Um dos filmes mais memoráveis do cinema, Psicose, lançado em 1960, conquistou um lugar indiscutível entre os fãs de cinema — principalmente para aqueles que são chegados em obras de suspense e terror. Clássico entre os clássicos, toda a sua execução — dos acordos feitos por Hitchcock para conseguir que o filme fosse produzido até a propaganda envolvendo as surpresas da trama — tornaram, já naquela época, uma história que valia a pena ser conferida. Mas o tempo não foi capaz de apagar toda essa nobreza.
De John Carpenter a Robert Rodriguez, de Tobe Hooper a Wes Craven, Psicose, de Alfred Hitchcock, ajudou a moldar uma cultura que surgiria alguns anos mais tarde: os filmes slashers e de assassinos mascarados, que se escondem para encontrarem suas vítimas. Psicose é tido por estudiosos e críticos como um dos filmes cuja influência alterou para sempre o gênero do terror.
Celebrando essa obra atemporal, a Macabra esmiúça a história de Psicose e suas sequências, remakes e prelúdios.
A origem de tudo: o livro de Robert Bloch
Psicose já era um livro de razoável sucesso quando Hitchcock resolveu adaptá-lo ao cinema; entretanto, o sucesso de Psicose até aquele momento era um tanto mais “nichado”. Robert Bloch começou a escrever ainda na década de 1930. Ávido leitor da revista Weird Tales, descobriu a publicação aos 10 anos, em 1927. Ao final da infância, perdeu um pouco o interesse pela revista, mas retornou a lê-la ao entrar no ensino médio. Uma de suas maiores influências foi H.P. Lovecraft, algo que se tornou bastante presente nas primeiras obras de Bloch — e até mesmo em Psicose há um ou outro elemento que remete ao corpo de trabalho do mestre do horror cósmico.
Suas primeiras publicações aconteceram em revistas semiprofissionais como a Marvel Tales (em 1934) e Unusual Stories (1935), depois de terem sido recusadas pela Weird Tales — mas, ainda naquele ano de 1935, aos 17 anos, Bloch emplacou seus dois primeiros contos na revista, que acabaram sendo sua primeira venda no mercado profissional: “The Feast in the Abbey” e “The Secret in the Tomb”.
À época, Bloch também era um ávido correspondente com o círculo de amigos pessoais de Lovecraft — junto ao próprio autor. No livro Necronomicon: Vida & Morte de H.P. Lovecraft, de W. Scott Poole, podemos ter um vislumbre como essa irmandade entre autores funcionava. Bloch, certa vez, com a permissão de Lovecraft, matou um personagem inspirado no autor no conto “The Shambler from the Stars”. Os leitores da Weird Tales adoraram a piada entre os dois amigos, e Lovecraft devolveu o favor em “The Haunter of the Dark”. A morte de Lovecraft, em 1937, quando Bloch completava 20 anos, afetou o jovem autor. O mestre do horror cósmico continuou sendo uma figura sempre presente nos escritos de Bloch.
Nos anos seguintes, Bloch continuou escrevendo, produzindo uma série de contos, antologias e livros de terror e suspense. Psicose foi originalmente publicado em 1959. A história contém elementos que lembram muito os acontecimentos envolvendo o serial killer Ed Gein, preso apenas dois anos antes da publicação da obra. Em 1960 Hitchcock tomou conhecimento do livro. Reza a lenda que o cineasta comprou todas as edições disponíveis para que ninguém conhecesse os desdobramentos da história antes de assistirem ao filme. Bloch ainda escreveu duas sequências de Psicose, intituladas Psycho II (1982) e Psycho House (1990), mas nenhuma delas manteve ligação com a franquia hollywoodiana de cinema.
Psicose
Psycho, 1960 // Marion Crane (Janet Leigh) é uma jovem secretária que, certo dia, cansada da vida que leva, resolve embolsar uma grande soma em dinheiro que deveria ser depositado em uma conta de um cliente de seu chefe. Marion então foge da cidade, indo parar em um hotelzinho de beira de estrada chamado Bates Motel. Lá, Norman Bates (Anthony Perkins) toma conta do lugar. Carismático, mas um tanto excêntrico, Bates conta a Marion que vive com sua mãe em uma casa nos fundos do hotel. Mas Marion corre grande perigo ao se colocar entre uma mãe e seu filho.
Psicose é um considerado por críticos e pelo público como um dos maiores filmes de suspense e terror já produzidos. Um filme feito a partir de um orçamento extremamente apertado, Hitchcock transformou a história em um sucesso estrondoso. O marketing do filme pedia para que os segredos envolvendo os rumos da história não fossem contados àqueles que ainda não a tinham visto. O boca a boca funcionou, e as salas de cinemas logo ficaram cheias para assistir ao filme, lançado em 1960. Forte influência para os slashers que viriam posteriormente, Psicose se tornou um clássico.
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Psicose 2
Psycho II, 1983 // Depois de 22 anos preso em um hospital psiquiátrico, Norman (Perkins) é considerado legalmente são e liberado para retornar para casa. Apesar de trazer péssimas memórias a ele, Norman resolve retornar ao hotel da família. Logo ele se torna amigo de uma jovem garçonete na lanchonete local, Mary (Meg Tilly). Mas, após o retorno de Norman, alguns estranhos assassinatos começaram a acontecer próximos ao Bates Motel. Seria trabalho de Norma Bates novamente, ou há algo mais acontecendo?
Levando em consideração o sucesso arrebatador do primeiro Psicose, demorou até muito tempo para que o filme recebesse uma sequência. Em 1982, Bloch publicava o seu próprio Psycho II, uma sátira aos filmes de serial killers e slashers que Hollywood começava a produzir a rodo — e, tecnicamente, foram inspirados por sua própria obra. Conta-se que, preocupados com a repercussão desse novo livro, a Universal resolveu contra-atacar e também produzir um Psicose 2, sem ligação com o livro novo de Bloch ou mesmo seu envolvimento.
Dirigido por Richard Franklin, o roteiro foi escrito por Tom Holland (diretor do primeiro Brinquedo Assassino, não o intérprete do Homem-Aranha) e contou novamente com a participação de Anthony Perkins e Vera Miles — apesar de Perkins ter, inicialmente, recusado o papel, e só aceito posteriormente, depois de ler o roteiro de Holland. Apesar de não ter feito o sucesso de seu predecessor em seu lançamento, Psicose 2 cresceu no coração dos fãs ao longo dos anos.
Psicose 3
Psycho III, 1986 // Psicose 3 se passa um mês depois dos acontecimentos de Psicose 2. Norman Bates (Perkins) continua vivendo sua vidinha “normal” em Bates Motel, quando uma freira suicida e fugitiva, chamada Maureen (Diana Scarwid), chega ao local, e Norman acaba se apaixonando pela mulher. Ao mesmo tempo, Norman terá que lidar com uma jornalista intrometida (Roberta Maxwell) e um músico falido (Jeff Fahey) que veio para trabalhar no hotel. E, pelo visto, os assassinatos também continuam acontecendo.
Se um é pouco e dois é bom, será que três seria demais? Apesar de ter recebido algumas críticas mistas entre os jornalistas, ao contrário de Psicose 2, o terceiro filme não cresceu tanto no coração do público e hoje já não é tão lembrado pelos fãs. Ainda assim, Perkins seguiu sua empolgação com seu papel de Norman Bates, e até mesmo assumiu a cadeira de diretor dessa sequência em especial. O filho de Anthony, Oz Perkins, anos depois, seguiria os passos do pai, se tornando ator o diretor conhecido pelos filmes A Enviada do Mal (2015) e Maria e João: O Conto das Bruxas (2020).
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Os filmes para TV
Psicose contou ainda com dois filmes lançados diretamente para a TV. Bates Motel, de 1987, dirigido por Richard Rothstein, pouco tem a ver com os outros filmes da série. Contando a história de um homem que dividiu a cela com Norman Bates no hospital psiquiátrico, ele segue até Bates Motel para tentar transformar o local em um lugar decente.
Bates Motel foi um fracasso não somente de crítica e de público como, também, é meio que apagado da cronologia da franquia com o lançamento de Psicose 4: A Revelação. Lançado em 1990 e dirigido por Mick Garris, o filme é prelúdio e uma nova sequência para a história de Norman Bates. Perkins retorna ao papel para contar como Normam está novamente reabilitado, casado e com um filho, enquanto se lembra de sua própria infância. O jovem Norman é interpretado por Henry Thomas, que naquele momento era conhecido principalmente por seu trabalho em ET – O Extraterrestre, e hoje retornou aos holofotes com as séries dirigidas por Mike Flanagan.
Se o terceiro filme é pouco lembrado pelos fãs de Psicose, essas duas incursões à TV aberta são ainda menos frequentemente citadas.
O remake
Em 1998, Gus Van Sant lançou um remake de Psicose. O filme se passa em 1998 e é filmado a cores, mas, fora isso, o filme é o que poderia se considerar uma refilmagem “shot-for-shot” — ou frame por frame. Marion Crane é interpretada por Anne Heche; sua irmã, Lila, é vivida por Julianne Moore; Viggo Mortensen interpreta Sam Loomis, com quem Lila vai procurar por Marion; e, para o papel de Bates, Vince Vaughn foi o escolhido. Alguns atores, como Moore e Vaughn, escolheram atuar de forma um pouco diferente de suas contrapartes originais.
Van Sant conseguiu a permissão da Universal para refazer Psicose depois do grande sucesso de seu filme Gênio Indomável (1997). Mas, desde que sugeriu fazer um remake “shot-for-shot”, algumas pessoas do estúdio torceram um pouco o nariz. Casey Silver, que naquele momento era o chefe de produções do estúdio, achou a ideia um bocado estranha.
Uma das maiores diferenças entre ambos os filmes seja talvez a famosa cena do chuveiro. Tratada com extrema delicadeza e cuidado por Hitchcock, que não queria que se tornasse um filme de violência explícita, a cena do chuveiro é conhecidamente um dos motivos pelos quais o filme foi gravado em preto e branco — além, claro, de ser mais barato. Mas Van Sant escolheu deixar sua versão mais explícita, então é possível ver todo o sangue na cena do chuveiro do remake de 1998.
Isso, entretanto, não deixou o filme mais atrativo. O filme foi um fracasso comercial e de crítica. Com um orçamento de cerca de 60 milhões, o remake de Psicose conseguiu menos de 38 milhões em bilheteria.
Motel Bates
Com o mesmo nome do filme feito para a TV do final dos anos 1980, a série Motel Bates chegou à televisão norte-americana em 2013. Com 50 episódios divididos entre cinco temporadas, a história serve como prelúdio tanto para o livro de Bloch quanto para o filme original, acompanhando um jovem Norman Bates, interpretado por Freddie Highmore, e sua mãe, Norma, interpretada por Vera Farmiga.
Os eventos da série acontecem antes dos eventos mostrados no livro e filme originais, mas a temporalidade escolhida foram os dias atuais. Porém, sua última história adapta levemente o plot onde Norman Bates se encontra com Marion Crane — interpretada por Rihanna como convidada especial —, mas faz alterações consideráveis com os rumos da história.
A série foi exibida até 2017, quando foi encerrada, e ao longo de suas temporadas, as críticas foram bastante positivas.
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Tirando a série produzida entre 2013 e 2017, desde 1998 não vemos um novo remake de Psicose. Você acha que deveria haver mais um? Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.