Milicent Patrick: o talento por trás da construção do Monstro da Lagoa Negra

Milicent Patrick ficou anos sem receber os créditos de sua maior criação. Em A Dama e a Criatura, parte da história desta artista pioneira é revelada.

Na década de 1950, já nos últimos anos de sucesso dos Monstros da Universal, uma criatura anfíbia chamou a atenção dos fãs de terror. O Monstro da Lagoa Negra, com seu rosto, inconfundível, é considerado por muitos um dos maiores trabalhos de design de criaturas monstruosas do período. Mas pouco se sabia sobre quem havia criado aquela máscara tão icônica, até recentemente.

Milicent Patrick, uma das primeiras designers de monstros da história, foi a responsável por aquilo que os fãs de terror veem em cena. Sua história, cheia de intrigas e injustiças, foi contada no livro A Dama e a Criatura, de Mallory O’Meara, lançamento da Macabra com a DarkSide Books.

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Os filmes clássicos de monstros dos Estúdios Universal foram um dos maiores sucessos da história do cinema de terror. Com adaptações saídas principalmente das páginas de livros de horror do século XIX, como Drácula, O Médico e o Monstro, o Homem Invisível e Frankenstein, e algumas outras criaturas comuns a essa literatura, como lobisomens e múmias, o período e seus personagens ficaram conhecidos como “Monstros da Universal”.

Ainda hoje eles fazem muito sucesso, e não faltaram tentativas de retornar esses personagens às adaptações modernas. Algumas dessas tentativas foram bem sucedidas, como a série Penny Dreadful, que trouxe tantos desses personagens à vida novamente, e O Homem Invisível (2019), que se mostrou uma grande produção e deu novas esperanças aos fãs dessas criaturas.

Mas, mesmo hoje, ainda há muito a se descobrir a respeito dessas produções, em um capítulo tão querido entre os fãs de terror. Uma dessas descobertas é o trabalho de Milicent Patrick.

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Gill-man, de O Monstro da Lagoa Negra, se tornou um dos mais carismáticos dos Monstros da Universal, e conquistou uma legião de fãs ao longo desses anos. Na história do filme, uma expedição de pesquisadores parte para a Amazônia para conhecer alguns fósseis que foram encontrados por lá, mas não imaginavam que uma criatura ancestral vivia ali. É forte a imagem anfíbia da criatura, a forma como se movimenta embaixo d’água e seu rosto de tornou bastante característico.

Infelizmente poucos sabiam a história de quem criou aquela máscara. Milicent Patrick, nascida Mildred Elizabeth Fulvia di Rossi, foi uma das primeiras mulheres ilustradoras dos estúdios Disney, foi designer, atriz e modelo, mas mais importante: foi quem criou o rosto de Gill-man, e quem não recebeu os créditos disso por muitos anos.

O sucesso de Milicent como criadora era imenso, fazendo com que o estúdio realizasse uma turnê para a promoção de O Monstro da Lagoa Negra, chamada “The Beauty who Created the Beast”. A turnê foi muito bem, mas ao retornar para casa Milicent descobriu que estava despedida e seus créditos como criadora haviam sido removidos graças a pressão feita por Bud Westmore, chefe do departamento de efeitos especiais e maquiagens.

De acordo com pesquisas feitas recentemente por Mallory O’Meara, que estão no livro A Dama e a Criatura, Westmore ficou com inveja e ciúme das atenções que Patrick estava recebendo, tanto do estúdio quanto dos fãs.

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O trabalho de O’Meara, através de seu livro, foi tentar recuperar um pouco da memória de Patrick, dar os créditos devidos ao seu trabalho, demonstrar como um homem ciumento pode destruir uma artista competente com uma carreira brilhante diante de si e, acima de tudo, expor um nome que ficou por tanto tempo perdido na história do cinema e do terror.

Além do trabalho em O Monstro da Lagoa Negra, Patrick fez alguns outros trabalhos importantes para o horror e a ficção científica: os piratas de Contra Todas as Bandeiras, de 1952; parte do design das criaturas do filme Veio do Espaço, de 1953; a maquiagem de Mr. Hyde em Abbott e Costello Enfrentando o Médico e o Monstro, de 1953; maquiagens em Átila, o Rei dos Hunos, em 1954; o mutante Metaluna, do filme Guerra Entre Planetas, de 1955 e máscaras para o filme O Templo do Pavor, de 1956.

Percebe-se, então, que suas atividades foram recorrentes entre o começo e o meio da década. Trabalhou também no departamento de efeitos visuais e arte dos filmes Fantasia, de 1940, e Dumbo, de 1941. Porém, se seu nome for procurado entre os créditos que figuram nesses trabalhos, infelizmente, não será encontrado. Ela não foi creditada na maioria deles.

Milicent teve uma vida agitada. Mesmo após perder seu emprego no estúdio, graças a uma grande injustiça, permaneceu em contato com estrelas e continuou atuando, algo que fazia desde a década de 1940. Seu último papel foi em 1968. Debilitada por causa de mal de Parkinson e um câncer de mama, Milicent acabou falecendo em 1998.

O livro de Mallory O’Meara foi um dos fortes pontapés para que o nome de Milicent Patrick fosse reconhecido novamente. Uma biografia completa, com um trabalho de pesquisa minucioso e uma narrativa interessante, A Dama e a Criatura é uma aula de reconhecimento e história. Desde que o livro saiu, mais pessoas têm se interessado em conhecer a vida dessa personagem tão importante que foi ignorada por tantos anos, além de se sentirem instigadas a pesquisar outras injustiças históricas, causadas por um apagamento de nomes que acontecem de forma recorrente na história.

Milicent Patrick é apenas um dos tantos nomes que sumiram das páginas da história do cinema, que devemos recuperar e reconhecer nos dias de hoje. Uma pioneira da animação, pioneira da maquiagem e dos efeitos especiais, Milicent Patrick merece seu reconhecimento, mesmo que tardio.

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O livro A Dama e a Criatura, de Mallory O’Meara, já está disponível em pré-venda na Loja Oficial da DarkSide Books. Gostou de conhecer um pouco sobre Milicent Patrick? Comente este post com a Macabra no Twitter e Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.