Kevin Taylor é um advogado que nunca perdeu um caso, o que chama a atenção de um cobiçado escritório de advocacia em Nova York. Ao deixar sua vaidade se sobrepor aos seus valores morais e noções de certo e errado, ele acaba se tornando o Advogado do Diabo, termo que dá nome ao livro de Andrew Neiderman, imortalizado no cinema por Keanu Reeves, Al Pacino e Charlize Theron.
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Embora tanto o livro quanto o filme acabem dando uma conotação literal ao termo, os tais advogados do Diabo existiram mesmo, mas seu papel era muito diferente do que o de defender criminosos em Nova York. Para choque de alguns, o tal cargo existia dentro da própria Igreja Católica.
Estragando a festa dos santos
Como muita coisa no universo católico, esse cargo tinha um nome chique em latim: advocatus diaboli. A função era a de um promotor da fé que deveria argumentar contra a canonização dos candidatos, apontando falhas de interpretação de possíveis milagres.
Para quem não sabe, um processo de canonização na Igreja Católica não é lá muito simples, e não adianta nada a sua mãe dizer que “meu filho é um santo”, porque eles precisam de um pouco mais do que isso. O processo em si já sofreu muitas alterações ao longo do tempo. No passado, algumas divindades pagãs foram “convertidas” a santidades católicas, para que a Igreja conseguisse angariar alguns seguidores a mais.
Hoje em dia, seguem-se parâmetros estabelecidos em 1983, e, para se tornar santa de verdade, a pessoa deve cumprir alguns critérios, como ser um servo de Deus, possuir virtudes heroicas dignas de veneração, ser um mártir (não é obrigatório, mas daí o processo fica um pouco mais complicado) e, claro, ter realizado alguns milagres de verdade — infelizmente, fazer aquele trabalho inteiro em cima da hora não conta como milagre.
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Com um processo tão complexo, com tantos critérios a serem adotados e tantas possibilidades de interpretações e subjetividades, os advogados do Diabo chegavam para tumultuar um pouco mais. Esses religiosos eram nomeados pela Igreja para argumentar contra a canonização de um candidato.
Na prática, os advogados do Diabo precisavam adotar uma visão completamente cética em relação à suposta santidade da pessoa em questão. Era papel deles questionar o caráter, procurar por furos na trajetória e até mesmo apontar de que formas os tais milagres poderiam ser fraudulentos. Os advogados do Diabo evidentemente argumentavam do lado contrário aos “advogados de Deus”, que deveriam defender a canonização do santo em potencial.
Ainda existem advogados do Diabo?
O departamento de advogados do Diabo foi estabelecido em 1587 durante o mandato do papa Sisto V. A primeira menção oficial a esse cargo foi encontrada no processo de canonização de São Lourenço Justiniano, durante o mandato do papa Leão X, considerado o autor do termo.
Em 1983, o papa João Paulo II reduziu o poder e mudou o nome dos advogados do Diabo. Nos casos de controvérsia durante um processo de canonização, o Vaticano ainda deve procurar o testemunho de críticos ao candidato a santo. Um exemplo ocorreu em 2003, quando o autor Christopher Hitchens, ateu e crítico aberto de Madre Tereza, foi entrevistado durante as audiências de beatificação.
Na linguagem popular, o termo advogado do Diabo ainda existe e é utilizado quando uma pessoa contra-argumenta uma ideia, mesmo que ele não concorde com tal visão, apenas para acrescentar um ponto de vista diante de determinado assunto. No fim das contas, os advogados do Diabo do dia a dia podem ser bem úteis para enriquecer um debate.
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Advogado do Diabo, de Andrew Neiderman, que deu origem ao filme de 1997 com Al Pacino, Keanu Reever e Charlize Theron, já está disponível em pré-venda na Loja Oficial da DarkSide Books. Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.