Red Bow e seus yurei em pixel art

Com assombrações conhecidas do folclore japonês e pixel art, Red Bow faz parte do panteão emergente e subversivo de terror.

Ainda com os espíritos dos Saeki infernizando nossas vidas, olhamos sobre os ombros (ou em meio aos cabelos?) como forma de entender o quão prolífero podem ser as assombrações japonesas – os chamados yurei – também nos videogames.

O absurdamente indie Red Bow é criado por um único desenvolvedor, Stranga, e compete a um formato de jogo bastante recorrente em terror, o do adventure com visão top-down, lembrando alguns de seus j-RPGs favoritos das gerações 8 ou 16-bit.

E como o terror encontra formas de se interpelar ainda mais no meio independente, seja no cinema, seja nos videogames, Red Bow, assim como outras obras passadas de Stranga, como My Big Sister, parece frágil e inofensivo quando olhado a distância, mas adentrar seus domínios se mostra experiência tão intensa quando os yurei que tanto o inspira.

Como a garotinha Roh e sua preciosa fita vermelha de cabelo, é preciso interagir com e entender os fantasmas que povoam seus pesadelos – só assim as noites não serão mais tão escuras. São estradas enevoadas, playgrounds abandonados, mercadinhos de bairro mal-assombrados. É quando o ordinário se torna excepcionalmente macabro.

Uma das assombrações mais marcantes pode ser categorizada como Kuchisake-onna. Com seu rosto coberto, só lhe importa a afirmação de sua beleza, por ela mesma e por todos que a cercam. Mas há um porém: seu rosto, desfigurado, está cortado de orelha a orelha, forçando assim um sorriso doentio, permanente. A mandíbula se desdobra para baixo, forçando a exposição dos músculos da língua.

Cena do filme Kuchisake-onna, de 2007

E como uma garotinha de não mais que seis anos de idade poderia confrontar tal aberração?

O gameplay em Red Bow diz respeito a três diferentes desfechos, atrelados a forma como Roh lida com os traumas passados de cada um dos fantasmas de seus pesadelos. Haverá um julgamento final do onryo (outro tipo de assombração japonesa, relacionada a maldições cíclicas, irreversíveis) no farol, refletindo uma Roh benevolente, indiferente ou maquiavélica. Coletar itens, entender onde e como utilizá-los (qual será a reação de uma mãe suicida ao encarar o que realmente houve com seu bebê?) é o caminho a ser seguido, com revisitações inerentes a experiência.

Recém-lançado, Red Bow já faz parte do panteão emergente e subversivo de terror em videogame, sempre disposto a tomar passos difíceis, decididos em levar a mídia adiante. Sadako e Kayako curtiram isso.

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Apesar de não saber interagir com jovens, dedica quantidades insalubres de seu tempo ao entretenimento eletrônico, tal qual Fantasma na Máquina, e sua faceta macabra, a preferida, se faz razão para continuar. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.