A Bruxaria ao redor do mundo

As bruxas sempre estiveram entre nós, em todos os cantos do mundo. Saiba o que esperar do livro Grimório das Bruxas, lançamento da Macabra.

Quando se fala em bruxa o que vem à sua mente? Muito provavelmente uma mulher de nariz grande ou com uma verruga, voz estridente, roupas pretas, um chapéu cônico. Ela certamente está fazendo alguma poção em seu caldeirão, na companhia do seu gato preto ou até dando uns passeios em sua vassoura voadora (que não deve ser nenhuma Nimbus 2000).

Muito desse imaginário devemos aos contos de fadas, que propagam o estereótipo da bruxa má, que amaldiçoava princesas, vilarejos inteiros e até mesmo comiam criancinhas. Uma visão bem diferente e mais realista sobre quem foram (e são) as bruxas pode ser conferida no livro Grimório das Bruxas, publicado pela Macabra com a DarkSide® Books.

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Na obra, o historiador Ronald Hutton explora os caminhos do paganismo através das épocas e também dos continentes. O registro do autor não se limita às bruxas europeias, que são as mais conhecidas na cultura ocidental. Ele desvenda a bruxaria em outros cantos do mundo, como África e Ásia.

A seguir, apresentamos algumas destas manifestações multiculturais da bruxaria:

Magia e caça às bruxas na Europa

As mais conhecidas e estereotipadas bruxas vêm do velho continente. Elas são mais frequentemente lembradas pela caça às bruxas que ocorreu entre os séculos XIV e XVIII. Porém, até isso é uma concepção equivocada das “verdadeiras bruxas”. Nestas perseguições a maior parte dos condenados era formada por pessoas sem qualquer tipo de relação com o paganismo — elas só tinham o azar de se encaixarem em alguns critérios do que se acreditava ser bruxaria naquela época.

Antes do século 14 a bruxaria era bem semelhante em lugares como Irlanda, Rússia, Suécia e Itália. Porém, estas semelhanças não eram resultado da disseminação de algum culto ou ordem unificada. Estes bruxos e bruxas, na maioria dos casos, agiam de forma secreta para atingir seus objetivos em contraste com as práticas religiosas

Estas pessoas frequentemente eram temidas e respeitadas. Suas práticas envolviam encantos, adivinhação e oráculos (para prever o futuro), amuletos (para afastar maus espíritos), poções e unguentos e bonecas (que representavam seus inimigos). O que as bruxas realmente buscavam não tinha nada a ver com devorar criancinhas, elas queriam obter ou preservar riqueza e propriedades, proteger-se de desastres naturais e espíritos malignos e ajudar seus amigos a obterem vingança.

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África: De bruxos acidentais a curandeiros

Em algumas culturas africanas acredita-se que bruxas participam de covens de canibalismo, frequentemente realizados em cemitérios ou ao redor de uma fogueira, para um banquete das vítimas — de forma um tanto semelhante à dieta dos vampiros. Assim como ocorre nas superstições ocidentais, as bruxas africanas são associadas ao abuso de crianças, satanismo, além de incesto e outras perversões.

Acredita-se que a fonte de poder das bruxas tenha origem em uma relação com espíritos do mal, algum tipo de pacto, e até mesmo a presença de “familiares” (assistentes em forma de animais, como cães, gatos, hienas, corujas ou babuínos). Em outros locais, acredita-se que a fonte do poder venha do próprio corpo da bruxa

Em localidades da África Central esta fonte de poder estaria localizada no estômago e cresceria conforme a bruxa envelhecesse. O poder seria ativado pelo mero desejo de ver alguém doente e poderia causar uma espécie de maldição. Ao mesmo tempo, os zandes acreditam que a evocação destes espíritos seria mais eficiente através de feitiços e poções. 

Em muitas culturas africanas também acredita-se que bruxas ajam inconscientemente, sem se dar conta do mal que causam – mais ou menos como em Carrie, A Estranha. Isso facilitava bastante as acusações de bruxaria, já que os acusados nem sabiam do que estavam se defendendo. O resultado era um alto número de pessoas assumindo suas bruxarias baseados meramente na sugestão dos acusadores.

No entanto, há outros povos que não veem a bruxaria como algo negativo na África. Há muitos enfermos que se consultam com o médico e também com um curandeiro. O primeiro trata os sintomas externos, enquanto o líder místico investiga causas ocultas para aquele mal. Assim como se segue a receita médica, são tomadas medidas contra o sobrenatural, como amuletos, banhos energéticos e adivinhações.

Líderes africanos tradicionais e modernos muitas vezes se cercam destes curandeiros e acreditam ter sido escolhidos por poderes sobrenaturais. Na história, principalmente no Congo de colonização belga e na África Central colonizada pelo britânicos, quando os povos lutaram por independência, os europeus acusavam os povos de praticarem bruxaria e canibalismo — o que chega a ser irônico, já que os colonizadores não acreditavam em bruxaria e tornaram acusações deste tipo ilegais.

Ásia: Cristianismo, Judaísmo, Islamismo e perseguição nos dias atuais

Registros de bruxaria na Ásia datam de tempos pré-bíblicos e apresentam características peculiares de acordo com cada cultura. Algumas menções da prática datam de 2000 a.C. em civilizações como a egípcia e a babilônica. 

A Bíblia e a Torá também possuem menções à bruxaria, sempre com uma conotação negativa e até mesmo fraudulenta. Livros como Deuteronômio e Êxodo contam com justificativas das escrituras para a caça às bruxas cristã. 

No islamismo, a bruxaria é interpretada através de práticas como adivinhação, magia, guardar um olho maligno, produzir amuletos e até mesmo astrologia. Os muçulmanos, particularmente, acreditam na existência de magia negra, uma prática terminantemente proibida por eles. Porém, ao mesmo tempo, a religião crê na boa magia e nos milagres desempenhados por seus profetas. Não acreditar na magia dos profetas é considerado heresia, até porque tais atos são associados a sinais de Alá praticados através das mãos daqueles próximos a ele.

No judaísmo a bruxaria se manifesta através da idolatria (a falsos deuses) e necromancia — duas séries ofensas à fé judaica. Fontes antigas da religião confirmam que os judeus acreditam que a magia exista, porém, trata-se de uma prática proibida e condenável. Contudo, alguns rabinos seriam capazes de praticar magia, porém, de forma semelhante ao islamismo, esta prática é considerada um milagre divino e não bruxaria.

Há uma forte crença no sobrenatural em partes da Índia. Segundo registros oficiais de crimes no país, cerca de 2.100 pessoas suspeitas de bruxaria foram assassinadas entre os anos 2000 e 2021. Acredita-se que uma média de 150 mulheres são mortas a cada ano acusadas de serem bruxas, a maioria delas na Índia Central. Aquelas que são acusadas mas não chegam a ser assassinadas são banidas de sua comunidade e estigmatizadas.

No Japão há dois tipos de bruxas: as que têm cobras como familiares e as que têm raposas – estas são as mais comuns. A raposa é vista na cultura japonesa como um animal enganador, astuto e capaz de trocar de forma, tornar-se invisível e até mesmo possuir outro ser humano.

Nas Filipinas as bruxas são aquelas que praticam magia negra. Elas podem ter diferentes funções, dependendo do grupo étnico ao qual estão associadas. Maldições e outras magias de bruxas podem ser bloqueadas, rebatidas e curadas com a ajuda de xamãs.

Bruxaria na América: A dicotomia entre o bem e o mal 

Não foram apenas os colonizadores europeus que trouxeram ao novo continente a ideia de bruxaria. Há menções destas práticas em diversas civilizações pré-colombianas, da América do Sul à América do Norte.

Na tradição Navajo, uma tribo nativa do que hoje é o território dos Estados Unidos, bruxos são viajantes da noite e se vestem com peles de animais para se transformar neles. Estes caminhantes se encontram à noite vestindo apenas máscaras e praticam necrofilia. Uma forma de se proteger contra bruxos envolve pinturas com areia. Este povo também defende práticas de tortura para conseguir confissões dos bruxos.

No Brasil, algumas religiões derivadas da cultura africana acreditam que acontecimentos negativos, como acidentes, perda de emprego e doenças, possam ser um sinal de que a pessoa em questão tenha sido amaldiçoada por bruxaria. Alguns rituais são conduzidos para enfrentar este mal e quebrar as maldições.

Os Mapuches, nativos da região do Chile, acreditam na dicotomia entre o bem e o mal. De acordo com a crença, jovens mulheres seriam iniciadas em feitiçaria e, quando mais velhas, tornam-se poderosas bruxas, que utilizam “medicina maligna” para conseguirem o que querem. Elas estariam alinhadas com forças do mal e as utilizariam para conseguir vantagens sobre os outros. Seu conhecimento e uso de plantas e animais é muito parecido com o dos xamãs, que utilizam a prática para o bem, enquanto as bruxas usam para o mal.

Esta ambivalência também existe na prática do Vodu, originada no Haiti. Há um contraste entre a magia maligna praticada por pessoas, conectada a zumbis (seres familiares de bruxas e bruxos), e espíritos benignos, identificados como santos católicos. Porém, esta disputa entre bruxaria e religião se torna bem problemática: isso porque, após a morte, os espíritos ou poderes malignos de um ancestral se acumulam com os espíritos protetores de seus descendentes. Com isso, o vodu se expandiu e hoje é considerada uma das maiores religiões do país, ao lado do catolicismo.

A crença no bem e no mal e em forças sobrenaturais que podem agir em ambos os sentidos é comum em povos dos mais variados cantos. O medo do desconhecido associado a religiões que entendem qualquer prática diferente como maligna é o que alimenta o medo de bruxas, feiticeiros e qualquer pessoa com habilidades inexplicáveis. Enquanto este temor persistir, bruxas permanecerão presentes e temidas nas mais variadas culturas e idiomas.

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O livro Grimório das Bruxas, de Ronald Hutton, já está em pré-venda na Loja Oficial da DarkSide Books nas versões Moon Edition e Witchcraft Edition. Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.

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Renunciei à vida mundana para me dedicar às artes da trevas. No meu cálice nunca falta vinho ungido e protejo minha casa com gatos que afastam os espíritos traiçoeiros. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.