A brilhante e curta carreira de James Whale

Conhecido por ser o pai de Frankenstein e sua noiva, Whale alterou para sempre o cinema de horror

James Whale nasceu em 1889, no condado de Worcestershire, na Inglaterra, em um momento em que a ficção de horror estava fazendo um sucesso tremendo, e em um lugar em que o clima e a ambientação para essas histórias eram muito propícios. Mesmo não querendo o rótulo de “diretor de filmes de horror”, e tendo isso influenciado ou não o futuro do jovem Whale, a situação é que ele viria a se tornar, alguns anos depois, um dos responsáveis pelo sucesso do que hoje conhecemos como Monstros da Universal.
Encontrou seu talento nas artes ainda durante o colégio, e durante a Primeira Guerra Mundial acabou percebendo interesses no drama quando capturado pelo exército alemão. Se mudou para os Estados Unidos após 1928, onde passaria o resto de seus dias trabalhando, em sua maioria, com Hollywood.

Whale dirigiu uma peça chamada Journey’s End, e isso fez com que ele ficasse no radar dos produtores e dos estúdios. Já nos Estados Unidos, fixou contrato com a Universal Studios por cinco anos, a partir de 1931. Carl Laemmle Jr., filho de Carl Laemmle, um dos criadores da Universal, ofereceu a ele qualquer uma das propriedades disponíveis da Universal, para que ele trabalhasse com o que quisesse, e, naquele momento Whale não imaginava, mas mudaria os rumos do cinema e do cinema de horror ao escolher Frankenstein para dirigir. Não somente, foi Whale quem escolheu o cast, incluso Boris Karloff, a mais memorável criatura de Frankenstein do cinema de horror, aquele a quem todos imitariam o design. O filme foi um sucesso, tanto de crítica quanto de vendas.

Sua próxima incursão ao horror foi em 1932, com A Casa Sinistra, talvez um dos filmes mais expressivos do subgênero de casas assombradas. Traz detalhes incríveis, uma ambientação pitoresca, atuações e momentos memoráveis, e também foi um sucesso e mais uma vitória para Whale.

E, em 1933, ainda trabalhando na galeria de monstros da Universal, Whale dirigiu O Homem Invisível, com o roteiro aprovado pelo próprio H.G. Wells. O filme foi outro sucesso, com efeitos especiais inovadores e técnicas interessantíssimas para se contar a história de forma apropriada, atingindo um lugar entre os dez melhores filmes da década de 1930 pelo The New York Times.

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Nesse momento Whale já estava preocupado em ser reconhecido como um diretor de horror, e não queria fazer uma sequência de Frankenstein, o que hoje é, na verdade, considerada sua obra prima: A Noiva de Frankenstein, que saiu em 1935, que é um dos carros-chefe dos filmes de monstros da Universal.

Ainda preocupado com a bandeira de “diretor de horror”, Whale recusou a direção de A Filha de Drácula, de 1936, e, ao invés desse, pediu que Laemmle comprasse os direitos de um romance chamado The Hangover Murders, sobre alguns amigos que ficam bêbados e testemunham um assassinato, e que foi adaptada com o título de Remember Last Night?. É uma das obras preferidas de Whale feita por ele próprio, mas o filme dividiu opiniões.

Entretanto, mesmo tendo dirigido tantos sucessos, a carreira de Whale declinou quando negou mudanças em um filme, durante a ascensão alemã ao final da década de 1930. O filme era The Road Back, sequência do filme All Quiet on the Western Front (1930), e foi feito em 1937, um tempo depois de Laemmle ter perdido os controles da Universal para Charles R. Rogers. O filme acompanha um grupo de soldados alemães que retornam para casa e lutam com todas as consequências da guerra, e foi baseado em um romance de Erich Maria Remarque, que leva o mesmo nome do primeiro filme. George Gyssling, cônsul em Los Angeles da Alemanha Nazista, descobriu que o filme estava sendo feito e protestou contra a produção, afirmando que retratava de forma negativa e incorreta como os alemães realmente eram. O assunto chegou tão longe, que Gyssling enviou cartas para os membros da equipe ameaçando-os, dizendo que eles teriam dificuldades em conseguir vistos alemães para filmes se estivessem associados com filmes como aqueles.

Apesar de todas as críticas positivas sobre o filme feito por Whale, foram feitas alterações para que o filme parecesse “menos negativo” ao retratar o povo alemão, sem a permissão de Whale, o que o deixou nervoso. Ainda sim, o filme foi banido na Alemanha, na Suíça, na Itália, na China e na Grécia.

Após toda essa confusão, Charles Rogers tentou retirar o contrato com Whale. Depois de não conseguir, acabou o designando somente para filmes B. Em 1941, Whale se retirou da carreira cinematográfica.

James não aceitou algumas propostas de direção de filmes, mas ofereceu seus serviços para o Exército dos Estados Unidos quando a Segunda Guerra Mundial eclodiu, fazendo um filme de treinamento chamado Personnel Placement in the Army. Alguns anos depois, dirigiu algumas outras obras, e também algumas peças na Broadway.

Seus últimos anos, entretanto, foram difíceis. Após dois ataques de AVC, e ao ser hospitalizado, recebeu tratamentos para depressão e tratamentos de choque.

Em relação a sua vida pessoal, Whale era abertamente homossexual, tendo vivido com David Lewis, produtor de filmes em Hollywood, como um casal, por 23 anos. Teóricos demonstram como esses elementos conversam com as produções de Whale e servem como alegorias para sua própria sexualidade, como no caso de A Casa Sinistra. Elice Ray Helford, em um artigo chamado “Queering Classic Hollywood: James Whale and the Queer Delights of ‘The Old Dark House’”, nos mostra como todos os personagens presentes na trama tem algum nível de homossexualidade implícita entre eles. Foi um homem que jamais negou quem era, exceto, talvez, quando lhe diziam que era um excelente diretor de filmes de horror. Ainda hoje sua carreira e sua vida pessoal são um marco ao pensarmos a história do Queer Horror.

Em Deuses e Monstros, de 1998, dirigido por Bill Condon, filme ganhador do Oscar de melhor roteiro adaptado, acompanhamos os dias finais de Whale, sua relação de amizade ficcional com um jovem jardineiro chamado Clayton Boone, interpretado por Brendan Fraser, e como ele se sentia perante seus dias de sucesso passados. É uma homenagem ao diretor, que explora algumas de suas dores mais recorrentes e conhecidas por aqueles que estiveram por perto dele. O filme é uma adaptação do livro Father of Frankenstein, de 1995, de Christopher Bram.

Whale cometeu suicídio em 29 de maio de 1957, mas deixou um legado que permanece, inabalável, como um dos grandes nomes do cinema dos anos 1930. Apesar de não querer e não gostar do rótulo, Whale ajudou a construir o cinema de horror como conhecemos hoje.

Fontes: Wikipedia | Queer Portraits in History | Scream Fest | Business Live

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.