A população de bonecos do vilarejo japonês de Nagoro

Em um vale na Ilha de Shikoku, há um vilarejo ocupado majoritariamente por bonecos, todos feitos pela artesã Ayano Tsukimi.

Com a constante mudança de famílias do interior para áreas metropolitanas do Japão, cidades começaram a ficar desabitadas. Uma artista chamada Ayano Tsukimi tentou solucionar o problema construindo uma série de bonecos e os colocando em posições de serviços diários para se sentir menos sozinha no vilarejo em que mora.

Em setembro de 2019, dados do Ministério do Interior do Japão apontaram que 28,4% da população tem mais de 65 anos. De acordo com as Nações Unidas, essa proporção é a mais alta do mundo. A população centenária do Japão também é a maior já registrada, ultrapassando a marca de 70 mil pessoas com mais de 100 anos de idade. Em contrapartida, o número de jovens no país vem diminuindo cada vez mais. Em 2014, jovens com menos de 15 anos representavam cerca de 12,8% da população.

Ainda em 2019, dados apontam que, pelo décimo ano consecutivo, a população japonesa estava diminuindo. Além disso, de acordo com dados de 2017, cerca de 93% da população vive nas grandes cidades, deixando o interior do país bastante escasso.

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Isso fez com que zonas mais afastadas iniciassem uma caça aos jovens. Vilarejos e cidadezinhas quase despovoadas no interior do país passaram a procurar avidamente por famílias que os ocupassem, oferecendo uma boa quantidade em dinheiro para aqueles que se mudassem para esses locais.

Prestes a desaparecer

Uma dessas cidadezinhas é Nagoro, um local prestes a desaparecer. Com 35 moradores, cerca de 100 famílias já habitaram o local no passado, mas se mudaram para as grandes regiões. A pequena vila, então, estava começando a desaparecer.

Uma das mais jovens habitantes, hoje com 70 anos, é a artista Ayano Tsukimi, que ao retornar ao local onde nasceu, percebeu como tudo estava vazio. Então, ela encontrou uma forma de trazer um pouco de vida para sua pequena cidade.

Ao construir um tipo de espantalho (no japonês, kakashi) para seu jardim, Ayano percebeu que essa poderia ser a solução para espantar um pouco a solidão das poucas pessoas que ainda residem no local. Desde então, a artesã começou a construir bonecos de tamanho real para ocuparem os espaços daquela pequena sociedade. Mais de 400 bonecos foram construídos, recolhidos e substituídos conforme ficavam velhos, e por anos têm feito esse trabalho.

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Crianças assistindo aulas, jovens esperando sentados em pequenos bancos, pessoas mexendo em seus jardins, os bonecos são vestidos com roupas antigas e colocados de propósito para parecerem habitantes em seus locais normais de trabalho ou estudo.

Pode parecer estranho, e bonecas são realmente assustadoras dependendo da luz ou da forma como se movimentam e fazem barulhos, mas talvez seja menos assustador assistir centenas de bonecos todos os dias do que ver sua terra natal desaparecer aos poucos, bem na sua frente.

Desde que começou, o trabalho de Ayano Tsukimi ficou conhecido no mundo inteiro. Fritz Schumann, jornalista de Berlim, fez um pequeno documentário com Ayano, que pode ser visto abaixo:

Gostou de conhecer um pouco sobre Nagoro? Confira a tag Arte Macabra para conhecer mais artistas aterrorizantes. Comente este post sobre a população de bonecos com a Macabra no Twitter e no Facebook.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.