Doces para um doce: a produção de Candyman

Baseado em um conto de Clive Barker e transformado em filme pelas mãos habilidosas de Bernard Rose, Candyman entrou para o rol dos grandes filmes de terror. Saiba mais sobre a produção da franquia.

Candyman, Candyman, Candyman… ao dizer seu nome três vezes, uma figura alta, com um casaco de pele de gola e mangas felpudas, e com um gancho no lugar da mão, irá surgir diante de você. Suas vítimas, ao contrário de algumas outras lendas urbanas, não sobrevivem para contar a história. Todos o conhecem por suas maldades que não poupam ninguém: crianças, adultos, idosos. Mas, apesar disso, ele é fascinante.

Criado a partir de um conto de Clive Barker, Candyman é um personagem assustador que já fincou raízes no imaginário dos fãs de terror, ao lado de outras grandes figuras dos anos 1980 e 1990: Freddy, Jason, Michael, Ghostface. Mas guarda uma grande diferença entre eles: não há matança desenfreada. Elegante, sedutor, inteligente, Candyman aparece só quando chamado, e sua busca maior é a vingança.

Tony Todd como personagem-título de O Mistério de Candyman, 1992.

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Ao longo dos anos após seu lançamento — como conto, filme e, mais adiante, franquia —, Candyman cresceu nos corações dos fãs de terror, e ganhou uma “sequência espiritual” dirigida por Nia DaCosta e produzida por Jordan Peele e  Win Rosenfeld, que estreou em 2021.

Para celebrar essa franquia, a Macabra reuniu alguns fatos curiosos sobre as produções de Candyman

O começo de tudo

Clive Barker na direção de Hellraiser: Renascido do Inferno (1987).

A história da lenda de Candyman foi contada, pela primeira vez, por Clive Barker. O conto, inserido no quinto volume da coletânea Livros de Sangue, foi lançado ao final da década de 1980. Originalmente com o nome de “The Forbidden” publicado pela primeira vez no Brasil como “O Proibido” e, posteriormente, como “Candyman” —, o conto nos descreve o clássico personagem de uma forma um pouco diferente de como o conheceríamos mais tarde: “Ele reluzia ao ponto de ser berrante — sua pele era de um amarelo que lembrava cera, os lábios finos de um azul-pálido, os olhos selvagens cintilando como se a íris fosse incrustada de rubis. Seu paletó era todo remendado, assim como as calças”.

Edição de Candyman, disponível para compra no Site Oficial da Darkside Books.

Naquela época, Barker já era um nome conhecido. Além de ter conquistado reconhecimento razoável com os primeiros três volumes de Livros de Sangue, que foram publicados no começo dos anos 1980, o autor também emplacou outros sucessos, como A Trama da Maldade e, posteriormente, Hellraiser: Renascido do Inferno, onde escreveu o roteiro, a novela e dirigiu o filme. Barker também conquistou notoriedade após diversos autores elogiarem seus escritos, como Stephen King e Ramsey Campbell. 

Após uma sucessão de vendas de direitos de seus filmes, Barker conheceu Bernard Rose logo após terminar de dirigir Raça das Trevas. Rose tinha interesse em alguns contos de Livros de Sangue, ansiando por transformar em filme aquilo que tinha lido. Um desses contos era “Candyman”. Barker vendeu os direitos e Rose começou a transformar a ideia em filme.

Livros de Sangue Volume 5, de Clive Barker. Disponível para compra no Site Oficial da DarkSide Books.

As mudanças

Em algumas das reuniões e conversas que ocorreram entre Rose e Barker, ambos concordaram em alterar a localização da história, que se passava em Liverpool, cidade natal de Barker, para Chicago. Levando em consideração que o filme estava sendo planejado por empresas norte-americanas para um público majoritariamente norte-americano, ambos acharam que seria uma localização melhor para atrair a atenção desses grupos.

Bernard Rose na direção.

A escolha de alterar nosso vilão tão querido das páginas para as telas também teve relação com o contexto que Rose queria utilizar. Ao alterar o cenário e ambientação da história, algumas escolhas precisavam ser tomadas. Barker escreveu principalmente sobre as classes sociais inglesas, algo que via com frequência no local onde morava e explorava. Mas, com a mudança para Chicago, Rose considerou alterar o problema principal para focar em discussões sobre raça e preconceito.

Rose escolheu Chicago especificamente por ter ficado admirado e um tanto chocado com as construções da cidade e sua arquitetura assustadora. Ele escolheu Cabrini-Green, um projeto de moradia que já era conhecido pela violência, com a ajuda da Illinois Film Commission.

A franquia Candyman

A história do primeiro filme nós conhecemos bem: Helen (Virginia Madsen), uma mulher universitária, vai até Cabrini-Green para documentar alguns grafites do local e acaba se interessando pelas histórias de violência. Ao cavar um pouco mais fundo, acaba descobrindo a lenda urbana de Candyman (Tony Todd), um homem com um gancho na mão que provoca o terror dos moradores. Ao chamar seu nome três vezes, você pode encontrá-lo.

Bernadette (Kasi Lemmons) Helen (Virginia Madsen) em cena de O Mistério de Candyman (1992).

No conto original a ideia da lenda urbana também é utilizada, mas de forma um pouco diferente do filme. Barker pegou algumas histórias que escutava quando era criança e as inseriu em sua narrativa; já Rose preferiu usar algumas lendas urbanas mais atuais, como o homem que tem o gancho na mão e chamar o nome da lenda três vezes — que são elementos utilizados em outros filmes ao longo dos anos 1990, também.

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O filme acabou sendo bem recebido e, ao longo dos anos, só cresceu no coração dos fãs. Pouco depois de seu lançamento já recebeu uma proposta de sequência. Rose chegou a escrever um roteiro, mas não era o que estavam procurando na época. A intenção de Rose era utilizar outras lendas urbanas para contar outras histórias, enquanto o estúdio considerava que manter Candyman como o protagonista seria melhor.

Candyman (Tony Todd) e Annie (Kelly Rowan) em Candyman 2: A Vingança (1995).

Candyman, o personagem, não tinha uma história de fundo pré-definida. Quem ajudou a construir a ideia central do personagem e de sua vida antes de Candyman, ainda como Daniel Robitaille, foi Tony Todd, que deu a ele um passado e uma motivação. Essas ideias acabaram aparecendo melhor no segundo filme, Candyman 2: A Vingança, que foi dirigido por Bill Condon e teve um argumento inicial escrito por Barker. A mitologia incorporada no primeiro filme, e que foi expandida no segundo, acabou sendo levada adiante para o restante da franquia, com o terceiro filme, Candyman: Dia dos Mortos (1999, dir. Turi Meyer), e, posteriormente, no filme de Nia DaCosta, A Lenda de Candyman

Sequência espiritual

O Mistério de Candyman acabou se tornando um filme importante para discussões raciais no terror. Ao longo dos anos, o filme cresceu muito como objeto de debate, que também acabou criticando alguns estereótipos utilizados por Rose para contar a história, como aponta a dra. Robin R. Means Coleman no livro Horror Noire: A Representação Negra no Cinema de Terror. Desde seu lançamento, os produtores e equipe responsáveis por O Mistério de Candyman sabiam que isso poderia acontecer, ao utilizar um relacionamento — dúbio, muitas vezes, de atração e aversão — entre um homem negro e uma mulher branca.

Anthony (Yahya Abdul-Mateen II) em cena de A Lenda de Candyman (2021).

Mas, ainda assim, O Mistério de Candyman esteve presente na vida de muitos futuros contadores de histórias, servindo de inspiração ao longo dos anos. Muitos artistas cresceram ouvindo a voz poderosa e grave de Tony Todd como Candyman. Anos mais tarde, Nia DaCosta, uma dessas artistas, revisitaria o clássico moderno de Rose para criar uma “sequência espiritual”.

No filme, um grupo de amigos visita o novo apartamento de Anthony (Yahya Abdul-Mateen II) e Brianna (Teyonah Parris). Troy (Nathan Stewart-Jarrett), irmão de Brianna, quer contar uma história sobre o local — que, antes, era onde ficava Cabrini-Green, mas se tornou uma área “revitalizada”. A história contada por Troy é a história de Helen. Ao invés de utilizar um flashback convencional, utiliza-se um show de bonecos de sombras. DaCosta conta em entrevista ao New York Times que a ideia de utilizar essa arte para contar as histórias anteriores de Candyman foi de Jordan Peele, produtor e corroteirista do filme.

Yahya Abdul-Mateen II e a diretora, Nia DaCosta, A Lenda de Candyman (2021)

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DaCosta viajou para Chicago para construir sua narrativa, indo até onde antes era Cabrini-Green, mas que está, hoje, totalmente gentrificado. Para a diretora, como contou na entrevista, a história ia muito além de Candyman, e significava dezenas de anos de atrocidades raciais cometidas contra a população negra: “Você realmente tem que segurar quantas histórias possíveis em suas mãos antes de descobrir como contar sua própria história da melhor forma possível”, comenta.

Doces para um doce

Candyman se tornou um fenômeno. Seja com sua história original ainda em Livros de Sangue, seja em sua primeira adaptação ou na sequência espiritual, o personagem e sua franquia são reconhecidamente um dos grandes favoritos dos fãs. Em convenções, em listas de clássicos modernos, ou entre os grandes vilões do terror, Candyman é sempre mencionado.

Não sabemos qual será o futuro de Candyman — se teremos novos filmes, novas sequências ou novas histórias. Mas, até que ressuscitem a lenda novamente, cuidado ao dizer seu nome três vezes.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.