Terror na moda: campanhas fashion aterrorizantes

Quando o mundo da moda e do terror colidem, a gente ganha um desfile e tanto. Relembre grandes marcas que beberam na fonte do terror para criarem suas campanhas.

Assim como o terror bebe da inspiração de muitas fontes, ele também serve como combustível para diversos meios. Às vezes nos esquecemos, mas muito do que acontece na cultura popular, como um todo, pode ser visto no terror, e vice-versa: os filmes de terror ajudam a ditar moda. Nesse caso, literalmente.

Desde antes mesmo de se chamar terror, nosso gênero favorito andou de mãos dadas com o universo fashion. O papel do figurinista, aliás, foi importante não só em seus primeiros passos, como continua sendo ainda hoje. 

Figurinos icônicos, com cortes e detalhes especiais, capazes de atrair a atenção mesmo em obras em preto e branco, já eram pensados cuidadosamente, entre as décadas de 1910, 1920 e 1930. De O Gabinete do Dr. Caligari — onde Cesare aparece com uma gola alta e roupas justas, evidenciando seus movimentos e casando com elementos fundamentais do expressionismo alemão —, até A Noiva de Frankenstein, com o clássico “vestido” branco da Noiva — com seu corte que remete, realmente, ao casamento — e suas faixas enroladas nos braços — nos apresentando uma criatura que acabou de ser criada —, o terror se utilizou da moda para apresentar suas ideias desde a mais tenra idade.

Esse affair continuou avançando ao longo do século XX e XXI, em uma simbiose onde o cinema ditava modas e o mundo fashion ditava figurinos deslumbrantes e pensados até os últimos detalhes, até que as peças dos filmes de terror se tornaram copiadas e referenciadas por diversas marcas — incluindo, nestes últimos anos e de forma mais constante, casas de alta costura e do universo das passarelas mais tradicionais.

A Macabra relembra algumas das últimas coleções e campanhas de marcas famosas do mundo fashion que utilizaram do horror como inspiração. 

Gucci

Não podemos deixar a Gucci de fora, depois de sua campanha “The Exquisite Gucci Campaign”, de 2022, que colocou seus modelos e suas criações em cenários de filmes de Stanley Kubrick. A campanha logo viralizou na internet, graças a suas referências bem colocadas e divertidas. No site da marca, o designer Alessandro Michele, que assinou a campanha, comenta sobre sua inspiração no cinema: “Por isso sempre imaginei minhas coleções como filmes capazes de transmitir uma cinematografia do presente: uma partitura de histórias, ecléticas e dissonantes, capazes de sacralizar o humano e sua capacidade metamórfica”.

Prada

Em 2019, Miuccia Prada, em sua coleção masculina e feminina de Outono/Inverno, utilizou como conceito para seu desfile a ideia de Frankenstein, de Mary Shelley. Como comenta o site da Vogue Runway: “vestidos de coquetel com alças e bolsos utilitários, vestidos de camisa bordados com cristais limitados por harnesses de couro, combinações de estampas gráficas de rosas, relâmpagos malucos e malhas soltas. Em suas justaposições peculiares e ousadas de pedigrees, detalhes e texturas, essas roupas eram de fato ‘Frankensteinianas’ e ainda mais atraentes por isso.”

Undercover

Em 2018 e 2019, Jun Takahashi, da Undercover, entregou muito para os fãs de terror que têm interesse por moda. Apostando em criações interessantes e cheias de conceitos que lembram nossos filmes favoritos, seus desfiles são cheios de detalhes especiais nesse sentido.

Primavera/Verão 2018; e Outono/Inverno 2019, coleção masculina

No ano de 2018, na edição de Primavera/Verão, Takahashi foi responsável por uma coleção que utilizava diversos gêmeos na passarela, trabalhando na ideia de que, como afirmou o designer, “todos nós temos dois lados”. Para fechar com chave de ouro, as gêmeas do final do desfile vestiam uma reinterpretação do icônico vestido das gêmeas Grady, de O Iluminado.

Coleção Outono/Inverno 2019 da marca Undercover

Já em 2019, Takahashi surpreendeu não somente uma, mas duas vezes, com referências ao filme Laranja Mecânica, em sua coleção masculina, e com referências ao remake de Suspiria, de Luca Guadagnino, em sua coleção feminina ready to wear, ambas da edição Outono/Inverno.

Calvin Klein

Inspirações: Shelley Duvall, em O Iluminado; Sissy Spacek, em Carrie, a Estranha; e Mia Farrow, em O Bebê de Rosemary

Um dos maiores nomes quando pensamos na mistura entre filmes de horror e desfiles em passarelas nos últimos anos é o de Raf Simons. O designer belga, que já esteve em casas como Dior e, mais recentemente, na própria Prada, fez uma coleção muito inspiradora para a edição Primavera/Verão de 2018. A inspiração para as peças, de acordo com a marca, foi “a fábrica de sonhos de Hollywood e suas representações, tanto de um pesadelo americano quanto do todo-poderoso sonho americano”. Os filmes utilizados por Simons vão de Carrie, a Estranha, a O Iluminado.

Não foi a primeira vez que Simons se utilizou dessa imagética tão peculiar dos filmes de horror para compor seu desfile. Na edição Outono/Inverno de 2016, o estilista montou em sua passarela algo que a Vogue Runway descreveu como “um complexo labirinto de madeira, como uma série de vielas sinuosas retiradas de um filme de terror”.

Seus modelos seguiam por esse labirinto de forma errática, enquanto, ao invés de uma trilha sonora, eles caminhavam ao som da voz do compositor Angelo Badalamenti, comentando suas colaborações com David Lynch na trilha sonora de Twin Peaks. Na coleção, podemos ver os tricôs e modelos xadrezes utilizados pelos jovens da série. De acordo com o site, enquanto os modelos caminhavam em seus casacos compridos e Badalamenti falava sobre Lynch, realmente tudo parecia muito lynchiano. Outras duas influências para a coleção, conhecida como Nightmares and Dreams, foram Cindy Sherman e Martin Margiela. 

Alexander McQueen

Uma marca que não se importa de demonstrar sua inspiração no terror, foi a Alexander McQueen. Desde o início dos anos 2000, a marca vem bebendo do poço do terror para encontrar seus designs. Ainda em 2001, na edição Primavera/Verão, McQueen apresentou peças que pareciam ter saído diretamente de Os Pássaros, de Hitchcock.

McQueen, que ficou reconhecido pela teatralidade de suas peças e de sempre levar um pouco de drama para a passarela, tem coleções que relembram heróis e heroínas góticas. Em outras coleções, por exemplo, como as apresentadas nas edições de Primavera/Verão em 2007, na de Outono Inverno de 2008 e de 2009, McQueen apresentou peças com um ar aristocrático e gótico que poderiam ter saído diretamente de uma releitura moderna de Drácula.

2009, 2007 e 2008

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.