Scary Sistas: As mulheres negras nos filmes de terror

Ao longo das décadas, o cinema de terror foi contemplado com a presença de mais mulheres negras em suas produções.

* Traduzido e adaptado de Scary Sistas: A Brief History of Black Women in Horror Films, de 7 de junho de 2020, do site Black Horror Movies.

Mulheres negras na história do cinema têm enfrentado o estigma de Hollywood de raça e gênero “do outro”, seu momento efêmero de glória surgindo nos anos 1990, quando “é isso aí, garota” foi introduzido no léxico popular. Em um nível mais formal, de reconhecimento do Oscar, entretanto, as imagens de mulheres negras celebradas, até agora, pela Academia Academia de Artes e Ciências Cinematográficas se limitou “aos três Ms”: “mamães” (Hattie McDaniel), “místicas” (Whoopi Goldberg) e “mulheres de peito” [as mulheres sensuais] (Halle Berry).

Na Companhia do Medo, 2003

Com a carreira de Goldberg em um hiato permanente, o número de mulheres negras que continuam encabeçando filmes mainstream de cinema mantém-se acentuadamente em um: Halle Berry (embora qualquer mulher-gato possa mudar isso muito rápido). Queen Latifah tentou por um tempo, mas ela, assim como outras mulheres negras, se encontra em mais segurança em outras áreas. As Taraji Hensons, Gabrielle Unions e Sanaa Lathans do mundo conseguem uma ou outra vantagem, mas o faturamento no topo do mainstream é elusivo.

No entanto, um refúgio peculiar e inesperado surgiu para outras mulheres negras que lutam para encontrar um emprego estável: filmes de terror.

Desde os anos 1970, filmes de terror providenciaram um tipo de abrigo para atrizes negras, entregando a elas papéis que, de outra forma, não conseguiriam em gêneros mais mainstream e as libertando da obrigação de fazer isso no estilo cachorrinho com Billy Bob Thornton. Claro, “tipos” existem nesses filmes (a mulher sexy do voodoo, a mística), mas, no geral, eles tendem a ser maiores, partes mais prolíficas — muitas vezes protagonistas — com menos do estereótipo do balançar de dedos, característica detalhada no estudo de 2001 The Black Image in the White Mind: Media and Race in America (por exemplo, 89% das atrizes negras usaram linguagem vulgar em cena, contra 17% das atrizes brancas. Puta merda!).

Ganja & Hess, 1973

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Nos anos 1970, o horror “blaxploitation” forneceu uma riqueza substancial de papéis de protagonistas para mulheres negras (Abby, A Vingança dos Mortos, Ganja & Hess), até mesmo gotejando em filmes mainstream (A Última Esperança da Terra, A Fera Deve Morrer), e através do oceano, em produções estrangeiras (Black Mamba, Mulher Cobra).

Nos anos 1980, como a economia de Reagan viu o desemprego “gotejar” em todas as fases da vida afro-americana, as oportunidades para atrizes negras secaram, mas ainda sim existiram notáveis exceções, como A Galeria dos Alienígenas, Vamp, Coração Satânico, e um dos únicos filmes totalmente negros da década, o superexagerado Black Devil Doll from Hell.

Coração Satânico, 1987

Mas as coisas se aceleraram no despertar dos anos 1990, e olharam pouco para trás desde então. Mulheres negras foram escaladas como heroínas em grandes filmes de horror como Na Companhia do Medo, Os Demônios da Noite, Extermínio, Supernova, Alien vs Predador, enquanto o último papel de Aaliyah foi como a protagonista de Rainha dos Condenados. Além disso, com a indústria dos filmes diretamente para vídeo crescendo, elas interpretaram protagonistas nos filmes mal escritos de “horror urbano”, como Cryptz, Vampz e Leprechaun: Back 2 tha Hood.

Os Demônios da Noite, 1995

No século XXI, uma linha de mulheres negras protagonistas em thrillers psicológicos — Beyoncé em Obsessiva, Taraji P. Henson em O Intruso, Sanaa Lathan em O Cara Perfeito, Regina Hall em Além da Realidade — encontraram audiência entre os fãs de cinema que eram um pouco tímidos para o horror hardcore, mas estavam ansiosos para assistirem mulheres negras arrebentando.

Obsessiva, 2009

Quer seja um estereótipo arraigado de empoderamento heróico, as heroínas do terror negro são tipicamente obstinadas e assumem a liderança, ao contrário das frequentemente chorosas e gritantes “garotas finais” de fama no slasher. Eles tendem a chutar bundas, indo tão longe a ponto de lançar alguma ação de kung-fu em filmes como Caçada Sangrenta e Shadow: Dead Riot.

Sendo assim, elas não costumam sobreviver à típica estrutura moral dos slashers convencionais (veja em Acampamento Sinistro 2 e 3, A Hora do Pesadelo 4, Sexta-Feira 13 Parte 3 e 5, apesar do 7, Doutor Risadinha, Halloween 2, Halloween: Ressurreição, Pânico 2, etc), talvez porque elas sejam mais propensas a insultar as proezas sexuais de um maníaco homicida — como Kelly Rowland em Freddy x Jason — e então lidam com as consequências.

Freddy x Jason, 2003

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No entanto, as irmãs estabeleceram uma história impressionante no gênero de terror. Abaixo, listamos alguns destaques. É isso aí, garotas!

Filmografia selecionada de mulheres negras no cinema de horror

1930

Ouanga, 1936
  • Chloe, Love Is Calling You (1934): a sacerdotisa voodoo Georgette Harvey rouba um bebê branco e o cria como se fosse dela.
  • Ouanga (1936): Sacerdotisa Voodoo Fredi Washington tenta roubar um homem branco e amá-lo como se fosse seu.
  • The Devil’s Daughter (1939): um remake totalmente negro de Ouanga.

1940

Houveram muitos filmes de terror, mas aparentemente não muitas mulheres negras.

1950

How to Make a Monster, 1958
  • How to Make a Monster (1958): Paulene Myers tem um pequeno mas importante papel nesse filme de monstro de pouca qualidade, que é um tipo de “meta” sequência de I Was a Teenage Werewolf e I Was a Teenage Frankenstein.

1960

Vaidade que Mata, 1960
  • Vaidade que Mata (1960): Estelle Hemsley e Kim Hamilton interpretam a versão velha e jovem da mesma “negra mística” nesse filme menos reconhecido da Universal.
  • The Horror of Party Beach (1964): O estereótipo ambulante Eulabelle Moore de alguma forma salva o dia (mais ou menos) neste filme B exagerado.
  • The Rape of the Vampire (1968): Neste filme francês do diretor de horror erótico Jean Rollin, Jacqueline Sieger interpreta uma rara protagonista negra, uma rainha vampira com a intenção de procriar uma raça de vampiros.

1970

A Vingança dos Mortos, 1974
  • A Última Esperança da Terra (1971): Charlton Heston como Jesus, e Rosalind Cash como seu açúcar mascavo Maria Madalena.
  • Blacula, O Vampiro Negro (1972): Versão blaxploitation clássica de Drácula, com Vonetta McGee como objeto de obsessão pouco saudável de Blacula. 
  • Mulher Cobra (1972): Importação filipina estrelando Marlene Clark como a mulher cobra.
  • Ganja & Hess (1973): História de amor sensual e artística de vampiros com Marlene Clark como Ganja.
  • Os Gritos de Blacula (1973): Sequência ligeiramente inferior com Pam Grier moderadamente superior.
  • Abby (1974): Versão blaxploitation de O Exorcista, estrelando Carol Speed e suas sobrancelhas.
  • A Fera Deve Morrer (1974): Marlene Clark é um lobisomem? História às 11:00.
  • Black Mamba (1974): Novamente, Marlene Clark + Filipinas + cobras = o mal.
  • Vampira (1974): A esposa do Drácula (Teresa Graves) é negra! E muito atraente!
  • A Vingança dos Mortos (1974): Filme de vingança zumbi, estrelando Marki Bey e sua legião de mortos-vivos.
  • Poor Pretty Eddie (1975): Leslie Uggams adiciona um angulo racial ao decadente “rape revenge”, que se tornou popular nos anos 1970
  • Monstro sem Alma (1976): Marie O’Henry e Rosalind Cash tentam parar o assassino de prostitutas Mr. Hyde.
  • Nurse Sherri (1978): Marilyn Joi interpreta uma enfermeira negra (não a do título) que precisa salvar o dia, quando sua colega de trabalho branca, Sherri, é possuída pelo espírito do líder de um culto.

1980

A Galeria dos Inocentes, 1986
  • Tanya’s Island (1980): Horror fantástico surreal de gêneros trocados, estrelando Vanity e sexy (?) em uma ação garota-contra-macaco.
  • Black Devil Doll from Hell (1984): Filme pornô de fantoches indescritível e de baixo orçamento, estrelado por Shirley L. Jones.
  • A Prometida (1985) Jennifer Beals é a noiva do Frankenstein. Aquecedores de pernas são opcionais.
  • A Galeria dos Inocentes (1986): Um dos primeiros filmes de terror não totalmente negros a estrelar uma mulher totalmente negra (Teresa Farley).
  • Mark of Lilith (1986): Curta britânico interracial com vampiras lésbicas
  • Vamp (1986): Grace Jones, assustadora mesmo sem maquiagem, interpreta um dos vampiros mais estilosos da história.
  • Coração Satânico (1987): Bayou voodoo com a cena de sexo sangrento infame de Lisa Bonet.

1990

Def By Temptation, 1990
  • Def By Temptation (1990): Cynthia Bond é uma succubus, Kadeem Hardison é o sucumbido.
  • Ameaça do Espaço (1991) Rae Dawn Chong luta contra sequestradores alienígenas.
  • Criaturas 4 (1991): Angela Bassett em um papel antigo que ela gostaria de esquecer.
  • Trilogia do Terror (1993): O primeiro conto desta trilogia, “The Gas Station”, é um dos raros não “urbanos” slashers estrelando uma mulher negra (Alex Datcher).
  • A Dança da Morte (1994) Ruby Dee é um tipo de profeta Yoda em uma missão para Deus.
  • Colheita Maldita 3: A Colheita Urbana (1995): Mari Morrow experimenta o amor Amiss… e o mal Amish.
  • Os Demônios da Noite (1995): Jada Pinkett, assassina de demônios.
  • Um Vampiro no Brooklyn (1995): Angela Bassett sobre de nível depois de Criaturas 4… mas não muito.
  • Spirit Lost (1996): A fantasmagórica Cynda Williams assombra (e enfrenta) o novo residente de sua casa.
  • Pânico 2 (1997): Jada Pinkett e Elise Neal provam de que você pode ter mais que uma mulher negra em um filme de terror… e que as duas podem morrer.
  • Bem Amada (1998): A Oprah tá on! E está em uma casa assombrada!
  • Anjos Rebeldes 2 (1998): Jennifer Beals está grávida de um bebê anjo, embora, na verdade, não sejam todas anjos? Awww

2000

Rainha dos Condenados, 2002Supernova (2000): Angela Bassett contra uma… hum… coisa alien.
  • 13 Fantasmas (2001): Hey, a Rah Digga sobrevive!
  • Código Vermelho (2001): Marjean Holden chuta bundas alienígenas neste pilar do SyFy Channel.
  • Extermínio (2002): Naomie Harris pisoteando zumbis no Reino Unido.
  • Cryptz (2002): Cuidado com as danças no colo em um strip club de vampiros.
  • Rainha dos Condenados (2002): Aaliyah pode te condenar, mas você vai aproveitar cada minuto disso.
  • Arachnia (2003): Irene Joseph lidera o caminho contra uma aranha enorme e direta para o vídeo.
  • Na Companhia do Medo (2003): Halle Berry vê gente morta.
  • Leprechaun: Back 2 tha Hood (2003): Anão irlandês maligno conhece a irmã da “vizinhança” Tangi Miller.
  • Alien vs Predador (2004): Sanaa Lathan pode realmente aguentar a pressão deixada por Sigourney Weaver.
  • Frankenfish: Criatura Assassina (2004) Peixes mutantes com cabeça de cobra invade o pântano, e K.D. Aubert está lá para recebê-los… com uma espingarda.
  • Vampz (2004): Mulheres vampiras — bom, vampiraz — conseguem algumas bebidas.
  • Caçada Sangrenta (2005): A ex-Power Ranger Karan Ashley dá a um fantasma seu derradeiro trabalho com uma aula de kung fu.
  • The Evil One (2005): Candance “não sou a Mariah” Carey precisa salvar sua filha de um serial killer… ou não.
  • Way of the Vampire (2005): A vampira Denise Boutte é a mão direita de Drácula, e sobrevive para fazer uma sequência.
  • Zombiez (2005): Jenicia Garcia foge dos zumbis mais idiotas já colocados em um filme.
  • Shadow: Dead Riot (2006): Carla Greene é a escolhida nessa combinação de exploitation de mulheres na prisão, horror com zumbis e filme de artes marciais.
  • Ice Spiders (2007): A outra Vanessa Williams luta contra aracnídeos no gelo nesse filme da SyFy. 
  • Sorority Sister Slaughter (2008): Massacres não acontecem somente em fraternidades brancas.
  • Obsessiva (2009): Beyoncé põe fim a essa atração fatal.
  • Single Black Female (2009): Igual ao filme Mulher Solteira Procura”, mas negro. 
  • Chamada de Emergência (2013): Halle Berry é uma operadora de telefone do 911 rastreando um assassino que sequestrou uma jovem garota.
  • O Intruso (2014): Taraji Henson é a única mulher na terra que quer o Idris Elba fora de sua casa.
  • O Cara Perfeito (2015): Sanaa Lathan é o alvo de uma atração fatal de Michael Ealy neste thriller.
  • Além da Realidade (2016): Quando a mãe substituta vê o futuro pai do bebê, a futura mãe Regina Hall acabará ficando sem. 

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