Durante uma expedição em uma base na Antártida, os pesquisadores de uma estação norte-americana acabam sendo vítimas de um destino terrível: eles ficam presos, na neve, com algo violento e capaz de se disfarçar como qualquer um deles. Esse perigo quase invisível está pronto para colocar um contra o outro, em um clima de claustrofobia e paranoia em um local isolado.
O Enigma de Outro Mundo, dirigido por John Carpenter, é adaptado do livro Who Goes There?, de John W. Campbell. Apesar de ser considerado por muitos um remake do filme de 1951, O Monstro do Ártico, ambas as produções compartilham o mesmo ponto de partida, mas são bastante diferentes. Carpenter, fã do filme de Christian Nyby, não queria competir com a adaptação original. Assim como em outros filmes de Carpenter, inclusive, podemos ver a homenagem do cineasta à obra de 1951 em uma das cenas, passando na televisão.asta à obra de 1951, enquanto esta passa em uma televisão em uma das cenas.
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Um dos maiores clássicos dos anos 1980, o filme reúne algumas curiosidades bem macabras — de seu fracasso de bilheteria ao seu sucesso entre os fãs de efeitos especiais. A Macabra reuniu algumas delas para os fãs do filme de John Carpenter.
Outras direções
O filme quase não teve John Carpenter como diretor. Na época, quem tinha os direitos de O Monstro do Ártico (o filme de 1951, que adapta o mesmo livro que O Enigma de Outro Mundo) era a Universal, e eles tinham Tobe Hooper sob contrato. No ano anterior de O Enigma, Hooper havia feito Pague para Entrar, Reze para Sair. Então a Universal encomendou um primeiro rascunho de ideia para Hooper, que parece não ter agradado muito.
Sorte de Carpenter, que já afirmou diversas vezes que este é seu trabalho favorito.
Mas não foi somente o roteiro de Hooper que não passou pela avaliação da Universal. Carpenter, quando assumiu a direção do projeto, disse que não queria escrevê-lo, então vários autores foram chamados para resolver a questão, como David Wiltse, William F. Nolan e Deric Washburn. Dentre eles, os que mais chamam atenção são Richard Matheson, famoso autor de ficção científica e horror, que escreveu Eu sou a Lenda e Hell House; e Nigel Kneale, que criou o personagem Bernard Quatermass, da série The Quatermass Experiment, que logo virou filme nos anos 1950. Kneale também auxiliou o roteiro de Halloween III: A Noite das Bruxas.
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Por fim, o escolhido para o roteiro foi Bill Lancaster, que na época só tinha dois filmes em seu currículo: Garotos em Ponto de Bala (1976) e The Bad News Bears Go to Japan (1978). Carpenter adorava Garotos em Ponto de Bala, e gostou da maioria das coisas que Lancaster pensou para o projeto. Dentre suas sugestões, o teste de sangue para determinar se os membros do grupo eram pessoas ou “coisas” foi um dos que mais agradaram.
Não foi muito bem recebido de início
Apesar de hoje ser considerado um dos melhores filmes de terror de todos os tempos, O Enigma de Outro Mundo não foi bem recebido pelos fãs na época de seu lançamento. Na verdade, a decepção foi tão grande que custou a Carpenter um trabalho e o carinho do público.
Alguma culpa recai em E.T. O Extraterrestre, que foi lançado apenas duas semanas antes de O Enigma de Outro Mundo, como bem aponta o site Mental Floss. Enquanto E.T. nos mostra um alienígena bom com um final esperançoso e alegre, O Enigma faz o oposto: temos um invasor maligno, capaz de se passar por qualquer um que conhecemos, prestes a nos destruir de dentro para fora.
Mas não foram só os fãs que odiaram o filme. A crítica também não gostou tanto assim. O famoso crítico Roger Ebert, conhecido por suas opiniões desfavoráveis aos filmes de terror, afirmou em sua resenha que O Enigma era “apenas um show geek, um filme nojento no qual os adolescentes podem desafiar uns aos outros a olhar a tela”.
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Os efeitos especiais
Uma das maiores estrelas do filme é, na verdade, Rob Bottin. Na época, com apenas 22 anos de idade, Bottin era aprendiz de Rick Baker quando acabou trabalhando com Carpenter em O Enigma de Outro Mundo.
De início, Carpenter estava um pouco receoso de que a audiência pudesse rir do filme e das ideias que ele tinha para contar essa história, mas tudo mudou quando ele viu pessoalmente os efeitos que Bottin estava trabalhando. O artista era extremamente cuidadoso com suas obras, e trabalhou em O Enigma com tanto afinco que foi parar no hospital na época da pós-produção — durante o período, Bottin estava quase vivendo dentro do estúdio 24 horas por dia para manter tudo em ordem.
Apesar de tudo, o trabalho de Bottin deu resultados. Hoje, O Enigma de Outro Mundo é um dos marcos dos efeitos especiais, e o trabalho de Bottin é referenciado e utilizado como exemplo com frequência por estudantes e mestres dos efeitos do cinema.
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Acidentes no set
Acidentes em sets de filmagens eram muito mais comuns nos anos 1980. Alguns mais sérios que outros, diversos filmes do período acabaram tendo um problema ou outro. No terror, principalmente, dada a dose de efeitos necessários em algumas cenas. E em O Enigma de Outro Mundo isso não foi diferente.
O mais prejudicado nas filmagens — além de Bottin, que enfrentou sérios problemas por trabalhar demais — foi Kurt Russell. Em uma das cenas em que Russell precisa deter uma das “coisas”, ele joga uma banana de dinamite em seu oponente. E até aí tudo certo. O que Russell não sabia, e o que a maioria dos fãs não sabem, é que uma dinamite real foi usada para a cena.
O ator, não sabendo da verdadeira potência de uma dinamite, acabou sendo lançado pelo set. Russell não se machucou, e a cena parecia tão autêntica na filmagem que Carpenter decidiu mantê-la daquele jeito mesmo.
Trilha Sonora
Se você é um fã mais assíduo de John Carpenter deve saber que uma de suas grandes paixões é a música. Hoje em dia, apesar de não trabalhar mais com a direção de filmes de terror, o artista continua compondo em companhia de seu filho e seu afilhado, Cody Carpenter e Dave Davies.
Carpenter inclusive fez as trilhas sonoras de muitos de seus filmes, incluindo a clássica música tema de Halloween. Mas quem assumiu a trilha de O Enigma de Outro Mundo, na verdade, foi Ennio Morricone, grande compositor italiano conhecido por seu trabalho com o cineasta Sergio Lione, e que trabalhou com Quentin Tarantino em Os Oito Odiados (2015).
Morricone já recebeu diversos prêmios por causa de seu trabalho. Mas os fãs e críticos não gostaram muito do que ele havia preparado para O Enigma, chegando a ser indicado ao Framboesa de Ouro naquele ano. A parte mais curiosa disso tudo é que Morricone chegou a usar músicas que não foram usadas em O Enigma em Os Oito Odiados — filme pelo qual recebeu mais um Oscar de Melhor Trilha Sonora Original.
Legado
Referenciado aos montes, O Enigma de Outro Mundo já apareceu em Os Simpsons, Futurama, Rick e Morty, entre tantos outros, o que só demonstra sua longevidade na cultura pop.
Mas, talvez, a referência que mais chame a atenção seja o curta Pingu’s the Thing, uma paródia da animação stop motion Pingu, mas com o roteiro do filme, feito em 2012 por Lee Hardcastle.
O Enigma de Outro Mundo também recebeu um remake em 2011, intitulado A Coisa e dirigido por Matthijs van Heijningen Jr.
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