Os pesadelos do perturbador Audição

Explícito e intenso, o filme Audição não é para os estômagos fracos. Confira algumas curiosidades da produção que recebeu elogios de Quentin Tarantino e Rob Zombie.

Uma das grandes obras de Ryu Murakami, Audição é um livro consideravelmente curto, mas extremo e intenso. Lançado em 1997, levou apenas dois anos até que fosse transformado em filme pelas mãos de um dos mais ousados e controversos cineastas japoneses, Takashi Miike.

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Na história, Shigeharu Aoyama (Ryo Ishibashi), viúvo há muito anos, tenta encontrar uma nova namorada. Para isso, ele conta com a ajuda de Yasuhisa Yoshikawa (Jun Kunimura), um amigo que tem uma produtora de vídeo. Mentindo para um grupo de jovens, afirmando que estão fazendo uma audição para um programa, eles fazem entrevistas para mulheres que podem interessar Shigeharu. A escolhida é Asami Yamazaki (Eihi Shiina), que conquista o homem desde o momento que põe os pés na sala de audição. O problema é que Asami esconde um segredo, e conforme nos aprofundamos na relação que os dois começam a desenvolver, percebemos que Shigeharu corre grande perigo.

A Macabra selecionou algumas curiosidades para os fãs de Audição e Takashi Miike. 

Aclamação internacional

O cinema de terror japonês tem uma longa tradição. Os primeiros filmes do gênero datam da década de 1890. Durante os anos 1920 até 1940, o cinema japonês se distanciou um pouco do gênero, mas logo retomou seus trabalhos. Graças às tradições literárias e orais do Japão, essa proximidade trouxe grandes obras para o público. 

Entretanto, muitos desses filmes foram descobertos tardiamente, muito por causa das dificuldades de língua e de acesso. Depois de Gojira, nos anos 1950, e algumas obras dos anos 1960, demorou alguns anos até que outros filmes de terror japonês rompessem as fronteiras do país, e um desses casos foi Audição, de Takashi Miike.

Miike já era um diretor conhecido na Ásia quando Audição foi lançado, mas foi com essa adaptação do livro de Ryu Murakami que o cineasta alcançou novos públicos. Alguns anos antes de surgirem grandes representantes do J-Horror, como ficaram conhecidos os filmes de terror japoneses, principalmente pelo interesse surgido depois de remakes norte-americanos, Audição estreou em grandes festivais.

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Primeiros passos

Falando em terror japonês, foi outro filme de grande sucesso que levou a produtora Omega Project a considerar uma produção no gênero. Graças ao sucesso financeiro alcançado por Ring: O Chamado, em 1998, a Omega Project teve interesse em produzir uma obra que fosse, também, assustadora, e por isso comprou o livro de Ryu Murakami.

Desde o início do projeto, Miike estava cotado para a direção, ao lado de Daisuke Tengan, que ficou responsável pelo roteiro. Com exceção de Eihi Shiina, que faz o papel de Asami Yamazaki, a maioria da equipe e dos atores já havia trabalhado anteriormente com Miike. 

Estrela do terror japonês

Ryo Ishibashi e Sarah Michelle Gellar em O Grito (2004)

Takashi Miike e Ryo Ishibashi trabalharam juntos atuando no filme Shin kanashiki hittoman (1995), de Rokuro Mochizuki. Mas, se você é um fã de terror japonês e conhece alguns dos grandes filmes do gênero, deve se lembrar de Ryo por outros papéis. 

O começo dos anos 1990 na carreira de Ryo Ishibashi foi marcado por filmes que envolviam a máfia japonesa, como o próprio Shin kanashiki hittoman, e filmes como American Yakuza (1993) e Blue Tiger: Desafiando a Yakuza (1994). Mas, depois de Audição, aparentemente Ryo pegou gosto pelos filmes de terror. Não que ele tenha abandonado os filmes de ação, mas esteve envolvido em diversas produções do gênero.

Já no começo dos anos 2000, o ator esteve em filmes como O Pacto (2001), dirigido por. Sion Sono; a versão norte-americana de O Grito (2004) e O Grito 2 (2006), ambos dirigidos por Takashi Shimizu; e no episódio 13 da segunda temporada de Masters of Horror, intitulado “Dream Cruise” e dirigido por Norio Tsuruta; .

Estreias controversas

Vez ou outra, hoje em dia, ficamos sabendo de diversos filmes em que, alegam, seus espectadores deixaram os cinemas enojados. Antes disso se tornar um grande trunfo de marketing, ela era uma realidade em diversos filmes considerados ultrajantes.

E Audição, novamente, é um desses filmes. Apesar da primeira metade da narrativa do filme poder ser facilmente confundida com um drama romântico no estilo romcom, as coisas ficam bastante nojentas e explícitas em sua segunda parte.

Quando estreou no Rotterdam Film Festival em 2000, Audição bateu recorde de abandono de sessão, com uma das espectadoras do filme deixando sua cadeira no meio da sessão de perguntas e respostas com Miike apenas para sussurrar diretamente ao diretor que ele era doente — o que, claro, Miike recebeu como um elogio e ficou encantado. Na estreia da Suíça, houveram casos em que precisaram de atendimento de emergência.

Fãs casca-grossa

Takashi Miike e Quentin Tarantino

Às vezes, enquanto buscamos dicas do que assistir, vemos alguns dos nossos autores e cineastas favoritos recomendando suas obras favoritas. Quando vemos alguns nomes nas indicações, já sabemos mais ou menos o que esperar. Audição tem dois fãs muito peculiares que já recomendaram o filme por aí: Quentin Tarantino e Rob Zombie. Tendo esses dois nomes entre seu séquito de fãs, era de se esperar que o filme fosse pesado, não é?

Tarantino nunca escondeu sua admiração por Miike. Em diversas reportagens, afirmou que o cineasta era uma de suas influências. A respeito de Audição, em específico, Tarantino considera o filme “uma verdadeira obra-prima”. Os dois diretores trabalharam juntos em Sukiyaki Western Django (2007), filme dirigido por Miike e que Tarantino faz uma ponta como ator.

Já Rob Zombie, em uma de suas entrevistas, quando questionado quais filmes estavam entre suas influências, disse que Audição era um dos filmes mais perturbadores que ele já tinha visto. Não é pouca coisa não.

Além de Zombie e Tarantino, as Irmãs Soska e Eli Roth também já afirmaram que foram muito influenciados por Audição em sua forma de fazer filmes. 

O pós

Apesar de tantos desmaios e vômitos provocados por Audição, o filme realmente foi um sucesso, para a alegria da Omega Project. Em sua estreia no Rotterdam International Film Festival, Miike ganhou os prêmios FIPRESCI Prize e o KNF Award. 

Depois de sua primeira passagem por festivais, continuou percorrendo o circuito e estreando também em salas de cinema comerciais. Suas primeiras estreias, para além dos festivais onde esteve inscrito e da Ásia, foram os Estados Unidos, Portugal e França. No Brasil, o filme chegou diretamente em DVD em setembro de 2001 (de acordo com a página do filme no IMDb).

E, de acordo com o site Box Office Mojo, o filme rendeu $359.853 de dólares no total, uma quantia razoável levando em consideração suas cenas sangrentas.

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Audição, de Ryu Murakami, uma das obras mais intensas do horror japonês, está disponível para venda no Site Oficial da DarkSide Books. E você, já leu o livro e assistiu o filme? Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.