Ray Harryhausen: o mestre da animação em stop motion

Uma das maiores mentes criativas do cinema do século XX, Ray Harryhausen revolucionou a animação em stop motion com suas técnicas.

A arte da animação em stop motion é complexa. A técnica consiste em fotografar e gravar quadro por quadro cada um dos movimentos dos personagens, cenários e adereços, e pode levar meses para ser completada — cada segundo da animação precisa de cerca de 24 quadros fotografados. Os desafios dessa técnica são imensos: evitar o desgaste dos materiais, a falta de quadros que pode comprometer o desenvolvimento do filme e fazer com que os personagens deslizem em seus movimentos. 

Quando pensamos em stop motion alguns filmes rapidamente vem a nossa mente: O Estranho Mundo de Jack, James e o Pêssego Gigante e Coraline, de Henry Selick, A Noiva Cadáver e Frankenweenie, de Tim Burton, ou a série de filmes de Wallace e Gromit, de Steve Box e Nick Park. Mas antes deles houve um homem que revolucionou a história do stop motion: Ray Harryhausen, mestre da arte da animação.

Um dos cineastas mais importantes do século XX, Ray Harryhausen ficou reconhecido principalmente por suas obras de mitos contados através das animações em stop motion, como Fúria de Titãs (1981) e Jasão e os Argonautas (1963).

Harryhausen nasceu em Los Angeles, em 29 de junho de 1920. Começou a se interessar pela criação de obras com animação quando assistiu a King Kong no cinema várias vezes em seu lançamento, em 1933. No filme, as animações de modelos na Ilha de Kong foram feitas pelo pioneiro Willis O’Brien, com quem Harryhausen, por intermédio de um amigo, acabou se encontrando. Os conselhos de O’Brien fizeram Harryhausen estudar artes gráficas e escultura — os modelos de esculturas feitos pelo artista receberam algumas críticas importantes de O’Brien.

Harryhausen começou a ter aulas na Universidade do Sul da Califórnia, no recém criado departamento de Artes Cinematográficas, onde depois se tornou professor. Nesse período também fez amizade com Ray Bradbury, antes deste se tornar o grande escritor que todos adoramos hoje em dia. No final dos anos 1930, ambos se juntaram à Science Fiction League, hoje conhecida como Los Angeles Science Fantasy Society, e conheceram Forrest “Forry” J. Ackerman, editor da famosa revista de terror Famous Monsters of Filmland.

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Apesar de ter se tornado reconhecido principalmente por seu trabalho com mitos, Harryhausen, até pela proximidade com Ackerman e Bradbury, também trabalhou em filmes de ficção científica e terror — ambos os gêneros sendo tão próximos nos anos 1950. O primeiro filme em que esteve responsável completamente pelos efeitos especiais foi O Monstro do Mar, de 1953, dirigido por Eugène Lourié, adaptando o conto “The Fog Horn”, de Bradbury.

O Monstro do Mar, 1953

Foi em O Monstro do Mar que Harryhausen usou uma técnica que revolucionaria a história do cinema, principalmente nos gêneros fantásticos. Chamada “Dynamation”, a técnica fazia com que os atores parecessem estar contracenando com os bonecos de stop motion de uma forma muito natural. O conceito já era conhecido, e utilizar dupla exposição em gravações já era algo antigo do cinema, mas Harryhausen aperfeiçoou o método para a técnica, utilizando outras formas de exposição, o que facilitou muito o uso de stop motion nos filmes a partir deste momento. 

Isso fez com que os filmes de Harryhausen, utilizando a técnica Dynamation, fizessem parecer que os atores estivessem junto das esculturas e modelos stop motion em cena, e não em escalas completamente diferentes. Um grande passo tanto para Harryhausen, quanto para o cinema.

As Viagens de Gulliver, 1960

A partir de O Monstro do Mar, Harryhausen trabalhou em mais dezenas de projetos. Ainda nos anos 1950, trabalhou em Invasão de Discos Voadores (1956, dir. Fred F. Sears), A Vinte Milhões de Léguas da Terra (1957, dir. Nathan Juran) e Simbad e a Princesa (1958, dir. Nathan Juran). Nos anos 1960, foi responsável pela criação dos efeitos especiais em As Viagens de Gulliver (1960, dir. Jack Sher), A Ilha Misteriosa (1961, dir. Cy Endfield), Jasão e o Velo de Ouro (ou Jasão e os Argonautas, de 1963, dir. Don Chaffey), Os Primeiros Homens na Lua (1964, dir. Nathan Juran), Mil Séculos Antes de Cristo (1966, dir. Don Chaffey) e O Vale de Gwangi (1969, dir. Jim O’Connolly). Na década de 1970, Harryhausen trabalhou com dois novos filmes de Simbad, em A Nova Viagem de Simbad (1973, dir. Gordon Hessler) e Simbad e o Olho do Tigre (1977, dir. Sam Wanamaker). Após Fúria de Titãs, em 1981, Harryhausen se aposentou da criação de efeitos especiais.

A famosa luta com esqueletos em Jasão e os Argonautas, 1963

Para além da criação de efeitos especiais fantásticos, Harryhausen também se envolvia em todas as etapas da pré-produção: das histórias aos storyboards. Em alguns filmes, seu nome consta em outros créditos além do departamento de efeitos especiais. Mas as regras para a classificação de cada papel em um filme gerida pela Directors Guild of America mantiveram seus créditos “menores” do que realmente eram. E, claro, sendo uma celebridade entre a indústria do cinema e com uma influência tão imponente, o cineasta foi chamado até mesmo para fazer participações em alguns filmes, como Poderoso Joe (1998, dir. Ron Underwood) e Burke e Hare (2010, dir. John Landis).

Homenagem de Monstros S.A. para Ray Harryhausen

Harryhausen inspirou e influenciou um enorme número de cineastas da fantasia, ficção científica e terror, como Steven Spielberg, Peter Jackson, George Lucas, Joe Dante, Tim Burton, Nick Park, James Cameron e Guillermo del Toro. Em 1992, recebeu um Oscar por Contribuição em Vida por suas obras, técnicas e influências.

Harryhausen faleceu em maio de 2013, mas sua carreira permanece viva através da fundação The Ray & Diana Harryhausen Foundation. Seu trabalho merece ser lembrado como um dos mais importantes para a história dos efeitos visuais no cinema.

Ray Harryhausen e a cabeça da Medusa, utilizado em seu último filme antes da aposentadoria, Fúria de Titãs, de 1981

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.