Lizzie pegou um machado: a história de Lizzie Borden

Acusada de assassinar o pai e a madrasta no final do século XIX, Lizzie Borden entrou para o rol de personagens infames dos crimes reais.

O século XIX foi cheio de mistérios aterrorizantes. Antes dostermos de “serial killers” e suas variações serem empregados, já haviam muitos assassinos por aí cometendo crimes seriais e, algumas vezes, saindo impunes.

Na Inglaterra, além do fascínio da sociedade britânica pelo macabro, alguns crimes cometidos no período ficaram tão famosos e nunca foram solucionados, como é o caso Jack, o Estripador. Sua história ficou tão famosa e rendeu tanto pano pra manga que muitos foram os autores e pesquisadores que se debruçaram sobre quem seria o assassino de mulheres mais assustador do final do século.

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Os Estados Unidos também tiveram sua dose de mortandade. H.H. Holmes causou furor na sociedade norte-americana ao construir um hotel para cometer seus crimes e sua história também ficou amplamente conhecida. Apesar de todos conhecerem seu nome e suas artimanhas, não fez com que a situação toda fosse menos misteriosa — ou menos assustadora.

Mas outra figura um pouco menos comentada também se tornou envolta em mistérios. Lizzie Borden foi acusada de assassinar seu pai e sua madrasta em um dia especialmente quente. Em 4 de agosto de 1892, a cidadezinha de Fall River, em Massachusetts, parou. Um macabro acontecimento tomou conta do local, e os boatos se espalharam como uma chama em um rastro de pólvora.

Lizzie era filha de Sarah Anthony (Morse) Borden e  Andrew Jackson Borden, nascida em 1860. Apesar de seu pai ser descendente de uma família rica, tudo que possuía foi levantado a partir de seus próprios investimentos. Andrew Jackson era figura conhecida na cidade — o que não fazia com que ele fosse uma pessoa querida, exatamente —, e possuía uma boa quantidade de propriedades comerciais na região. Por consequência, Lizzie e sua irmã, Emma Lenora Borden, também eram bastante conhecidas, principalmente entre aqueles que frequentavam atividades religiosas. Lizzie era professora de crianças e de imigrantes que haviam chegado na cidade, além de ser secretária de organizações filantrópicas da igreja e curadora do fundo social e associações de moças. 

Depois da morte de Sarah, Andrew se casou novamente com Abby Durfee Gray. Pouco se sabe como era o relacionamento da família após esse casamento. Lizzie acreditava que Abby estava atrás da fortuna de seu pai, que começou a passar diversas propriedades para seus parentes e vender algumas abaixo do preço que elas valiam. A tensão na casa da família era latente, e tudo se intensificou na última semana dos Borden vivos, quando Lizzie retornou a Fall River após algum tempo fora da cidade. De acordo com a história, o acontecimento que teria feito Lizzie se afastar de sua cidade natal e da casa de seu pai foi a morte de vários pombos. Seu pai matou algumas das aves que estavam em seu quintal, afirmando que elas estavam fazendo com que crianças fossem até lá para caçá-las. 

Após o acontecimento e a viagem de Lizzie, apesar de ter retornado para Fall River, a jovem preferiu não se hospedar com sua família, ficando em outra casa que pertencia aos Borden. 

Ainda temos outros dois detalhes importantes sobre o caso, que não estão diretamente ligados a Lizzie. Primeiro que, no dia anterior à morte de Andrew e Abby, o tio de Lizzie, irmão de sua mãe, resolveu fazer uma visita aos Borden. Os repasses de terras e propriedades de Andrew para a família de Abby parecem ter gerado um sério desconforto, fazendo com que a tensão da casa aumentasse. Em segundo, durante vários dias antes da morte dos Borden, a família não estava bem. Acreditavam que algo em sua alimentação estava errado, e Abby se manteve preocupada — já que a família não era popular no local, a ideia de Abby era de que qualquer um poderia fazer mal a eles.

Em 4 de agosto de 1892, a morte pairou sobre a casa dos Borden. Lizzie chamou a empregada, Bridget Sullivan, e pediu que ela chamasse um médico pois seu pai havia sido assassinado. Sullivan estava limpando as janelas quando Lizzie a chamou. As duas eram as únicas na residência. Pouco tempo depois, o corpo de Abby, madrasta de Lizzie, foi encontrado no segundo andar da casa. 

Naquela manhã, Andrew saíra cedo para ir com John Morse, irmão de sua falecida esposa, até a cidade. Quando voltou, deitou-se no sofá para um cochilo, e cerca de uma hora depois seu corpo foi encontrado por Lizzie. 

E é a partir destes fatos que se desenrola um dos julgamentos mais famosos do final do século XIX, com direito a boatos correndo soltos, um circo midiático se formando, e uma de suas principais acusadas, Lizzie Borden, entrando para o folclore norte-americano como uma figura fria e aterrorizante.

Desenho do julgamento de Lizzie Borden feito por Benjamin West Clinedinst

Não se sabe ao certo qual foi a arma do crime. Um machado foi encontrado, que pode ou não ter sido usado para o assassinato. Roupas com sangue também não foram encontradas. Sullivan havia levado várias roupas de Lizzie para lavar, mas a polícia não deu importância, pois Lizzie estava menstruada na época e o sangue poderia ser de sua menstruação. Poucos dias depois do assassinato, Lizzie queimou um de seus vestidos afirmando que teria derrubado tinta nele, mas as testemunhas não conseguiam afirmar com precisão se era a mesma cor de vestido que tinham visto Lizzie usando no dia das mortes.

Diversas foram as teorias levantadas sobre o crime. A começar, os Borden não eram queridos em Fall River, então qualquer um poderia ter motivos para matá-los — sim, a suspeita pairou sobre a cidade como um todo. Havia também a ideia de que Lizzie e Sullivan estavam tendo um caso e teriam sido descobertas por sua madrasta. Uma terceira suposição é de que Andrew teria cortado Lizzie de seu testamento, mas não há nenhum testamento que comprove a teoria.

No geral, o próprio julgamento não foi realizado com todas as precauções. Vários detalhes foram deixados de lado, várias evidências e o próprio local do crime podem ter sido contaminados pela falta de cuidado dos investigadores.

O caso ficou sem solução, e apesar de Lizzie ter sido absolvida, a sociedade não pegou leve com ela.  Um século depois, seu julgamento foi relembrado ao seu comparado ao julgamento de O.J. Simpson, devido ao grande furor da mídia. Uma rima sobre o caso foi criada para vender jornais, e logo depois estava percorrendo a boca de crianças e adultos por todo o estado de Massachusetts e, logo depois, por todos os Estados Unidos. 

Lizzie Borden took an axe

And gave her mother forty whacks.

When she saw what she had done,

She gave her father forty-one.

Andrew Borden now is dead,

Lizzie hit him on the head.

Up in heaven he will sing,

On the gallows she will swing

(Tradução: Lizzie Borden pegou um machado / E deu quarenta golpes na mãe. / Quando ela viu o que tinha feito, / Ela deu ao pai quarenta e um. / Andrew Borden agora está morto, / Lizzie bateu na cabeça dele. / Lá em cima ele vai cantar, / Na forca ela vai balançar.)

Ainda hoje tentam descobrir o que houve com os Borden naquele fatídico dia de calor de agosto de 1892. Teóricos e pesquisadores continuam escrevendo e procurando pistas nos processos e nos documentos do período. Alguns acreditam que Lizzie foi vítima dos acontecimentos, outros que ela era uma assassina a sangue frio. O interesse da maioria da população diminuiu, mas ainda existem aqueles que se perguntam sobre os fatos.

É o interesse dessa parcela que acaba gerando novos conteúdos ao longo dos anos sobre Lizzie Borden. Dos mais famosos, estão a minissérie The Lizzie Borden Chronicles, protagonizada por Christina Ricci, que narra o que teria acontecido com Lizzie nos dias após seu julgamento.

Em Lizzie, de 2018, dirigido por Craig Macneill, protagonizado por Chloe Sevigny no papel de Lizzie e Kristen Stewart no papel de Sullivan, a história tenta remontar os passos das duas naquele 4 de agosto. No filme, Lizzie e a empregada realmente tem um caso, e há uma narrativa construída sobre o porquê as coisas aconteceram da forma que aconteceram.

Lizzie também deu as caras em outras séries, como em Supernatural, no episódio cinco da 11ª temporada, “A Pequena Lizzie”; e também esteve na temporada Asylum, de American Horror Story, representada por Grace Bertrand (Lizzie Brocheré).

Lizzie Borden acabou entrando para a história por causa de um crime que pode ou não ter cometido, e seu nome continua sendo lembrado entre os mais aficionados por crimes reais. 

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.