Os efeitos práticos e aterrorizantes de Rob Bottin

De O Enigma de Outro Mundo a Robocop, Rob Bottin fez trabalhos icônicos de efeitos práticos para o cinema. Saiba mais sobre a carreira deste recluso artista.

Os efeitos de um filme de terror são, de certa forma, como o recheio de um bom bolo. Enquanto a massa é aquele roteiro bem feito com os diálogos funcionando como ingredientes harmônicos, e a cobertura é aquela referência especial que todo fã ama, o recheio é conseguir com que cabeças explodam sem que os fios sejam vistos, ou que o lobisomem transformado não tenha um zíper nas costas.

Aficionados por terror irão parar o que estiverem fazendo para prestar atenção em detalhes desse tipo, e muitos não escondem a preferência pelos efeitos práticos. Um bom filme com efeitos criados a partir de técnicas de maquiagens, jogos de luz, moldes, próteses e o uso da boa e velha gambiarra é, ainda, uma das coisas favoritas dos fãs do gênero. 

Ao longo da história dos efeitos especiais tivemos muitos nomes marcantes, como Tom Savini, Rick Baker, Stan Winston, Ve Neill, e diversos outros. Um dos grandes artistas dos anos 1970 a 1990, que fez trabalhos em filmes que hoje são considerados clássicos — e que talvez seja menos lembrado, mas que fez um trabalho tão assustador quanto os outros —, foi Rob Bottin.

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Os primeiros anos

Bottin nasceu em primeiro de abril de 1959, e passou sua infância em um subúrbio de Los Angeles, chamado El Monte. Desde muito jovem, assim como a maioria de seus amigos artistas e contemporâneos a ele, Bottin cresceu assistindo filmes antigos de monstros e lendo a famosa revista Famous Monsters of Filmland, comandada pelo icônico editor Forrest J Ackerman.

Este interesse lhe rendeu a bagagem necessária para desenvolver seu talento. Aos 14 anos enviou alguns trabalhos para Rick Baker, lendário artista de efeitos especiais, que o contratou imediatamente como aprendiz.

Logo de início, e antes mesmo de completar duas décadas de vida, Bottin trabalhou em King Kong (1976), Guerra nas Estrelas (1977), O Incrível Homem Que Derreteu (1977), A Fúria (1978), Piranha (1978), A Bruma Assassina (1980), O Maníaco (1980), entre outros. Em alguns desses trabalhos iniciais, Bottin não é creditado, mas em muitos dos projetos em que esteve, Bottin participou também pela diversão. Um desses casos foi Guerra nas Estrelas, que além dos efeitos especiais, também foi um dos alienígenas na famosa cena da cantina.

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Os grandes destaques da carreira

Seu primeiro grande trabalho, entretanto, com direito a créditos em seu nome e uma posição de destaque na criação dos efeitos e próteses, foi em Grito de Horror (1981), de Joe Dante. Originalmente Rick Baker assumiria o trabalho neste filme, mas ele já estava trabalhando em Um Lobisomem Americano em Londres — que foi lançado somente cinco meses antes de Grito de Horror. Baker já havia trabalhado em uma transformação de lobisomem, e não queria que seu trabalho ficasse marcado pela forma como fizera no primeiro filme.

Bottin fazendo teste de maquiagem para Grito de Horror
A garagem de Bottin na criação dos lobisomens de Grito de Horror

Apesar da cena de transformação em Grito de Horror ter sido um sucesso, Bottin acabou ficando lembrado principalmente por ter feito um trabalho de tema semelhante ao de seu “professor”. Isso mudou, entretanto, quando assumiu a posição de criador e designer de efeitos especiais no clássico de John Carpenter, O Enigma de Outro Mundo (1982). Apesar de não ter feito o sucesso esperado no momento de seu lançamento, o filme logo ganhou ares de clássico e chamou a atenção dos fãs de terror, muito disso por causa de seus efeitos especiais aterrorizantes.

Bottin e John Carpenter criando efeitos práticos para O Enigma de Outro Mundo

John Carpenter já afirmou em algumas entrevistas que este é seu trabalho favorito. Bottin tinha apenas 22 anos quando começou a trabalhar nos efeitos do filme, que é considerado hoje um dos marcos na história dos efeitos especiais. O artista, entretanto, levou seu trabalho um pouco longe demais, e estava quase vivendo dentro do estúdio quando o filme entrou em pós-produção. Bottin teve que desacelerar um pouco após ter que ir ao hospital por exaustão e pneumonia. Quem o ajudou no processo, principalmente nas cenas do cachorro-coisa, foi Stan Winston, a quem Bottin já havia recorrido antes mesmo de iniciar o projeto.

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Mas a exaustão não foi capaz de parar a sede de construção e a força de vontade de causar terror de Bottin. Como criador de efeitos práticos, Bottin ainda faria trabalhos incríveis ao longo dos anos 1980. Foi dele o trabalho no segmento “3” de No Limite da Realidade (1983), em A Lenda (1985), em As Bruxas de Eastwick (1987) e Viagem Insólita (1987). Ele também trabalhou nos efeitos especiais de Viagem ao Mundo dos Sonhos (1985) e RoboCop: O Policial do Futuro (1987), onde criou a armadura do personagem título.

Bottin junto da armadura de Robocop

Últimos trabalhos e afastamento da indústria

Ao longo dos anos 1990 alguns de seus maiores projetos foram em O Vingador do Futuro (1990), Instinto Selvagem (1992), Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995) e Clube da Luta (1999). Seu último crédito com efeitos especiais, de acordo com a página do IMDb do artista, aparece no episódio “The Lion and the Rose”, da quarta temporada de Game of Thrones. Aparentemente, Bottin auxiliou na cena da morte de Joffrey Baratheon.

Bottin é hoje um cara recluso, que vive na sua e não faz muito alarde, vivendo no sul da Califórnia. Alguns conhecidos próximos, que deixam comentários recorrentes em publicações sobre o artista, afirmam que ele está bem, continua fazendo pequenos trabalhos, mas detesta a vida de celebridade. 

Bottin e o traje de coelho usado em Rock ‘n’ Roll High School
E. Erick Jensen e Bottin no set de O Enigma de Outro Mundo

Ainda que não esteja nas redes sociais e que seja menos lembrado que seus contemporâneos, Bottin é um dos grandes nomes da maquiagem do horror e conquistou fãs do gênero no mundo inteiro. 

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.