Com uma série de trabalhos bem desenvolvidos, Karyn Kusama é uma das grandes diretoras da atualidade. Seus filmes nos trazem narrativas que subvertem personagens típicos e que são gratas surpresas nos gêneros do terror e da ação.
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Seu primeiro longa foi Boa de Briga, lançado em 2000, estrelando Michelle Rodriguez. O filme nos apresenta Diana, uma jovem que tem treinado box sem que seu pai saiba, e que acaba conseguindo um inesperado sucesso no esporte. Quatro anos antes do grande sucesso de Clint Eastwood, Menina de Ouro, Kusama já trabalhava com a ideia de que uma garota pudesse se tornar tão forte em um esporte tão dominado por homens.
E essa ideia de que mulheres podem assumir outros lugares, geralmente ocupados por homens, segue em seus trabalhos seguintes.
Em 2005 dirige Æon Flux, baseado na animação de mesmo nome de 1991. Protagonizado por Charlize Theron, que interpreta a assassina Aeon Flux, trabalhando para um grupo de rebeldes tentando derrubar o governo, o filme tem grandes sequências de ação. É em Æon Flux que uma parceria que dura há anos se iniciaria, com os roteiristas Phil Hay e Matt Manfredi. Com o roteiro de ambos, personagens de Peter Chung e uma excelente atuação de Theron, Kusama nos entrega um filme lembrado com carinho pelos fãs.
É em 2009 que Kusama faz sua primeira contribuição para o horror. Em Garota Infernal, temos Megan Fox e Amanda Seyfried como duas adolescentes, Jennifer e Needy, que são amigas mas muito diferentes entre si. A relação de ambas começa a ficar mais complicada quando, após uma tentativa de sacrifício ao qual sobreviveu, Jennifer passa por uma transformação como succubus e começa a matar garotos na escola. O filme não foi bem recebido em sua data de lançamento, mas foi redescoberto anos depois e hoje é um dos filmes mais aclamados da diretora. A configuração de relacionamento de Jennifer e Needy, a construção do roteiro — que ficou por conta de Diablo Cody, que também escreveu Juno, de 2007, e Tully, em 2018 —, e várias cenas muito bem conduzidas pela diretora foram pontos que ganharam o apreço para os fãs do cinema de gênero, e principalmente para os fãs de cinema de gênero que questionam o espaço de mulheres nesses filmes.
Demorou seis anos para que Kusama dirigisse novamente algo relacionado ao terror. Nesse meio tempo dirigiu o curta Speechless, em 2013, sobre um garoto que tem um segredo e não quer se abrir com ninguém. O filme é um drama sobre abusos na infância.
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Quando retornou ao terror em 2015, foi com O Convite, protagonizado por Logan Marshall-Green, Tammy Blanchard e Michiel Huisman. O filme acompanha a história de Will (Marshall-Green) e Eden (Blanchard), que perderam o filho. Alguns anos mais tarde, Will ainda não conseguiu se recuperar da perda e o relacionamento que tinha com Eden desabou. Ao receber um convite de Eden e seu novo marido, David (Huisman), para um jantar com amigos, Will sente que há algo de errado com o clima da casa e as escolhas feitas pela ex-esposa. Kusama constrói um filme tenso, com um suspense firme e concreto, quase palpável, até o final. Demoramos para descobrir o que está acontecendo, se há mesmo algo de errado ou se todo o sentimento ruim dos acontecimentos vem somente de Will.
Desde então, a carreira de Kusama andou bastante movimentada, dirigindo episódios de séries, como Chicago Fire, Casual, Masters of Sex, Billions, Halt and Catch Fire e da aclamada série O Homem do Castelo Alto, adaptação do livro de mesmo nome de Philip K. Dick.
Em 20147, Kusama participou do projeto XX. O filme antológico, com quatro segmentos, foi dirigido e organizado somente por mulheres, tratando de temas como filhos, família e maternidade, e todas as coisas assustadoras que acompanham esses assuntos. Ao lado de Jovanka Vuckovic, Roxanne Benjamin e a atriz e compositora St. Vincent, Kusama trouxe ao ar a história “Her Only Living Son”, uma história que pode lembrar a muitos filmes como O Bebê de Rosemary e A Profecia, já que a narrativa se concentra na ideia de uma mãe tendo que criar o filho de um demônio.
Seu último longa lançado nos apresenta uma Nicole Kidman atormentada pelas escolhas que fez em sua vida. Em O Peso do Passado, também escrito por Phil Hay e Matt Manfredi, nós acompanhamos uma história tensa sobre uma mulher com algumas escolhas duvidosas e um passado obscuro. Kusama subverte um papel que, na maioria das vezes, é feito por um homem. Assim como em O Convite, em que Kusama subverte um papel tradicionalmente feminino para ser interpretado por um homem, O Peso do Passado nos traz uma mulher assumindo seus riscos e sendo anti-heroína.
Kusama também dirigiu o sexto episódio de The Outsider, série baseada no livro de mesmo nome de Stephen King.
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Karyn Kusama é uma diretora com intenções bastante consistentes e um leque de trabalhos interessante, que preza principalmente pelo controle que tem sobre suas criações e que gosta de contar suas histórias da forma que preferir. Em entrevista para o site Polygon, Kusama afirma que não quer contar histórias sobre poderes oficiais. Seus interesses percorrem as experiências humanas com a solidão e com o autodescobrimento, com pessoas tentando encontrar seus lugares no mundo. Kusama acredita estar tentando encontrar uma forma de esperança no mundo, “um senso genuíno de atenção dado às gentis e surpreendentes compaixões que podemos encontrar mesmo nos humanos mais corruptos”. Para ela, seus filmes são uma forma de compreender como passamos por nossos arrependimentos e vergonhas, pois isso começa em um nível individual muito antes de se tornar institucional.
Desde 2000, Karyn Kusama tem nos presenteado com filmes com personagens interessantes e bem construídas, fugindo de um lugar comum dentro dos gêneros que se propõe a dirigir. Dentre os filmes de ação e terror, Kusama já nos entregou filmes inesquecíveis e marcantes.
De acordo com o site EW, o próximo projeto da diretora pode ser um novo filme do vampiro mais conhecido do mundo, Drácula. Os rumores surgiram pouco depois do lançamento e enorme sucesso de O Homem Invisível, mas não há datas para início do projeto ou quando possivelmente ele estaria pronto.
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