Os 10 melhores usos de cores em filmes de terror

Nada é por acaso: cineastas criam atmosferas macabras em suas produções manipulando o uso de tons e cores.

Sabe aquela sensação enervante ao assistir um filme de terror? Parte dela se deve às cores e tons utilizados na produção. A violência do vermelho, a melancolia do azul e o mistério do verde são utilizados intencionalmente para apavorar os públicos além das histórias que estão sendo contadas.

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Alguns filmes vão além e transformam as cores em verdadeiros personagens, com vida própria e variando de acordo com a sensação que o diretor quer transmitir em determinado momento. Ao longo da história do cinema há vários exemplos de produções bem-sucedidas neste sentido. A seguir, separamos alguns filmes de terror de diferentes épocas que fizeram um ótimo uso das cores:

O Iluminado

The Shining, 1980 // Há controvérsias, mas Stanley Kubrick conseguiu ir além de uma mera adaptação da obra de Stephen King ao dar vida e uma visual marcante em O Iluminado. O filme mistura melancolia, loucura e terror pincelados pelas diferentes cores do Overlook Hotel e a desolação da neve branca

Mesmo quem não é muito fã de terror vai ficar fascinado com a exuberância do carpete laranja com padrão hexagonal, do exótico banheiro vermelho e do misterioso quarto 247 pincelado de verde. Os enquadramentos simétricos, o vertiginoso design de produção e a vibração das cores empregadas ajudam o filme a evoluir com a loucura do seu protagonista Jack Torrance (Jack Nicholson). A opulente cena do sangue escorrendo em frente aos elevadores é apenas a cereja do bolo de um cenário cujas cores intimidam a cada frame.

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Alien, O Oitavo Passageiro

Alien, 1979 // O designer de produção Michael Seymour e os diretores de arte Roger Christian e Les Dilley foram na contramão do hi-tech limpinho que costuma aparecer nos filmes de ficção científica. Eles quiseram dar à nave Nostromo um visual primitivo, quase decadente, de um veículo espacial que era originalmente branco, mas que acabou ficando abatido após muitas viagens. 

Este aspecto fica ainda mais evidente quando contrastado com a textura orgânica dos ovos de alien e quando a presença do último monstro se mescla aos tons sombrios e mal iluminados da aeronave em seus claustrofóbicos corredores. É justamente essa escuridão toda que dá o tom ermo e desolado de personagens que não sabem se estão fugindo do perigo ou apenas correndo em direção a ele.

O Enigma de Outro Mundo

The Thing, 1982 // O sci-fi de terror de John Carpenter é daqueles filmes capazes de atacar todos os sentidos. Aqui não tem truque barato pra dar susto ou criar repulsa do espectador. Tudo é meticulosamente orquestrado com uma paleta de cores sufocante, que varia da palidez da neve à força claustrofóbica do azul, além do calor e da violência de um sanguinolento vermelho

Este contraste provoca reações antagônicas nos espectadores mais atentos: ora fascinando-os visualmente, ora fazendo com que as pessoas queiram arrancar os próprios olhos.

Corra!

Get Out, 2017 // A crítica ao racismo institucionalizado no filme de Jordan Peele tem um destino certo: os Estados Unidos. Além do poderoso roteiro, repleto de metáforas e reviravoltas, o diretor usou intencionalmente três cores: azul, vermelho e branco, exatamente as cores da bandeira do país.

Durante boa parte do filme, o herói Chris (Daniel Kaluuya) veste uma camisa azul enquanto sua namorada Rose (Allison Williams) usa um suéter com listras vermelhas e brancas. Sentados próximos um do outro, eles simulam a própria bandeira estadunidense, simbolizando os conflitos existentes no país. 

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Durante a cena do leilão, boa parte dos convidados veste vermelho, enquanto Chris mantém o azul. Vale lembrar que as cores dos dois principais partidos políticos por lá são justamente azul (democratas) e vermelho (republicanos). A escolha das cores passa, portanto, uma clara mensagem sobre a polarização das personagens, apesar dos anfitriões se mostrarem amigáveis. Ao fim do filme, Rose veste branco, simbolizando a colonização do país, o lobo na pele de ovelha e até mesmo a cor das túnicas da Ku Klux Klan.

A Hora do Pesadelo

Nightmare on Elm Street, 1984 // Um recurso muito comum para indicar sonhos em filmes é a mudança das cores, seja por mera troca de paleta ou a saturação de certos tons para dar aquele brilho especial e mostrar os desejos mais íntimos das pessoas. Wes Craven se aproveitou deste recurso com outro objetivo: escavar os tons mais sombrios dos pesadelos.

Em A Hora do Pesadelo, o filme não apenas deu consequências reais aos acontecimentos dos pesadelos, mas utilizou as cores para diferenciar o que era mundo real do que se passava na mente dos personagens dormindo. Normalmente estes pesadelos se passam no escuro da noite, com sequências azuladas que dão contraste à blusa vermelha e verde do vilão Freddy Krueger, destacando-o ainda mais.

As cores azul e vermelho são recorrentes ao longo da produção, como o travesseirinho azul e a toalha na cena da banheira e o vermelho do sangue que Johnny Depp espirra até o teto.

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Suspiria

Suspiria, 1977 // Suspiria é um turbilhão de sensações provocadas pelo design de produção e pelo som. Não é por acaso que o filme de Dario Argento é até hoje uma das principais referências cinematográficas quanto ao uso de cores.

O cineasta não se priva de provocar chocantes contrastes entre as cores primárias (vermelho, azul e amarelo), privilegiando o uso do vermelho, que dá a tônica da sensualidade, da perda de inocência, ao mesmo tempo em que evoca a violência dos mais sanguinolentos sacrifícios.

Com escolhas ousadas, o diretor evoca o mundo real, lembrando que há verdades aterrorizantes por trás da claridade e da beleza do mundo. Verdades que nem todos estão prontos para ouvir e que causam calafrios mais de 40 anos depois do lançamento do filme.

Abismo do Medo

The Descent, 2005 // Neste filme é quase possível cheirar as cores: o azul da superfície dá calafrios, o amarelo sobre as pedras evocam limo e as piscinas arroxeadas da caverna fedem a podridão. Assim como em outros filmes do diretor Neil Marshall, os tons são vivos, principalmente o sanguinolento vermelho.

Além do suspense em torno do sobe e desce da personagem na caverna, o verde da visão noturna é inserido de forma brilhante (trocadilho intencional), pois é uma cor que mexe com os sentidos do espectador, relacionando-a a algo sombrio, macabro e quase incompreensível.

O Hóspede

The Guest, 2014 // Fugindo um pouco da cartilha mais apavorante dos filmes de terror, O Hóspede é um suspense que flerta com a comédia em alguns momentos. Mas é justamente esta aura despretensiosa que torna o filme tão interessante. 

Esta suposta ingenuidade também se reflete em uma paleta de cores com azuis mais quentes e vermelhos chamativos, de uma forma muito utilizada em filmes adolescentes. Isto é proposital, já que dá um senso de normalidade a uma série de eventos estranhos que ocorrem numa cidadezinha após a chegada de um desconhecido. 

Um dos pontos que vale destacar é o azul dos olhos do protagonista, interpretado por Dan Stevens: se num primeiro momento pode transparecer inocência, ao longo do filme eles se tornam penetrantes e assustadores. Conforme a história avança e o longa confirma suas vertentes de terror, as cores se tornam mais saturadas, contribuindo com o clímax.

O Convite

The Invitation, 2015 // Desde o começo as coisas já não parecem muito certas em O Convite. Apesar de ser situado em um amigável jantar entre amigos (e ex-cônjuges), a penumbra dos cômodos e os vermelhos inseridos em cena dão certa inquietação a tudo o que está acontecendo ali. 

Aliás, o filme se apoia nesta cor de várias formas, seja na roupa dos convidados, no tom do vinho, no sangue dos personagens e até mesmo nas luzes ao final. Tudo isso ajuda a dar o tom de pesar e trauma que a história do protagonista exige. O uso do vermelho do início ao fim representa o horror que habita passado, presente e futuro.

A Vila

The Village, 2004 // O filme pode até ser controverso (como boa parte da obra de M. Night Shyamalan), mas é inegável que o uso da cor em A Vila é feito de forma genial. Apoiado pelo brilhante diretor de fotografia Roger Deakins, Shyamalan aposta nas cores primárias com significados bem definidos: vermelho é ameaça, amarelo representa maturidade e o azul, apesar de menos enfatizado, representa a natureza distante dos dois protagonistas, que não se encaixam no estilo de vida da vila, mas ainda assim estão inseridos em seus horrores. 

Além das roupas dos personagens, as cores dessaturadas da natureza também dão seu recado de um local sombrio e ameaçador: o azul acinzentado da névoa, os campos verdes, as folhas marrons e em alguns momentos vermelhas e amarelas. Tudo isso ajuda a dar ainda mais destaque aos personagens e suas ações.

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Renunciei à vida mundana para me dedicar às artes da trevas. No meu cálice nunca falta vinho ungido e protejo minha casa com gatos que afastam os espíritos traiçoeiros. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.