A ilustre carreira de Park So-dam, uma das estrelas de Parasita

Conheça a carreira de Park So-dam, atriz que dá vida a Ki-jung em "Parasita", filme ganhador de quatro estatuetas do Oscar em 2020.

Texto original de Georgia Davis

Um filme tem dado o que falar nos festivais, circuitos de cinema e entre a crítica: Parasita. Mesmo que você não seja uma pessoa muito antenada em cinema, mas acompanhe o mínimo por aí, deve ter ouvido falar desse filme. O filme sul-coreano, dirigido por Bong Joon Ho e escrito por ele e Jin Won Han tem sido um estrondoso sucesso. Além de ter ganhado o Palma de Ouro, o maior prêmio do Festival de Cannes, o filme ainda fez história durante a 92ª premiação da Academia, sendo o primeiro filme não falado em língua inglesa a ganhar o grande prêmio da noite — de Melhor Filme. Além disso, levou para casa outros três prêmios: Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Filme Estrangeiro. Sendo assim, recebeu o total de quatro Oscars, desbancando os queridinhos com muitas indicações como Coringa, Era Uma Vez… em Hollywood, 1917 e O Irlandês.

Parasita, filme ganhador de quatro Oscar em 2020

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E, sem dúvida, apesar de todo o roteiro, direção e todos os aspectos técnicos no filme serem impressionantes, um dos grandes detalhes memoráveis são os personagens e atores. É injusto, inclusive, que o elenco do filme tenha recebido tão poucas indicações, ganhando somente o prêmio de Melhor Elenco pelo Sindicato dos Atores. Uma dessas atrizes que chama a atenção e rouba a cena toda vez que aparece em tela é Park So-dam, que interpreta Ki-jung, e recebeu somente uma indicação por seu papel e nenhum prêmio.

Parasita conta a história dos Kim, uma família de renda baixa que mora em um banjiha, uma moradia que se tornou cada vez mais comum na Coreia do Sul. Como consta em um recente artigo da BBC, banjiha são apartamentos semisubterrâneos, que anteriormente eram abrigos antibomba, construídos no período da década de 1970, quando as duas Coreias estavam em guerra entre si, e os apartamentos-porões foram construídos como abrigo. Anos depois, muitos jovens acabam morando nesses locais, por serem muito mais baratos que um apartamento convencional.

A família Kim acaba se infiltrando na casa da família Park, rica, que mora em uma casa muito melhor. A infiltração é feita por um parente de cada vez. Park So-dam se torna Jessica, uma tutora de artes para o filho mais novo da família Park.

Apesar da carreira de Park ter se iniciado somente em 2013, a atriz demonstrou habilidades em tela que deixariam um ator veterano com inveja — com Parasita sendo somente a ponta do iceberg. Ela abalou as estruturas do cinema coreano com uma carreira cheia de reviravoltas que não foram vistas, mas que fizeram com que ela ganhasse a honra de ser um nome familiar. Mas, se você foi introduzido ao trabalho dessa atriz tão poderosa somente agora, talvez não perceba o quão boa ela realmente é.

Park So-dam, atriz de Parasita

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Após dois anos de seu primeiro trabalho em um curta indie chamado No More, No Less, Park fez sua estreia em um filme mainstream de sucesso, estrelando o filme de Lee Hae-Young, The Silenced, interpretando a personagem Yeon-duk, ou Kazue, nome dado a ela pela promissora escola em que reside. Yeon-duk é uma jovem envolvida e aterrorizada por segredos do passado. A performance de Park como a personagem é forte, repleta de constrangimento e receio, que tenta lidar com suas escolhas erradas do passado e sua necessidade de refutar as respostas do que é que pode estar acontecendo atualmente em sua estranha escola.

Tudo isso é contado a partir do subtexto, a partir da atenção de Park aos detalhes, principalmente durante o terceiro ato do filme, quando dá tudo de si em cena. Park permite que a personagem tenha um colapso de uma forma que nós sentimos ser necessária, completa e real. Nós sentimos sua dor, e torcemos por ela, ao mesmo tempo que choramos por ela, enquanto ela luta para sobreviver ao clímax do filme. Dizer que é uma performance muito sentimental é um eufemismo, e sua atuação é capaz de desestruturar até aqueles com os corações mais duros. Além disso, por ser sua primeira atuação ao lado de atores antigos como Park Bo-Young e Uhm Ji-Won, Park segura muito bem sua atuação, e merece tanto reconhecimento quanto seus colegas de cena.

Não é de se surpreender, então, que Park So-dam tenha recebido diversas indicações por sua atuação, ganhando três prêmios, um deles como Melhor Atriz Nova no Busan Film Critics Awards.

E esse foi só o início. Em 2015 Park atuou em diversas obras do cinema sul-coreano, cada uma delas deixando que a jovem atriz mostrasse mais de seu talento. Em O Veterano, Park interpreta uma atriz novata, ainda desabrochando, mas pouco convencional, que mesmo com pouco tempo de tela acaba capturando a atenção das audiências. Em The Throne, ela demonstra seu sucesso no drama histórico como Moon So-Won, uma concubina que tem as afeições do rei. Então, pensando nos papéis que definiram sua carreira, seria injusto não mencionar o excelente papel que a atriz faz em The Priests.

Park So-dam, atriz de Parasita

Park interpreta uma jovem chamada Young-shin, que está no colégio, acaba sofrendo um acidente de carro e é possuída por um demônio. Mesmo que neste filme seu papel seja somente coadjuvante, e apareça em poucos minutos durante os dois primeiros atos, é no clímax que Park demonstra tudo que é capaz e compartilha suas verdadeiras capacidades com o mundo. Mudando as personalidade entre a inocência de Young-shin, enquanto chora para um dos padres, e a forma maníaca do demônio que a possuiu, Park não se segura e abraça totalmente o grotesco em sua performance. Sua capacidade de mudança em opostos dentro de seu papel, em poucos segundos, é realmente de arrepiar a nuca e uma das melhores em sua curta carreira.

E, novamente, não é com surpresa que Park recebeu vários prêmios, incluindo Melhor Nova Atriz do Ano, pelo Cine21’s, e sua primeira indicação ao cobiçado Blue Dragon Awards como Melhor Atriz Coadjuvante.

Por trás das cenas de Parasita, filme ganhador do Oscar

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E, além de suas conquistas no cinema, Park também conquistou a TV e mostrou outro de seus incríveis dons de atuação. Os K-dramas, ou Dramas Coreanos, são bastantes populares, com narrativas incríveis, e uma grande capacidade de chamar a atenção da audiência. E não foi diferente com a série de 2016, Cinderella and the Four Knights. Nele, Park interpreta Eun Ha-won, a personagem título Cinderella, que mesmo com seu exterior ambicioso e trabalhador, acaba sendo excluída pela madrasta e pela irmã adotiva, além de ter o pai ausente. Após uma série de eventos bastante improváveis, Ha-won acaba sob os cuidados de um presidente de uma associação, e seus três netos rivais.

Park So-dam, atriz de Parasita

Apesar de uma história completamente inacreditável, o indie queridinho estrelado por Park é viciante, em grande parte por sua atriz principal, e não foi engolido pelo mundo dos K-dramas. Cheia de mais otimismo e carisma que você imagine ser possível em uma pessoa, Park irradia alegria em seu papel. Ha-won é um raio de Sol, sua forma infantil, sua persistência agressiva e coração gentil, ganham a audiência no instante em que aparece em tela. Entretanto, quando se mergulha na história de Ha-won — que é a semelhante a da Cinderella, por assim dizer — Park nos apresenta novamente sua incrível atuação. Várias vezes Park deixa com que Ha-won desmorone, mas sem apelar para o melodrama como tantos k-dramas fazem. Ela deixa que a personagem seja leve e vulnerável, mas não deixa com que ela diminua sua luz, Ha-won se esconde atrás de seu esplendor e utiliza seu sorriso, mesmo quando não quer. Com sinceridade, a performance da atriz é o coração e a alma da série, e faz com que você queira revisita-la várias vezes.

Com Park finalmente recebendo a atenção que ela merece das audiências pelo mundo, é questão de tempo até que ela receba o reconhecimento que ela merece não somente por seu trabalho em Parasita, mas por todo o resto. O alcance de Park é excepcional, e seus trabalhos demonstram isso. Em apenas seis anos, ela tem gerenciado sua carreira e demonstrado que nenhum personagem está fora de seu alcance, conquistando cada um deles com perfeição. Filmes em outras línguas, que fogem do padrão norte americano, tem muito a nos mostrar e podem ser uma forma de conhecer um pouquinho mais sobre o mundo, conhecer outras culturas e narrativas, e Parasita é um excelente exemplo disso.

Gostou de conhecer mais sobre a carreira de Park So-dam? O texto foi publicado no dia 30 de janeiro por Georgia Davis no site Film School Rejects, traduzido e atualizado para os leitores da Macabra. Siga a autora do texto no Twitter.

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