Os pesadelos históricos da mente de Robert Eggers

Robert Eggers é um dos nomes de maior sucesso no cenário atual do terror. Conheça a mente macabra do criador de A Bruxa e O Farol.

Um dos maiores fenômenos do terror da última década, Robert Eggers emplacou seus dois primeiros filmes entre os melhores de seus respectivos anos de lançamento. Diretor, roteirista e designer de produção, o talento e conhecimento do cineasta acabou atraindo a atenção do estúdio A24 e de toda a Hollywood.

Nascido em 1983, em New Hampshire, Eggers se mudou aos 18 anos para Nova York, visando entrar em um conservatório de atuação — um programa de treinamento para atores. De início, Eggers acabou trabalhando como designer e diretor em teatros em Nova York, antes de partir para os filmes. 

Antes de lançar seu primeiro longa-metragem, Eggers dirigiu três curtas: Hansel and Gretel, de 2007; The Tell-Tale Heart, de 2008; e Brothers, de 2015. 

O sucesso de A Bruxa

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Seu primeiro filme foi A Bruxa, lançado em 2015. Após a estreia no festival de Sundance, a distribuidora A24 comprou o filme e o lançou nos cinemas. Com um orçamento de 4 milhões de dólares, o filme fez, em bilheteria, cerca de 10 vezes seu valor. Com Anya Taylor-Joy — que se tornou uma colaboradora frequente do cineasta —, Ralph Ineson, Kate Dickie, Harvey Scrimshaw, o filme conquistou os fãs de terror.

Uma das inspirações de Eggers para escrever A Bruxa foi sua infância na Nova Inglaterra, e suas frequentes visitas ao museu Plimoth Patuxet, em Plymouth, Massachusetts. O museu a céu aberto tenta reconstruir o assentamento original da colônia de Plymouth, formada no século XVII pelos colonos que ficaram conhecidos como os Peregrinos. Além disso, Eggers era bastante interessado na história de Salem quando mais novo, e afirma ter sofrido diversos pesadelos com bruxas ao longo dos anos.

Plimouth Patuxet, em Plymouth, Massachusetts

As pesquisas para a produção duraram cerca de cinco anos. Para Eggers, tendo iniciado sua carreira como designer de produção, os detalhes eram importantes principalmente pela autenticidade que ele queria passar. Mas, além da autenticidade, ele queria que as pessoas sentissem o terror real do momento retratado.

Em entrevista ao site The Verge, Eggers contou que parte de sua pesquisa foi dedicada para encontrar essas diferenças entre as bruxas atuais, que não são assustadoras, e as bruxas de antigamente, que se confundiam com os terrores dos contos de fadas, cuja ideia era tão perigosa que mulheres foram mortas e perseguidas em acusações de bruxaria. Para ele, a única forma de fazer um filme de bruxaria, seria entrando na mente das pessoas daquele período: “Bem, nós temos que voltar para aquele tempo se quisermos acreditar em uma bruxa. Temos que estar em suas mentes, e isso tem que ser um pesadelo Puritano”.

Graças aos seus níveis de detalhes históricos e um cuidado extremo do cineasta em construir sua história, o filme acabou sendo uma das obras mais aclamadas de 2015, e segue fazendo sucesso em listas de melhores filmes da década de 2010 e do século XXI

Pesadelo em preto e branco: O Farol

Em 2019 foi a vez de Eggers nos presentear com uma nova obra histórica. O Farol, dirigido por Eggers e coescrito com seu irmão Max Eggers, trouxe um novo desafio para o diretor e um novo filme aclamado pela crítica. Somente com dois atores, Willem Dafoe e Robert Pattinson, O Farol é um filme estranho, assustador, tenso e surpreendente.

O filme é baseado em uma história real, de dois marinheiros chamados Thomas que ficaram presos em um farol. Conhecendo a história, Robert e Max começaram a pesquisar antigos faróis e a comunidade marítima envolvida nesse trabalho, como as pessoas viviam naquela época, o que elas comiam enquanto estavam a trabalho, como se vestiam, e leram muito Herman Melville e Robert Louis Stevenson, principalmente para descobrir como as pessoas falavam.

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Percebemos, em O Farol, que a pesquisa árdua novamente fez a diferença no resultado final. O longa foi filmado com uma lente de 1912 e uma de 1930 que, apesar do trabalho, compensaram quando vemos a obra completa. Assistir ao filme, assim como em A Bruxa, é ser transportado a uma época diferente, em um pesadelo vertiginoso e terrível. 

O Homem do Norte

Em seu terceiro filme, O Homem do Norte, Eggers continua trabalhando com peças históricas, mas dessa vez em um cenário um pouco mais antigo que a Nova Inglaterra do século XVII ou um farol no início do século XX. O filme, apresentado até agora como uma história viking de vingança, está envolto em mistérios desde seu anúncio.

Com base no trailer, muitos espectadores compararam a obra com Hamlet, de Shakespeare. A inspiração nas sagas vikings dão o charme para a obra tão aguardada, com lançamento previsto para abril de 2022 nos cinemas.

No filme, um jovem príncipe viking, interpretado por Alexander Skarsgård, está pronto para se vingar da morte de seu pai, interpretado por Ethan Hawke. O longa ainda conta com Anya Taylor-Joy, Willem Dafoe, Nicole Kidman, Ralph Ineson, Kate Dickie, Claes Bang, e Björk no elenco.

Dessa vez, além de pesquisar sobre a história, Eggers contou com ajuda. Em entrevista para o site Collider, Eggers comentou como pode ser mais fácil fazer um filme sobre, por exemplo, o século XIX, que tem tantos registros históricos — o que, infelizmente, não é o caso para uma obra sobre a Era Viking. Eggers trabalhou com um time de historiadores e arqueólogos especialistas no período, para trazer uma versão mais acurada possível do período retratado. Mas, ele afirma, algumas coisas dependem também de interpretação.

Nosferatu

Ainda em 2015, ao mesmo tempo em que lançava A Bruxa, a notícia era que Eggers estaria trabalhando em um remake do primeiro vampiro do cinema: Nosferatu, de 1922. Naquele momento, Eggers preferiu adiar os esforços, mas em entrevista ao site Bloody Disgusting, em 2019, Eggers afirmou que os planos permaneciam inalterados, e o remake ainda vai acontecer.

Para ele, sua versão de Nosferatu terá que ser “ao menos um pouco mais acessível para o público” do que O Farol e A Bruxa. Não exatamente mainstream, mas não tão obscuro. O filme original, que é uma versão não autorizada do livro Drácula, de Bram Stoker, tem uma grande importância para o cineasta. Assim como Eggers afirmou durante a entrevista, Nosferatu está mais próximo das raízes folclóricas dos vampiros do que Drácula e, sendo assim, está em um território bastante conhecido e percorrido por Eggers.

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Em agosto de 2021, o site Collider noticiou que Anya Taylor-Joy estaria se reunindo novamente com Eggers para, enfim, tirar Nosferatu do papel. Mas não temos muitas notícias sobre esse projeto até o momento.

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Que Robert Eggers continue nos presenteando com seus pesadelos e histórias assustadoras por longos anos. Quais as expectativas para O Homem do Norte? Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.