Os vampiros caminham sobre a terra há algumas centenas de anos. Isso mesmo, centenas. Narrativas envolvendo essas criaturas, ou seus antepassados, estão por aí desde que o mundo é mundo e a humanidade aprendeu a contar histórias.
Mas os vampiros nem sempre foram conhecidos como vampiros, isso é um pouco mais recente. E a forma como os conhecemos, também, foi alterada fortemente pela literatura do século XIX — principalmente com “O Vampiro”, de John William Polidori, e Drácula, de Bram Stoker. Os antepassados dos vampiros — se pensarmos que eles se transformaram e foram formados a partir de outras criaturas sobrenaturais — receberam muitos nomes, e eram espíritos malignos que vagavam por determinados motivos e se alimentavam da vida humana (e não necessariamente de sangue).
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Assim como os vampiros têm antepassados que diferem em características e nomes, eles também sofrem alterações de cultura para cultura ao redor do mundo. Claude Lecouteux, historiador medievalista francês, reuniu algumas dessas denominações e definições diferentes de vampiros em sua obra História dos vampiros.
Romênia: Vârkolac
Origem: Mitologia Romena
Os Vârkolacs são mais associados aos lobisomens do que os vampiros em si — os fãs de Resident Evil devem se lembrar da mutação que leva o nome dessas criaturas. De acordo com Lecouteux, dicionários russo-latinos definem o vârkolac como “eclipse da lua” e como “espectro composto de um cadáver e um demônio”. Não é raro que esses parentes dos vampiros sejam a união de duas ou mais criaturas sobrenaturais em uma só, como veremos mais adiante.
De acordo com a história, o vârkolac repousa sete anos em seu sepulcro antes de sair e se alimentar de sangue humano. Se ele visita sua vítima por nove noites e suga seu sangue ao longo desse período, a vítima morre em poucos dias. Esse é um detalhe curioso utilizado por Bram Stoker em Drácula, pois Lucy é visitada e sugada nove vezes, vindo a falecer algum tempo depois, mesmo com as transfusões de sangue. Essa questão de repetição de números também é bastante comum associada a vampiros e seus primos.
Grécia: Vrykolakas
Origem: Mitologia Grega
Bem próximos aos vârkolac estão os vrykolakas gregos. Além dos vrykolakas (βρυκόλακας), vampiros também são chamados por καταχανάδες, katakhanades, em determinados pontos da Grécia, como na ilha de Creta. Ao invés de sete anos em seus túmulos, os vrykolakas geralmente são retirados de suas tumbas após três anos enterrados, caso haja alguma desconfiança de que sejam vampiros. Nessa crença, eles são perfeitamente parecidos com os humanos, assim como os vampiros europeus mais comuns.
Islândia: Draugur
Origem: Islândia
Na Islândia, principalmente no período medieval, as histórias mencionam o espírito draugur. Traduzido geralmente como “fantasmas”, os draugar (plural de draugur) são um nome geral para os espíritos islandeses, que podem ser separados em duas categorias, de acordo com o medievalista Ármann Jakobsson: varðmenn, ou guardiões, que estão mais presos em seus locais de descanso; e tilberadraugar, que derivam dos tiberi, espíritos que, na tradição do folclore islandês, nasceram de uma costela humana que bebeu o sangue de uma bruxa, e que são mais semelhantes aos vampiros do europeus, pois acabam assassinando suas vítimas e as transformando em novos draugar.
Andes: Pishtaco
Origem: Andes
Nem só de sangue vivem os vampiros. Alguns deles se alimentam da força vital de suas vítimas, seja ela qual for. O pishtaco, uma figura sobrenatural dos Andes, se alimenta de outra coisa: gordura. Nos Andes, de acordo com o folclore, a gordura e o sangue são elementos sagrados e foram utilizados como sacrifícios aos deuses por muitos anos. Nesse contexto, faz muito sentido que essa criatura aparentada dos vampiros se alimente de um item tão importante assim.
Romênia: Moroi e Strigoi
Origem: Mitologia Romena
Dois tipos de vampiros romenos, os moroi e strigoi possuem certas diferenças. No folclore romeno, os moroi são fantasmas que saem de suas tumbas para sugar a energia dos vivos. Já os strigoi, apesar de serem mais associados às bruxas, também são inseridos no folclore romeno dos vampiros, ao passo que costumam ganhar vitalidade conforme bebem do sangue de suas vítimas.
Irlanda e Escócia: Baobhan sith e Lhiannan Shee
Origem: Irlanda e Escócia
Súcubos e íncubos de todos os tipos são frequentemente associados aos vampiros pois, de certa forma, eles se alimentam da vitalidade de suas vítimas. No folclore irlandês e escocês, as baobhan sith e as lhiannan shee são fadas que possuem muitas características em comuns com as súcubos, e são frequentemente relacionados aos sugadores de sangue mais comuns. A maior diferença entre ambas é que, aparentemente, as baobhan sith são mais perigosas que as lhiannan shee: enquanto as primeiras realmente atacam suas vítimas, as segundas mantêm um amante humano e servem como musas a ele, esperando, em troca, amor e devoção (porém, elas o levam à loucura e a uma morte prematura).
África: Adze, Asanbosam, Impundulu e outros
Origem: Continente Africano
O continente africano possui muitas histórias e muitas tradições, com diferenças gritantes de um lugar a outro em apenas alguns quilômetros de distância. Com as histórias de vampiros, isso não seria diferente. Diversos sugadores de sangue (e força vital) habitam o imaginário dos povos no continente. Os adze, por exemplo, são vampiros temidos pelo povo Ewe no sul de Togo, e que toma a forma de um vaga-lume — o que pode não parecer muito ameaçador à primeira vista, mas os adze mudam de forma, se transformando em criaturas realmente assustadoras com uma corcunda e garras muito afiadas, sendo nessa forma que ele bebe o sangue de suas vítimas.
Há também os asanbosam, um vampiro conhecido pelo povo Ashanti, ao sul de Gana, e nas áreas da Costa do Marfim e Togo. Os asanbosam vivem em florestas e se alimentam principalmente de caçadores. Quando vistos, podem ser confundidos por humanos — quase, se levarmos em consideração seus dentes de ferro e suas pernas arqueadas como ganchos. Parente próximo dos asanbosam, os sasabonsam são bem parecidos, mas não possuem dentes de ferro. Na verdade, sua aparência é mais próxima dos humanos, mas eles guardam certos traços de morcegos.
Os impundulu, que vivem ao leste da região do Cabo, são, na verdade, familiares de bruxas, passados de geração a geração. Nem por isso são pouco perigosos. Eles são obcecados por sangue humano e animal. A bruxa que tem poder sobre o impundulu tem que mantê-lo sempre muito bem alimentado, se não ele se voltará contra ela. E ao contrário dos outros vampiros citados aqui e muitos outros que habitam o imaginário africano, o impundulu aparece como um homem jovem e muito bonito.
China: Jiangshi
Origem: China
Vampiro do folclore chinês, ele é também comumente conhecido como “vampiro chinês saltitante”, e é um morto-vivo reanimado. É representado tanto no folclore como na cultura popular (tendo ganhado muita notoriedade no cinema de Hong Kong) tanto se alimentando de sangue como da força vital de suas vítimas. Um jiangshi também pode surgir a partir de um morto recente, em estado de rigor mortis, ou de um cadáver já apodrecido. No geral, porém, mesmo com tanta versatilidade, é tido como uma criatura bastante perigosa.
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