7 Curiosidades sobre a discreta vida de Lon Chaney

Discreto, criativo, extremamente dedicado e com relações conturbadas na família, O Homem das Mil Faces deixou um importante legado para o cinema de horror.

“Não pise ali, pode ser o Lon Chaney.” Essa expressão era uma espécie de piada interna em Hollywood, que expressava toda a versatilidade e capacidade metamórfica de Lon Chaney. Mais do que um ator que interpretou importantes monstros e personagens macabros na era do cinema mudo, ele é uma das principais influências em maquiagem com efeitos especiais até os dias de hoje.

Dentre seus 162 créditos em filmes, destacam-se personagens como múmias, vampiros, Quasímodo e o próprio Fantasma da Ópera. Uma trajetória marcante que foi registrada em quadrinhos por Pat Dorian em Fala Comigo, Lon Chaney, uma publicação que chega ao Brasil pela DarkSide® e pela Macabra Filmes.

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Chaney pode até ter vivido há mais de um século, mas deixou um importante legado para o cinema no que diz respeito ao uso de maquiagem como efeitos especiais, inspirando atores como o igualmente metamorfo ator Doug Jones, de O Labirinto do Fauno e A Forma da Água, além de comediantes como Jerry Lewis, Jim Carrey e Chico Anísio.

Conheça um pouco melhor a trajetória do Homem das Mil Faces além das telonas:

1. Ele era filho de pais surdos

Lon Chaney como Quasimodo, de O Corcunda de Notre Dame

Os desafios começaram cedo na vida de Lon Chaney. Tanto seu pai Frank como sua mãe Emma eram surdos-mudos. O pai dele não nasceu assim, mas perdeu a audição em decorrência de uma doença com menos de 2 anos de idade. Ele se tornou um barbeiro de sucesso e alegava se lembrar de alguns sons. Já a mãe dele nasceu assim e se tornou professora numa escola de surdos antes de se casar.

Quando Emma desenvolveu um reumatismo inflamatório após o parto do irmão de Lon, George, ele precisou deixar os estudos aos 9 anos para cuidar da mãe e dos irmãos mais novos. Foi assim que ele desenvolveu suas habilidades de pantomima — encenação através de mímica —, pois dessa forma podia contar à mãe o que aconteceu durante o dia sem usar palavras, uma habilidade que se tornou bem útil na época do cinema mudo.

2. Trabalhou com teatro antes de migrar para o cinema

Lon Chaney, com a maquiagem de Fantasma, e sua famosa maleta

Lon Chaney sempre teve inclinação para as artes cênicas, e em 1902 trocou seu emprego de instalador de papel de parede para trabalhar como ajudante de palco, aproximando-se do teatro. Não demorou muito para que ele começasse a se apresentar com peças itinerantes e em apresentações de vaudeville.

Foi na estrada que ele conheceu Cleva, uma cantora que viria a se tornar sua esposa. Quando eles tiveram um filho decidiram se fixar na Califórnia, trabalhando principalmente em apresentações entre Los Angeles e São Francisco.

3. O fim do seu casamento conturbado o empurrou para Hollywood

Lon Chaney preparando uma de suas maquiagens

Lon e Cleva tinham uma relação conturbada, que culminou numa tentativa de suicídio por parte da esposa. Ela não morreu, mas perdeu a voz e a capacidade de trabalhar como cantora. Depois disso, Lon pediu o divórcio, alegando que ela era infiel, alcoólatra e incapaz de criar o filho deles, o que também garantiu ao ator a guarda do filho.

O escândalo da tentativa de suicídio foi tão grande que prejudcou gravemente a carreira de Lon Chaney nos palcos, obrigando-o a procurar outro emprego. Ele acabou recorrendo à indústria do cinema mudo, que estava em plena ascensão. Em 1912 Chaney foi contratado pela Universal Studios.

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4. Era uma personalidade bem reservada

Cena de O Fantasma da Ópera

“Entre os filmes, não há Lon Chaney.” A frase foi dita pelo próprio ator, ilustrando sua vida extremamente reservada, em contraste com a maioria das estrelas da época… e de toda a história do showbiz, praticamente. 

Chaney dava muito valor à sua privacidade. Ele concedia pouquíssimas entrevistas e odiava todo aquele tumulto de Hollywood, preferindo ficar em casa com a família e poucos amigos. Tanta discrição fez com que o ator fosse rotulado como esquisito e hostil. Nas palavras do próprio: “Toda a minha carreira foi dedicada a evitar que as pessoas me conhecessem”.

5. Lon Chaney fazia as próprias maquiagens

A famosa maleta de maquiagens de Lon Chaney com um cachorrinho

Nos primórdios do cinema era esperado que os atores fizessem a própria maquiagem durante as filmagens, uma tradição herdada do teatro. Departamentos de maquiagem simplesmente não existiam antes de 1917. Os efeitos especiais em maquiagem se limitavam a alguns truques de sombra, barbas e perucas. 

Para se destacar dos demais, Lon Chaney fazia diversos experimentos para alcançar efeitos mais complicados e avançados de maquiagem, que nunca haviam sido vistos antes. Ele carregava quase toda a sua maquiagem em uma pequena maleta da qual não desgrudava.

O talento de Chaney com os efeitos especiais de maquiagem lhe rendeu dezenas de papéis em um curto período de tempo. Além disso, seus conhecimentos eram tão amplos que ele escreveu o verbete inteiro sobre o tema para a Encyclopedia Britannica — a própria Enciclopédia Barsa, para quem é desse tempo.

6. Sua dedicação prejudicou a integridade física do ator

Lon Chaney no filme The Penalty, 1920

Não é exagero afirmar que Lon Chaney doou seu corpo às artes. Muitos dos efeitos só foram alcançados por ele à custa de muito sofrimento. Em um de seus papéis mais aclamados, no filme The Penalty, ele interpreta um criminoso sem pernas. Para criar a ilusão da amputação, o ator construiu um acessório que segurava seus membros inferiores para trás na altura dos joelhos. O efeito era surpreendente, mas também rendeu ao ator muitas dores, severas tensões na lombar e o rompimento de alguns vasos sanguíneos.

Seu papel como Quasímodo em O Corcunda de Notre Dame também causou prejuízos à sua saúde. O papel exigia que seu olho direito ficasse coberto por maquiagem, simulando um calombo sobre ele, como era especificado no clássico de Victor Hugo. A consequência de ter coberto o olho ao longo de semanas foi uma grave miopia, que exigiu o uso de óculos de lentes bem grossas por parte do ator até o fim da vida.

7. Relutou para fazer filmes falados

Com exceção de Charles Chaplin, Chaney foi o último grande ator da era do cinema mudo a fazer um filme falado. Segundo ele, suas habilidades estavam mais na maquiagem e na pantomima, aquela interpretação mais corporal, tão característica do cinema mudo

Em 1930 ele fez seu único papel falado no filme Trindade Maldita. Mesmo em um formato diferente, ele se manteve versátil, utilizando cinco vozes diferentes no seu papel de ventríloquo. Infelizmente, menos de dois meses após a estreia do longa, ele faleceu de uma hemorragia na garganta.

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Fala Comigo, Lon Chaney, já está disponível na Loja Oficial da DarkSide Books. O quadrinho, escrito e desenhado por Pat Dorian, é uma biografia do grande Homem de Mil Faces. Já assistiu algum dos filmes do ator? Comente este post com a Macabra no Twitter e Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.