A influência do paganismo e de culturas africanas nas festas de fim de ano

Tradições de Natal e Ano Novo são uma soma de costumes de povos de todo o mundo.

Pinheiros iluminados e repletos de ornamentos, um velhinho barbudo que viaja o mundo entregando presentes, alimentos diferentes com passas e frutas cristalizadas, bonecos que representam um nascimento em uma manjedoura… Não faltam simbolismos para identificar facilmente o Natal. Cada um deles tem uma origem específica e compõe todo um imaginário que reúne diversas culturas e crenças em torno da mesma data.

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Por morarmos em um país predominantemente cristão e de colonização europeia relativamente recente, desde pequenos crescemos ouvindo que o Natal é a data do nascimento de Jesus Cristo, principal profeta da religião e entendido pelos devotos como o próprio filho de Deus. Trata-se da data mais importante para a fé cristã, algo que encontra respaldo no comércio — é também da época do ano com maior volume de vendas.

O dia específico do nascimento do menino Jesus é uma incógnita: estudiosos de todo o mundo discordam há séculos da possibilidade de isso realmente ter ocorrido em 25 de dezembro do ano zero. Um estudo publicado por um astrônomo no começo dos anos 1990, por exemplo, argumenta que a mítica Estrela de Belém teria passado pelo céu no ano 5 a.C., o que mudaria a contagem do tempo com a entendemos hoje. Outros estudos ainda argumentam que o mês do nascimento não teria sido dezembro, mas setembro ou algum período entre março e junho.

Origens pagãs do Natal

Além da incerteza acerca da data, há outros elementos que não fazem muito sentido na mitologia natalina: por que há uma árvore? O que Papai Noel tem a ver com uma celebração bíblica? Onde as passas entram nesta história?

A escolha da segunda quinzena de dezembro para a possível data do nascimento do messias provavelmente foi uma manobra cristã para inserir a comemoração em outros rituais que já existiam muito antes do cristianismo, associados às estações do ano e às colheitas.

As celebrações do solstício do inverno eram algo que fazia muito sentido para quem morava no hemisfério norte em tempos pré-cristãos. Em 21 de dezembro ocorre a noite mais longa do ano, indicando que a partir desta data o sol voltaria a brilhar com mais frequência, iniciando um novo ciclo para as colheitas.

O precursor mais conhecido dentre os festivais de solstício era o Saturnália, dos romanos. Ele envolvia fartos banquetes, jogos e apostas e transgredir completamente as normas sociais. Era uma forma de encarar descontraidamente as frias e longas noites invernais. Por volta de 274 d.C. as festividades ganharam mais uma data importante: o dia do Sol Invictus, não coincidentemente celebrado em 25 de dezembro.

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Outra importante influência nos rituais de fim de ano é o Yule, um festival viking para disseminar o otimismo durante o ápice do inverno. No século 10, Haakon o Bom, rei da Noruega, deliberadamente usou as celebrações de Yule para infiltrar a fé cristã na população. Ou seja, o festival do solstício se tornou a celebração do nascimento de Jesus.

Mas os vikings deixaram a sua marca nas celebrações cristãs. A árvore de Natal é uma evolução da lenha de Yule, um tronco que era queimado para trazer sorte — e também iluminar e esquentar as noites gélidas do inverno. Os ornamentos possivelmente são provenientes dos enfeites verdes do Saturnália e de rituais pagãos, representando a nova vida em meio à escuridão e ao desespero.

Influências antigas e africanas nas festas de Ano-Novo

Registros das primeiras celebrações de Ano-Novo datam de 4 mil anos atrás, quando os babilônios comemoravam o Akitu. A data era marcada como a primeira lua nova após o equinócio de primavera, ou seja, ali entre o final de março e começo de abril.

O dia que marca o início de um novo ano sofreu algumas alterações ao longo da história: Júlio César a moveu para janeiro em homenagem ao deus romano Jano, que tem poder sobre os começos, com suas faces olhando simultaneamente para o passado e o futuro. Na Idade Média a data foi considerada um sacrilégio por sua origem pagã e retornou para o mês de abril. Somente no século 16 foi estabelecido o Calendário Gregoriano, que é o que conhecemos até os dias atuais.

No Brasil, há costumes que já são bem tradicionais, como vestir branco e pular sete ondas na praia. Só que boa parte dos praticantes destes rituais desconhecem suas origens, que vêm em boa parte de culturas e religiões africanas.

No litoral de todo o país, os seguidores de Iemanjá fazem suas oferendas à deusa ou pulam sete ondas. Esta divindade africana tem o título de Rainha do Mar e é originária da Nigéria. Ela vem de uma tradição chamada iorubá e foi incorporada pelo candomblé e pela umbanda no Brasil.

Apesar do ritual de oferendas à deusa ocorrer em 2 de fevereiro na Nigéria (e também na Bahia), ela é bem comum durante os últimos dias do ano, com ápice na véspera de Ano-Novo. A representação da deusa varia um pouco em sua versão brasileira, até porque a umbanda mescla várias tradições ameríndias, espíritas e até mesmo católicas.

O ritual de pular sete ondas pode até ter surgido com Iemanjá, mas se tornou tão popular que continua sendo praticado por milhares de pessoas — a maioria delas formada por cristãos que desconhecem sua origem. O sete é um número cabalístico que representa Exu na umbanda, filho de Iemanjá. Também tem relação com as  Linhas de Umbanda, que organizam os orixás. Nesta lógica, cada pulo seria o pedido a um orixá diferente.

O hábito de vestir branco no Réveillon também tem origem nestas religiões. Ele se popularizou no país na década de 1970, quando praticantes do candomblé começaram a fazer suas oferendas na praia de Copacabana. Pessoas que passavam pela praia acharam bonito e passaram a associar a cor a um desejo de paz para o ano que se inicia.

Nossas tradições são um inegável amálgama de vários costumes de nossos antepassados, de diversas culturas e religiões em todas as partes do mundo. Apesar de diferentes, todas parecem carregar a esperança de tempos melhores, de dias mais longos, colheitas mais fartas e de tempos mais pacíficos. E um pouco de otimismo não faz mal a ninguém ao começar um novo ciclo.

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Renunciei à vida mundana para me dedicar às artes da trevas. No meu cálice nunca falta vinho ungido e protejo minha casa com gatos que afastam os espíritos traiçoeiros. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.