Demônios para alguns, anjos para outros: Curiosidades sobre Hellraiser

Dor, prazer, couro e sangue: Hellraiser é um marco dos filmes de terror. Confira algumas curiosidades sobre a produção escrita e dirigida por Clive Barker.

Clive Barker é um dos maiores autores de terror da contemporaneidade, sendo considerado por Stephen King ainda nos anos 1980 como “o futuro do terror”. Uma de suas obras que ajudou a pavimentar esse título foi Hellraiser, filme de 1987 que adapta sua novela publicada em 1986. Fazendo as vezes de diretor e autor, Barker construiu uma história para lá de macabra.

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No icônico filme, ao se mudarem para a casa da família de seu pai, Kirsty (Ashley Laurence) se vê envolvida em uma teia de traição, prazeres e dores que vão além da imaginação humana. Julia (Claire Higgins), madrasta de Kirsty, está ajudando Frank (Sean Chapman), tio da jovem, a conseguir sacrifícios para aplacar os horrores causados pelos cenobitas, criaturas de outra dimensão que, ao serem invocadas pelo cubo Configuração do Lamento, liberam um verdadeiro inferno na vida daqueles que os chamaram.

A Macabra listou algumas curiosidades da produção do filme para você se deleitar com os pesadelos causados por Clive Barker. 

Problemas com o título

Baseado no livro de Barker que, originalmente, se chama The Hellbound Heart, o longa passou por uma jornada até chegar no título final de Hellraiser. Os produtores acharam que o título original, que pode ser traduzido como “o coração infernal”, poderia confundir as audiências por se parecer com o título de algum romance. Então, Barker sugeriu “Sadomasochists From Beyond the Grave”, que também foi negado. Após algumas outras sugestões, incluindo “What a Woman Will Do for a Good Fuck”, de uma colega da equipe, por fim chegaram a Hellraiser

Em alguns países o filme foi lançado com títulos diferentes. Na Croácia o longa foi lançado como Gospodari pakla, que pode ser traduzido como “Senhores do Inferno”; já na França, o título escolhido foi Le Pacte (O Pacto) ou ainda Le Pacte du diable (O Pacto do Diabo); no México o filme foi lançado como Puerta al infierno (Porta para o Inferno); e na Índia como Shaitan Ka Beta (Filho do Diabo). No Brasil, o título oficial ficou como Hellraiser: Renascido do Inferno.

Assumindo a direção

Se você acompanha os filmes baseados nas obras de Clive Barker, deve saber que nem sempre eles saem parecidos com a obra original — como aconteceu com Rawhead Rex. Na época, Barker ficou muito irritado com a forma como os produtores trataram seu material no filme de 1985, Subterrâneos – A Revolta dos Mutantes, dirigido por George Pavlou, e decidiu que ele mesmo trabalharia na direção de Hellraiser. Antes do longa, Barker só havia trabalhado em dois curtas. 

Barker afirmou depois que, apesar de sua inaptidão na direção, o elenco e a equipe de produção foram muito gentis com ele. Naquele momento, Barker conta que não saberia diferenciar uma lente de 10mm com uma de 35mm: “Se você colocasse um prato de espaguete na minha frente e dissesse que eram lentes, eu provavelmente teria acreditado”.

Uma pessoa que ficou extremamente orgulhosa com a direção do filme por Barker foi sua mãe. O artista conta que, quando colocou o filme para ela assistir, ela chorou de alegria ao ver os créditos do filho como diretor — e ele teve que alertá-la que ela provavelmente ficaria bem menos feliz ao longo das próximas duas horas.

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Os Cenobitas

Interpretado originalmente por Doug Bradley, Pinhead se tornou um dos maiores e mais lembrados antagonistas da ficção de horror. Mas, no livro e no roteiro inicial, o personagem é um pouco diferente. Para começar, no livro, o antagonista principal é o cenobita reconhecido por Butterball, sendo Pinhead somente um ajudante. Além disso, “Pinhead” não era nem o nome do personagem. Bradley é creditado em Hellraiser como “Lead Cenobite”, ou seja, o cenobita líder. Mas a equipe do filme acabou batizando o personagem de Pinhead — o que Clive achou bastante deselegante —, e o nome pegou. 

Butterball tinha algumas falas no roteiro original, bem como o cenobita conhecido como Chatterer, mas as falas foram repassadas para a personagem conhecida como Female Cenobite, e para Pinhead.

Para criar o visual icônico dos cenobitas, Barker tirou inspiração de muitos lugares, principalmente da religião católica, do movimento punk rock e das roupas fetichistas que ele viu em clubes em Amsterdã e Nova York. Para o Pinhead, uma das inspirações mais fortes veio de símbolos fetichistas africanos.

Barker, ao criar Pinhead, queria o enfoque em sua personalidade sombria e séria. Os produtores haviam sugerido que, sendo Hellraiser feito em um momento em que ícones do horror como Freddy e Jason estavam com tudo, que Pinhead poderia ter um senso de humor mais apurado. Barker negou a ideia, e deu instruções claras para Bradley: que ele interpretasse Pinhead como uma mistura entre um administrador e um cirurgião, um homem que é responsável por um hospital que, além de empunhar a faca, precisa manter o cronograma.

Ao pensar no personagem de Pinhead, Barker gostaria que ele fosse mais próximo de alguém como o Drácula de Christopher Lee. Além disso, para ele, Pinhead é muito mais forte mentalmente que Michael Myers ou Jason Voorhees. 

A trilha sonora excluída

Originalmente, Barker queria que a banda Coil fosse a principal trilha sonora do filme, e eles chegaram a compor uma trilha sonora completa para Hellraiser. Mas o estúdio não levou a escolha em consideração, e acabou escolhendo o músico Christopher Young para compor a trilha que ficou conhecida no filme. Young já havia trabalhado com filmes de terror, em A Hora do Pesadelo 2 e Invasores de Marte.

As músicas compostas pela banda Coil foram posteriormente compiladas em dois álbuns, Unnatural History II: Smiling in the Face of Perversity e The Unreleased Themes for Hellraiser.

Sobre os atores

Claire Higgins como Julia

De início, os produtores estavam pensando em contratar dublês para o papel dos cenobitas, para poupar um pouco o orçamento da produção, mas Clive Barker foi irredutível em sua decisão de contratar atores para o trabalho — o que se mostrou uma decisão acertada, já que Doug Bradley foi um dos maiores sucessos entre as escolhas do elenco. 

Outra curiosidade é que o filme é, tecnicamente, uma produção inglesa. Mas o estúdio, New World, achou que seria mais fácil de comercializar se o filme se passasse nos Estados Unidos. Então, a maioria dos atores teve suas falas dubladas para tirar o sotaque da Inglaterra.

A atriz Clare Higgins, que interpreta Julia, costuma dizer que odeia filmes de terror e diz nunca ter conseguido assistir Hellraiser completo. Já Doug Bradley se tornou tão prestativo e habilidoso nas aplicações das próteses de Pinhead que seu nome consta nos créditos como assistente de maquiagem. Ao todo, a prótese levava cerca de seis horas para ficar pronta.

Clive Barker na DarkSide

Na editora mais aterrorizante do país você encontra alguns dos títulos escritos por Clive Barker. Hellraiser: Renascido do Inferno e sua continuação, Evangelho de Sangue, chegaram aos leitores brasileiros trazendo todo o tipo de terrores em uma leitura assombrosa. Candyman, que deu origem ao filme de 1992, também encontrou um lar na editora da caveira.

Em um pacto selado com a DarkSide Books, a Macabra vem publicando a coleção Livros de Sangue. Composto por seis volumes no total, recheados de ilustrações do próprio Barker e introduções escritas por grandes mestres brasileiros do terror, a coleção está atualmente em seu terceiro volume, e os leitores que se aventuraram pela obra prima de Barker até aqui foram presenteados com um universo marcado pelo sobrenatural, por criaturas grotescas e situações aterrorizantes.

Qual sua obra favorita de Clive Barker? Comente este post com a Macabra no Twitter e Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.