Diretoras que estão transformando pesadelos em filmes

Os últimos anos viram um crescimento de projetos no terror dirigidos por mulheres. Recordando nomes que estiveram em destaque, a Macabra selecionou algumas diretoras para ficar de olho.

Já faz alguns anos que superamos a ideia de que “mulheres não fazem terror”. Presentes no gênero desde seu surgimento — nos livros com Mary Shelley e seu Frankenstein, ou nos filmes, com Ruth Rose em King Kong (1933) —, mulheres estão trabalhando com terror, de uma forma ou de outra, há décadas. E, nos últimos anos, pesquisadoras e fãs do gênero têm feito questão de ampliar essa rede de nomes que circulam desde o começo do século XIX, mas que foram esquecidas com o tempo, ou que não receberam a importância devida.

Nos últimos anos, também, temos visto um aumento no número de projetos dirigidos por mulheres no terror que chegam ao grande público. Geralmente delegados ao movimento independente ou menos mainstream, os filmes dirigidos por mulheres têm cada vez mais alcançado seu lugar nos cinemas, nos streamings, ou nos já quase falecidos canais da TV a cabo.

Ruth Rose, responsável por reescrever o roteiro de King Kong e deixá-lo mais ágil. Depois do clássico de 1933, Rose seguiu escrevendo roteiros e adaptações para o cinema.

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O importante é que esses filmes estão sendo vistos, comentados e bem avaliados. E a cada ano, com frequência, eles figuram entre as listas de melhores do ano em sites internacionais, chegando a maiores audiências, gerando mais interesse, e fazendo com que essas diretoras — e novas diretoras — sejam chamadas para mais projetos. 

A Macabra reuniu alguns nomes de cineastas de terror que lançaram filmes nos últimos dois anos e que estão com alguns projetos vindouros. 

Rose Glass

Rose Glass

Na ativa desde 2010 com seus curtas-metragens, quando ainda era estudante, foi em 2019 que Rose Glass chamou de vez e mundialmente a atenção dos fãs de terror com o lançamento de seu primeiro longa, Saint Maud. No filme, a enfermeira Katie (Morfydd Clark) se torna obcecada em salvar a vida de seu paciente. Saint Maud foi exibido pela primeira vez no Toronto International Film Festival, mas sua estreia definitiva foi adiada devido à pandemia de Covid-19. Desde lá, vinha causando grandes comentários e, quando finalmente foi exibido a um público maior, conseguiu boa aprovação da crítica e da audiência.

Rose Glass já flertava com o terror, principalmente psicológico, em seus curtas, mesmo antes de Saint Maud. Seu primeiro curta, Moths (2010), conta a história de dois vizinhos que se espionam e transformam suas vidas em um espetáculo para que o outro assista. No curta seguinte, Storm House (2011), um jovem casal deixa que todas as urgências de seus sentimentos sejam expressos fisicamente, não através de diálogo. Entre as urgências físicas e espetáculos psicológicos em relações próximas, Rose Glass conseguiu construir uma carreira recente, mas muito sólida.

Seu próximo longa, Love Lies Bleeding, é um dos mais esperados do ano. Protagonizado por Kristen Stewart e Katy O’Brian, narra a história de uma administradora de academia com um passado sombrio, que se apaixona por uma bodybuilder. Pelo trailer, podemos esperar muita ação e cenas de cair o queixo. Ainda não tem data de estreia no Brasil, mas fez sua estreia, de forma limitada, nos Estados Unidos no dia 08 de março.

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Ishana Night Shyamalan

Ishana N. Shyamalan

Ishana N. Shyamalan não tem longos créditos no terror, mas isso pode ser questão de tempo se, como parece, ela seguir os passos de seu pai, M. Night Shyamalan. Parte de sua experiência com as câmeras, até o momento, foram com os videoclipes musicais de sua irmã, a cantora de R&B Saleka. Mas talvez o seu trabalho que mais tenha se sobressaído foi com a série Servant, dirigindo seis episódios entre a segunda, terceira e quarta temporadas. Ishana também foi a segunda unidade de direção no filme Tempo (2021).

Seu primeiro longa será Os Observadores, filme adaptado do livro Watchers, de A.M. Shine. Protagonizado por Dakota Fanning e Olwen Fouéré, a história acompanha uma jovem artista que fica perdida em uma floresta na Irlanda. Quando encontra abrigo, se vê presa com outros três estranhos enquanto algo na noite os ameaça. O filme tem previsão de estreia para 7 de junho no Brasil.

Caitlin Cronenberg

Caitlin Cronenberg

Filha de David Cronenberg, cineasta, e Carolyn Zeifman, operadora de câmera e produtora, Caitlin Cronenberg vem de uma família de pessoas envolvidas com o cinema até o osso. Seu irmão, Brandon Cronenberg, fez sua estreia como diretor de longas com o filme Antiviral (2012), e caiu de vez nas graças do público de terror com Possessor (2020). Seu pai dispensa apresentações. Sua mãe trabalhou em filmes como Os Filhos do Medo (1979) e Enraivecida na Fúria do Sexo (1977). Mas a carreira de Caitlin começou há muitos anos, como fotógrafa, fazendo fotos para as revistas  W, L’Uomo Vogue e Variety. Seus créditos no IMDb, na categoria “elétrica e fotografia”, acumulam cerca de 55 títulos, entre eles Hemlock Grove (2013–2015) e O Homem Duplicado (2013). Seus títulos como diretora incluem o curta The Endings (2018) e The Death of David Cronenberg (2021). 

Primeira imagem divulgada de Humane, de Caitlin Cronenberg

Mas sua verdadeira estreia será com o longa Humane, previsto para lançamento ainda em 2024, que conta a história de um colapso mundial que força os humanos a acabarem com a vida de 20% da população. Descrito como uma sátira distópica, o filme conta com Jay Baruchel e Peter Gallagher no elenco. 

Michelle Garza Cervera

Michelle Garza Cervera

Diretora mexicana, Michelle Garza Cervera fez sua grande estreia com longas com Huesera (2022), mas já vinha trabalhando na indústria cinematográfica e com o terror desde muito antes. Seus curtas foram apresentados em mais de cem festivais internacionais, incluindo o Fantastic Fest, um dos mais conhecidos e bem-conceituados festivais de filmes de gênero, além do Sitges Fantastic Film Festival e Havana Film Festival. A cineasta também esteve no filme antológico México Bárbaro II e dirigiu episódios da série Marea Alta.

Huesera, protagonizado por Natalia Solián e Alfonso Dosal, narra a história de um casal com dificuldades de gerar um filho. Quando a gravidez da mulher é finalmente confirmada, ela passa a sentir uma presença opressora terrível. Após ser apresentado em festivais, foi disponibilizado diretamente em streaming, chegando em 2023 no Prime Video no Brasil. Esteve presente em diversas listas de melhores do ano internacionalmente.

Imagem de Huesera, de Michelle Garza Cervera

Seu próximo filme, ainda sem data confirmada de estreia, é Palizada, que contará a história da relação complexa de uma avó e sua neta, e será sobre as violências muitas vezes sofridas em silêncio entre aqueles que amamos e que convivemos, como nossa própria família. 

Nikyatu Jusu

Nikyatu Jusu

Cineasta independente, Nikyatu está na ativa desde 2007, com o lançamento do seu curta African Booty Scratcher, um coming of age que coloca em disputa as tradições africanas e o idealismo norte-americano. Mesmo com a qualidade de seus primeiros trabalhos, como os curtas Say Grace Before Drowning e Flowers, foi somente em 2019 que a cineasta foi “descoberta” por um público mais amplo, assim como o público de terror, com o curta Suicide by Sunlight, que conta a história de uma vampira negra que consegue se livrar do perigo do sol graças à melanina em sua pele, e que logo sente a sede de sangue por uma nova mulher em sua vida.

Depois do sucesso de Suicide by Sunlight, Nikyatu foi convidada a participar da série antológica Terror em Duas Frases (2017–2022). Seu primeiro longa, A Babá, foi lançado em 2022 em diversos festivais ao redor do mundo, e chegou ao streaming Prime Video no final daquele ano. Contando a história de uma babá imigrante que logo descobre que algo ameaça destruir seu sonho de vida norte-americano, o filme fez com que os olhos novamente voltassem à diretora e que os fãs aguardassem novidades de seus próximos projetos.

Imagem do curta Suicide by Sunlight, de Nikyatu Jusu

Ainda não sabemos muitas informações sobre o que Nikyatu Jusu fará a seguir, mas as notícias que correm é que a cineasta fechou um acordo com a Monkeypaw Productions e a Universal para seu próximo projeto, ainda sem título, e pode dirigir também uma nova sequência de A Noite dos Mortos-Vivos. Estamos de olho e muito curiosos para qualquer uma das novidades.

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Mais alguns nomes para acompanhar

Hanna Bergholm

Os últimos anos viram um crescente número de diretoras interessadas no terror. Ainda estamos longe de um número justo de mulheres tendo oportunidades e trabalhando por trás das câmeras no gênero, mas é bom acompanhar esse crescimento. Diretoras que tiveram seus primeiros projetos chamando atenção da audiência, como Hanna Bergholm com Ninho do Mal (2022); ou mesmo diretoras que resolveram trabalhar com o gênero após uma estreia bem-sucedida em outros tipos de filmes, como Nahnatchka Khan, que dirigiu Dezesseis Facadas alguns anos depois de Meu Eterno Talvez (2019), filme de comédia romântica.

Mariama Diallo

Alguns outros nomes também fizeram história nos últimos tempos com seus lançamentos pouco convencionais: Jacqueline Castel, com My Animal (2023), Laura Moss com Birth/Rebirth (2023); Emma Tammi com Five Nights at Freddy’s (2023) e Terra Assombrada (2018); Jennifer Reeder com Perpetrator (2023) e Você viu Carolyn Harper? (2019); Chloe Okuno com Observador (2022); Mariama Diallo com Fantasmas do Passado (2022) e o curta Hair Wolf (2018); Danishka Esterhazy com Slumber Party Massacre (2021) e The Banana Splits Movie (2019); entre tantas outras que vêm conquistando cada vez mais espaço.

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Estes são apenas alguns nomes que estão em evidência nos últimos meses. Todos os meses, algumas dezenas de filmes de terror são lançados, e menos da metade deles são com mulheres na direção. É por isso que continuamos prestigiando e chamando a atenção da audiência para esses nomes, para que sejam vistos e conhecidos.

Quais filmes das diretoras citadas você está mais curioso para conferir? Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.