Stephen King é um dos maiores contadores de histórias de todos os tempos, e para nossa felicidade, ele tem uma clara predileção pelo horror. Seja alterando o rumo do tempo e presenciando o assassinato de John Kenedy ou encarando um bicho papão de carne e osso, Stephen nos pega pela mão e nos conduz até os seus piores pesadelos.
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Mas seja você um grande fã do Rei ou um recém iniciado na arte macabra de Stephen King, é inevitável que em algum momento se pergunte: “De onde ele tira essas ideias?”.
O site Ranker reuniu uma lista de situações reais que levaram às criações de King, dando uma ajudinha para desvendar alguns dos segredos mais obscuros que habitam a mente desse gênio da escuridão. Separamos algumas das histórias mais assustadoras e que foram transformadas em filmes e séries. Ah, e não esqueça de conferir também o guia definitivo com todas as adaptações das obras do mestre.
Carrie, A Estranha
Carrie, 1976 // Como King afirmou ao longo se sua carreira, e também em seu livro Sobre a Escrita, Carrie foi inspirada em várias situações. King já teve um emprego limpando o vestiário das mulheres. E Carrie começa justamente ali, no vestiário feminino. Mais tarde, King leu um artigo sobre como os avistamentos de fantasmas podem ser confundidos com telecinesia, fenômeno no qual um indivíduo pode mover objetos com a mente.
O personagem de Carrie também era baseado em duas garotas. Uma delas, Tina, frequentava a mesma escola primária que King. Ela era muito pobre, e intimidada por usar as mesmas roupas todos os dias. A outra garota era filha de uma fanática religiosa. A mãe de Carrie foi inspirada em Sandra, uma mulher que morava na vizinhança de King e que certa vez pediu ajuda para mudar sua mobília. King se ofereceu e foi surpreendido por um grande Cristo crucificado na parede da sala da mulher. Hoje as duas garotas estão mortas. Uma delas cometeu suicídio, a outra morreu após um longo processo de depressão pós-parto.
A Good Marriage
A Good Marriage, 2014 // A Good Marriage é sobre uma mulher e o homem que ocupa o posto de seu marido há quase 30 anos. Eles vendem moedas raras e tudo está muito bem, obrigado. E continua assim, até que a mulher descobre que seu marido é um notório assassino em série.
King foi inspirado a escrever esta história depois de ler sobre Dennis Rader, mais conhecido como o assassino Bind Torture Kill (BTK). O modus operandi de Rader é bem explicado por seu apelido, mas ele também gostava de enviar os documentos de identificação de suas vítimas para a polícia. Os amigos e vizinhos de Rader nunca suspeitaram de nada, e ele era muito querido em sua comunidade. Paula Rader foi sua esposa amorosa por 30 anos e não tinha conhecimento dos crimes hediondos de seu marido. Parece assustador o bastante? Melhor dar uma olhadinha nas gavetas de seus companheiros e companheiras.
Louca Obsessão
Misery, 1990 // Em Louca Obsessão, um romancista é sequestrado pela superfã (e bote super nisso) Annie Wilkes, que o força a reescrever seu romance à maneira que ela acha melhor. King baseou Annie, magistralmente retratada por Kathy Bates na adaptação audiovisual subsequente, em seus próprios problemas com drogas. “Annie era meu problema com drogas, e ela era minha fã número um. Deus, ela nunca quis ir embora”, disse ele.
O romance também foi inspirado na história de Evelyn Waugh, The Man Who Loved Dickens. No conto de Waugh, um homem mantém outro homem cativo e força-o a ler Charles Dickens em voz alta. King disse que ponderou como seria se o homem tivesse conseguido capturar o próprio Dickens.
Annie Wilkes, é enfermeira de profissão, e suspeita de ter assassinado várias crianças sob seus cuidados. Este aspecto de sua história de origem é baseado em Genene Jones, uma ex-enfermeira que, acredita-se, tenha matado 46 crianças. Ela as envenenava, depois tentava resgatá-las, para receber elogios. Seus esforços de resgate nem sempre foram bem-sucedidos.
O Cemitério Maldito
Pet Sematary, 1989 // Em Cemitério Maldito, um pai enterra seu filho em um cemitério de animais depois de perceber que os animais enterrados no mesmo “solo pedregoso” retornam à vida. Como você pode imaginar, isso não deu muito certo.
Em 1979, King era escritor-residente da Universidade do Maine, quando perambulou por um cemitério informal de animais de estimação, onde crianças locais enterravam gatos e cães que foram atropelados em uma estrada movimentada. O gato da filha de King era um desses animais desafortunados.
“Lembro-me de atravessar e pensar que o gato havia sido morto na estrada e (pensei), e se um garoto morresse naquela estrada? E tínhamos tido essa experiência com [meu filho] Owen correndo na direção da estrada, onde eu tinha acabado de agarrá-lo e puxá-lo de volta. E as duas coisas só vieram juntas — de um lado desta rodovia de duas pistas estava a ideia de que se o gato voltasse, e do outro lado da rodovia ‘E se o garoto voltasse’ — de modo que, quando cheguei ao outro lado, fui estimulado pela ideia, mas não de maneira melodramática. Soube imediatamente que era um romance.”
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King também afirma que tanto ele quanto sua esposa, Tabitha, não gostaram do romance, já que ele era muito autobiográfico e muito sombrio. Ele enfiou o manuscrito na gaveta e tentou esquecê-lo. Se não fosse por uma obrigação contratual, Cemitério Maldito nunca teria sido publicado.
It – A Coisa
It, 1990 // A história de um palhaço-besta-dançarino-aranha que aterroriza um grupo de crianças e os assombra novamente como adultos cimentou o medo de palhaços em muitas crianças que se atreveram a conhecer Tim Curry caracterizado como Pennywise no filme de 1990.
King teve parte da ideia do romance quando seu carro quebrou em um dia de verão em 1978 (King e seu azar com veículos…). Ele levou o carro até a oficina e, quando foi consertado, caminhou três quilômetros até o mecânico, para buscá-lo. A rota de King o levou através da velha ponte de madeira, o que o levou a lembrar de um antigo conto de fadas sobre três cabras se deparando com um troll que vivia debaixo de uma ponte. De alguma forma, este conto de fadas despertou em King o dispositivo estrutural de It. King também foi inspirado pelo sistema de esgoto local de Bangor, Maine, a cidade em que ele vivia.
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“Alguém me disse que aparentemente você pode colocar uma canoa nos esgotos logo adiante, no Westgate Mall, e você pode ir até o cemitério de Mount Hope, no outro lado da cidade. Esse mesmo cara me disse que o sistema de esgoto de Bangor foi construído durante o WPA e eles perderam a noção do que estavam construindo lá embaixo, eles tinham dinheiro do governo federal para os esgotos, então eles construíram como loucos. Muitas das plantas já foram perdidas, e é fácil se perder lá embaixo. Eu decidi que queria colocar tudo isso em um livro e, eventualmente, o fiz. Bangor tornou-se Derry. “
E, é claro, pelo assassino em série John Wayne Gacy (o serial killer assassinou 30 rapazes e moças na área de Chicago nos anos 70, quando se apresentava como o palhaço Pogo, animando festinhas infantis).
O Iluminado
The Shining, 1980 // O Iluminado, indiscutivelmente um dos melhores trabalhos de King, diz respeito a uma família que concorda em ser zeladora em um hotel nas montanhas do Colorado durante o inverno. Eles estão cobertos de neve, presos nesse lindo prédio antigo — e assombrado.
O Overlook Hotel de O Iluminado é, na verdade, o The Stanley Hotel, no Colorado. Em outubro de 1974, King e sua esposa permaneceram no quarto 217 do Stanley, uma sala supostamente assombrada. Enquanto King dormia, ele sonhava com seu filho sendo perseguido pelo hotel por uma mangueira de incêndio.
“Levantei, acendi um cigarro, sentei numa cadeira olhando pela janela para as Montanhas Rochosas, e quando o cigarro acabou, tive o esqueleto do livro firmemente plantado em minha mente.”
King também admitiu anos mais tarde que Jack Torrance e seu alcoolismo nasceram de suas experiências pessoas com a bebida, algo que ele demorou a perceber por si mesmo.
O Stanley Hotel abraça seu terror imortal e hoje é casa de um festival de terror anual.
A Maldição
Thinner, 1996 // Em A Maldição, um homem é amaldiçoado a perder peso até se tornar um verdadeiro esqueleto. King foi inspirado a escrever a história depois que seu médico lhe disse para parar de fumar e perder alguns quilos. Enquanto King perdia peso, ele se perguntava como seria continuar ficando mais magro — e nunca parar.
“Fui ver o médico e ele me disse: ‘Ouça, cara, seus triglicérides estão muito altos. Caso você não tenha percebido, você entrou no país do ataque cardíaco’. Eu usei essa linha no livro”, disse King.
Cujo
Cujo, 1983 // Cujo é sobre um São Bernardo que contrai raiva (hidrofobia), depois de ser mordido por um morcego. Apesar da premissa bem pouco surpreendente, se você já amou um cão, sabe como seria horrível assistir seu amado animalzinho se transformando em uma fúria assassina.
King foi mesmo inspirado por um São Bernardo, que conheceu em 1977. Ele foi apresentado ao cão em uma oficina, depois de levar sua moto ao mecânico. O verdadeiro Cujo não destruiu King, mas rosnou bastante para ele. O dono do cachorro disse que normalmente ele não era assim. “Eu acho que ele não foi com a sua cara”, King lembra ter ouvido.
Os Vampiros de Salem
Salem’s Lot, 1979 // ‘Salem é um livro sobre um homem que retorna à sua pequena cidade natal que é invadida por vampiros. King foi inspirado a escrever este romance pela bíblia dos romances de vampiros, Drácula, de Bram Stoker.
“Uma das aulas que lecionei ensino médio foi Fantasia e Ficção Científica, e um dos romances que eu ensinei foi Drácula. Fiquei surpreso com o quão vital tinha permanecido ao longo dos anos; as crianças gostaram, e eu também gostei. Uma noite durante o jantar, perguntei-me em voz alta o que aconteceria se Drácula voltasse no século XX para a América. ‘Ele provavelmente seria atropelado por um táxi amarelo na Park Avenue e morto’, disse minha esposa. Isso encerrou a discussão, mas nos dias que se seguiram, minha mente continuou voltando à ideia. Tinha me ocorrido que minha esposa provavelmente estava certa — se o lendário Conde viesse a Nova York —, mas se ele aparecesse em uma pacata cidadezinha do interior… então eu decidi que queria descobrir, então eu escrevi ‘Salem, que foi originalmente intitulado Segunda Vinda.”
Trocas Macabras
Needful Things, 1993 // O romance de King Trocas Macabras é sobre um homem carismático que abre uma loja de curiosidades bizarras. Os preços são baixos, e alguns dos itens têm “propriedades” surpreendentes e úteis. No entanto, o dono da loja, Leland Gaunt, exige que cada cliente faça uma brincadeira com outra pessoa da cidade antes de fechar o negócio. A cidade se implode em caos. King descreve sua inspiração como “pegar os anos 1980 e empilhá-lo em uma loja”.
“Ocorreu-me que, nos anos 1980, tudo havia chegado com um preço, que a década, literalmente, foi a venda do século. Os itens finais no bloco foram honra, integridade, respeito próprio e inocência. Quando cheguei em casa naquela noite, decidi transformar os anos 1980 em uma loja de curiosidades chamada Trocas Macabras e ver o que acontecia… O livro não foi bem revisado. Ou um monte de críticos não entenderam a piada ou não gostaram dela. Os leitores gostaram, e isso é o que importa para mim.”
Celular
Cell, 2016 // Celular é um romance de 2006 sobre um artista que está em Boston quando o Pulso acontece. Qual é o pulso? Bem, todo mundo que está usando o celular no exato momento em que o Pulso ocorre se transforma em um ser possuído pela raiva.
King disse que essa ideia lhe ocorreu enquanto ele estava em Nova York. Ele viu um homem de terno que aparentemente estava falando sozinho. No entanto, quando ele se aproximou do homem, ele percebeu que estava usando um fone de ouvido bluetooth Assim nasceu a ideia de Celular. O complemento veio da experiência de King com a obra de George A. Romero e seu amor pelos zumbis.
Conta Comigo
Standy By Me, 1986 // O filme Conta Comigo foi baseado no conto de King, “O Corpo”, sobre um grupo de crianças que decidem encontrar um corpo na floresta.
King e seu irmão foram criados por uma mãe solteira que, quando King tinha 11 anos, se mudou para o Maine para estar mais perto de sua família, que poderia ajudá-la com as crianças. No Maine, King frequentou uma escola com apenas quatro outros colegas de classe. Essas crianças de alguma forma se infiltraram nos personagens de “O Corpo”.
King também relata um evento que ocorreu quando ele tinha 4 anos de idade; seu amigo foi atingido por um carro. Ele não se lembra do acidente, mas se lembra de sua mãe lhe contando sobre aquele dia quando estava mais velho.
“Durante muito tempo pensei que adoraria poder encontrar uma forma de colocar em prática muitas das experiências de infância de que me lembro — muitas delas eram engraçadas e algumas delas eram meio tristes — e as pessoas que eu conhecia e alguns dos caras com quem eu saía não estavam indo para lugar nenhum, exceto para becos sem saída. As coisas mais importantes são as mais difíceis de expressar. São coisas das quais você se envergonha, pois as palavras as diminuem.”
King também afirma que o famoso mergulho com as sanguessugas presente no conto foi algo inesquecivelmente real. E que algumas delas realmente atacaram seu primo bem lá embaixo.
A Dança da Morte
The Stand, 1994 // Aclamado por muitos como o melhor trabalho de King, A Dança da Morte nos apresenta a um grupo de pessoas que sobreviveu a uma gripe mortal que dizimou quase toda população mundial. King explica que ele sempre quis escrever um romance de fantasia épico semelhante ao trabalho de Tolkien. Ele encontrou inspiração certa para uma história tão épica em um programa de TV sobre guerra química, e ficou horrorizado com a filmagem de ratos de laboratório morrendo. Esse programa, combinado com uma história que King leu sobre um vazamento químico em Utah que resultou na morte de várias ovelhas, serviu de base para A Dança da Morte.
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