele não consegue sair dessa. É como experienciar a própria morte.”

Darin Scott — Blacula, O Vampiro Negro

Darin Scott é diretor de American Nightmares (2018), Contos Macabros 2 (2018) e Tales from the Hood 3 (2020). A cena que o acompanha até hoje vem do filme Blacula, o Vampiro Negro (1972), de William Crain.

“A cena em que a motorista de táxi (interpretada por Ketty Lester), que morreu quando o Blacula a mordeu, retorna como vampira e é carregada pelo corredor do necrotério até o personagem de Elisha Cook Jr, Sam. Ela é absolutamente aterrorizante, conforme ela corre até ele, uma vampira furiosa completamente faminta, em slow motion, e me assustou pra caramba. Por anos eu pensei nessa cena enquanto estava sozinho em casa. Acho que nada mais que assisti quando criança teve um impacto tão duradouro quanto essa imagem. Ela continua me dando arrepios quando penso nela.”

LEIA+: CONFIRA A TAG HORROR NOIRE

Can Evrenol — Os Goonies

Os Goonies (1985), dirigido por Richard Donner, é um daqueles filmes que se tornaram clássicos da Sessão da Tarde. Para quem cresceu no final dos anos 1980 e nos anos 1990, se lembra bem do clima de aventura que permeava as tarde. Para Can Evrenol, diretor do longa Baskin (2015), além de uma série de curtas premiados em festivais, Os Goonies ainda tiveram mais uma camada.

“A cena: Chunk, o adorável membro gordinho do grupo de Os Goonies, cai dentro do ninho da aranha — no estilo Massacre da Serra Elétrica — e fica preso em uma cela escura, úmida e subterrâneo, amarrado a uma cadeira. (…) Ele finalmente se vira para Chunk, e o que vemos é o rosto desfigurado de Sloth pela primeira vez. Eu fiquei tão assustado que desliguei, e só pude assistir na manhã seguinte. Por mais cartunesca que essa cena seja, naquela época eu nunca tinha visto uma ‘cena assustadora’ na minha vida. Aquilo me deu pesadelos, além de cair de amores pelo Sloth.”

Ted Geoghegan — Os Caçadores da Arca Perdida

Os filmes de aventura parecem ter deixado muitas crianças aterrorizadas. Ted Geoghegan, diretor de Ainda Estamos Aqui (2015), além de ator e produtor, teve um momento aterrorizante com Os Caçadores da Arca Perdida (1981), de Steven Spielberg.

“E enquanto o sexto longa do diretor [Spielberg], Os Caçadores da Arca Perdida, de 1981, teve sua cota de choques e derramamento de sangue, não foi até os últimos momentos do filme que eu realmente entendi a compreensão multifacetada do diretor sobre o terror. Claro, eu estava aterrorizado com Tubarão, de 1975, mas quando a misteriosa Arca da Aliança é finalmente aberta, no clima de Caçadores — soltando anjos da morte espectrais com crânios no lugar dos rostos — eu fui catapultado do que eu pensei ser uma aventura até um banho de sangue sobrenatural, onde vilões muito humanos com quem passei as últimas duas horas estavam de repente tendo suas cabeças derretidas e estilhaçadas enquanto gritavam em terror incrédulo.”

Yoshihiro Nishimura — A Serpente

Yoshihiro Nishimura trabalha nos departamentos de maquiagem e efeitos especiais, é produtor e diretor dos filmes Tokyo Gore Police (2008), Zombie TV (2013), e de um dos segmentos do filme antológico O ABC da Morte (2012). Seu impacto no terror aconteceu com um filme que ele não conseguiu assistir até hoje: A Serpente (1966), de John Gilling.

“Quando eu tinha 7 anos eu vi algo que me deixou completamente aterrorizado, e isso ficou comigo para o resto da minha vida. Foi a primeira vez na minha vida que algo criou um terror tão profundo em mim. Eu estava no primário, e minha mãe foi muito gentil e me comprou um livro sobre filmes de monstros. Nas suas páginas tinha uma imagem de uma mulher-serpente com os olhos arregalados, interpretada por Jacqueline Pearce, de A Serpente, de 1966, um filme de terror da Hammer dirigido pelo excelente cineasta britânico John Gilling. A foto me deixou tão paralisado de medo que fisicamente eu não conseguia abrir o livro naquela página. Anos depois eu consegui lidar com o fato de que era somente um personagem de um filme, e fui até mais longe e comprei o VHS do filme. A parte mais louca é que, até hoje, nunca assisti ao filme. Isso dito, a imagem da mulher-serpente permanece como uma das maiores influências na minha modelagem de efeitos especiais, como um exemplo perfeito de como o desequilíbrio visual cria naturalmente medo e mal-estar. Ainda hoje, eu me arrepio de pensar nela.”

Joe Lynch — A Hora do Pesadelo

Uma das grandes criações de Wes Craven, A Hora do Pesadelo nos concedeu um dos vilões mais aterrorizantes de todos os tempos: Freddy Krueger. Quem concorda com essa afirmação é Joe Lynch, ator, produtor e diretor de Um Dia de Caos (2017), entre outros.

“(…) Às vezes, o que vemos à distância pode ser muito mais angustiante. Em A Hora do Pesadelo, o original de Wes Craven, tem um exemplo perfeito. Nossa heroína Nancy (Heather Langenkamp) está no meio de um pesadelo com cenário escolar (um contexto já vulnerável) quando ela deixa a sala de aula silenciosa para vagar pelos corredores depois de ver sua amiga Tina (Amanda Wyss) na sala de aula em um saco de transportar cadáveres translúcido. Quando Nancy dá a volta no corredor, nós vemos o saco no chão, à distância. (…) O que torna o momento ainda mais intrigante é como o braço sem vida de Tina cai no chão, acompanhando o resto do cadáver. Essa cena, e como quase faz você apertar os olhos para ver os detalhes, foi uma imagem que sempre me marcou. Craven nem sempre precisava trazer o sangue diretamente para a cena e se demorar nisso, algo comum para vender nos slashers. Em vez disso, ele deixou você testemunhar como um espectador indefeso.”

Elle Callahan — Frenesi 

Elle Callahan já trabalhou nos departamentos de som, de edição, de produção, e também fez seu grande debut na direção de longas com Head Count (2018). Em 2021, Callahan está com a data marcada para seu novo filme, Witch Hunt. O filme que a fez compreender como gostaria de trabalhar com o terror foi Frenesi (1972), de Alfred Hitchcock, depois de uma aula na faculdade.

“Quando eu era um estudante de graduação em cinema na USC, eu peguei uma aula focada somente nos trabalhos de Alfred Hitchcock. Naquele tempo eu não sabia o impacto que aquela aula teria na minha criatividade. Só parecia uma forma interessante de preencher as minhas tardes de quinta-feira. Ao longo do semestre nós assistimos e analisamos a maioria de seus trabalhos, até acabarmos em seu penúltimo filme: Frenesi. Para ser honesto, eu me lembro bem pouco dele, exceto por uma cena: uma tomada simples em que a câmera desce as escadas de um prédio de apartamentos. A cena não nos mostrou muito, mas foi o que não mostrou que teve um efeito tão duradouro, frustrante e genuinamente aterrorizante em mim. (…) Foi essa imagem estranha do mundo desconhecido lá fora, em vez das ações brutais dentro do apartamento, que me aterrorizou. Quantas vezes tenho vivido meu dia sem saber das coisas que aconteciam ao meu redor? Me assustou de uma forma muito única. Então, quando chegou a hora de projetar o clímax do meu próprio filme, eu sabia exatamente o que fazer com a câmera para instigar a mesma sensação de frustração, medo e impotência: deixar a câmera sair da cena.”

E.L. Katz — Noite do Terror

E.L. Katz foi produtor de Channel Zero e A Maldição da Mansão Bly, além de ter sido diretor de alguns episódios dessas séries, como “The Beast in the Jungle”, de Mansão Bly, e também dirigiu episódios de Pânico: A Série de TV e Monstro do Pântano. Em longas, seu primeiro filme foi Cheap Thrills (2013) e em seguida, em 2014, dirigiu um segmento para o filme O ABC da Morte 2. Katz aprendeu muito com Noite do Terror (1974) Bob Clark.

“Pela maior parte de Noite do Terror você não vê o assassino — tipo, nada. Billy era um murmúrio quase invisível, despachando pessoas com uma brutalidade tão aleatória que havia algo muito humano, muito possível sobre ele. Nesse sentido, ele era mais assustador do que qualquer vilão de slasher que eu já vi. E esse princípio finalmente veio à tona no que acredito ser um dos sustos mais eficazes da história do cinema: a Jess de Olivia Hussey é a última pessoa viva em sua casa de irmandade e acaba de encontrar o cadáver de uma de suas amigas. Vemos sua reação e, em seguida, suavemente, ouvimos o sussurro familiar e insano de Billy em algum lugar da sala. A câmera se move casualmente até uma fenda na porta do quarto, REVELANDO UMA TOMADA DE SUPER CLOSE-UP NO OLHO MAIS LOUCO QUE VI DA MINHA VIDA. (…) Essa cena me ensinou mais sobre como construir um cenário assustador do que qualquer outra coisa que eu já vi, antes ou depois. Encontre uma maneira de colocar seu público no lugar do personagem principal e, em seguida, fazer com que a ameaça pareça muito próxima, muito imprevisível e muito possível.”

Adam Robitel — O Exorcista

Responsável pela direção dos filmes A Possessão de Deborah Logan (2014), Sobrenatural: A Última Chave (2018), Escape Room (2019) e dos futuros lançamentos Insidious: The Dark Realm (2021) e Escape Room 2 (2022), Adam Robitel é também ator, roteirista e produtor. Seu grande despertar para o terror veio com o clássico de William Friedkin, O Exorcista (1973), baseado no livro de William Peter Blatty.

“Fiquei totalmente chocado quando vi O Exorcista pela primeira vez. Eu tinha ouvido histórias antes de ver o filme. Lembro-me de meu amigo David, da sexta série, me contando com detalhes mórbidos sobre o filme horrível que seu irmão mais velho tinha mostrado a ele na noite anterior. (…) Mas o que achei mais assustador e o que devo atribuir ao romance de William Peter Blatty, talvez o maior romance de terror já escrito, é o uso da psicologia e da atuação manipuladora de foder a mente que ele deu ao demônio. (…) Foi isso que me gelou até os ossos e algo que sempre tento invocar quando estou trabalhando no horror: um demônio ou adversário com inteligência que usaria nossa dor emocional mais profunda contra nós. Destruindo o que amamos.”

LEIA+: QUE ÓTIMO DIA PARA UM EXORCISMO: 9 CURIOSIDADES SOBRE O EXORCISTA

Anouk Whissell — Poltergeist II: O Outro Lado

Diretora e roteirista dos filmes Turbo Kid (2015) e Verão de 84 (2018), com François Simard e Yoann-Karl Whissell , Anouk Whissell ficou aterrorizada quando assistiu Poltergeist II: O Outro Lado (1986), de Brian Gibson, e os efeitos práticos do filme grudaram em sua mente por todos esses anos.

“Existem algumas poucas cenas de filmes de terror que ficaram comigo desde que eu era criança, mas vou me concentrar em uma cena de Poltergeist II. Eu tinha provavelmente cerca de 8 anos e, sendo uma menina, me identifiquei facilmente com a personagem de Carol Anne, o que provavelmente fez tudo parecer mais assustador. O momento sobre o qual eu realmente quero falar é a apoteose da ‘Criatura Vômito’ — quando o pai começa a engasgar com essa criatura parecida com uma larva gigante e viscosa e borbulhante, lutando até que caia completamente, sua evolução depois de escorregar para debaixo da cama e sua forma final horripilante de corpo sem pele e deformado rastejando para fora da sala. Tudo naquela cena parecia tão real, porque realmente era! A maioria dos momentos horríveis do cinema que ficaram na minha memória estão frequentemente relacionados ao uso incrível de fantoches e efeitos práticos.”

François Simard — Cemitério Maldito

Baseado no livro de Stephen King, Cemitério Maldito (1989), de Mary Lambert, é cheio de cenas aterrorizantes. Para François Simard, diretor de dos filmes Turbo Kid (2015) e Verão de 84 (2018) junto de Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell, uma das cenas do filme falou diretamente com ele.

“Se há uma cena de terror em particular que alimentou meus pesadelos quando eu era jovem e que ficará para sempre impressa em meu cérebro como se tivesse sido escrita com tinta indelével, é aquela com Zelda, a irmã moribunda em Cemitério Maldito. Simplesmente pensar sobre aquela cena me deixa desconfortável, então você pode imaginar como me sinto tendo que revisitá-la por causa deste artigo. (…) O que o torna tão assustador é a realidade por trás dele. Olhando isso do ponto de vista de uma criança, enquanto ela está tentando entender ou fazer as pazes com o fato de que esta pessoa doente está se transformando em um cadáver magro e assustador, escondido no quarto dos fundos, mas ela ainda é sua irmã. E ela tem que vê-la sofrer todos os dias, indefesa. Eu geralmente adoro ficar com medo, mas isso é muito real e chega um pouco próximo demais a mim.”

LEIA+: A VISÃO MACABRA DE MARY LAMBERT EM CEMITÉRIO MALDITO

Jason Lei Howden — O Mundo Fantástico de Oz

O Mágico de Oz é uma história que brinca com o macabro e o engraçado em suas páginas, e isso pode ter se perdido um pouco em algumas adaptações da obra para as telas. Mas, em O Mundo Fantástico de Oz (1985), de Walter Murch, o bizarro realmente é abraçado na narrativa. Quem teve uma experiência impactante com o filme foi o cineasta Jason Lei Howden, diretor de Deathgasm (2015) e Armas em Jogo (2019).

“Um fã de terror ávido desde muito pequeno, meu susto mais memorável não foi de um filme de terror tradicional. Em vez disso, foi induzido por um filme infantil. Eu tinha 6 anos quando minha mãe levou minha irmã e eu para assistir O Mundo Fantástico de Oz, de Walter Murch, anunciado como uma sequência excêntrica de O Mágico de Oz. Mas ao invés de pequenas pessoas dançando e cativantes números musicais, foi uma queda horrível até a loucura, que me deixou mentalmente marcado e, ao mesmo tempo, desejando outra dose de terror.”

Adrián García Bogliano — Até o Vento tem Medo

Adrián García Bogliano é um cineasta espanhol, diretor dos filmes Ahí va el diablo (2012), Late Phases (2014) e de um dos segmentos do filme O ABC da Morte (2012), entre outros. Para ele, o grande impacto de uma cena aterrorizante em sua vida veio com o filme Até o Vento tem Medo (1968), de Carlos Enrique Taboada.

“No clássico mexicano Até o Vento tem Medo, dirigido pelo mestre do horror Carlos Enrique Taboada, um grupo de garotas em um internato estão passando um tempo na detenção, dividindo seus sentimentos íntimos e segredos umas com as outras. Em um momento, uma das garotas do grupo começa a dançar de forma provocativa em frente às outras, o que causa um bocado de surpresa e admiração. A cena leva um tempo para se desenrolar, tornando-se um momento divertido e despreocupado que oferece uma visão bastante viva da cultura do final dos anos 1960. E então, no meio da diversão, um rosto aparece na janela. (…) Até o Vento tem Medo é uma obra prima do cinema cult mexicano e entre um susto formativo e memorável, que funciona tanto como um pulo perfeitamente executado como um meio para o tema crucial do próprio filme.”

Jen Soska — O Exorcista

Jen Soska é irmã gêmea de Sylvia Soska, e a dupla costuma dirigir filmes em conjunto: American Mary (2012), um dos segmentos de O ABC da Morte 2 (2014), e o remake de Rabid (2019). Mas, se tratando dos filmes que as impulsionaram para o terror, as duas tem experiências bem diferentes. Jen ficou mexida quando assistiu O Exorcista, de Friedkin.

“Por ter sido criada como católica, o Diabo foi pintado como a raiz de todos os males, com conceitos como exorcismos apenas discutidos discretamente entre os adultos. Ter essa cortina retirada em O Exorcista era inimaginável. Como ver um tornado na vida real, presenciar um exorcismo parece excitante e divertido, até que você esteja frente a frente com ele. O Exorcista não é um filme de jumpscares. Ao invés disso, ele constrói lentamente um tom implacável enquanto você é empurrado para a batalha para salvar esta garota de um mal invisível. (…) Talvez o que mais me marcou depois de todo esse tempo foi quando perguntei ao meu padre de infância, um exorcista, se todos os eventos do filme realmente acontecem durante os exorcismos. Ele disse ‘Sim. Mas raramente todos durante o mesmo exorcismo’.”

Sylvia Soska — Para Minha Irmã

Já para Sylvia, a outra parte da dupla das Irmãs Soska, foi o filme Para Minha Irmã (2001), de Catherine Breillat, que a fez refletir sobre o medo e o horror.

“Embora tradicionalmente não seja o tipo de filme que você esperaria sentir tanto medo no final, Para Minha Irmã, com sua vibe ‘gótica-suburbana’, surreal e de ‘sonho se transformando em pesadelo’, deveria alertar o suficiente. O filme, intitulado À ma sœur!, em seu francês nativo, segue uma mulher vítima de abuso sexual infantil quando ela se torna sexualmente ativa — por meio de estupro por um homem mais velho — que sua irmã, com excesso de peso, testemunha todas as noites enquanto os irmãos viajam com a mãe. Essas cenas são difíceis de assistir porque o glamour de Hollywood de um homem mais velho e uma adolescente foi eliminado, e o público adulto é forçado a assisti-las da mesma forma que sua irmã relutante, testemunhando uma perturbadora agressão sexual disfarçada de um romance secreto. (…) O filme foi proibido por um tempo no Canadá por retratar a relação de sexualidade e menores, mas é importante para explorar a sexualidade feminina em um mundo predatório. (…) O conceito de Lolita foi criado como defesa por homens que atacam meninas menores de idade. Para Minha Irmã é a perspectiva feminina dos horrores que esses relacionamentos infligem às mulheres jovens.”

Glenn McQuaid — Drácula

Drácula já teve incontáveis adaptações e diversos foram os atores que deram seus rostos e vozes para a interpretação do Conde, mas a versão que realmente desnorteou Glenn McQuaid, diretor de Eu Vendo os Mortos (2008) e de um dos segmentos de V/H/S (2012), foi a adaptação de John Badham, de 1979.

“Os Irmãos Cristãos da minha escola primária irlandesa ocasionalmente transformavam a sala da nossa escola em um cinema improvisado e projetavam todos os filmes que pudessemos assistir. Os filmes que eles nos mostraram geralmente eram de ficção científica e fantasia para crianças; mas por alguma razão, em uma sexta-feira à tarde, eles decidiram nos mostrar a adaptação de Drácula, de John Badham, de 1979. Não tenho certeza quem achou que era uma boa ideia mostrar este filme de terror bastante adulto para uma sala cheia de meninos — com idades entre 5 e 11 — mas os resultados foram incríveis. (…) Sem perder o ritmo, Drácula se vira e olha direto para a câmera. É um olhar rápido, mas feito com tanto estilo e precisão que, na minha mente, Drácula se virou e olhou direto para mim — direto para mim. (…) Eu estava apavorado demais para correr. Eu apenas me sentei lá grudado na tela, e fiz o meu melhor para enfrentar o que acabou sendo minha primeira experiência de terror no cinema.”

LEIA+: DRÁCULA AO LONGO DAS DÉCADAS: UMA CRONOLOGIA IMORTAL

Larry Fessenden — Um Clarão nas Trevas

Diretor dos filmes Colapso no Ártico (2006), O Perigo Vem do Lago (2013) e de um dos segmentos do filme O ABC da Morte 2 (2014), além de ator, roteirista e produtor, Larry Fessenden teve um de seus grandes sustos ainda jovem, com o filme Um Clarão nas Trevas (1967), de Terence Young.

“Quando penso em um susto no cinema absolutamente seminal da minha juventude, o momento que vem à mente é o filme de Terence Young de 1967, Um Clarão nas Trevas. (…)  Quando chegamos ao confronto final entre Arkin e Hepburn, nossos nervos estão realmente à flor da pele. E então há uma imagem repentina de Arkin saltando no escuro que é de tirar o fôlego. É um dos grandes sustos da história do cinema. Eu estava em uma idade impressionável quando vi o filme passando em 16mm em um antigo clube na praia em Cape Cod e nunca me esqueci disso. São momentos singulares, comoventes, conquistados a duras penas como esse que me fizeram apaixonar pelo cinema.”

Jenn Wexler — O Iluminado

Adaptado do livro de Stephen King e dirigido por Stanley Kubrick, O Iluminado é considerado por muitos um dos filmes mais aterrorizantes do terror. Jenn Wexler, diretora do filme The Ranger (2018), além de produtora e roteirista, teve uma experiência aterrorizante com as gêmeas do filme, e desde então se volta a elas para pensar no terror que sentiu. 

“Quando eu tinha 7 anos, estava em uma reunião de família e entrei em uma sala onde um grupo de adultos estava assistindo a um filme. Eu olhei para a tela e olhando para mim estavam duas garotas gêmeas fantasmagóricas em vestidos azuis, em um corredor coberto de papel de parede que parecia se estender para sempre. Era a imagem mais assustadora que eu já tinha visto, e eu corri para fora da sala jurando que fosse o que fosse, eu nunca mais queria ver de novo. Claro, O Iluminado desde então se tornou um dos meus filmes favoritos e tem sido uma fonte de inspiração para mim. Quando quero lembrar como é o verdadeiro terror, penso em quando era criança e em ver as gêmeas Grady pela primeira vez.”

LEIA+: HERE’S JOHNNY: 20 CURIOSIDADES MACABRAS SOBRE O ILUMINADO

R. Shanea Williams — Poltergeist

R. Shanea Williams é diretora dos curtas Contamination (2013) e Paralysis (2015), além de ter co-escrito o curta Suicide by Sunlight (2019). Foi com o clássico Poltergeist seu grande susto formativo — nem a TV era um lugar seguro.

“Passei parte da minha infância convencida de que minha família e eu morávamos em um apartamento mal-assombrado. Por causa disso, eu já tinha um medo geral do desconhecido e há muito tempo estava com muito medo do escuro. A primeira vez que vi Poltergeist quando criança, estava na festa do pijama de uma amiga e a mãe dela alugou porque era censura livre. É provavelmente o filme de censura livre mais assustador que já vi. (…) Assistir TV era minha fuga feliz dos meus medos e do meu apartamento mal-assombrado e da escuridão. Então, ver Carol Anne presa neste purgatório desconhecido, sua vozinha implorando por ajuda, tentando encontrar sua mãe enquanto era perseguida por monstros invisíveis, me abalou profundamente. A TV deveria ser um lugar feliz. Este filme a transformou numa entidade aterrorizante da qual eu não me sentei mais muito próxima.”

Brad Elmore — O Silêncio dos Inocentes

Diretor dos filmes The Wolfman’s Hammer (2011), Boogeyman Pop (2018) e Bit (2019), Brad Elmore assistiu O Silêncio dos Inocentes (1991), de Jonathan Demme, adaptado do livro de mesmo nome de Thomas Harris, na infância, e sua desconfiança por homens estranhos e vans nunca desapareceu.

“Entra O Silêncio dos Inocentes. Com seus céus sombrios, locais encharcados e monotonia estilizada, teve o efeito meu cérebro de 7 anos de idade de parecer um documentário em tempo real. A cena que quase me fez desmaiar foi o rapto de Catherine Martin por James Gumb. E começa com o mais improvável dos elementos: Tom Petty. Existe algo mais dolorosamente humano do que cantar seus próprios backing vocals? Que maneira maravilhosa de dar a alguém com quem não passamos tempo uma conexão imediata. (…) Por anos, quase até a puberdade, isso me deu pesadelos e reforçou a ideia de que todo homem estranho era suspeito — especialmente se eles tivessem uma van — ao mesmo tempo que me deu uma reação quase pavloviana a ‘American Girl’, da qual eu suspeito que não estou sozinho.”

Chris Peckover — Alien: O 8º Passageiro

É realmente difícil apontar qual a cena mais assustadora em Alien (1979), de Ridley Scott. Mas, para o cineasta Chris Peckover, diretor de Perigo Próximo (2016), a busca pelo gatinho na nave levou a um de seus grandes traumas infantis e o fez nunca mais andar por aí de boné.

“Minha primeira cena de terror formativa de verdade foi em Alien. Harry Dean Stanton procurando Jonesy, o gato, na doca de carregamento. O tilintar constante de correntes penduradas no teto. A condensação da nave pingando na aba de seu boné. Sobrepujado pelo pavor, é uma cena quase tranquila, até que ele localiza Jonesy e grita e, em seguida, PUTAMERDA, tem algo vindo de cima e ele nunca vê porque está usando um chapéu. Eu tinha 12 anos e me mijava, e essa cena é responsável por você nunca me ver de chapéu. Ainda é o maior uso do figurino em um filme de terror.”

LEIA+: A FRANQUIA ALIEN: HISTÓRIA E CRONOLOGIA

Mariama Diallo — Herança de Sangue

Herança de Sangue (1986), dirigido por Jerrold Freedman e adaptado de um livro de Richard Wright, é um filme de drama. Para a jovem Mariama Diallo, diretora do curta Hair Wolf (2018), ele foi muito mais que isso. 

“Nós estávamos assistindo um homem negro, chofer de um carro. No banco de trás tinham um homem e uma mulher brancos, tontos e cheios de energia juvenil, muito mais bêbados do que com a garrafa que eles passavam entre si. Eles não deveriam estar bebendo, ou mesmo deveriam estar naquele carro juntos, mas enquanto eu observava o suor se formar na testa do motorista, entendi que a mulher era inocente. Até o dândi ao lado dela encolheu os ombros, sem culpa. Tudo se virou contra o chofer. Não era somente responsabilidade dele, era minha também. Naquele momento eu já tinha uma ideia de como tudo terminaria. Com ataques de pânico, segui os muitos detalhes que intervinham, cada um mais doloroso do que o outro. Uma mãe cega entrando no quarto onde o chofer havia devolvido com segurança sua jovem carga branca, a jovem bêbada rindo despreocupadamente, ingrata. Para silenciá-la, para se salvar, ele segurou um travesseiro em seu rosto. Ela estava morta em poucos instantes. Fiquei impressionada com a inevitabilidade dessa cena, com a desesperança disso tudo. O pavor que se apoderou de mim foi muito maior do que qualquer história de fantasmas. Ele pintou um quadro horrível da negritude neste país — não apenas seríamos feitos para sofrer nobremente por meio de tribulações e indignidades, como meu currículo me lembrava todo mês de fevereiro — também seríamos culpados. Estávamos encurralados. Muitos, muitos anos depois, descobri que a cena de horror mais duradoura da minha infância foi da adaptação de 1986 do livro de Richard Wright, Herança de Sangue. Eu pensei comigo mesma como aquela era uma realidade.”

Mike Flanagan — Tubarão

Flanagan é responsável por alguns dos grandes sucessos dos últimos anos. O cineasta foi diretor da adaptação da continuação de O Iluminado, Doutor Sono (2019), do filme Hush: A Morte Ouve (2016), entre outros sucessos para o cinema; criou, também, as séries A Maldição da Residência Hill e A Maldição da Mansão Bly, além de estar com outros dois projetos encaminhados: Midnight Mass e The Midnight Club. Quem teve uma mãozinha nessa carreira de sucesso foi Tubarão (1975), de Spielberg.

“A cena mais assustadora de que me lembro de assistir enquanto crescia é a sequência do lago em Tubarão. Toda a cena é magistral, mas há uma tomada em particular que ficou gravada em minha mente e nunca mais saiu. Depois que Michael é jogado na água, junto com um homem anônimo em um barco, há uma foto aérea de tirar o fôlego do tubarão puxando o homem para baixo da água. Não há nenhum aviso, nenhum efeito de som, apenas um momento brutal em que a forma do tubarão é visível sob a água turva, rolando para o lado com a boca aberta, puxando graciosamente o homem para baixo. (…) O que adoro nela é a forma casual como é apresentada, como é prática. Ela ativa a imaginação, forçando você a imaginar os detalhes do ataque que estão acontecendo sob a superfície. É um momento assustador junto em uma sequência lindamente executada e traz o terror a um novo nível no filme. Ainda fico arrepiado pensando nessa cena.”

LEIA+: ENTRE FANTASMAS E DRAMAS PESSOAIS: CURIOSIDADES SOBRE A MALDIÇÃO DA MANSÃO BLY

Sean Byrne — Um Lobisomem Americano em Londres

Diretor de Entes Queridos (2009) e The Devil’s Candy (2015), Sean Byrne se lembra como foi assistir Um Lobisomem Americano em Londres (1981), de John Landis, quando tinha somente 9 anos. 

“Foi só com Um Lobisomem Americano em Londres, quando eu tinha 9 anos, que um filme realmente me deu pesadelos. (…) Quando David Naughton e Griffin Dunne se viram presos nos pântanos dos quais os habitantes locais os avisaram gravemente para se manterem longe, foi como o pior auge de tudo sobre o qual eu havia sido alertado. Combine isso com a noite profunda e escura, o isolamento, a lua cheia e uma mitologia que trouxe contos populares para a vida moderna e, bem, eu estava nas mãos de John Landis. Lembro-me claramente de subir na cama naquela noite ainda abalado com a experiência, então olhar através das minhas cortinas e encontrar a lua cheia acima. Começaram os pesadelos.”

LEIA+: CUIDADO COM A LUA: 40 ANOS DE UM LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES

Damien Power — Halloween, A Noite do Terror

Halloween (1978) é outro dos clássicos feitos pelo mestre do terror John Carpenter. Para Damien Power, diretor de O Acampamento (2016), ele foi extremamente importante para sua carreira.

“ (…) Foi durante uma dessas maratonas de filmes que vi pela primeira vez o Halloween de John Carpenter. Embora tenha sido modificado para a TV e cortado com comerciais, eu ainda estava com tanto medo que tive que ligar o rádio enquanto assistia. Desde a primeira cena, Halloween é uma aula magistral de controle do ponto de vista e do tempo, um filme que continua a me inspirar e a me aterrorizar.”

J.D. Dillard — Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros

Dinossauros podem ser criaturas muito curiosas para as crianças, mas também podem ser motivos de pesadelos. J.D. Dillard se encaixa curiosamente em ambos os casos. O diretor de O Mistério da Ilha (2019) e de alguns episódios de séries, como The Outsider (2020), Além da Imaginação (2020) e Utopia (2020), conta como Parque dos Dinossauros (1993), de Spielberg, foi importante para seus próprios filmes.

“Eu tinha 6 anos quando Jurassic Park foi lançado, e fui pego entre essa excitação brilhante e o medo paralisante de ver dinossauros na tela. Meu pai me levou ao cinema para ver o filme e, antes de sairmos, minha mãe me deu uma toalha de papel que eu poderia segurar na frente dos meus olhos se eu ficasse com muito medo do que estava acontecendo. Corte para: há uma cabra esperando para ser comida no cercado T. Rex. Eu seguro meu escudo de papel toalha e ele se rasga. Por alguma razão, eu tinha esquecido que fechar os olhos era uma opção. Lembro que foi a primeira vez que tive medo no cinema. Embora não houvesse nenhuma maneira de eu ser capaz de articular isso quando criança, aquele filme despertou um medo (senão respeito) pela natureza. Tenho orgulho de admitir que não tenho mais medo da cena.”

Camille Thoman — Inverno de Sangue em Veneza

Editora, roteirista, atriz, Camille Thoman também é diretora do filme Never Here (2017) e contou como Inverno de Sangue em Veneza (1973), de Nicolas Roeg, a fez ter ideias para seu próprio filme, que seria feito somente muitos anos depois.

“Eu vi o filme Inverno de Sangue em Veneza, de Nicolas Roeg, pela primeira vez como uma adolescente atordoada. (…) No filme, o misterioso atendente do banheiro, as venezianas das janelas de Veneza à noite, os lençóis cobrindo os móveis do saguão do hotel, a estranha cadência e linguagem corporal do diretor de Billy — esses detalhes me cativaram na época e ainda me cativam hoje. (…) Quando eles entram no hotel e caminham para o saguão coberto por lençóis, algo muda. A primeira vez que assisti ao filme, me lembro de ter ficado impressionada com a compreensão de que de repente os Baxter estavam sozinhos. Não é mais seguro. A estrutura ao redor deles está caindo e sendo substituída por — o quê? Veneza, ou a fachada que a cidade apresenta para seus turistas, não é mais conhecida. Visualmente e metaforicamente, eles estão agora na terra dos fantasmas, e descobri que com um pequeno detalhe como a adição de alguns lençóis (que roubei para o meu próprio filme), o espectador pode ser consciente ou inconscientemente colocado em um estado profundo de inquietação. RIP Nic Roeg, um dos melhores de todos os tempos.”

Don Mancini — A Fúria

A Fúria (1978) é um filme de Brian De Palma que alterou completamente a visão de Don Mancini em como se explorar o terror. Mancini é o criador do nosso boneco possuído preferido, Chucky, da franquia Boneco Assassino.

“Minha ‘cena assustadora’ mais formativa não foi um jumpscare, nem uma cena de assassinato. Foi a visão telepática de um personagem de A Fúria, de Brian De Palma. Na cena, a psíquica Gillian (Amy Irving) tropeça enquanto sobe uma escada. Seu médico (Charles Durning) rapidamente agarra sua mão para mantê-la firme. O contato físico repentino aciona a visão de Amy, na qual ela vê Charles perseguindo um menino (Andrew Stevens), supostamente falecido, pelas mesmas escadas em algum momento no passado. (…) Charles perseguindo Andrew escada acima em câmera lenta, enquanto a própria Amy permanece em velocidade normal em primeiro plano. O efeito foi desorientador, surreal e bastante chocante, o passado se intrometendo repentina e violentamente no presente. É um conceito puramente cinematográfico, experimental, sobre a noção de ‘flashback’, que abala os modos tradicionais de narrativa visual. O cinema ‘virtuoso’ se encaixou no evento sobrenatural da história, criando um momento inesquecível. A cena me mostrou as possibilidades do gênero terror e do próprio cinema.”

Gregory Plotkin — Halloween, A Noite do Terror

Diretor de Atividade Paranormal: Dimensão Fantasma (2015) e Parque do Inferno (2018), Gregory Plotkin é também produtor e editor de filmes de terror. Foi em Halloween que Plotkin encontrou grande inspiração para seus trabalhos.

“O Halloween original é um daqueles filmes monumentais da minha vida — a abertura do filme, especificamente, onde realmente estamos no ponto de vista do jovem Michael Myers. Isso me cativou completamente. Não me lembro de ter estado em um ponto de vista como aquele antes. Então, colocando a máscara, lembro-me claramente de dizer ‘O que é isso? Isso não é bom. Eu não gosto disso’. (…) Carpenter obriga você a fazer essa viagem, e isso para mim é um horror. Isso é implacável. Até hoje permanece aterrorizante, totalmente claustrofóbico e perfeito. Eu me envolvi na franquia Atividade Paranormal e percebi quando estava começando a editar o quanto o Halloween havia me impactado, o quanto aquela sequência era uma sequência de found-footage. Os paralelos eram enormes para mim.”

LEIA+: A NOITE EM QUE ELE VOLTOU PARA CASA: A FRANQUIA HALLOWEEN

Jordan Rubin — O Silêncio dos Inocentes

Jordan Rubin é diretor de Zombeavers – Terror no Lago (2014), e foi com O Silêncio dos Inocentes uma de suas maiores experiências com cenas de terror. 

“A cena com visão noturna em O Silêncio dos Inocentes me assustou muito. Ainda assusta. Obviamente, há uma tonelada de cenas horríveis neste filme, mas há algo sobre nesta que realmente faz cócegas na minha amígdala. Em parte, é porque os riscos emocionais são muito maiores neste ponto. Vimos o jogo de xadrez mental exaustivo pelo qual Clarice passou e, quando ela finalmente se aproxima de seu alvo, o assassino apaga as luzes e a coloca em xeque. As apostas são intensificadas quando Buffalo Bill opta por observá-la enquanto ela é envolvida pelo medo em vez de matá-la na hora (gafe do serial killer). A maior parte da cena se desenrola através do ponto de vista do assassino, tornando-nos voyeurs, incapazes de salvá-la.”

Riley Stearns — O Bebê de Rosemary

Diretor de Faults (2014), Riley Stearns compreendeu algumas coisas importantes sobre os filmes de terror e como eles funcionam assistindo ao clássico O Bebê de Rosemary (1968), de Roman Polanski, adaptado do livro de Ira Levin.

“Não venho de uma família obcecada por filmes. Assistíamos filmes, claro, mas não tínhamos nem mesmo um videocassete em casa até eu estar na segunda série. (…) Dito isso, eu realmente não tinha visto algo que realmente me assustasse, o que eu sentia ser o objetivo final do gênero, aterrorizar. Foi só aos meus 20 anos que percebi que eu era o problema, não o gênero. Uma cena em particular fez isso por mim, em O Bebê de Rosemary. Perto do final do filme, Rosemary é trazida do consultório médico para casa por seu marido e seu amigo médico. Quando ela volta para o apartamento, ela bate a porta e tranca os homens. Ela corre para o quarto e pega o telefone para pedir ajuda. Enquanto ela está falando, ela fica parada no corredor. A câmera enquadra ela e o corredor atrás dela de uma forma que não sugere o que está prestes a acontecer, e é por isso que fiquei totalmente pasmo quando aconteceu. No fundo da cena, duas figuras cruzam a moldura na ponta dos pés, sem serem vistas por Rosemary. (…) Assisti à cena novamente hoje e, fora do contexto, é quase cômico (os homens andam na ponta dos pés de um jeito que é quase um desenho animado), mas no contexto de todo o filme, este é o momento mais assustador no cinema que, pessoalmente, eu vi. O contexto é a chave. O tom é crucial. Desde que assisti O Bebê de Rosemary pela primeira vez, percebi que estava prestando um péssimo serviço a mim mesmo ao pensar no terror como um desafio — ‘me assusta’ — em vez de assistir como você faria com qualquer outro filme e me deixar assustar, se eu merecer.”

Justin P. Lange — Tubarão

Justin P. Lange é diretor de Nas Trevas (2018) e The Seventh Day (2021). O filme Tubarão (1975) foi de uma enorme importância para que Lange compreendesse como o terror pode funcionar: só basta um cutucão.

“A abertura de Tubarão de Steven Spielberg, aquelas tomadas sinistras das profundezas do oceano, indo em direção a uma Chrissie Watkins alheia enquanto ela avança divertidamente na água… e então os movimentos e os gritos. No verão depois que vi Tubarão, minha família visitou nossa casa no lago e todos meus irmãos pularam na água de forma imprudente. Mas hesitei em segui-los e, quando eles finalmente me persuadiram, as imagens voltaram depressa. (…) A partir de então, me neguei a nadar em águas naturais. Foi talvez o primeiro e maior medo que experimentei ao assistir a algo acontecendo em uma tela, que permaneceu comigo muito depois que os créditos pararam de subir. (…) Eu percebo agora que é assim que o verdadeiro medo funciona — ele começa com uma sugestão, um cutucão na direção certa. Então corremos com ele, e ele cresce como um tornado causando estragos em nossas mentes. Antes que percebamos, estamos enfrentando uma vida em que nunca sentimos a água salgada respingar em nossos rostos.”

J.A. Bayona — Os Meninos

Diretor de O Orfanato (2007), Sete Minutos Depois da Meia-Noite (2016) e Jurassic World 2: Reino Ameaçado (2018), J.A. Bayona teve uma experiência de fascínio completo ao assistir Os Meninos (1976), de Narciso Ibáñez Serrador.

“O terror apela ao emocional de uma forma muito intensa, por isso um filme pode nos enfeitiçar, mesmo que tenha alguns defeitos. Mas também existem filmes de terror perfeitos, e um deles é, sem dúvida, Os Meninos, de Narciso Ibáñez Serrador. Tudo nele é original e poderoso, daí sua incrível influência nas obras de cineastas de todo o mundo. Sou fascinado pela história de uma descida muito particular ao inferno, em que o mal cresce onde você menos espera, naquilo que é mais puro e inocente. Fico fascinado com a maestria com que Chicho perverte tudo o que é cotidiano. Ele também faz isso em plena luz do dia, transformando uma ilha idílica e brilhante no pior dos infernos. Fico fascinado por seu mecanismo temático ambicioso, que vai do instinto de sobrevivência selvagem ao mal como algo que não pode ser controlado. Fico fascinado pela capacidade do autor de transcender a atmosfera e o medo, de trocar impacto visual por situações de puro terror articuladas em torno de ideias. E sou fascinado por como ele foi filmado, com uma consciência e senso espetacular de ritmo e tensão, transformando o exterior de uma ilha queimada pelo sol no lugar mais escuro e claustrofóbico do mundo. É uma maravilha.”

Yoann-Karl Whissell — O Exorcista III

Yoan-Karl Whissell é diretor dos filmes Turbo Kid (2015) e Verão de 84 (2018), com François Simard e Anouk Whissell. Em O Exorcista III, o cineasta encontrou uma cena que ficou com ele para o resto de sua vida. 

“Levei muito tempo antes de escolher uma cena, mas minha mente se fixou em um dos maiores sustos da história do cinema, a ‘Cena do Corredor’ do Exorcista III. Começa com uma imagem ampla de um corredor dentro de um hospital. A propósito, existe um prédio mais assustador do que um hospital? (…) E assim voltamos para a ampla tomada do corredor, para o silêncio da cena. A enfermeira vai para outra sala, sai, fecha e tranca a porta atrás dela… e é aí que a mágica acontece. Como um truque muito bom de um grande mágico, a enfermeira se vira e BAM! Mais Zoom! O assassino está bem atrás dela, pronto para cortar sua cabeça! Mas… mas… nós a vimos fechar a porta. É impossível! É por isso que amo aquela cena — com um simples truque de luz e atuação, eles fizeram o público se sentir seguro, apenas por um segundo, para que o jumpscare fosse amplificado mil vezes.”

Leigh Whannell — Worzel Gummidge 

Uma grande surpresa da lista, o grande terror de Leigh Whannell, diretor de Sobrenatural: A Origem (2015), Upgrade: Atualização (2018) e O Homem Invisível (2020), além de ator, roteisita e produtor, foi com a série infantil britânica Worzel Gummidge (1979). 

“Quando eu era criança, fui apresentado ao mundo estranho, assustador e aterrorizante mundo da televisão infantil britânica. Esses foram meus sustos formativos. (…) Houve um programa chamado Worzel Gummidge que era sobre um espantalho que ganha vida. Nos créditos de abertura de Worzel Gummidge, um espantalho chega até a janela de uma criança e está olhando para dentro, e é este ator, Jon Pertwee, que é feito para parecer um espantalho. Isso me assustou pra caralho! A versão americana da televisão infantil tinha uma motocicleta que falava. Eles estavam fazendo Karatê Kid, tipo, ‘Ei, Steve! Vamos chegar aqui e pegar esse cara!’. E por alguma razão, a versão britânica de entreter crianças é ter um limpador de chaminés parado com olhos mortos dizendo: ‘Você vai morrer. Você vai morrer esta noite’. Eu diria que essas foram as coisas que causaram arrepios na espinha, definitivamente”.

*

Confira a fala completa dos diretores no site Vulture. E aí, você se lembra qual foi a cena que mais te impactou? Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.

Compartilhe:
pin it
Publicado por

Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.