Uma oferta irrecusável: 50 anos de O Poderoso Chefão

Em seu aniversário de 50 anos, O Poderoso Chefão ganha versão remasterizada nos cinemas e uma lista macabra de curiosidades em nosso blog.

Disputas de poderes, relações familiares, intrigas políticas e muita chantagem — feitas de forma elegante e bastante sutil. A saga da família Corleone na trilogia O Poderoso Chefão, está completando 50 anos de seu lançamento, com direito a uma versão remasterizada em 4K e exibição nos cinemas.

Com direção de Francis Ford Coppola, que co-escreveu o roteiro junto de Mario Puzo, autor do livro que deu origem à história, O Poderoso Chefão se tornou um dos filmes mais importantes filme para a história do cinema. A Paramount comprou os direitos do livro pouco tempo depois de seu lançamento, antes até que ele ganhasse popularidade, e logo em sua estreia, no dia 14 de março de 1972, já mostrou a que veio sendo altamente aclamado.

Ao longo dos três filmes, acompanhamos a história da família Corleone. Vito Corleone (Marlon Brando) é o mais importante chefe das famílias do crime organizado de Nova York, e exerce considerável respeito entre os outros grupos. No dia do casamento de sua filha, Connie (Talia Shire), Vito está recebendo algumas visitas e atendendo alguns “pedidos”. Seu filho Michael (Al Pacino), que esteve na marinha durante a Segunda Guerra Mundial, está presente na cerimônia. Michael não tem muito interesse em fazer parte dos negócios da família, mas as coisas logo mudam de figura quando Vito nega usar de sua influência para ajudar um novo negócio de drogas na cidade. Em O Poderoso Chefão Parte II e Parte III, com Michael já tendo assumido o papel de Don da família, suas escolhas passam a ter um peso ainda maior sobre seus ombros.

Para comemorar os 50 anos de seu lançamento, a Macabra fez uma oferta que você não poderá recusar e selecionou alguns fatos curiosos da produção do primeiro filme.

Disputas na escalação do elenco

Marlon Brando como Vito Corleone

Francis Ford Coppola sempre teve muito controle de quem ele queria para interpretar os personagens em seus filmes, e em O Poderoso Chefão não foi diferente. Coppola fazia questão que Marlon Brando interpretasse o poderoso chefe da família Corleone, mas a Paramount preferia outro ator para o papel, alguém como Sir Laurence Olivier. Mas Coppola firmou o pé e manteve sua escolha. Brando, no período, tinha a fama de ser um ator difícil e pouco profissional. Anos mais tarde, toda a polêmica de O Último Tango em Paris viria à tona.

Al Pacino como Michael Corleone

Da mesma forma, Al Pacino não era a primeira escolha para viver Michael, filho mais novo de Vito, que mais tarde assume o manto de don. Alguns dos atores cotados foram Robert Redford, Jack Nicholson, Dustin Hoffman e Warren Beatty. James Caan e Martin Sheen chegaram a fazer testes. Mas, no final, Pacino sobressaiu.

A máfia e os mafiosos

James Caan como Sonny Corleone

Apesar de não ouvirmos as palavras máfia ou cosa nostra ao longo do filme — um pedido da Liga Ítalo-Americana de Direitos Civis tentando fazer com que italianos não fossem estereotipados pelo filme —, ainda sim é bastante óbvio qual o tema da saga da família Corleone.  

E os atores levaram tão a sério esse ponto que até fizeram pesquisas para seus papéis com mafiosos de verdade. James Caan, Robert Duvall e Al Pacino saíram por aí com algumas personalidades barra pesada para compreenderem como deveriam se portar diante das câmeras. E essa ligação continuou após vários anos. Em 2011, por exemplo, Caan se ofereceu para pagar a fiança de Andrew Russo, membro da famosa família Colombo. O juiz negou, por considerar Russo muito perigoso para ficar solto. E não para por aí: um dos Russo, Andy Mush, é padrinho do filho de Caan, Scott. 

A parte irônica disso tudo? A Liga Ítalo-Americana de Direitos Civis foi formada por Joe Colombo Sr., chefe da família Colombo nos anos 1970.

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Sinatra e Fontane

Al Martino como Johnny Fontane

Reza a lenda que o personagem de Johnny Fontane, o cantor que virou ator e pediu uma forcinha para seus amigos mafiosos ajudarem a realizar seu sonho — o que acabou com uma cabeça de cavalo decepada como recado —, foi baseado no famoso artista Frank Sinatra. O que poderia ser somente uma fofoca por aí acabou ganhando ares de realidade quando Sinatra ameaçou Mario Puzo em um restaurante, quando este foi se apresentar a ele. 

Al Martino, que interpretou Fontane, afirmou que, na verdade, essa história se parece mais com a sua própria, pois ele mesmo usou de seus amigos da máfia para que Coppola o aceitasse no filme. No final, as coisas entre Sinatra e O Poderoso Chefão melhoraram um pouco, e o artista foi convidado para viver Don Altobello na terceira parte da trilogia — apesar de ter se interessado pelo papel, teve que recusar pela agenda de gravações e o baixo salário.

Com uma mãozinha dos amigos

Martin Scorsese, Steven Spielberg, Francis Ford Coppola e George Lucas

A década de 1970 viu a ascensão de diversos astros em Hollywood, incluindo uma turma de diretores que permaneceu fazendo filmes e lançando sucessos por todos esses anos. Dentre eles, estão Steven Spielberg, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola e George Lucas. Os quatro se tornaram amigos e não raramente visitaram os sets de filmagens dos filmes uns dos outros — como quando Lucas e Scorsese visitaram as filmagens de Tubarão de Spielberg e Lucas quase perdeu a cabeça por causa de Bruce.

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George Lucas acabou trabalhando como assistente de Coppola durante a produção da primeira parte de O Poderoso Chefão. Além de trabalhar em diversas sequências, incluindo a disputa interna entre a família Corleone, ele também deu conselhos de algumas formas de editar o filme para o cineasta.

A maquiagem de Vito Corleone

Marlon Brando antes e depois das aplicações de próteses para seu papel em O Poderoso Chefão

Marlon Brando tinha 48 anos na época do lançamento de O Poderoso Chefão. Apesar de ter sido escolhido para o papel, sua aparência não condizia com o esperado do chefe mais velho da família. Então, alguns truques de maquiagem foram utilizados para dar esse visual para o ator.

A maquiagem para Brando ficar mais velho para viver o patriarca foi feita pelo famoso artista maquiador Dick Smith. Smith também foi responsável pela maquiagem em O Exorcista, lançado no ano seguinte após O Poderoso Chefão.

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Um sucesso arrebatador

Que O Poderoso Chefão é um dos filmes mais conceituados e adorados entre os fãs do cinema não é nenhuma novidade. A saga da família Corleone, em seus três filmes, deixou um legado de momentos e frases que ainda hoje são lembrados e repetidos exaustivamente na cultura pop — dos exemplos mais famosos estão “Vou fazer uma oferta que ele não irá recusar” e “Você vem à minha casa e nem me traz um café? Ao menos beije meu anel”. Presente em diversas listas entre os filmes mais influentes de todos os tempos, é impossível questionar o sucesso de O Poderoso Chefão.

Ao Oscar, foi indicado em dez categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Mixagem de Som, Melhor Figurino, Melhor Edição e Melhor Trilha Sonora. Em Melhor Ator Coadjuvante, o filme concorreu com três de seus atores: James Caan, Robert Duvall e Al Pacino. Das categorias indicadas, venceu os prêmios de Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Roteiro Adaptado — nesta ocasião, Marlon Brando, que ganhou como Melhor Ator, não subiu ao palco; em vez disso, convidou Sacheen Littlefeather, uma jovem apache, para ler seu discurso, que afirmava que ele não poderia receber o prêmio devido ao descaso com que a indústria cinematográfica tratava os povos originários.

Ainda em prêmios recebidos, O Poderoso Chefão venceu o BAFTA de melhor trilha sonora, sendo indicado a outras quatro categorias (Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Ator Revelação e Melhor Figurino). No Globo De Ouro, venceu cinco das sete categorias das quais foi indicado: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (com Marlon Brando — Al Pacino também foi indicado), Melhor Roteiro e Melhor Trilha Sonora. 

Mesmo que outros filmes sobre gângsteres e mafiosos tenham sido feitos antes de O Poderoso Chefão, sua influência fez com que esses personagens fossem vistos de uma forma diferente. Seu sucesso e aclamação tanto de crítica, quanto de público, e principalmente financeiro, fez com que outros cineastas explorassem, também, o universo da máfia ítalo-americana, como Os Bons Companheiros, de Martin Scorsese, e a série de  David Chase, Família Sopranos, ambos sucesso de crítica e audiência.

A família Corleone

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Assim como O Poderoso Chefão é adaptação de um livro que recomendamos a leitura, Os Bons Companheiros, de Martin Scorsese, também é baseado no livro de mesmo nome de Nicholas Pileggi, lançado no Brasil pela DarkSide Books. Uma ótima forma de se aprofundar ainda mais no universo das famílias criminosas ítalo-americanas.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.